Sérgio Ferro e a arquitetura contra o capital

Em obra relançada pela Editora 34, o arquiteto brasileiro expõe as contradições entre o discurso desenvolvimentista e a realidade do canteiro de obras. É ali que a exploração do trabalho humano revela uma de suas faces mais perversas. Sorteamos um exemplar

Imagem reproduzida no site da Revista Jacobina
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Poder, trabalho e relações sociais são tão importantes na arquitetura quanto formas e espaços. Ao longo da história, o discurso predominante celebrou a genialidade de indivíduos enquanto silenciou as condições dos que erguem, tijolo por tijolo, as estruturas que habitamos – contradição inerente à produção arquitetônica.

É nesse contexto que a obra do arquiteto brasileiro Sérgio Ferro (87) traça um marco crítico – desvendando os mecanismos de dominação presentes nos canteiros de obras e questionando os alicerces ideológicos da arquitetura moderna.

Sua análise ultrapassa as linhas estéticas e técnicas; vai além: revela como o projeto arquitetônico serve, muitas vezes, à acumulação de capital em detrimento da dignidade do trabalho.

O livro Arquitetura e trabalho livre I: O canteiro e o desenho e seus desdobramentos marca o início de uma série que reúne os escritos fundamentais de Ferro. Lançado pela primeira vez em 1976, quando o autor estava exilado na França, o volume ganha agora nova edição pela Editora 34, reeditado com uma introdução inédita e um comentário de 2003, após trinta anos ensinando na Escola de Arquitetura de Grenoble. Além disso, inclui também três textos de discípulos seus, apresentações de O canteiro e o desenho, no Brasil e na França.

Outras Palavras e Editora 34 sortearão um exemplar de Arquitetura e trabalho livre I: O canteiro e o desenho e seus desdobramentos, de Sérgio Ferro, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 4/8, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

Neste primeiro volume, destaca-se seu texto seminal: O Canteiro e o Desenho, escrito que desafia as estruturas consolidadas da arquitetura moderna. Fruto de uma análise crítica sobre a construção de Brasília, o trabalho expõe as contradições entre o discurso desenvolvimentista e a realidade do canteiro de obras, onde a exploração do trabalho humano revela a face mais perversa do capital. Escrito durante o exílio, após a perseguição política de Ferro pelo regime militar, o livro permanece, décadas depois, uma provocação ao establishment arquitetônico.

A edição atual inclui reflexões inéditas de Sérgio Ferro sobre as repercussões de sua obra, além de contribuições de Pedro Fiori Arantes, Paulo Bicca, Vincent Michel e Pierre Bernard, que contextualizam e ampliam o debate.

Com uma abordagem singular, Ferro desloca o foco da arquitetura como objeto estético para analisá-la como processo de produção, evidenciando a luta de classes intrínseca aos canteiros. Indo além da denúncia, sua crítica também aponta caminhos para uma prática emancipatória, no sentido freiriano do termo, na qual o trabalho coletivo e autogestionário possa ressignificar a construção do espaço.

Um arquiteto contra à repressão

Arquiteto, pintor e professor cuja trajetória acadêmica transita entre a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (1962-1971) e a École d’Architecture de Grenoble (1973-2003), Ferro desenvolveu uma crítica à produção das artes plásticas e da arquitetura baseada no processo de construção e seus agentes: o canteiro de obras, as tecnologias, os materiais e o construtor. No entanto, foi além, é figura que representa a luta e a resistência de centenas durante a Ditadura Militar.

Junto de arquitetos como Rodrigo Lefèvre e Flávio Império, Ferro fundo o grupo Arquitetura Nova, que pautava debates sobre o papel social do arquiteto, a produção da arquitetura, e as relações de produção no canteiro de obras.

Ao final dos anos 1960, tomou o caminho da luta armada. Foi membro da Ação Libertadora Nacional, preso e torturado pelo regime no início de 1970. Após sua soltura, as represálias continuaram, alegando “abandono de trabalho”, o regime o afastou de maneira compulsória da Universidade de São Paulo, onde era professor. Por conta disso, exilou-se na França, onde consolidou sua prestigiada carreira como professor e artista plástico.

A perspicácia da análise de Ferro está em sua crítica radical ao papel do desenho (projeto), mostrando o quanto ele engendra relações de submissão e violência no canteiro de obras. Para o autor, a defesa do trabalho livre, coletivo e emancipado é uma alternativa à mais-valia (o trabalho não pago) na construção civil.

Ferro é ainda próximo dos movimentos dos trabalhadores sem-terra e sem-teto, de cooperativas de construção autogeridas, surgidas no processo de redemocratização do país.

Em março desse ano, recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade de São Paulo, por meio de uma articulação entre a Faculdade de Arquitetura e Ubenismo, o Instituto de Arquitetura e Urbanismo (São Carlos) e do MAC, ambas unidades de ensino e cultura da USP. A homenagem contou com a manifestação e o apoio dos estudantes.

Arquitetura e Trabalho Livre I é então só uma de tantas demonstrações suas acerca do papel social da arquitetura e de sua potencialidade como instrumento de transformação.


Em parceria com a Editora 34, o Outras Palavras irá sortear um exemplar de Arquitetura e trabalho livre I: O canteiro e o desenho e seus desdobramentos, de Sérgio Ferro, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 4/8, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!


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