Por que 80% das UBSs não fazem inserção de DIU?
Censo nacional do Ministério da Saúde mostrou que só 1 a cada 5 UBSs fazem inserção de DIU, e as razões aponta cenário de falta de capacitação e desinformação acerca do tema
Publicado 24/06/2025 às 12:25
Censo nacional do Ministério da Saúde mostra que apenas 19,7% das UBSs do Brasil fazem inserção de DIU (dispositivo intrauterino), método contraceptivo reversível e de longa duração altamente eficaz na prevenção da gravidez. Embora o censo não tenha investigado a razão para o fato, médicos e gestores, em reportagem da Folha, atribuem esse cenário à falta de capacitação e de segurança dos profissionais generalistas e à desinformação acerca do tema.
O médico de família e professor da USP, Gustavo Gusso, diz que: “Colocar DIU com especialista é um fracasso do sistema” – os ginecologistas deveriam cuidar de questões mais graves como câncer de mama e endometriose. No mesmo sentido, Fabiano Guimarães, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina e Comunidade, considera que o principal entrave é a falta de treinamento para fazer a inserção. Somado a isso, há também uma insegurança dos profissionais médicos em realizar a inserção de DIU, mesmo quando capacitados. Segundo a enfermeira Carmem Silva: “Essa insegurança pode ser receio de complicação, mas também pode ser porque, pelo menos no estado de São Paulo, ainda há muitas unidades de saúde tradicionais em que esses procedimentos são feitos pelo ginecologista”.
Carmem cita fator importantíssimo: as questões culturais, muitas vezes, levam as mulheres brasileiras a ainda preferirem a pílula como método contraceptivo, embora a efetividade do DIU seja maior. “Há alguns credos de que [o método] é abortivo, que tem uma série de problemas. Isso tudo a gente precisa desmistificar porque não é real”, diz ela. O DIU é, na verdade, um aliado importante para evitar gravidezes indesejadas, que podem, muitas vezes, acabar resultando em um aborto.
Na opinião da médica e pesquisadora da UFMG, Fátima Marinho, o baixo uso do DIU nas UBSs é resultado da falta de incentivo e de campanhas de esclarecimento. Para ela, esse é o mesmo motivo que faz com que a demanda por parte das mulheres seja pequena e os profissionais fiquem receosos em propor o método. “Ele existe, está disponível no SUS e é de boa qualidade, mas não tem solicitação ao ministério por falta de demanda”, afirma a médica. Estudos que buscam investigar as razões dessa baixa adesão ao DIU citam, de fato, a falta de informações sobre contraceptivos e saúde reprodutiva, de acesso a profissionais e programas de saúde reprodutiva e a percepção de que o DIU pode apresentar riscos à saúde.
Em matéria recente do Outra Saúde, discute-se a necessidade de ir além da questão do aborto na discussão de saúde reprodutiva, sendo que um deles é justamente é a importância de garantir a contracepção. Dados como esse apresentado pelo novo Censo são sintomáticos de um baixíssimo progresso em uma pauta que não é só questão para as pessoas com útero, mas para o avanço da saúde pública brasileira.
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