UFRJ: A universidade pública “respira por aparelhos”

Carta aberta da maior universidade federal do país. Lula iniciou recomposição orçamentária, mas muito aquém do necessário. Faltam investimentos – e um projeto de reconstrução. O desafio é monumental após governos antidemocráticos. Mas inadiável

Foto publicada no site Toda Palavra
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Carta Aberta em Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

A Universidade Federal do Rio de Janeiro é um epicentro de pesquisa de excelência e um orgulho para o Brasil, sendo a maior universidade federal do país e um modelo de inclusão social, com mais de duas mil ações de extensão. Além de ser pioneira na exploração de petróleo em águas profundas e no desenvolvimento de vacinas, a UFRJ tem grande protagonismo em estudos sobre doenças negligenciadas, antropologia dos povos originários, entre inúmeros outros. Contudo, a UFRJ sofre pelas consequências de sua própria magnitude.

Atualmente, a universidade abriga sessenta mil alunos de graduação e quinze mil de pós-graduação, distribuídos pelos seus diversos campi em três municípios do estado do Rio de Janeiro, além de setecentos alunos do Colégio de Aplicação. Sendo uma instituição centenária, a UFRJ é guardiã de um patrimônio arquitetônico e cultural vasto, incluindo quinze prédios históricos, dezenove museus, quarenta e três bibliotecas e nove unidades hospitalares.

Além da manutenção regular, vários desses lugares requerem cuidados especializados, o que, por sua vez, demanda mais investimento. Somos responsáveis por manter parte da história e da memória do país: temos prédios da Colônia, do Império e da República. No entanto, a instituição enfrenta um prolongado processo de subfinanciamento que tem deteriorado sua infraestrutura e causado diversos problemas de manutenção.

Podemos relembrar reportagens históricas que destacam a contínua luta da UFRJ para enfrentar as reduções orçamentárias drásticas iniciadas em 2013. Em maio de 2015, o reitor Roberto Leher já alertava sobre a gravidade da situação no jornal Estadão, indicando que, a partir de agosto daquele ano, a universidade poderia não ter recursos suficientes para pagar suas contas. Em 2021, a então reitora e atual presidente da CAPES, professora Denise Carvalho, ecoou essas preocupações em um artigo para o jornal O Globo, salientando que o orçamento discricionário da UFRJ era apenas 38% do empenhado em 2012, e que a viabilidade operacional da universidade seria comprometida a partir de julho. Ela também promoveu duas audiências públicas nas quais explicitou a falta de recursos para a UFRJ. Infelizmente, até 2024, a situação orçamentária permanece inalterada, refletindo os desafios contínuos enfrentados pela UFRJ em manter suas operações e excelência acadêmica.

Em todas as crises, chegou algum complemento do MEC, permitindo que a universidade permanecesse aberta, porém sem nenhum investimento em sua infraestrutura predial, de internet ou qualquer outra.

As sucessivas reitorias têm feito o esforço monumental de manter a universidade aberta no contexto de um processo inexorável de degradação de sua infraestrutura, mas os desabamentos sucessivos na Escola de Educação Física e Desportos mostram que estamos “respirando por aparelhos”.

A comunidade acadêmica da UFRJ sempre esteve mobilizada em defesa de um governo que valorize a educação pública. Nos momentos críticos da história recente, quando enfrentávamos tentativas de governos antidemocráticos de sufocar as universidades públicas, foi a mobilização da comunidade científica que se destacou na linha de frente. Estamos cientes dos desafios que o governo enfrenta e preocupados com a manutenção do Estado de direito, pois não desejamos o retorno de forças políticas hostis à educação.

No entanto, a situação atual da UFRJ é insustentável. Reconhecemos que o governo Lula iniciou um processo de recomposição orçamentária das universidades, mas no caso da UFRJ, está muito aquém das necessidades e nem de longe cobre o passivo que ocorreu nos últimos anos. Conclamamos não apenas o governo federal, mas também outras esferas governamentais, empresas e toda a sociedade a apoiar a UFRJ e restaurar seu lugar como o motor intelectual do Rio de Janeiro.

Finalmente, é imperativo que o Ministério da Educação e demais órgãos responsáveis pelo financiamento da UFRJ respondam de forma clara e honesta qual é o projeto do governo para a maior universidade federal do Brasil.

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