Pete Hegseth: anatomia psíquica de um covarde
As duas faces do homem que comanda as pressões contra a Venezuela. Na aparência, o arrogar-se viril e supremacista. Nas relações reais, insegurança, complexos e um gozo com a brutalidade que denuncia frouxidão não apenas moral…
Publicado 03/12/2025 às 16:38 - Atualizado 03/12/2025 às 17:21

Por Amanda Marcotte, no Salon | Tradução: Rôney Rodrigues
O secretário de Defesa, Pete Hegseth, quer muito que você pense que ele é um homem durão. O ex-apresentador da Fox News e suposto entusiasta de estúdios de maquiagem vive se gabando de sua coragem e virilidade, com uma extensão e volume que gritam “supercompensação” para qualquer um que realmente possua fortaleza interna. Com seu cabelo perfeitamente penteados e postura beligerante, Hegseth há muito deixou claro que sua ideia de “força” é estritamente uma questão de teatralidade.
Ele evita o termo “soldado” em favor de “combatente”. Rejeita o termo “defesa” em favor de “letalidade”. Ele até tentou renomear o Departamento de Defesa como “Departamento da Guerra”, o que é o equivalente burocrático a comprar uma picape enorme porque sua esposa o deixou pelo instrutor de ciclismo dela.
Ele obrigou o alto comando militar a assistir a uma palestra sobre o “ethos do guerreiro”, convocada sem outra razão aparente senão o desejo adolescente de Hegseth de fingir que é o Mel Gibson de Coração Valente. Ele fala incessantemente sobre seus ideais de condicionamento físico de “padrão masculino” ou “nível masculino”, principalmente porque as mulheres não se encaixam em sua imagem de como “combatentes” devem ser, uma imagem que parece inteiramente extraída dos bonecos do G.I. Joe com que brincava quando criança. Ele foi expulso do Exército, saindo por vontade própria devido ao excesso do que considerava “lacração”. Como secretário de defesa, ele tem tentado sistematicamente expurgar todas as mulheres que desempenharam seus deveres militares além de suas capacidades. Que Deus o livre de suportar lembretes de que muitos membros do sexo feminino da espécie são mais fortes e capazes do que ele jamais poderia imaginar ser.
Para deixar claro, homens corajosos de verdade não se intimidam com o sucesso das mulheres. A hostilidade de Hegseth em relação às militares sempre serviu como um indicador importante de que, por trás de toda aquela fanfarronice, o homem é um covarde choramingão. O escândalo crescente sobre seu papel na morte de civis em barcos na costa da Venezuela confirma sua natureza pusilânime além de qualquer dúvida. O modelo de masculinidade oferecido pelo MAGA, de Donald Trump para baixo, sempre foi o de homens inadequados fingindo grandeza, mas poucos são tão ridiculamente óbvios quanto Pete Hegseth, um homem cuja cada palavra berrada revela uma pau mole energy sutilmente diminuta que o alimenta.
Recapitulando: há meses, o governo Trump vem matando civis arbitrariamente em barcos na costa da Venezuela, justificando esses ataques extrajudiciais com acusações de que todos em tal barco são traficantes de drogas, embora os funcionários do governo prefiram usar termos exagerados e sem sentido como “narcoterrorista”, traindo a insegurança de sua posição. Matar acusados de tráfico é quase certamente ilegal por si só, e a administração não apresentou nenhuma evidência significativa para fundamentar suas acusações, mesmo quando fica evidente que o objetivo real é pressionar o presidente venezuelano Nicolás Maduro a renunciar. (Maduro é um ditador que fraudou as últimas eleições presidenciais, fatos que impressionariam Trump em outras circunstâncias. Ele também se identifica como um esquerdista antimperialista, tornando-o o vilão nº 1 para a turma do MAGA.)
O Washington Post relatou esta semana que em um desses ataques em 2 de setembro, as forças dos EUA lançaram um segundo míssil para matar sobreviventes do ataque inicial, o que seria, na melhor das hipóteses, um crime de guerra e, provavelmente, simplesmente assassinato.
Atirar em pessoas desarmadas, indefesas e provavelmente feridas em mar aberto é certamente perverso, provavelmente criminoso e inegavelmente patético. É o comportamento de alguém que tem medo de uma luta justa e gosta de matar pessoas à distância apertando botões.
Os detalhes desse incidente não poderiam oferecer uma ilustração mais clara de como se parece a covardia fingindo ser dureza. Depois de literalmente explodir um barco sob as supostas instruções de Hegseth para “matar todos”, comandantes militares supostamente ordenaram um segundo ataque para matar homens que estavam agarrados aos destroços. Atirar em pessoas desarmadas, indefesas e provavelmente feridas em mar aberto é certamente perverso e provavelmente criminoso, e também é patético. É o comportamento de alguém que tem medo de uma luta justa e gosta de matar pessoas à distância apertando botões. Como era de se esperar, o “Secretário da Guerra-Homem-do-Ethos-do-Guerreiro” apareceu na Fox News no dia seguinte para se gabar desse comportamento lamentável, agindo como se tivesse vencido uma luta livre com um urso pardo.
