MS divulga dados de cirurgias de coração no Brasil

• Como funciona o maior sistema de transplantes do mundo • Problemas cardíacos no Brasil • Radis analisa a 17ª Conferência de Saúde • IA permite que mulher volte a falar • Processo contra ex-presidente do CFM •

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Da polêmica midiática em torno da cirurgia cardíaca de um apresentador de televisão que pode ter sua vida salva pelo Sistema Único de Saúde (SUS), uma consequência positiva pode ser encontrada: o estímulo às autoridades para que divulguem de forma mais ampla o número de vidas salvas pelo maior sistema de transplantes do mundo – o brasileiro. Em nota à imprensa, o Ministério da Saúde informou que só “no primeiro semestre de 2023 foram realizados 206 transplantes de coração no Brasil, o que representa aumento de 16% em relação ao mesmo período do ano passado”. Corrigiu também alegações de favorecimento ao famoso esclarecendo que “a lista para transplantes é única e vale tanto para os pacientes do SUS quanto para os da rede privada”, se pautando por critérios técnicos de preferência. Adicionou ainda que “os pacientes, por meio do SUS, recebem assistência integral, equânime, universal e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante”, ressaltando a concepção integral de saúde que estrutura o fornecimento desses serviços pelo poder público – uma das principais conquistas do ciclo de lutas que derrubou a ditadura e construiu a Constituição de 1988.

Especialistas esclarecem o funcionamento do sistema de transplante

Para que não se ouça apenas a voz do governo alegando o bom funcionamento do sistema, é possível consultar também a opinião de diversos especialistas ouvidos pela imprensa nos últimos dias. Como aponta apuração do G1, quase um terço dos transplantes de coração realizados em 2023 foram realizados em pessoas que estavam há menos de um mês na fila, o que “reforça mais uma vez a eficiência do sistema de transplantes no país”, diz o presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos. Mais de 600 hospitais em território nacional estão autorizados a fazer os procedimentos – o que leva contribui para que o Brasil seja o segundo país que mais os realiza com êxito, como informa a BBC. Em torno de 90% das cirurgias são feitas via SUS, o que leva o sistema a ser “reconhecido internacionalmente por ser inteiramente público e oferecer serviços em um país gigantesco e muito povoado”, explica um professor da UFRGS. Em sua maioria, o financiamento desse sistema vem do Ministério da Saúde – R$1,33 bi em 2023, um aumento de 31% em relação ao ano passado –, mas há complementação dos governos estaduais. Não é preciso muita reflexão para identificar o papel decisivo do investimento público massivo nessa área.

Os problemas cardíacos do Brasil, cada vez maiores

Ainda que o sistema de saúde pública tenha tamanha eficácia na realização de transplantes, o volume tão alto de procedimentos remete a outro dado, que não suscita comemorações: 14 milhões de pessoas padecem de doenças cardiovasculares no Brasil hoje. 23% dos brasileiros nunca foram ao cardiologista, segundo uma pesquisa da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. Isso dificulta a prevenção dessas enfermidades, além de também dificultar o esclarecimento da população sobre fatores de risco como o tabagismo, a obesidade, a diabetes e a hipertensão, que aceleram seu surgimento. Consequentemente, quase um terço dos óbitos registrados no país anualmente têm as doenças do coração como causa, dizem os números do Ministério da Saúde. Em números absolutos, isso corresponde a cerca de 400 mil mortes por ano.

17ª Conferência Nacional de Saúde é tema de revista

A Radis, revista produzida por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, dedicou sua 251ª edição à 17ª Conferência Nacional de Saúde. Realizada no início de julho em Brasília, foi um grande marco do governo Lula e da afirmação do SUS como uma política social indispensável. Sob o mote “Amanhã vai ser outro dia”, o encontro quadrienal recebeu milhares de delegados de todo o país, se dividiu em quatro grandes eixos temáticos e realizou 48 grupos de trabalho. No final, os encaminhamentos foram enviados ao Conselho Nacional de Saúde, que por sua vez sintetizará toda essa produção coletiva em diretrizes de saúde no Plano Plurianual, que estrutura as prioridades do governo e precisa ser atualizado a cada quatro anos. A edição da Revista Radis pode ser lida aqui.

IA faz mulher vítima de AVC voltar a falar

Ann Johnson era professora de matemática no Canadá quando sofreu um acidente vascular cerebral e perdeu a capacidade de se comunicar. Depois de anos de fisioterapia e variados esforços para retomar condições mínimas de sociabilidade, um programa de inteligência artificial conseguia decodificar seus sinais cerebrais e expressar até 14 palavras por minuto. Agora, um novo implante cerebral que conecta seu cérebro a um computador consegue interpretar tais sinais e transformá-los em até 80 palavras por minuto. Em parceria com a própria Ann, cientistas de duas universidades dos EUA desenvolveram um implante que a partir da memorização de 39 fonemas tornou-se capaz de decodificar as palavras concebidas pelos pensamentos de Ann e comunicá-las pela tela. Para completar, a partir de uma gravação pessoal, conseguem reproduzir sua voz tal como era, ao contrário da versão anterior do software.

Ex-presidente do CFM processado no MS

Mais uma história que envolve desvios éticos de médicos bolsonaristas que ocuparam cargos importantes vêm à tona. Indiciado pela CPI da Pandemia por defender tratamentos ineficazes para a covid, Mauro Luiz de Brito Ribeiro, então presidente da autarquia, é processado na justiça de Campo Grande (MS). Ele é acusado de ter ocupado cargo público comissionado e registrar 873 faltas consecutivas entre 2013 e 2015. O site O Jacaré explica que o caso veio à tona justamente durante a CPI, após sindicância aberta pelo Ministério Público do Estado, ao descobrir uma manobra ilegal em seu processo de desligamento do cargo, onde consta que foi exonerado por decisão própria. No entanto, o MP pede que em sua ficha conste demissão por abandono de cargo. Neste caso, Ribeiro ficaria com a ficha suja e não poderia se reeleger para a presidência do Conselho Federal de Medicina.

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