Chomsky vê saídas ao colapso climático
A visão ecológica de um pensador que examinou a fundo o capitalismo e o poder global. A cegueira do sistema e o negacionismo. As artimanhas da indústria fóssil. A falácias das soluções “tecnológicas” e as brechas para evitar o fim do mundo
Publicado 15/05/2025 às 19:08 - Atualizado 15/05/2025 às 19:22

Por Robert Pollin, no Rebelión | Tradução: Rôney Rodrigues
A contribuição política mais conhecida de Noam Chomsky é sua crítica poderosa e prolongada à política externa dos Estados Unidos. Mas Chomsky também utilizou seu alcance global para soar o alarme sobre a crise climática e traçar um caminho para evitar o desastre.
Se decidirmos levar a sério o consenso esmagador dos cientistas climáticos mais credíveis, temos que aceitar que a mudança climática representa uma ameaça verdadeiramente existencial à continuidade da vida na Terra como a conhecemos.
Diante dessa realidade, não é surpreendente que Noam Chomsky tenha se comprometido a educar o maior público global possível sobre a ciência básica por trás da crise climática, os fatores que a produziram e a forma de avançar rumo a um caminho viável para revertê-la.
Também não é surpreendente que Chomsky entenda a crise como uma grave malignidade do capitalismo neoliberal contemporâneo e que, consequentemente, anteveja que o trabalho de revertê-la exigirá uma mobilização popular massiva que derrote o neoliberalismo sob as bandeiras combinadas da justiça social e da sanidade ecológica.
É claro que as contribuições de pesquisa profundamente impactantes de Chomsky, que abrangem mais de sete décadas, cobriram principalmente os campos da linguística, filosofia, psicologia e ciência cognitiva. Ele nunca afirmou ser um especialista nos detalhes técnicos da ciência climática ou na economia da construção de um sistema alternativo de energia limpa.
Ao mesmo tempo, Chomsky é, legendariamente, um homem que “lê de tudo”. E não se limita a ler de tudo. Pelo contrário, ao longo de décadas, Chomsky demonstrou uma capacidade surpreendente de absorver uma enorme variedade de material sobre questões sociais e políticas de importância crítica. Ele também é capaz de explicar esses temas a milhões de leitores em todo o mundo por meio de sua combinação inigualável de paixão moral, rigor, profundidade de visão, clareza e —quando decide desatá-la — uma força retórica estimulante.
Essas são exatamente as qualidades que Chomsky trouxe ao abordar a crise climática. Suas contribuições são fundamentais para entender todo o alcance de suas ramificações sociais, econômicas, políticas e ecológicas.
Um desafio único para a humanidade
Comecei a trabalhar com Chomsky em questões climáticas em 2017. Na época, o jornalista progressista C. J. Polychroniou, um amigo íntimo dele há muito tempo, sugeriu que Chomsky e eu começássemos uma série de entrevistas escritas em conjunto para a Truthout, abordando temas relacionados ao neoliberalismo e à crise climática.
Senti-me profundamente honrado e entusiasmado com essa oportunidade. Os escritos de Chomsky me influenciaram muito desde o meu segundo ano na universidade (ou seja, há muito tempo). Mas só nos tínhamos visto pessoalmente brevemente algumas vezes e nunca tivéramos interações prolongadas de qualquer tipo sobre qualquer tema, muito menos colaborações ativas.
Nossa primeira entrevista conjunta foi publicada em outubro de 2017, e nossa colaboração continuou a partir daí, com nossa entrevista conjunta mais recente, publicada em junho de 2023. Nosso projeto em comum mais extenso é nosso livro de 2020, Climate Crisis and the Global Green New Deal: The Political Economy of Saving the Planet [A Crise Climática e o Novo Acordo Verde Global: A Economia Política de Salvar o Planeta]. Este pequeno livro também é estruturado em torno de uma série de perguntas da entrevista que Polychroniou nos fez separadamente, a Chomsky e a mim. Todas as citações diretas que seguem vêm das contribuições de Chomsky para nosso livro de 2020.
O livro começa com uma descrição de Chomsky da situação atual em termos diretos, ou seja, adequadamente crus. Ele apresenta a crise climática como “gêmea” da crise nuclear, por ser “única na história da humanidade”, já que ambos os perigos levantam legitimamente a questão de “se a sociedade humana organizada pode sobreviver de alguma forma reconhecível”. Enquanto, como ele diz, “a história está repleta de registros de guerras horrendas, torturas indescritíveis, massacres e todos os abusos imagináveis dos direitos fundamentais”, a existência de uma força que ameaça a destruição da “vida humana organizada em qualquer forma reconhecível ou tolerável” é “completamente nova”.
Chomsky então se baseia em algumas descobertas-chave da pesquisa para documentar suas afirmações:
Estamos nos aproximando perigosamente das temperaturas globais de 120.000 anos atrás, quando o nível do mar era entre 6 e 9 metros mais alto do que hoje. Essas são perspectivas verdadeiramente inimagináveis, mesmo desconsiderando o efeito de tempestades mais frequentes e violentas, que acabarão com o que restar. Um dos muitos eventos ominosos que poderiam preencher o vazio entre 120.000 anos atrás e hoje é o derretimento da vasta camada de gelo da Antártida Ocidental. As geleiras estão deslizando em direção ao mar cinco vezes mais rápido do que na década de 1990, com mais de 100 metros de espessura de gelo perdidos em algumas áreas devido ao aquecimento dos oceanos, e essas perdas dobram a cada década. A perda total da camada de gelo da Antártida Ocidental elevaria o nível do mar em cerca de cinco metros, inundando cidades costeiras e gerando efeitos absolutamente devastadores em outros lugares, como as planícies baixas de Bangladesh, por exemplo. Esta é apenas uma das muitas preocupações daqueles que estão prestando atenção ao que acontece diante de nossos olhos.
