COP30: Um fundo para a financeirização das florestas?
Ativistas ambientais questionam centralidade do mercado em Fundo por sustentabilidade criado pelo governo federal
Publicado 13/11/2025 às 10:48 - Atualizado 13/11/2025 às 10:49

O Governo Federal oficializou, durante a Cúpula do Clima em Belém, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, sigla em inglês), lançado originalmente durante o G20 de 2024, no Brasil. O fundo propõe um novo mecanismo de investimento público e privado para financiar a preservação florestal, a partir do pagamento às nações de US$ 4 por hectare preservado em seus territórios, criando um incentivo econômico direto para proteger as florestas tropicais.
Segundo o Ministério da Fazenda, a meta é captar cerca de US$ 125 bilhões em mercados financeiros a juros reduzidos, aplicar os recursos em projetos com retorno acima da média e repassar parte desses ganhos aos países que mantêm suas florestas em pé – “tornando a conservação mais lucrativa que a destruição”.

Mas durante mesa promovida pela Global Forest Coalition (GFC) na Cúpula dos Povos, o TFFF foi duramente criticado por representantes de diferentes países. Da Indonésia, vieram alertas de que o fundo representa um mecanismo de mercado criado para salvar o sistema financeiro, não as florestas. Apenas 20% desses 4 dólares seriam repassados às populações originárias, totalizando 80 centavos de dólar, enquanto os lucros principais permanecerão nas mãos de bancos e investidores – muitos dos mesmos que financiam mineração, desmatamento e a indústria do petróleo. “Não há motivo para confiar nesses bancos”, afirmaram, questionando o fato de o fundo ter sido elaborado e lançado pelos ministros das Finanças do G20, fora das negociações climáticas oficiais. “Onde está o clima nisso tudo? Em lugar nenhum!”, resumiram.
Representantes do Togo também expressaram preocupação, dizendo que o TFFF “busca controlar as florestas tropicais”, o que ameaça as comunidades locais e marginaliza o conhecimento indígena. Para os críticos, a proposta reforça a lógica colonial de que os países ricos definem as regras do financiamento climático, enquanto os povos que realmente protegem as florestas seguem sem autonomia e respaldo.
“Se os governos fossem sérios em conservar as florestas, enviariam recursos para elas, não para a guerra”, disse uma ativista indonésia, defendendo alternativas como a tributação sobre o petróleo – que, segundo ela, geraria mais recursos do que o próprio fundo. “A solução é a luta”, concluiu o representante colombiano da GFC, e referenciando o Movimento Sem Terra brasileiro, reforçando que quatro dólares por hectare não vão impedir o desmatamento nem garantir justiça climática. A mesa conclui que essa é mais uma das chamadas “falsas soluções” propostas pelas elites globais, que são insuficientes em um real combate à crise climática.
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