Mulheres vivas: a luta depois dos atos antifeminicídio

Agora, o corpo coletivo se ergueu. É fruto de um imenso esforço de educação popular, chamados, articulações, rodas, assembleias, grupos de zap, cartazes improvisados, criação de artistas, alianças improváveis e uma certeza: haverá Levante

Foto: Reprodução/X (@samiabomfim)
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Nos últimos dias, o país assistiu a uma sequência de violências brutais contra mulheres. São casos que escancaram uma ferocidade já denunciada pelos movimentos feministas, mas que agora transborda para o noticiário nacional com força avassaladora. As mortes, os estupros, as torturas, as tentativas de feminicídio não são exceções, não são acidentes, não são “pontos fora da curva”: são a expressão máxima de um sistema que nos atravessa há séculos e que insiste em nos punir por existirmos.

E não é sorte nossa que agora algo se moveu e o corpo coletivo se ergueu. Existe uma tecnologia social sendo plantada dia a dia com educação popular e muitas mãos que cria caminhos para que agora, de norte a sul, surjam chamados, articulações, reuniões emergenciais, rodas, assembleias, grupos de WhatsApp explodindo, cartazes improvisados, tantas artistas criando materiais de apoio e aderindo, alianças improváveis e uma certeza: haverá Levante.

A luta que existe antes do Levante

O que foi feito este fim de semana não nasceu do acaso, nem da urgência apenas. Nasceu de décadas de luta cotidiana. É certo que, antes de cada grande ato histórico, existe um trabalho silencioso, contínuo e coletivo, e esse trabalho do dia a dia, de base, de educação popular, os movimentos feministas conhecem bem.

Há anos fazemos:

Educação Popular Feminista Antirracista AntiLGBTQIA+fóbica, para mudar a cultura social na base, onde a violência começa. Oficinas, rodas, formações, metodologias que transformam vidas de mulheres, de homens, de jovens e que revelam a potência das tecnologias sociais criadas nos territórios.

Incidência política e monitoramento de leis, porque a luta não é só nas ruas; é nos gabinetes, nos conselhos, nas audiências, nos espaços onde o patriarcado institucionalizado tenta nos silenciar. Somos nós pressionando por verbas, programas, protocolos, por políticas públicas que funcionem.

Atuação territorial, porque a violência não é abstrata: tem endereço, tem nome, tem rosto, tem cor, credo, classe e endereço. Estamos nas quebradas, nos assentamentos, nas aldeias, nas vilas, nos condomínios populares, nos territórios periféricos. Escutamos, acolhemos, acompanhamos, protegemos, orientamos. Construímos redes de cuidado e autocuidado que muitas vezes ocupam um lugar central em que o Estado não chega.

Organização comunitária, porque só existe transformação quando existe coletivo. Criamos grupos de mulheres, bibliotecas feministas, espaços de acolhimento, programas de prevenção nas escolas, campanhas permanentes, redes de solidariedade, articulações entre movimentos.

Esse trabalho não aparece no jornal. Não vira manchete. Não é contado nas estatísticas oficiais. Mas é ele que abre espaço para que exista uma indignação nacional e possamos entoar “Mulheres Vivas” hoje. Há décadas as mulheres gritaram: O silêncio é cúmplice da violência! Quem ama não mata, não machuca e não maltrata!! Estas foram as palavras de desordem que desde os anos 70 mobilizaram a sociedade contra a impunidade do assassinato de Angela Diniz, contra o assassinato de Margarida Alves, ela que nos ensinou nos anos 80 que “melhor morrer na luta do que morrer de fome”, contra o feminicídio de

Marielle Franco assassinada por representar cada uma de nós ecoando nossas vozes. Nunca nos calamos e é por isso que neste 7 de dezembro somos milhares e milhares de vozes por todo o Brasil, numa polifonia imensa, que esperançando saudamos: Mulheres Vivas!!!

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