Griô do Amanhã: Em busca do futuro ecofeminista

Ano 2250: o patriarcado é peça de museu, a tecnologia serve ao Comum e a crise climática foi superada. Se hoje o porvir aterroriza, novo podcast mescla ficção e entrevista para fazer críticas contundentes, ousando recusar a distopia para plantar sementes da mudança

Imagem: Instituto Toriba
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E se, em um futuro distante, houvesse uma sociedade nova e diferente, regida pela ótica feminista, que foi capaz de construir novas bases sociais ao ponto de abandonar completamente o patriarcado e colocá-lo dentro de um grande museu? Já imaginou isso? Esse é o convite que nos faz o podcast Griô do Amanhã, uma áudio série de ficção futurista que nos leva a imaginar um outro tempo histórico, que se passa no ano 2.250, onde a tecnologia está unicamente a serviço da humanidade e a conexão com a natureza é algo profundo e natural. Este é um mundo onde já não há disputas entre gêneros por dignidade e respeito, todos os territórios dos países são livres de demarcações e limites, as guerras geopolíticas já não são mais fabricadas e o clima do planeta recuperou sua harmonia com os seres humanos e não humanos. Consegue imaginar? 

Estamos diante de um projeto que instiga a imaginação de futuros possíveis em um tempo em que é comum as pessoas cogitarem mais facilmente a extinção humana e da vida na Terra do que a mudança de paradigma econômico e social. A obra é uma criação de Aline Souza, Julia Cohen e Karla Martins e foi realizada dentro da iniciativa Tertúlias Ficção, com o apoio do Instituto Toriba e IRIS, como parte de uma formação para realizadores, criativos e ativistas convidados a criar narrativas instigantes com foco em storytelling para impacto social. De acordo com a equipe de criadoras, “o podcast é como uma mensagem de papel dentro de uma garrafa lançada ao mar, um recado para quem vem em seguida, pois acreditamos que as histórias que contamos sobre o futuro moldam nossas ações no presente e isso é o que desejamos ao criar a áudio série Griô do Amanhã”, afirmam.

Ao todo são 10 episódios, sendo 4 de ficção e 6 de entrevistas com personalidades reais de nosso tempo atual. A narrativa ficcional traz a história e Tiê e seus amigos Jaci e Eli que, após encontrarem um dispositivo antigo (pendrive) que contém mensagens estranhas, saem em busca de Moira, uma importante Griô atemporal que vai lhes conduzir a uma jornada de imersão lúdica no Museu do Patriarcado. No decorrer da visita, pautas como os direitos reprodutivos, a desigualdade salarial entre homens e mulheres, a crise climática, o uso da tecnologia vão sendo apresentadas. “Muitos temas foram deixados de fora nesse exercício de pensar o futuro ao longo do prazo de execução do projeto, mas de modo geral nosso esforço de transmitir as ideias centrais nos roteiros foi atingido com sucesso”, explicou Julia Cohen, que também roteirizou alguns trechos.

Já as entrevistas bônus possuem convidadas de diversas áreas do saber como Márcia Tiburi, Neidinha Suruí, Áurea Carolina, entre outras, abordando os temas contemporâneos que o podcast trata nas suas entrelinhas e provocando a imaginação de quem nos escuta. 

Recusar a distopia e plantar as sementes da mudança

O Tertúlias Ficção apoiou ao todo 5 projetos e contou ainda com a mentoria especial de Camila Agustini e Zico Goes, grandes profissionais do audiovisual brasileiro. A pesquisa para a criação do podcast foi realizada tomando como base dados reais do contexto político e social do mundo atual, ou seja, usar o presente para imaginar o pior futuro possível e a partir disso construir outra utopia para a humanidade atingir uma sociedade mais justa, respeitosa e equilibrada. “Tudo começou com o nosso incômodo gerado pela votação do PL 1904/2024 – conhecido como PL Antiaborto – que motivou a campanha ‘Criança Não é Mãe’, a partir daí criamos a história e dentro dela uma lei fictícia chamada ‘Lei da Conivência”, explica Aline Souza, uma das criadoras que sonhou com a griô no museu. 

Também foi elaborado um Dicionário o Futuro, com terminologias ressignificadas, onde deslocamos o entendimento do público para outro espaço cognitivo; além da Linha do Tempo, que traça a cronologia dos acontecimentos ficcionais da narrativa até a chegada de uma nova Era. “O podcast ainda tem muito que explorar em sua premissa inicial, desejamos poder criar uma nova temporada em breve”, diz Karla Martins, umas das criadoras e produtora do projeto. 

Para Graci Selaimen, diretora executiva do Toriba, “essa iniciativa só foi possível pelo envolvimento e apoio de todos que aceitaram o convite para imaginar, refletir e agir. Que essas histórias sigam inspirando reflexões e diálogos para futuros coletivos, justos e solidários!”, afirmou. Nas Tertúlias, o ativismo se une ao pensamento artístico e criativo em um ambiente aberto para especular sobre futuros desejáveis, incluindo elementos de ficção e entretenimento. Esses encontros inspiram a criação de histórias em múltiplos formatos, capazes de gerar curiosidade e estimular o diálogo com públicos diversos — mesmo os mais céticos e resistentes às transformações que o presente exige.

Lançado no final de março, o podcast contou com a produção e edição da Griô Produções, de Caio Santos, e tem uma equipe diversa de roteiristas, músicos, artistas gráficos e elenco que inclui pessoas de várias partes do Brasil e da Argentina. Ao longo dos meses de abril e maio os ouvintes poderão conferir os episódios e participar do engajamento social tanto no Spotify como no Instagram.


Serviço:

Griô do Amanhã – no futuro, o patriarcado será peça de museu. 

Disponível no Spotify e em todas as plataformas de áudio. 

IG: https://www.instagram.com/ 

Spotify: https://open.spotify. 

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