“Posso garantir que aquilo definitivamente não foi inteligência artificial”, disse Hegseth de forma alvoroçada sobre o ataque que teria matado 11 pessoas. “Eu assisti ao vivo!”
É assim que um homem que se digna a dar palestras a soldados de verdade sobre “combate” se faz sentir grande: ordenando os assassinatos de longa distância de civis indefesos e assistindo a tudo em vídeo. E a reação subsequente de Hegseth ao relatório do Washington Post se resumiu a agir como um grande covarde. Primeiro, ele mentiu sobre isso, chamando o relatório de “notícia falsa”. Agora que parece que ele não pode se esconder da história completamente, Hegseth está tentando se esquivar da responsabilidade culpando um subordinado, o almirante Mitch Bradley. No verdadeiro estilo de um colaboracionista, Hegseth nem admite que é isso que está fazendo. Ele está disfarçando a transferência de responsabilidade como elogio, escrevendo que “apoiará” Bradley, como se fosse o oficial, e não seu chefe no Pentágono, o foco do escândalo. Como Bill Kristol postou zombando no X: “Finjo apoiar o almirante Bradley enquanto me distancio dele e o jogo debaixo do ônibus”.
Mas culpar Bradley se tornou mais difícil diante do vídeo agora viral de Hegseth se gabando alegremente de assistir às mortes. Em vez de agir como homem e admitir a responsabilidade, na terça-feira Hegseth apresentou uma história ainda mais absurda. Durante uma das intermináveis “reuniões de Gabinete” públicas de Trump, Hegseth insistiu que sim, ele assistiu ao primeiro ataque, mas não “ficou por perto” para ver Bradley ordenar a morte dos sobreviventes. Isso também é difícil de engolir, uma vez que Hegseth claramente parece gostar de ver a morte de longe. Pode-se acrescentar que garantir que não haja sobreviventes para responsabilizá-lo se encaixa no modus operandi covarde de Hegseth.
Hegseth é o valentão clássico, escondendo sua insegurança dominando aqueles que são mais fracos ou vulneráveis e fingindo que isso é legal em vez de lamentável. Durante sua audiência de confirmação no Senado, circularam relatos de que Hegseth teria sido acusado de estupro, em um caso resolvido extrajudicialmente.
Se isso era verdade nunca importou realmente, uma vez que alegações de estupro tornariam Trump mais propenso a nomear alguém para um alto cargo, e não menos. Ainda assim, os detalhes valem a pena ser revisitados. A acusadora naquele incidente disse que estava bêbada demais para resistir à suposta agressão de Hegseth. O estupro é um crime covarde, independentemente de tudo, na maioria das vezes cometido por homens que têm medo de brigar com alguém do seu tamanho. Selecionar uma vítima incapacitada demais para se defender é, infelizmente, comum, o que torna o pavoneio masculino dos homens que cometem esse tipo de crime ainda mais ridículo.
Hegseth negou essa alegação, mas toda sua vida adulta foi definida por uma tendência a se gabar de sua força enquanto foge de qualquer coisa que se assemelhe a um desafio real. Ele está em seu terceiro casamento no momento e pertence a uma igreja que prega uma doutrina especialmente extrema de submissão feminina. Você não precisa de um diploma em psicologia para entender que apenas homens mais fracos desejam mulheres treinadas para não responder, porque são incapazes de lidar com um relacionamento mútuo baseado na comunicação adulta.
A breve passagem de Hegseth pelo Pentágono tem sido dominada por sua trêmula incapacidade de lidar com qualquer tipo de desafio ou desconforto.
Ele tentou expurgar todas as escolas e bibliotecas militares de qualquer informação histórica que possa fazê-lo se sentir incomodado, como lembretes de que o racismo existe ou de que a escravidão foi uma coisa ruim. Tenho certeza de que ele sabe fazer flexões, como vive se gabando. Mas o verdadeiro teste do caráter de alguém não é o quão musculoso ele é, mas se consegue lidar com as complexidades de um mundo que não foi esculpido para proteger seu ego. Mesmo pelos padrões do MAGA, Hegseth é o mais delicado dos flocos de neve.
De fato, a necessidade de proteção constante do “Secretário Combatente” está sendo cada vez mais severamente exposta à medida que este escândalo se desenrola. Conforme relatado pelo Washington Post esta semana, Hegseth agora está se escondendo atrás das saias da secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt. Ela é uma mentirosa experiente, mas tem lido declarações cuidadosamente elaboradas que redirecionam a culpa pelas mortes de 2 de setembro para Bradley e insistem, sem apresentar nenhuma evidência, que tudo o que Hegseth fez foi legal. “Isso é bobagem de ‘proteger o Pete'”, como um oficial militar anônimo disse ao Post.
A “Operação Proteger o Pete” parece uma descrição adequada para toda a carreira desse sujeito em fugir das responsabilidade. Talvez ele deva fazer disso sua próxima tatuagem, para que possa se gabar de quanto a agulha doeu enquanto esquiva de quaisquer consequências que realmente possam doer.
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