Um encontro para celebrar – e repensar – o SUS
Outra Saúde co-organiza em São Paulo, hoje e amanhã, seminário sobre as conquistas históricas, os impasses e os desafios do sistema. Objetivo central: pensar o resgate das ideias originais da Reforma Sanitária, no mundo transformado do século XXI
Publicado 18/09/2025 às 09:34

Começa hoje o Seminário SUS 35 Anos. As bases do Sistema Único de Saúde foram firmadas na Constituição de 1988, após as lutas políticas e sociais das décadas anteriores. Mas foi dois anos depois, em 1990, com a Lei Orgânica da Saúde, que ele foi regulamentado. É a data que celebramos agora. Nestas quinta e sexta, 18 e 19 de setembro, Outra Saúde e seus parceiros – Instituto Walter Leser (FESPSP), Fundacentro (MTE) e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da FCMSCSP – prepararam debates sobre os desafios mais importantes no horizonte do maior sistema de saúde pública universal do mundo.
A primeira mesa acontece às 14h, com o tema Desigualdades na Atenção à Saúde. Teremos, entre os participantes, Mateus Brito, membro do Coletivo Nacional de Saúde Quilombola e um dos responsáveis pela formulação da Política Nacional voltada a essas populações, em andamento no Ministério da Saúde. Também estará presente Luana Alves, vereadora de São Paulo, trabalhadora da saúde engajada na luta por melhores condições para os funcionários do SUS. A professora da UFRJ Rachel Gouveia, autora de Na mira do fuzil, livro que aborda a saúde mental das mulheres negras, e de Ecos da Liberdade, que será lançado no evento, se soma ao debate. Ao lado deles, estará também a professora da Faculdade de Medicina da USP Márcia Couto, que estuda a hesitação vacinal e sua relação com as desigualdades no Brasil.
Em seguida, vem uma sessão especial: Desenvolvimento — como fortalecer o
Complexo Econômico-Industrial da Saúde. Às 16h15, falará José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde durante todo o segundo mandato de Lula. Ele é um dos principais nomes em defesa do fortalecimento da indústria da saúde brasileira para garantir soberania sanitária ao país. Sentará ao seu lado Rosane Cuber, diretora de Bio-Manguinhos, instituto da Fiocruz responsável pelo desenvolvimento tecnológico e produção de vacinas e biofármacos. Junto a eles estará Eduardo Magalhães Rodrigues (FSP/USP), cuja pesquisa de doutorado se focou na concentração de poder nas mãos de um oligopólio de saúde que controla o setor de seguros de saúde e laboratórios farmacêuticos.
À noite, a partir das 18h30, começa a cerimônia de abertura do seminário. Saudarão o público os representantes de cada entidade organizadora do evento. Também nesse momento, acontece a inauguração da Sala Walter Leser, onde está instalada uma exposição de artes visuais, que selecionou e organizou obras na tentativa de contribuir para a reflexão sobre a saúde em tempos de crise civilizatória.
Fechamos a primeira noite com o lançamento de dois livros essenciais. A nova edição de Da Saúde e Das Cidades, de David Capistrano Filho, que será apresentado por seu organizador e editor José Ruben de Alcântara Bonfim (leia um capítulo aqui). E a Coleção comemorativa 100 anos de Franco Basaglia, que conta com quatro livros que refletem sobre a influência do autor italiano na Reforma Psiquiátrica brasileira – sua organizadora Rachel Gouveia estará presente para falar sobre sua importância (saiba mais).
Na sexta-feira, o dia começa mais cedo. A partir das 10h30, discutiremos um assunto que apenas se insinuava no nascimento do SUS, mas que hoje é incontornável para pensar o futuro do sistema: a Transformação digital da Saúde. Como esse tema tem sido tratado com mais ênfase desde o início do governo Lula 3, convidamos para a mesa Ana Estela Haddad, secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde. Participam, ao seu lado, Fernando Aith, professor titular do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP e Luiz Vianna Sobrinho, professor convidado do Departamento de Direitos Humanos em Saúde ENSP/Fiocruz e pós-doutorando no Instituto de Saúde Coletiva da UFBA (e autor de Outras Palavras).
Outro tema crítico para pensar e garantir o futuro do sistema é o Financiamento e Gestão do SUS. Para essa mesa, que inicia às 14h, convidamos a economista Mariana Melo, membro da diretoria da Associação Brasileira de Economia da Saúde (ABrES) e doutora pela Faculdade Saúde Pública da USP. Juntam-se a ela Marília Louvison, professora livre-docente do Departamento de Política, Gestão e Saúde da FSP/USP, e Aparecida Pimenta, médica sanitarista doutora em Saúde Coletiva pela UNICAMP e assessora do COSEMS/SP.
A tarde se encerra com a mesa Saúde dos trabalhadores como eixo estruturante de políticas públicas e ações do SUS, que unirá Pedro Tourinho, médico e presidente da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), Luis Leão. coordenador-geral de Vigilância em Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, e Dari Krein, professor do Instituto de Economia da Unicamp que pesquisa mercado e relações de trabalho. Os três debaterão a importância de levar a saúde do trabalhador ao centro do SUS.
O grande momento do Seminário acontece na sexta a partir das 19h, com um encontro potencialmente muito frutífero. Na Conferência final, estarão presentes os sanitaristas Gonzalo Vecina, fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e Jairnilson Paim, um dos idealizadores do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), além de grande pensador dos rumos do SUS. Ambos estiveram presentes e atuantes na construção do Sistema Único de Saúde desde seus primórdios e poderão apresentar sua visão sobre as últimas três décadas e meia – e, principalmente, apontar caminhos para a luta por seu fortalecimento.
“A nossa agenda é a radicalização da reforma sanitária brasileira. A nossa agenda é a refundação do SUS, efetivamente democrático, público, descentralizado, participativo, integral. A nossa agenda tem uma preocupação central de reduzir as desigualdades, de defender o direito à saúde, de brigar pela democracia e pela emancipação das pessoas, dos sujeitos e da nossa humanidade”, discursou Jairnilson há alguns meses, no Congresso de Política, Planejamento e Gestão de Saúde da Abrasco. Acreditamos que o Seminário SUS 35 Anos, que começa em poucas horas, pode ser um espaço para pensar e fortalecer essa agenda.
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