Um dia histórico

Bolsonaro e outros golpistas vão a julgamento. Hoje, “Ditadura Nunca Mais” é mais do que uma insígnia, mas a confirmação dos interesses do povo brasileiro em manter liberdades democráticas e avançar para uma democracia participativa, com a necessária e fundamental participação popular

Ato na av. Paulista contra o PL da Anistia, em março de 2025. Créditos: Lucas Martins/Brasil de Fato
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No dia 8 de janeiro de 2022 o povo brasileiro assistiu atônito à invasão da Praça dos Três Poderes em Brasília. A turba invadia o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, e de forma aleatória, destruía o que encontrava pela frente. Não houve força que os detivesse. Estava em curso a tentativa de um golpe de Estado, para fundar no país uma ditadura, sob a liderança do então derrotado nas eleições presidenciais, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Naquele mesmo dia após o turbilhão de acontecimentos, as lideranças da república sobre os escombros, confirmaram seu compromisso em lutar com toda energia pela democracia, liberdade e justiça. Os responsáveis por tal agressão à vontade soberana do povo brasileiro, deveriam responder pelo crime bárbaro de tentativa de tomada do poder pela força.

As investigações a seguir revelaram ainda o plano macabro de assassinar o presidente da república Lula, o vice-presidente Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Toda a trama foi revelada, com detalhes sórdidos de alta traição ao país. O plano previa um governo autocrático para continuidade do projeto neoliberal que previa seguir na financeirização da vida, assalto ao orçamento público em benefício de uns poucos, entrega das riquezas do país inclusive o petróleo para a matriz imperial dos EUA. Era previsto continuar no ataque às conquistas dos trabalhadores obtidas em décadas de luta por melhoria das condições de vida e trabalho, bem como seguir na implantação de uma ordem moral regressiva de direitos das mulheres, negros, indígenas, comunidade LGBTQUIA+ e outros grupos que historicamente foram discriminados.

O golpe foi interrompido, e era preciso que os seus responsáveis respondessem pelo crime cometido. E esta terça-feira, dia 2 de setembro de 2025, já está marcada na história do Brasil como um dia memorável: pela primeira vez na república, um grupo de altas personalidades políticas, é julgado por tentativa de golpe de estado. Hoje senta-se no banco dos réus o ex-presidente da república, Jair Bolsonaro e mais sete personalidades de alto escalão do seu governo, entre eles, militares de alta patente. São julgados pelo STF por 5 crimes: Organização criminosa armada, Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, Golpe de Estado, Dano qualificado pela violência e grave ameaça e Deterioração de patrimônio tombado.

Nesse ínterim, os golpistas continuam atentando com o povo brasileiro, ao insistir em um projeto de anistia aos golpistas, e articular junto ao governo Trump sanções ao país e autoridades dos poderes constituídos. Em um ataque sem precedentes à soberania nacional, os EUA começam a sancionar o Brasil sob a falsa alegação de “perseguição” política, restrição da liberdade, além de inconfessáveis interesses econômicos. No fundamental pretende o governo norte-americano lançar mão da presidência da república em 2026, elegendo um dos seus títeres para enfim colocar a mão no petróleo, lítio e minerais raros, presentes em solo brasileiro em abundância. Inicia-se uma campanha pela soberania nacional, com presença do movimento social, marcada ontem, dia 1° de setembro de 2025, em um importante ato no Clube de Engenharia no Rio de Janeiro. Com a casa lotada, desfilaram pronunciamentos fortes de defesa da democracia, e os interesses soberanos do povo brasileiro.

Da mesma forma a firme luta contra a anistia aos golpistas, levada a cabo pelo movimento popular, reafirma que “Ditadura Nunca Mais”. Isto é mais do que uma insígnia, mas a confirmação dos interesses do povo brasileiro em manter as liberdades democráticas, e avançar, como está inscrito na Constituição, para uma democracia participativa, com a necessária e fundamental participação popular.

Em sua última reunião nos dias 11 e 12 de agosto de 2025, o Conselho de Participação Social da Presidência da República aprovou uma moção de defesa da democracia e a soberania nacional. Afirmação que tem sido feita pelos inúmeros conselhos e conferências, fóruns de participação popular junto às políticas públicas no plano nacional, e junto aos estados e municípios. Tal capilaridade da participação comunitária precisa se traduzir em mobilização social, para barrar os ataques internos e externos ao país, e seguir na construção de um país soberano, democrático e popular.

O país acerta suas contas com os golpistas nesta semana. Vai ficar faltando ainda fazer com que respondam pelos crimes contra a humanidade cometidos durante seu governo, como o genocídio Yanomami, a queima criminosa na Amazônia e Pantanal, e a frequente agressão ao ambiente. Em particular na pandemia de covid-19, onde vimos a mais de 700 mil mortes, sendo que dois terços destas eram evitáveis se o governo tivesse seguido as medidas preconizadas pela ciência e a Organização Mundial de Saúde; seu negacionismo levou ao atraso em providenciar vacinas; o deboche diante do intenso sofrimento alheio. Repetiremos estes fatos à exaustão, não esqueceremos e não deixaremos que esqueçam, para que nunca mais se repita.

Maricá, 02 de setembro de 2025.

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