O plano do “mercado” para abocanhar os Correios
Jornalões alardeiam o resultado deficitário da estatal em 2024. Mas não contam sobre os R$2,8 bi de saldo positivo nos últimos 15 anos. Mercado mudou e concorrência aumentou, mas saída não é privatizar uma conquista com longa história do país
Publicado 20/05/2025 às 15:24

A sanha acumuladora do grande capital privado nunca teve limites. No caso brasileiro, as classes dominantes aproveitaram a onda liberalóide que se seguiu à implementação do Consenso de Washington, a partir dos anos 1980, para avançar na pauta da privatização. A estratégia pressupunha associar a presença do Estado na economia a um quadro ditatorial na esfera da política, donde se concluía que a transição democrática no Brasil deveria incorporar a venda das empresas estatais de forma ampla, geral e irrestrita.
Assim, a partir da posse de Fernando Collor de Mello na Presidência da República em 1990, tem início um longo processo de transferência de ramos inteiros de nossa economia do setor público para o setor privado. Mesmo depois do impeachment do caçador de marajás, o governo de Fernando Henrique Cardoso deu continuidade à política de entrega generosa do patrimônio estatal. Assim foi feito com o sistema bancário ligado aos governos estaduais, com o parque da siderurgia, com a petroquímica e os fertilizantes, com as telecomunicações, com boa parte do setor de energia elétrica e com a simbólica Vale do Rio Doce.
Apesar de seu desejo manifesto de promover a desestatização completa da economia, as elites destas terras não conseguiram completar integralmente tal missão. Houve resistência de vários tipos e algumas empresas estatais ainda permanecem no âmbito da União. Esse é o caso dos bancos federais (BB, CEF, BASA, BNB e BNDES), da Petrobrás (apesar do fatiamento e privatização de subsidiárias do grupo), de parte do sistema de energia elétrica, da Embrapa e dos Correios. A mais recente tentativa declarada de eliminar a presença do Estado na economia ocorreu durante o governo de Jair Bolsonaro, quando seu superministro da economia, Paulo Guedes, prometia privatizar 100% das estatais.
Correios têm muita História!
Uma das iniciativas dessa bravata fracassada do aprendiz de banqueiro foi o processo de privatização da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, a ECT. À época, o governo chegou a encaminhar um Projeto de Lei (PL 591/21) ao legislativo tratando do tema. A Câmara dos Deputados aprovou a matéria, mas felizmente o Senado Federal impediu a continuidade de mais este crime contra o país. No entanto, a campanha fomentada pelo financismo em favor da venda da empresa ao capital privado não cessou.
Os Correios têm uma longa história de presença na sociedade brasileira. Desde as primeiras formas de organização do sistema de entrega de correspondência no século XVII, passando por mudanças ainda no tempo do Império com a criação da Diretoria Geral dos Correios em 1829, o sistema foi sendo ampliado e aperfeiçoado. Em 1931 Getúlio Vargas cria o Departamento de Correios e Telégrafos (DCT) e posteriormente, em 1969, o então DCT é transformado com a constituição da atual empresa pública para assegurar esses serviços sob uma forma mais moderna e eficiente. O modelo pressupunha o monopólio estatal para o setor, por meio da exclusividade da União como agente para a maior parte das operações. Esse foi o modelo formalizado pela Lei nº 6.538/78. Apesar de tal peça legal ter sido recepcionada pela Constituição em 1988, o fato é que ao longo deste meio século de vigência das normas houve um significativo desenvolvimento tecnológico no setor. Assim, os termos “carta”, “telegrama” e “selo” presentes no texto legal foram substituídos por outros modelos de correspondência e comunicação.
A generalização da concorrência de facto ao modelo de atuação dos Correios provocou mudanças também na estrutura das receitas da empresa. Esse processo permitiu o estrangulamento da ECT e facilitou a narrativa daqueles que permanecem pretendendo assumir suas funções de formas plena e absoluta. Os momentos de divulgação dos resultados operacionais e financeiras da empresa são geralmente utilizados para amplificar a campanha privatizante.
Privatização não é solução!
