Jabuticaba explosiva

Novo sinal do desastre econômico: mesmo com economia deprimida e desemprego generalizado, inflação sobe constantemente há seis meses. Alta da comida já se aproxima dos dois dígitos. Poder das grandes redes de varejo pode ser a causa

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O Brasil de J. Messias é inovador. Com economia à beira de mais uma recessão oficial, com as vendas de varejo claudicando há anos, com forte perda de poder de compra das famílias, o custo da cesta básica está em espiral ascendente. Os cartéis da distribuição de alimentos e outros produtos de consumo popular — os Havans da fome — mantêm firme seu poder de extrair superlucros a partir da relativa impossibilidade dos brasileiros pararem de comer e, simultaneamente, se manterem vivos. Mesmo com um aumento de preço da cesta básica da ordem de 11% em um ano, os trabalhadores têm que espremer até o talo o orçamento doméstico, comprar comida e fazer crescer o saldo bancário dos atravessadores, especuladores, merceeiros, supermercadistas e outras categorias de mercadores da miséria alheia. Como relata Sérgio Lamucci em reportagem publicada pelo Valor:

“Um componente do mau humor recente em relação à economia é o aumento do custo da cesta básica, diz o economista-chefe da corretora Tullett Prebon, Fernando Montero. Ele observa que, na média acumulada desde o começo deste ano até a semana passada, ela subiu 11,1% em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 725,47. Com isso, sobra menos dinheiro para quem ganha o salário mínimo depois da aquisição dos bens de primeira necessidade. ‘Até meados do ano passado, a cesta básica [apurada pelo Procon-SP] mostrava-se muito comportada, subindo pouco em 2017 e caindo em 2018, em termos nominais’, diz Montero, em nota. Hoje, com o salário mínimo a R$ 998, sobram R$ 272,53 depois da compra da cesta básica. É um valor R$ 28,64 menor do que restava em 2018. E 2019 marca ‘paradoxalmente’ a primeira vez em cinco anos em que o piso salarial teve correção acima da inflação, ressalta Montero. Em 2018, o salário mínimo era de R$ 954, mas a cesta básica ficou em média em R$ 652,83 no acumulado do ano até a primeira semana de maio. Com isso, sobravam R$ 301,17 depois da aquisição dos bens de primeira de necessidade, ou R$ 33,92 a mais do que no mesmo período do ano anterior, quando o piso salarial do país era de R$ 937. Em 2017, esse valor do salário mínimo era suficiente para comprar uma cesta básica e sobrar R$ 267,25, quase R$ 43 a mais do que no período de janeiro até a primeira semana de maio de 2016. Nos 12 meses até abril, os preços de alimentação no domicílio subiram 9,1%, de acordo com os números do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).”

O mau humor com essa jabuticaba tem tudo para gerar contínuas explosões de insatisfação ao som do ronco de barrigas ficando vazias.

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