Fiocruz avança no desenvolvimento de vacinas de mRNA
Configurando um novo passo para vacinas RNA mensageiro no Brasil, novidade representa um ponto de inflexão na tecnologia nacional de produção de imunizantes e para a indústria do setor
Publicado 21/08/2025 às 16:21
O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), planta farmacêutica da Fiocruz, acaba de registrar sua própria patente para vacinas de RNA mensageiro. A notícia é um verdadeiro ponto de inflexão na tecnologia nacional de produção de imunizantes e também para a indústria do setor. O laboratório é o centro de referência da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o desenvolvimento de vacinas de mRNA na América Latina.
O produto patenteado pela Fundação Oswaldo Cruz se dirige a combater o vírus da covid-19, mas a tecnologia permite criação de vacinas para diversas outras doenças. No momento, Bio-Manguinhos já trabalha para ofertar vacinas com a mesma plataforma para leishmaniose, doença historicamente negligenciada ainda endêmica em países mais pobres.
“As tecnologias vinculadas ao RNA mensageiro produziram um novo ‘padrão-ouro’ no campo de vacinas como ficou claro durante a última pandemia. Moderna e, principalmente, Pfizer foram as que, naquele momento, transformaram a tecnologia em produto. O componente crítico da tecnologia não está na molécula de RNA, mas na cápsula lipídica que o envolve”, explicou Reinaldo Guimarães, médico sanitarista e professor aposentado do Instituto de Medicina Social da UERJ.
Mas há um problema grave, que retarda a produção, conta Ana Paula Dinis Ano Bom, gerente da área de desenvolvimento de Bio-Manguinhos. O Brasil produz apenas 5% dos insumos farmacêuticos ativos, ingredientes essenciais para a produção de medicamentos e vacinas, o que o torna altamente dependente da produção externa. “É tudo importado, leva meses para um reagente chegar”, lamenta ela.
Como explicado em matéria publicada no jornal O Globo impresso, as vacinas de mRNA inoculam a célula no corpo humano de maneira a decodificar seu código genético, o que permite sua multiplicação. Já as vacinas mais conhecidas, exigem uma ativação mais complexa do sistema imunológico, que deve ler seus genes e, a partir disso, desenvolver uma defesa.
Para se ter ideia do valor do RNA mensageiro, sua plataforma é utilizada em pesquisas para criação de terapias para doenças neurológicas e câncer, o que torna seu potencial farmacêutico quase incalculável. E, apesar da patente desenvolvida se referir à covid-19, cuja vacina deve começar a ser testada em humanos ainda neste ano, os estudos da Fiocruz que levaram à sua criação eram relativos ao câncer de mama e foram iniciados antes da pandemia.
Por fim, o advento reforça a estratégia industrial da saúde do país, que pode se tornar parceiro e fornecedor de insumos para outros lugares do mundo.
“Há tempos a Fiocruz vinha trabalhando nisso. O caminho entre ter desenvolvido a tecnologia e a chegada a produtos que a utilizam é longo, mas BioManguinhos está de parabéns!”, festejou Reinaldo Guimarães.
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