Será possível fazer a COP-30 valer a pena?
• COP-30, oportunidades em meio a um cenário desfavorável • E MAIS: exame para demência; nova cirurgia de próstata no SUS; câncer infantil; mais internações por alergias •
Publicado 04/06/2025 às 10:39 - Atualizado 04/06/2025 às 13:56
Um dos eventos mais importantes de todo o governo Lula, a COP-30 se aproxima do calendário político global e diversos críticos do atual modelo de desenvolvimento capitalista têm manifestado sua apreensão. Marcada para 10 a 21 de novembro, em Belém do Pará, receberá dezenas de milhares de participantes das mais distintas origens e grupos sociais.
Além disso, haverá a Cúpula dos Povos, evento paralelo mais aberto ao ativismo ambiental e dos movimentos sociais populares, tanto das cidades como campo e floresta, geralmente barrados das arenas oficiais. Em linhas gerais, os especialistas e seus posicionamentos alertam para o cerco que os mais poderosos lobbies, protegidos pelos próprios Estados nacionais, devem fazer sobre o evento.
Nesse sentido, a COP-29, realizada no Azerbaijão, pode ser considerada um vexame, à luz de sua disposição original de estabelecer acordos globais sobre mitigação dos efeitos da destruição ambiental sobre o clima e uma mudança de paradigma histórico sobre o modo de produção e consumo. Com recorde de lobistas e representantes da indústria dos combustíveis fósseis, o evento terminou com afirmações que foram na direção oposta de toda a motivação histórica de tais cúpulas. Basicamente, os principais líderes dos países produtores de petróleo afirmaram a intenção de elevar ao máximo a produtividade de tais matrizes energéticas.
Em sua coluna no Outra Saúde, Rômulo Paes Sousa, presidente da Abrasco, enumera diversos desafios e contradições, locais e globais, que antecipam um cenário de inviabilidade quase total de acordos críveis. Sua análise evita as polarizações fáceis e reconhece a importância de um evento de tal magnitude na Amazônia, que ocupa um lugar quase incomparável no imaginário coletivo a respeito da biodiversidade e valor de sua conservação, mesmo em cenário político adverso.
Dentre outras críticas, lembra que a visão conservadora sobre progresso econômico também predomina nas esquerdas, a despeito de suas declaradas simpatias ao ambientalismo. A tentativa de retomar a construção da rodovia Manaus-Porto Velho (conhecida como BR-319) é o mais recente exemplo de como a agenda destrutiva ainda coloniza seu imaginário político e econômico. Segundo Lucas Ferrante, doutor em biologia pela UFAM e USP, trata-se de uma bomba ambiental e sanitária, que pode inclusive liberar novos e desconhecidos patógenos na atmosfera.
Além disso, o agronegócio brasileiro deve se apresentar com carga máxima na tentativa de influenciar os rumos do evento – que não terá presença dos EUA, maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, em razão da disruptiva presidência de Donald Trump.
“Há limitações estruturais, políticas e financeiras que desafiam a implementação de acordos e declarações assinadas. A COP não substitui o trabalho cotidiano de formulação e execução de políticas nacionais, subnacionais e setoriais. Ela é um catalisador, um espaço de mobilização e pressão, mas não um fim em si mesma”, reconhecem Lincoln Muniz Alves e Inamara Melo, que ocupam postos de direção no Ministério do Meio Ambiente, em artigo publicado no The Conversation.
O pessimismo é incontornável em qualquer análise séria. No atual caminho, os objetivos do desenvolvimento sustentável para 2030, acordados entre os países em momentos menos conflitivos, não têm chance de realização. No entanto, como destaca Thelma Krug, ex-vice-presidente do Painel Intergovernamental de Cientistas do Clima (IPCC), não é por falta de possibilidades técnicas.
“Nem tudo está perdido. O IPCC dizia no seu relatório sobre mitigação que a gente já tem hoje disponíveis tecnologias que possibilitam reduzir, até 2030, metade das emissões de 2019. O problema não é a inexistência dessas tecnologias, mas as barreiras para sua implementação. Barreiras financeiras, de capacitação, políticas, que precisam ser superadas”, afirmou em sua palestra na 4ª Conferência da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
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