De onde tira forças um consórcio fisiológico de políticos, que há 40 anos é decisivo em todas as decisões importantes do Congresso? É fácil lamentar sua existência. Mais difícil é assumir que ela se deve às enormes ausências das forças democráticas
Alianças políticas contra ataques à democracia, como fez o governo Lula, são essenciais. Mas cidadanias ativas e transformadoras não dependem do Estado: precisa ter raízes profundas no chão da sociedade. Mobilizar territórios e diversidades é chave para outro Brasil
Quilombolas, indígenas e ribeirinhos ensaiam, ainda em pequena escala, a “convivência”: com o clima, com a natureza e entre as comunidades. Cisternas no Nordeste são exemplo: solução veio da população empobrecida, que apostou em outra relação com o Semiárido
O bolsonarismo não se arrefeceu e as concessões de Lula III ao mercado o fizeram perder lastro com as bases. Poderá a comunicação, aliada às forças das ruas, aglutinar pautas transformadoras? Como trazer os “territórios de vida” para o centro da política?
A reconstrução do estado não pode se resumir a grandes obras: é chance de desafiar o desenvolvimento extrativista, que levou a esta e outras tragédias ecossociais. E de outro paradigma: um novo global, a partir do bem-viver e da integração dos múltiplos locais do país
Ultradireita soube usar a comunicação para atacar um valor essencial: o pertencimento coletivo. Movimentos sociais precisam recuperar o protagonismo das ruas. E o principal trunfo é o resgate da participação social e do sentido de Comum
A ditadura impacta nosso cotidiano mais do que admitimos. Ela enraizou o autoritarismo – e alavancou o capitalismo dependente: incentivou o “agro”, o extrativismo e a recolonização da Amazônia. Democracia exige reparação e memória dos crimes ecossociais
Queda da popularidade de Lula é sintomática. Acuado pelo centrão, ele insiste na despolarização, sem oferecer novos horizontes. Mas a reconstrução do país não virá sem enfrentar a velha política. Estimular a cidadania ativa e mídias democráticas são essenciais
Em contraste com as declarações vazias de governos e corporações, movimentos sociais produzem, em todo o planeta, alternativas locais. Mas ainda não foram capazes de formular projetos sistêmicos. Sem eles, crise pode terminar em tragédia
É preciso criar novos sentidos e rumos para além dos dramas imediatos. Há diversas iniciativas em curso. Uma delas, a Tapeçaria Global de Alternativas, propõe saídas à pasteurização neoliberal: tecer imaginários mobilizadores à partir da diversidade territorial