A grande imprensa aproveitou, mais uma vez, a recente publicação dos resultados do ano passado para dar vozes aos que ainda clamam pela entrega da empresa ao capital privado. É verdade que o prejuízo anunciado de R$ 2,6 bilhões relativo ao exercício de 2024 não pode e nem deve ser ignorado. Na verdade, ao longo do último triênio os números não foram nada animadores, uma vez que também em 2022 e 2023 o resultado foi igualmente negativo, com números de R$ 770 e R$ 600 milhões, respectivamente.
A realidade objetiva é que a ECT vem apresentando resultados deficitários, mas isso não significa que a solução seja a privatização. Caso coloquemos a análise em uma perspectiva um pouco mais longa, o cenário revela-se um pouco distinto. O gráfico abaixo ilustra de forma bastante adequada esse enfoque. Aqui estão apresentados os resultados anuais (lucro e prejuízo) a valores presentes durante 15 anos, entre 2010 e 2024.

O que pode ser observado é que a ECT apresentou prejuízo em 5 destes 15 anos. Ou seja, no biênio 2015/2016 e agora nos últimos 3 anos. Isso significa um total de perdas acumuladas equivalente a R$ 9,8 bilhões a valores corrigidos. No entanto, nos outros 10 exercícios do mesmo período, a empresa apresentou lucros. Caso estes resultados positivos sejam somados e trazidos a valor presente, eles representam R$ 12,6 bi. Assim, para o conjunto do período analisado, o resultado líquido dos Correios é de um saldo positivo de R$ 2,8 bi.
Evidentemente que há muitas mudanças a serem promovidas na ECT em sua estratégia de atuação empresarial. Afinal, houve uma série de alterações significativas no mercado de correspondências e entregas, com o aumento da concorrência e novas modalidades não operadas até pelos Correios. Além disso, a empresa deve aportar recursos para o fundo de pensão de seus empregados, o Postalis, que apresenta um quadro de dificuldades financeiras bastante acentuado. Porém, isto não significa que o caminho da privatização deva ser adotado como uma panaceia para tais problemas de natureza conjuntural e estrutural.
Afinal, todos sabemos que uma vez transferido o patrimônio dos Correios para o capital privado, o único objetivo será a obtenção da maior lucratividade ao menor custo e no menor prazo possível. Assim, a tendência seria a obtenção da propriedade a preço de banana e a liquidação de todos os direitos dos trabalhadores e aposentados do grupo. Como sempre, os maiores prejudicados seriam os usuários do sistema pela elevação dos preços e tarifas.
Conhecemos muito bem o final desta estória, com enredo favorável aos futuros acionistas. Por isso, as forças democráticas e progressistas só têm uma bandeira a defender no momento: Tirem as mãos dos Correios!
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Bom dia! Que matéria mais tendenciosa. O correio nunca foi tão mal administrado. Essa semana mesmo tivemos uma experiência horrível com o correio que ainda perdura. Ninguém está nem aí com nada, desde que o salário caia na conta no dia certo.
Péssimo serviço, pessoal sem compromisso. E os Correios sempre.trataram a gente nas agências muito mal, como se fizessem favor de receber nossas cartas e pacotes. Privatiza ontem.
QUAL É A FINALIDADE DE AGASALHAR MILHÕES DE FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS E POLÍTICOS NESSA EMPRESA ? ESSAS FIGURAS SÃO BONS ADMINISTRADORES ? SE O JORNALISTA TIVESSE VÁRIOS MILHÕES DE DÓLARES E CONSTITUÍSSE EMPRESA NO MOLDE DOS CORREIOS, IRIA CONTRATAR POLÍTICOS E FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS PARA TOCAR ESSA EMPRESA ?
Sensato
Dr. Porventura o senhor ainda está preso em 1980-1990 em plena guerra fria? O seu currículo pressupõe que seja capaz de realizar argumentações aprofundadas e sem o uso de frases de efeito usadas por políticos populistas que desprezam a ciência. Quem dera se o problema das estatais brasileiras se resumisse aos “vilões do mercado”, como vocês costumam acreditar. Bom, como um democrata sério, defendo seu direito de se iludir com a teoria conspiratória que quiser, não sendo muito diferente do negocionismo bolsonarista em muitos pontos.
