Chacina no Rio: “Alguém se sente mais seguro agora?”
Mais de 120 mortos e o crime organizado não sofreu um arranhão: barões do tráfico, que coordenam fluxos internacionais de drogas e armas, seguem com suas vidas – e lucros. Juntos aos corpos em praça pública, está uma sociedade desfalecida. Força e resistência, quebrada!
Publicado 29/10/2025 às 18:10

A polícia do estado do Rio de Janeiro, comandada por Cláudio Castro, o resto do bolsonarismo, atacou um território onde moram 300 mil pessoas, o Complexo do Alemão e da Penha. Uma fila de corpos foi estendida no chão do bairro, mostrando 64 pessoas assassinadas, enquanto o governador comemorava em rede nacional o maior massacre da história do Rio. E a pergunta que ecoa em todos os cantos, feita por uma das lideranças do bairro Raul Santiago, foi: “você se sente mais seguro?”
Isso é simplesmente asqueroso! Trata-se de mais uma operação eleitoreira que declara guerra contra territórios periféricos. O que aconteceu ali não é segurança pública, é massacre de pobres!
Senhoras infartando, moradores apavorados, famílias de moradores e policiais mortos simplesmente destroçadas, a partir de uma ordem de um governador facínora, que comemora e vibra em rede de televisão este ato vergonhoso, após executar o comando deste morticínio. Crianças apavoradas ao ir para a escola, trabalhadores mais uma vez colocados de cabeça baixa, mais uma vez sentindo que talvez ele seja o problema, fato de ser pobre e morar ali, seria um ato criminoso. Isso é inadmissível!
E o crime, o Comando Vermelho? Não sofreu um arranhão! Assassinaram essas dezenas de jovens, cooptadas para o varejo das drogas… Mas a logística do tráfico que escoa toneladas de cocaína pelo Porto do Rio rumo à Europa e Estados Unidos, o tráfico de armas e fuzis, estes continuam intactos, as redes de lavagem de dinheiro, os políticos bancados por este dinheiro sujo, tudo isso não sofreu um arranhão.
As favelas não refinam cocaína, não fabricam armas e nem lavam o dinheiro do tráfico. O que fez o crime ser abalado foi quando a Polícia Federal chegou à Faria Lima, nos fundos de investimento que faltam dinheiro sujo, nas redes de postos de gasolina e até usinas de etanol. Isso sim, fez o crime tremer, porque mexeu no bolso. As mortes desses jovens são calculadas pelos barões do tráfico, fazem parte do negócio e do lucro. Não é diferente para este resto de bolsonarismo, que ainda domina o Rio, e comemora nas redes… Calculam a morte de pobres e os possíveis ganhos eleitorais… Estes estão do mesmo lado, o lado da Morte!
Ali não morreram apenas policiais e o Varejo das Drogas, ali morreu toda uma sociedade. Uma sociedade que não chega nas favelas e nas quebradas do país, para oferecer outras políticas públicas, outra alternativa de mundo, para este morador da favela, e que inviabilize de uma vez por todas o varejo das drogas. Não é aceitável que o Estado só chegue com a brutalidade e a força letal das polícias em nossos territórios periféricos. Ninguém se sente mais seguro, amanhã já tem novos recrutas do tráfico, e o lucro do tráfico segue intacto.
Minha total e sincera solidariedade ao Raul e a todos os moradores do Alemão e da Penha. Ergam as cabeças, quebrada, nenhum favelado ou sujeito periférico merece essa humilhação que vocês estão passando. Força quebrada!
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