Os irmãos Vieira Lima são três: Geddel e Lúcio
Publicado 14/09/2017 às 14:26
Afrísio Vieira Lima é personagem oculto na trama familiar, embora divida fazendas com irmãos, ocupe alto cargo na Câmara e tenha sido tesoureiro da fundação do PMDB
Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
Os irmãos Geddel são três: Geddel, Lúcio e Afrísio. Intriga-me o esquecimento de Afrísio nas notícias sobre a família. Fala-se até da mãe, do pai falecido, mas não do terceiro irmão. Pois bem: Afrísio Vieira Lima Filho é diretor legislativo da Câmara.
Geddel Vieira Lima virou um astro pop às avessas. Sintetiza como poucos essa geddelização da política brasileira. Com seu olhar meio assustado. É um corrupto que dá para imaginar no churrasco mais próximo, quebrando um copo, gargalhando.
Escrevi sobre ele no De Olho nos Ruralistas: “Geddel, o político dos R$ 51 milhões, declara fazendas a preço de banana“.
Lúcio Vieira Lima, o Bitelo da Odebrecht, opera como deputado. Condenado a ser o “irmão do Geddel”. Esse está enrolado nas investigações sobre o apartamento dos R$ 51 milhões em Salvador. É uma versão menos espalhafatosa de Geddel. Mas sumiu.
E Afrísio? Afrísio passa batido. Como se não fosse um Afrísio, um Lúcio, um Geddel. Os três, no entanto, dividem as propriedades rurais da família. Atuam juntos como pecuaristas e produtores de cacau. Só que ele é blindado. Por quê?
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Afrísio também é um homem público. Repito: é diretor legislativo da Câmara. Isso significa… poder. Significa que sabe de muita coisa. Significa que os corredores do Congresso são conhecidos palmo a palmo pela família Vieira Lima.
Até maio, Afrísio era tesoureiro da Fundação Ulysses Guimarães. Presidida por quem? Moreira Franco (PMDB-RJ). Vice-presidida por quem? Eliseu Padilha (PMDB), ministro-chefe da Casa Civil. Um dos diretores chama-se Romero Jucá (PMDB-RR).
Todos esses outros nomes compõem a cúpula do PMDB. A cúpula do PMDB no senado já foi definida pela Procuradoria-Geral da República como organização criminosa. Padilha possui propriedades em um parque estadual e vende bois para a JBS.
(E Afrísio é um colecionador de obras de arte. Gostava de vender seus quadros em pleno espaço da Câmara. Sua mulher trabalhou na primeira secretaria com o deputado Heráclito Fortes, do PMDB do Piauí, conhecido na Odebrecht como Boca Mole.)
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A geddelização da política brasileira não é fruto de um “doente” temperamental e com covinhas. A geddelização é um movimento racional. A geddelização instala-se. Um é deputado, o outro é um burocrata, enquanto a matriz dá a cara para bater.
Sim, o poder dos Vieira Lima começa lá atrás. Com o primeiro Afrísio, o patriarca, que também foi deputado. O problema de tratar esse clã como expressão de uma única pessoa é que a gente elimina a história.
Geddel foi preso, Lúcio talvez o seja. Afrísio continuará lá.
Ou, em outras palavras: o PMDB continuará lá, com vários pés em várias canoas. É um polvo. Ou uma hidra. Tem o braço Geddel, o braço Jucá, o braço Padilha, o estômago Michel, a cabeça Sarney, o intestino Calheiros. Corta-se um órgão, crescem os demais.
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