Pochmann: o exemplo chinês

Em 20 anos, economia do país saltou da 23ª posição para a 2ª. Assume cada vez mais protagonismo na era digital: produz 80% dos painéis solares, 50% dos computadores e 45% dos veículos elétricos. Uma inspiração ao Brasil: é possível superar a pasmaceira

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A China deslocou o centro dinâmico econômico mundial. Até o século 18, a Ásia, que abrigava as maiores economias da Era Agrária, perdeu posição para o Ocidente, que promovia a nova Era Industrial. Com a primeira Revolução Industrial (1750), a Inglaterra assumiu a centralidade no sistema capitalista de gravidade global e só foi substituída pelos Estados Unidos com o salto gerado pela segunda Revolução Industrial a partir do século 20.

De forma inédita desde os anos 1870, quando superaram o Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido, os EUA se encontram atualmente diante de um adversário que assumiu a principal responsabilidade pelo dinamismo econômico global. Depois da crise financeira de 2009, a China passou a responder por mais de 1/3 do crescimento da produção do mundo, assumindo cada vez mais o protagonismo na Era Digital.
Pela medida de riqueza da paridade do poder de compra adotada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia chinesa já ultrapassou o PIB dos EUA em 15%. Os reflexos dessa escalada interferem em diversas dimensões no relacionamento entre a China e os EUA, bem como na reconfiguração do restante do mundo.

Por conta disso, a transformação na geopolítica global é significativa. Ao final da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, somente os EUA representavam quase a metade do PIB global, o que permitiu construir a Ordem Mundial estruturada nos sistemas: monetário de Bretton Woods, comercial de livre comércio (GATT), da gestão econômica (FMI e Banco Mundial) e militar (OTAN).

Ao final da Guerra Fria em 1991, contudo, a presença dos EUA no PIB global havia decaído para 1/5 e, atualmente, para somente 1/6. Com isso, o projeto de modernidade Ocidental parece dar lugar à modernidade Oriental conduzida pela China, cujo marco tem sido o projeto de integração assentado pela nova Rota da Seda. Por ser a base de poder global, o PIB de uma nação termina por refletir, em maior ou menor medida, a expressão das forças tecnológica, monetária, econômica e militar. Neste sentido, a influência da China tem sido proporcionalmente maior na formação e decisão dos assuntos internacionais desde o início do século 21.

Por ter assumido a condição de oficina do mundo, a ascensão da China no setor manufatureiro alterou profundamente a competitividade econômica dos países. Enquanto a economia chinesa entre 2000 e 2020 saltou da 23ª posição para a 2ª (só superada pela Alemanha), os EUA decaíram da primeira para a quarta posição.

A China, que possuía apenas 10 empresas entre as 500 maiores do mundo em 2000, passou a ter 124 destas empresas em 2020, ultrapassando os EUA, que registraram 121 na lista da Revista Fortune. O sucesso chinês se traduz no fato de ser o elo-chave das cadeias de suprimentos globais de valor.

A dependência das economias da China se acelerou ainda mais com a pandemia da Covid-19, chegando a controlar cerca de 45% dos veículos elétricos, 50% dos computadores, 80% dos painéis solares e 90% dos minerais da terra. Em 2021, por exemplo, o superávit comercial da China com o mundo foi de 675 bilhões de dólares, um recorde, considerando que foi 60% superior ao do ano de 2019.

Embora o Brasil tenha perdido posição relativa, diante da retomada do neoliberalismo nos últimos anos, sua participação no PIB global de 2,3% medido pelo poder de compra, levemente abaixo do seu peso na população mundial (2,8%), ainda permite a ele estar na parada da disputa de futuro e avançar na Era Digital. Por mais que o governo atual possa apostar contra o Brasil, a esperança se afirma em relação ao ano que vem, quando o Brasil poderá retomar a via do desenvolvimento sustentável com inclusão social e aprofundamento democrático, superando o que hoje parece ser insuperável.

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