Seis passos para frear o terror de Israel

Máquina da morte continua a dizimar os palestinos e a humilhar o mundo – mas há uma brecha para bloquear sua engrenagem. Implica transformar o repúdio ao genocídio num bloqueio total a Telaviv. Há agora meios reais de fazê-lo

Foto: Saher Alghorra/New York Times
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Por Jeffrey Sachs e Sybil Fares, no Other News | Tradução: Rôney Rodrigues


Israel, com a cumplicidade dos Estados Unidos, está cometendo genocídio em Gaza por meio da fome em massa da população, além de assassinatos em massa diretos e da destruição física da infraestrutura de Gaza. Israel executa o trabalho sujo. O governo dos EUA financia e oferece cobertura diplomática por meio de seu veto na ONU. A Palantir, através do “Lavender”, fornece a inteligência artificial para o assassinato em massa eficiente. A Microsoft, por meio dos serviços de nuvem Azure, e Google e Amazon, por meio da iniciativa “Nimbus”, fornecem a infraestrutura tecnológica central para o exército israelense.

Isso caracteriza os crimes de guerra do século XXI como uma parceria público-privada entre Israel e os Estados Unidos. A fome em massa do povo de Gaza foi confirmada pelas Nações Unidas, Anistia Internacional, Cruz Vermelha, Save the Children e muitas outras organizações. O Conselho Norueguês para Refugiados, junto a 100 organizações, vem exigindo o fim da transformação da ajuda alimentar em arma por parte de Israel. Esta é a primeira vez que a fome em massa é oficialmente confirmada no Oriente Médio.

A dimensão da fome é estarrecedora. Israel está privando sistematicamente mais de 2 milhões de pessoas de alimentos. Mais de meio milhão de palestinos enfrentam fome catastrófica e pelo menos 132 mil crianças menores de cinco anos correm risco de morrer de desnutrição aguda. A magnitude do horror está minuciosamente documentada pelo jornal Haaretz em um artigo recente intitulado “A fome está em toda parte”. Aqueles que conseguem, de alguma forma, acessar os pontos de distribuição de alimentos são rotineiramente alvejados pelo exército israelense.

Como explicou recentemente um ex-embaixador dos EUA em Israel, a intenção de matar de fome a população esteve presente desde o início. O ministro do Patrimônio de Israel, Amichai Eliyahu, declarou recentemente: “não existe nação que alimente seus inimigos.” Já o ministro Bezalel Smotrich afirmou: “quem não evacuar, que não deixem sair. Sem água, sem eletricidade; podem morrer de fome ou se render. É isso que queremos.”

Apesar dessas declarações explícitas de genocídio, os representantes dos EUA na ONU repetidamente negam os fatos e encobrem os crimes de guerra de Israel. Os EUA, sozinhos, vetaram a admissão da Palestina na ONU em 2024. Agora, os EUA negam vistos a líderes palestinos para comparecer à ONU em setembro, em mais uma violação do direito internacional.

Os EUA têm usado seu poder — e especialmente seu veto no Conselho de Segurança da ONU — para favorecer o genocídio israelense contra os palestinos e bloquear até mesmo as respostas humanitárias mais básicas. O mundo está horrorizado, mas parece paralisado diante da máquina de morte Israel-EUA. No entanto, o mundo pode agir, mesmo diante da intransigência americana. Os EUA ficarão nus e isolados em sua cumplicidade criminosa com Israel.

Sejamos claros. A voz esmagadora da humanidade está ao lado do povo da Palestina. Em dezembro passado, 172 países, representando mais de 90% da população mundial, votaram para apoiar o direito da Palestina à autodeterminação. Israel e os EUA ficaram essencialmente isolados em sua oposição. Maiorias semelhantes e avassaladoras são repetidamente expressas em apoio à Palestina e contra as ações de Israel.

