Nova cepa da gripe aviária e a ameaça das Grandes Fazendas

Tese de Rob Wallace se prova diante de escalada viral dentro do sistema de produção agropecuário

© Arquivo/Agência Brasil
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Na mesma semana em que o livro Grandes Fazendas Produzem Grandes Gripes (ed. Igrá Kniga), de Rob Wallace, é lançado no Brasil, um fato trágico nos Estados Unidos reforça sua tese central. Autoridades de saúde do estado de Washington confirmaram a primeira morte humana pela cepa H5N5 da gripe aviária. 

A vítima, um idoso com condições de saúde preexistentes, mantinha uma pequena criação doméstica de aves. O caso inédito ocorre enquanto o mundo ainda enfrenta surtos da variante H5N1, que já infectou pelo menos 70 pessoas nos EUA.

A obra do biólogo evolucionista Rob Wallace, publicada originalmente em 2016, é hoje considerada profética por prever que a intensificação da produção animal em grande escala criaria um terreno fértil para o surgimento de novos e perigosos vírus. Wallace argumenta que a agricultura industrial, ao confinar milhares de animais geneticamente similares, funciona como uma “fábrica de patógenos”, onde gripes como H5N1, H1N1 e agora a H5N5 evoluem para formas mais virulentas.

O caso do criadouro doméstico não invalida a tese de Wallace; pelo contrário, a ilustra. A pressão exercida pela expansão das grandes fazendas sobre os habitats naturais e a circulação global de patógenos que elas causam criam um ambiente de risco elevado para toda a cadeia de produção de alimentos, do grande conglomerado ao pequeno produtor.

Embora as autoridades ressaltem que o risco para o público permanece baixo – não há evidência de transmissão entre humanos –, a morte por H5N5 serve como um alerta. Ela ilustra a imprevisibilidade desses vírus, que, pressionados pela expansão agropecuária, saltam de animais selvagens para criações domésticas e então para humanos.

Wallace não se limita a diagnosticar o problema – também aponta saídas concretas. A agroecologia, para ele, emerge como alternativa vital, um sistema que integra agricultura e ecologia, rompendo com a monocultura em larga escala. 

Neste contexto, movimentos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), citado por Wallace como um dos pioneiros nesta transição, ganham mais relevância. A morte nos Estados Unidos reforça que a busca por esses modelos alternativos não é ideológica, mas uma necessidade de saúde global.

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