Com quantas culturas se faz a identidade nacional?
O Brasil abriga um grande número de imigrantes não-europeus, mas a quantidade de pesquisas sobre esse fenômeno ainda é insuficiente. Obra lançada pela editora Unesp examina como os primeiros desses grupos definiram seu lugar no país. Sorteamos dois exemplares
Publicado 23/07/2025 às 16:24 - Atualizado 24/07/2025 às 12:22

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Não é nenhuma novidade que o Brasil recebe milhares de imigrantes todos os anos. Após a invasão portuguesa e a chegada dos povos escravizados, o país presenciou ao longo do século XIX um processo de imigração que o levou a acolher centenas de milhares de europeus de diversas nacionalidades, além do surgimento de uma comunidade árabe em uma série de cidades.
Já no século XX, devido ao processo de industrialização, o país seguiu recebendo um grande número desses povos, porém, além deles, recebemos um grande fluxo de imigrantes japoneses. Estima-se que entre 1908 e 1941, cerca de 190 mil japoneses cruzaram o oceano até aqui. Esse perfil migratório teve um caráter diferente, focado principalmente na formação de colônias agrícolas para a plantação de algodão.
Atualmente, testemunhamos um aumento na chegada de latino-americanos (venezuelanos, haitianos, colombianos) e africanos, além de refugiados de diversas partes do mundo. Segundo os dados do Observatório das Migrações em São Paulo, de 2000 até 2024, foram registrados 690 mil imigrantes no Estado – 455 mil apenas na capital.
A busca por melhores condições de vida é até hoje uma das principais influências na decisão dessas milhares de pessoas.
Intrigado com uma relativa ausência de estudos sobre o grande número de imigrantes não-europeus no país, o historiador norte-americano Jeffrey Lesser, professor convidado do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, encabeçou um estudo que buscou examinar as formas pelas quais imigrantes tentaram definir seu lugar dentro da identidade nacional brasileira.

A pesquisa desembocou no livro A negociação da identidade nacional – Imigrantes, minorias e a luta pela etnicidade no Brasil, lançado pelos nossos parceiros da Editora Unesp.
Outras Palavras e Editora Unesp irão sortear dois exemplares de A negociação da identidade nacional – Imigrantes, minorias e a luta pela etnicidade no Brasil, de Jeffrey Lesser, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 4/8, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!
Na obra, Lesser investiga não só o discurso das elites sobre a etnicidade não-europeia no século XIX, como também as estratégias usadas pelos imigrantes para manipular tais discursos, em especial sírios e libaneses que formavam um grupo de cristãos árabes.
A resposta do Estado e da imprensa brasileira para evitar a entrada do grupo foi a de defini-los como “muçulmanos” e “fanáticos” em um país de “pretensa essência católica”.
Outro debate curioso abordado, de teor verdadeiramente biologizante e racista, é relativo à “questão chinesa”, que pode ser documentado a partir de 1807, quando fazendeiros e políticos discutiam o uso da mão-de-obra chinesa no Brasil.
Assim, no início do século XIX, um grupo de Macau – Região Administrativa Especial (RAE) da China, colonizada por portugueses – chegou ao Brasil para cultivar chá no Jardim Botânico Real, o que seria considerado anos depois um fracasso.
A estratégia foi cogitada tanto para possibilitar a “desafricanização” do país, quanto por motivos econômicos: para contornar a proibição do tráfico de escravos, imposta pelos ingleses, além de satisfazer o desejo do rei Dom João de transformar o chá em um produto de exportação importante.
O incentivo à imigração desses povos se sustentou com teorias segundo as quais os chineses e os “índios” brasileiros teriam conexões biológicas, portanto iriam “facilmente desaparecer” com a expansão brasileira, sugerindo que a etnicidade chinesa seria deixada para trás. O autor sugere que tal discussão criou o paradigma contra qual teriam que lutar todos os demais grupos não-europeus.
Um outro foco do estudo é o de mostrar como a etnicidade e a economia se uniram para redefinir o que significava ser brasileiro, tomando como caso a questão da imigração japonesa em massa no século XX, a partir do 1908.
O Brasil é profundamente multicultural, e foram as próprias políticas de imigração, inicialmente pensadas para nos tornar mais “europeus”, que possibilitaram essa diversidade. Como afirma Lesser nas páginas finais da obra, essa contradição irônica faz parte de uma longa história de rejeição e inclusão, mas essas “negociações” continuam em andamento.
Guerras e conflitos, aliados às infindáveis crises econômicas e humanitárias, fazem aumentar de maneira vertiginosa os fluxos migratórios não só no Brasil, mas no mundo todo. Todavia, os seres humanos migram a milhares e milhares de anos – a própria ideia de nação e a existência de fronteiras e passaportes é muito posterior a esse fenômeno. Compreender as motivações e, principalmente, os desafios que entrelaçam a migração no atual estágio civilizatório da humanidade é fundamental para não reproduzirmos preconceitos e teorias defasadas. Por fim, vale ainda dizer que essa leitura está longe de ser entediante, é absolutamente envolvente, fluida, divertida e interessante.
SOBRE JEFFREY LESSER
Jeffrey Lesser ocupa a Cátedra de Estudos Brasileiros na Universidade Emory, em Atlanta, EUA, e é professor convidado do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. É autor de muitos livros publicados no Brasil, incluindo três premiados internacionalmente: Uma diáspora descontente: os nipo-brasileiros e os signifcados da militância étnica, 1960-1980 (Paz e Terra, 2008), Negociando a identidade nacional: imigrantes, minorias e a luta pela etnicidade no Brasil (Editora Unesp, 2001) e O Brasil e a questão judaica: imigração, diplomacia e preconceito (Imago Editora, 1995).
Em parceria com a Editora Unesp, o Outras Palavras irá sortear dois exemplares de A negociação da identidade nacional – Imigrantes, minorias e a luta pela etnicidade no Brasil, de Jeffrey Lesser, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 4/8, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!
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