O governo truculento de Israel conta agora unicamente com o apoio dos EUA, mas nem mesmo isso pode durar muito. Apesar da intransigência de Trump e das tentativas do governo americano de sufocar as vozes pró-palestinas, 58% dos norte-americanos querem que a ONU reconheça o Estado da Palestina, contra apenas 33% que se opõem. Além disso, 60% dos norte-americanos rechaçam as ações de Israel em Gaza.

Aqui estão medidas práticas que o mundo pode tomar.

Primeiro, a Turquia adotou o caminho correto ao encerrar todos os vínculos econômicos, comerciais, marítimos e aéreos com Israel. Atualmente, Israel é um Estado fora da lei, e a Turquia está certa em tratá-lo assim até que a fome em massa criada por Israel termine e um Estado da Palestina seja admitido na ONU como o 194º membro, com as fronteiras de 4 de junho de 1967. Outros Estados deveriam imediatamente seguir o exemplo da Turquia.

Segundo, todos os Estados-membros da ONU que ainda não o fizeram devem reconhecer o Estado da Palestina. Até agora, 147 países reconhecem a Palestina. Dezenas mais deveriam fazê-lo na Cúpula da ONU sobre a Palestina, em 22 de setembro, mesmo diante das veementes objeções dos EUA.

Terceiro, os signatários árabes dos Acordos de Abraão — Bahrein, Marrocos, Sudão e Emirados Árabes Unidos — deveriam suspender suas relações diplomáticas com Israel até que o cerco a Gaza termine e o Estado da Palestina seja admitido na ONU.


Quarto, a Assembleia Geral da ONU, por um voto de dois terços dos presentes e votantes, deveria suspender Israel da Assembleia Geral até que este levante seu cerco assassino contra Gaza, com base no precedente da suspensão da África do Sul durante o regime do Apartheid. Os EUA não possuem poder de veto na Assembleia Geral da ONU.

Quinto, os Estados-membros da ONU deveriam interromper a exportação de todos os serviços de tecnologia que apoiam a guerra, até que o cerco a Gaza termine e a adesão da Palestina à ONU seja adotada pelo Conselho de Segurança. Empresas de bens de consumo, como Amazon e Microsoft, que insistem em auxiliar as Forças de Defesa de Israel em meio a um genocídio, deveriam enfrentar a ira dos consumidores em todo o mundo.

Sexto, a Assembleia Geral da ONU deveria enviar uma Força de Proteção da ONU para Gaza e a Cisjordânia. Normalmente, seria o Conselho de Segurança da ONU a autorizar tal força de proteção, mas, neste caso, os EUA bloquearão o Conselho de Segurança com seu veto. Existe, no entanto, outro caminho.

Pelo mecanismo “Unindo pela Paz” (Uniting for Peace), quando o Conselho de Segurança fica paralisado, a autoridade de agir passa à Assembleia Geral. Após uma sessão do Conselho de Segurança e o quase inevitável veto dos EUA, a questão seria levada à AGNU em uma retomada da 10ª sessão especial de emergência sobre o conflito Israel-Palestina. Ali, a Assembleia Geral pode, por maioria de dois terços — não sujeita a veto dos EUA —, autorizar uma força de proteção em resposta a um pedido urgente do Estado da Palestina. Há precedente: em 1956, a Assembleia Geral autorizou a Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF) a entrar no Egito e protegê-lo da invasão em curso por Israel, França e Reino Unido.

A convite da Palestina, a força de proteção entraria em Gaza para garantir ajuda humanitária emergencial à população faminta. Caso Israel atacasse a força de proteção da ONU, esta estaria autorizada a se defender e também a proteger os gazenses. Resta saber se Israel e os EUA ousariam enfrentar uma força mandatada pela Assembleia Geral da ONU para proteger os palestinos famintos.

Israel ultrapassou a linha clara rumo aos crimes mais sombrios — matar civis de fome e atirar neles enquanto, esqueléticos, aguardam em fila por comida. Não há mais linha a ser cruzada, nem tempo a perder. A comunidade de nações está sendo testada e convocada à ação como não acontecia há décadas.

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