A saída é pela esquerda
O bolsonarismo esvazia-se e uma janela histórica está aberta. Mas o governo precisa decidir: seguirá refém da Faria Lima, e permitirá que sua popularidade se esgote? Ou decidirá, enfim, governar com e para o povo? As periferias aguardam um chamado
Publicado 30/06/2025 às 19:22

O bolsonarismo está morrendo. A extrema direita segue desmoralizada, judicializada e sem povo nas ruas. A farsa do último “carnaval golpista”, no dia 29 de junho, foi o enterro simbólico dessa era. Meia dúzia de saudosos da ditadura pedindo “anistia”, enquanto seus líderes disputam o espólio de um movimento fracassado. Tarcísio, Zema, Ratinho Jr e outros herdeiros do bolsonarismo estão mais preocupados em sobreviver do que em disputar projeto de país. A extrema direita sangra, e isso é conquista nossa.
Mas, paradoxalmente, mesmo com a direita enfraquecida, o governo Lula está emparedado. Derrete sua popularidade, e está sem direção estratégica clara, pressionado de todos os lados: pelo mercado, pelo Centrão, agora, inclusive por parte de sua base social histórica. O que deveria ser um momento de ofensiva popular virou um impasse, que pode implodir o governo ou fazê-lo avançar.
A chamada “Frente Amplíssima” está colapsando. E não há tragédia nisso. Ao contrário: essa frente cumpriu seu papel histórico — derrotar Bolsonaro, enquadrar o golpismo de 8 de janeiro e preservar a Constituição de 88. Foi uma aliança de emergência. MST e FEBRABAN, PSOL e União Brasil, juntos, era uma distopia necessária. Mas o fascismo foi contido, e agora é hora de virar a página. A conciliação já não entrega estabilidade e bloqueia qualquer possibilidade de transformação social e desenvolvimento do Brasil.
As últimas derrotas no Congresso — como na tributação do IOF e na tarifa de energia — revelam que essa aliança esgotou sua capacidade de governar. O centro fisiológico não oferece lealdade, apenas chantagem. Banqueiros e barões do agro não vão ajudar o Brasil a combater desigualdade. A cada dia que o governo adia uma guinada popular, perde sua base, perde entusiasmo e legitimidade. É necessário governar para quem o elegeu.
A estratégia agora precisa mudar. O governo precisa sair da defensiva e propor um novo pacto: com os trabalhadores, os movimentos sociais e as periferias. Um Projeto Nacional de Envolvimento Popular e Periférico — que ataque os privilégios, enfrente o rentismo, amplie os direitos sociais e reconecte o governo com quem o elegeu.
Ou Lula assume o protagonismo de um programa de transformação — com reforma agrária, tributação dos super-ricos, ampliação real do Minha Casa Minha Vida, mais orçamento para saúde, cultura e educação — ou corre o risco de ver seu governo se dissolver junto com Bolsonarismo e o centrão.
A direita está sem povo. O impeachment não é uma ameaça real. O Congresso e o Centrão são rejeitados até por eleitores conservadores. A janela histórica está aberta. Mas o tempo está correndo, temos apenas um ano e meio de governo.
É hora de Lula e o PT liderarem a ruptura com essa falsa estabilidade. O governo tem que se perguntar: vai seguir refém do sistema financeiro e da Faria Lima ou vai governar com e para o povo?
Chegou a hora de parar de administrar o possível e começar a lutar pelo necessário. A esquerda está pronta. As periferias estão prontas. O povo está esperando um chamado.
A saída é pela esquerda e ela já começou!
Outras Palavras é feito por muitas mãos. Se você valoriza nossa produção, seja nosso apoiador e fortaleça o jornalismo crítico: apoia.se/outraspalavras