Queremos uma coisa q funcione e nao uma historia, tem q privatizar sim
Uma pergunta: Se os Correios está tendo prejuízo nos últimos anos, então por que a iniciativa privada quer abocanhar essa empresa?
Outra pergunta: Se um patrimônio público é construído com o dinheiro do povo, então deve pertencer ao povo, por que não é considerado crime vender a um pequeno grupo de empresários?
Privatiza todo esse entulho parasitário esquerdoparas .
O prejuízo foi apenas 3,2 bilhões porque ninguém se tocou que os Correiso retiraram outros 2,2 bilhões de aplicações financeiras, e fizeram um empréstimo para diminuir o défcit. Ou seja, rasparam o taxo e ainda assim conseguiram um prejuízo bilionário! Engraçado como todas as estatais deram resultados positivos no governo passado, mesmo com pandemia, e agora, neste governo, sem nada, estão todas destruídas e dando prejuízo! Engraçado não, isso é o que acontece quando se deixa a administração de lado e vive-se de politicagem barata pra colocar PELEGOS em cargos de empresas públicas.
Correios é 1 verdadeiro cabide de empregos….
Não só os Correios, mas todas as estatais deveriam ser privatizadas, essas empresas não passam de cabide de altos cargos pra companherada. Triste realidade.
Aonde políticos interferem , funcionários possuem instabilidades, atendimentos ruins é o que dá, privatizações, e assim começam a dar lucro , corja fora.
“Como sempre, os maiores prejudicados seriam os usuários do sistema pela elevação dos preços e tarifas.” E do que adianta tarifas baixas se o serviço não funciona? Utilizo o Correios aqui na empresa e temos mercadorias em diversos locais do Brasil que estão paradas desde o dia 05 de Maio, não vejo a imprensa noticiando nada a respeito sobre essa paralisação, no final nós consumidores estamos sendo prejudicados do mesmo jeito. Se privatizar é a melhor opção eu não posso dizer, pois não sou analista, cabe aos responsáveis analisar, mas do jeito que esta não da. E digo mais, oferecendo um serviço desse, a tendência é cada vez mais as empresas e consumidores pararem de utilizar o serviço.
O Nassif do GGN apontou uma solução para melhorar a arrecadação do Correios e tb beneficiar a sociedade – usá-lo para entregas de produtos de pequenas e médias empresas que não têm entregadores próprios como as grandes plataformas (Amazon, etc). Procurem a matéria, o Nassif é um cara que tem mais que dois neurônios.
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Li o texto e notei uma narrativa sem sustentabilidade, a empresa correios infelizmente está sendo roubada, este é o fato se não fosse o desvio sistemático de verbas o caixa no mínimo terminaria empatado, mas aos companheiros não existem limites para roubalheira, uma CPI nos correios seria fundamental neste momento para mostrar como agem os ladrões que voltaram a cena do crime
Pelo seu jeito de se referir as pessoas claramente você é de esquerda, com o faturamento total de 2013 a 2025, 12 anos o correio deu um prejuízo de aproximadamente 3,5 bilhões não vem com desculpa que antes deu lucro, igual você disse agora tem concorrência, nos estados unidos também é estatal , mas tbm da prejuízo. Qual argumento? 12 anos o saldo é negativo
Os correios são uma m***a, entregas super atrasadas, desrespeito com o consumidor, cabides de empregos para políticos, tudo custeado com o dinheiro do contribuinte, deficit quase todos os anos, eles tem monopólio de importação e ainda assimconseguem dar prejuízo(já davam quando tinham o monopolio de todos os envios que dirá agora) o Mercado Livre precisou criar o Mercado de Envios porque não suportava o prejuizo que pegava com os correios, hoje o ME é a forma mais confiável de receber uma encomenda e é privado, não existe um mundo em que os correios mereçam existir, não da forma como estão hoje.
Nossa! Que surpresa esbarrar em uma matéria coerente e positiva sobre a empresa. Realmente estou espantada, pois todo dia o algoritmo despeja dezenas de conteúdos negativos e tendenciosos afirmando as mesmas coisas sobre a ECT – O que desencadeia ansiedade na maioria dos empregados.
BOA REPORTAGEM. EXPLICOU TUDO DIREITINHO