Saúde, pilar de reconstrução da democracia em Myanmar
A população do país da Ásia Central constrói projetos de superação do atual regime autoritário, que tomou o poder após golpe em 2021. Buscam formas de democracia popular, com políticas públicas de caráter universal – e têm o SUS como referência importante
Publicado 25/08/2025 às 18:31

Myanmar (também conhecido como Birmânia) é um país da Ásia Central, localizado ao sul da China, com população aproximada de 55 milhões de habitantes e uma área maior do que o estado da Bahia no Brasil. Tem uma economia baseada na agricultura, recursos naturais e uma indústria em desenvolvimento. Tem uma grande riqueza cultural, tradições milenares, e uma rica herança histórica. Como no Brasil, Myanmar possui uma grande diversidade étnica.
Na manhã de 1° de fevereiro de 2021, houve um golpe de estado no país. Os militares tomam o poder e Myanmar mergulha em um governo ditatorial, com perseguições, prisões políticas, repressão e aumento da pobreza.
Após mais de quatro anos do golpe, hoje se organiza uma importante resistência popular, que luta para restabelecer a democracia. Há uma rede de apoio internacional, principalmente a partir da Itália, que conta com o protagonismo da ex-senadora da república italiana Albertina Soliani, e atual presidente Honorária da Associação para a Amizade Itália-Birmania “Giuseppe Malpeli” de Parma.
Em recente visita à região, Albertina foi proibida de entrar em Myanmar. Então, esteve na Tailândia, país vizinho, em um firme ato de solidariedade, apoio e verificação das condições humanitárias de presos políticos. Esta expedição à região ocorreu entre os dias 14 a 25 de junho de 2025, foi promovida e coordenada pela Associação De Amizade Giuseppe Malpeli Itália-Birma, da qual participaram representantes da própria Associação, professores da Universidade de Parma e um representante da Associação Rede Unida (Brasil), a italiana Maria Augusta Nicoli.
Apesar de uma situação de extrema dificuldade em Myanmar, os que lutam pelo restabelecimento da democracia se organizam em grupos que têm avançado na construção de projetos sociais na agricultura, reabilitação social, educação. A Universidade de Chiang Mai, a segunda maior cidade da Tailândia, país limítrofe, ajuda estudantes de Myanmar no exílio, desenvolve projetos ecologicamente sustentáveis. A delegação internacional presente na ocasião trocou ideias e discutiu possibilidades de colaboração.
“Um ano após minha primeira viagem, encontrei uma situação mais sólida e madura. A resistência vencerá, mesmo que o regime ainda governe e a situação mundial mantenha Myanmar à margem. A resistência, que envolve grupos políticos, grupos étnicos, e a sociedade civil, controla hoje 70% do território”, diz Albertina.
O processo de democratização está sendo realizado por vários atores comprometidos em libertar os territórios de Myanmar da ditadura militar que se instalou após o golpe de 2021. Graças à Web o grupo italiano está em estreito contato com o governo da resistência, NUG (Governo de Unidade Nacional), com os seus ministros e colaboradores. Muitas mulheres participam das organizações e atividades políticas.
O trabalho de definição e construção do governo e da estrutura de governança para a democracia em Myanmar está muito avançado. Isto porque os grupos de trabalho que foram formados, incluem todos os representantes de organizações que lutam pela democracia. Neste cenário, a Constituição brasileira de 1988, e em particular o Sistema Único de Saúde (SUS), são fortes referência para a reconstrução democrática do país. Eles já estão elaborando documentos que antecipam as escolhas do futuro Governo, que se pretende ser um governo federal e estados que organizam administrativamente o país.
Enquanto resistem, os grupos já trabalham nos territórios sob seu domínio, e pensam projetos de reconstrução de uma democracia popular, que têm como referência a ideia geral de um Estado com participação social, políticas públicas de caráter universal e política de saúde de caráter universalista.
O Sistema Único de Saúde já é referência para vários países, e passa a ser também para Myanmar democrático e popular. O SUS tem esta solidez pelo apoio social e seu arcabouço jurídico, que parte do princípio de que a saúde é “direito de todos e dever do Estado”, instituindo assim a saúde como um direito fundamental. A resistência do povo e organizações pela democracia em Myanmar terá valido a pena, quando tiverem asseguradas a todas as pessoas as condições adequadas de vida. No Brasil, a Rede Unida organiza a solidariedade ao movimento pela redemocratização de Myanmar, tendo à frente a referência no SUS para reconstrução da política de saúde no país, após a sua libertação.
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