Chomsky também enfatiza, no início de nosso livro, a necessidade de agir:
Aqueles que vivemos hoje decidiremos o destino da humanidade e o destino de outras espécies que agora estamos destruindo em um ritmo nunca visto em 65 milhões de anos, quando um enorme asteroide atingiu a Terra, pondo fim à era dos dinossauros e abrindo caminho para que alguns pequenos mamíferos evoluíssem até se tornarem, finalmente, o clone do asteroide, que difere de seu predecessor por poder tomar uma decisão.
Negacionismo climático: perfis da vergonha
Chomsky não poupa nada ao desmascarar algumas figuras importantes, especialmente no cenário estadunidense, que promovem o negacionismo climático. Isso inclui o Partido Republicano contemporâneo, começando, é claro, por Donald Trump e seus acólitos. Mas isso é apenas o começo, já que o alinhamento desprezível dos negacionistas climáticos republicanos se estende a uma série de figuras proeminentes, incluindo os chamados “moderados”. Como ele escreve sobre a campanha para as primárias republicanas de 2016:
Todos e cada um dos candidatos negaram que o que está acontecendo esteja acontecendo, ou disseram que talvez esteja, mas que não importa (esta última mensagem veio dos “moderados”, o ex-governador Jeb Bush e o governador de Ohio, John Kasich). Kasich foi considerado o mais sério e sóbrio dos candidatos. Ele quebrou fileiras ao reconhecer os fatos básicos, mas acrescentou que “vamos queimar [carvão] em Ohio e não vamos pedir desculpas por isso”. Isso é um apoio de 100% à destruição das perspectivas de vida humana organizada, com a figura mais respeitada adotando a postura mais grotesca. Surpreendentemente, esse espetáculo chocante passou praticamente sem comentários (se é que houve algum) na corrente dominante, um fato de não pouca importância em si mesmo.
Chomsky observa que os republicanos nem sempre negaram a mudança climática. Também não se opuseram sempre às políticas de proteção ambiental em geral. Na verdade, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA foi criada em 1971 sob o mandato do presidente republicano Richard Nixon. Na campanha presidencial de 2008, a plataforma do Partido Republicano e seu candidato John McCain defenderam firmemente medidas para enfrentar a mudança climática.
Chomsky explica o que aconteceu com os republicanos após a campanha presidencial de McCain em 2008, focando adequadamente no papel dos irmãos Koch, David e Charles. O patrimônio líquido combinado dos irmãos era de cerca de 120 bilhões de dólares no momento da morte de David em 2019, o que os tornava duas das pessoas mais ricas do mundo na época. Praticamente toda a sua riqueza estava vinculada à indústria de combustíveis fósseis.
Chomsky baseia-se no livro de 2019 de Christopher Leonard, Kochland: The Secret History of Koch Industries and Corporate Power in America [Kochland: A história secretade Koch Industries e o poder corporativos nos Estados Unidos], para argumentar seu caso:
Leonard descreve David Koch como o “negacionista por excelência”, cuja rejeição ao aquecimento global antropogênico era profunda e sincera. Deixemos de lado as suspeitas de que isso poderia ter algo a ver com o fato de ele ter uma fortuna imensa em jogo nesse negacionismo — talvez trilhões de dólares em perdas potenciais ao longo de trinta anos ou mais se o negacionismo falhasse, estima Leonard. No entanto, deixemos de lado a incredulidade e aceitemos que suas convicções eram totalmente sinceras. Isso não seria surpresa. John C. Calhoun, o grande ideólogo da escravidão, certamente acreditava sinceramente que os cruéis campos de trabalho escravo do sul eram a base necessária para uma civilização superior.
O negacionismo dos irmãos Koch foi muito além de meros esforços para convencer. Eles lançaram campanhas enormes para garantir que nada fosse feito para impedir a exploração dos combustíveis fósseis nos quais sua fortuna se baseava. Como relata Leonard, “David Koch trabalhou incansavelmente, durante décadas, para expulsar de seus cargos qualquer republicano moderado que propusesse regular os gases de efeito estufa”.
Eles não deixaram pedra sobre pedra: redes de doadores ricos, think tanks para mudar o discurso, um dos maiores lobbies do país, a organização do que podem parecer grupos de base para campanhas porta a porta, criando e moldando o Tea Party… O gigantismo dos irmãos Koch se destaca por seu planejamento cuidadoso e o uso bem-sucedido dos imensos lucros obtidos ao poluir a atmosfera global sem custo algum, uma mera “externalidade”, na terminologia do setor. Mas é um símbolo do capitalismo selvagem que se torna cada vez mais evidente à medida que esse projeto neoliberal que serviu tão bem à riqueza privada e ao poder corporativo é ameaçado.
Resgates tecnológicos?
Na medida em que a indústria de combustíveis fósseis reconheceu a ameaça da mudança climática — e todos esses reconhecimentos foram anêmicos e relutantes —, não é de se estranhar que a indústria também tenha se obcecado com seu próprio plano de ação favorito. Trata-se de desenvolver tecnologias de captura de carbono em escala global massiva. São tecnologias cujo propósito é remover o carbono emitido da atmosfera e transportá-lo, geralmente por meio de tubulações, para formações geológicas subterrâneas, onde seria armazenado permanentemente.
O plano seria que essas tecnologias permitissem que as empresas de combustíveis fósseis continuassem obtendo lucros com a venda de petróleo, carvão e gás natural. Isso seria possível porque a captura de carbono permitiria que a produção de energia baseada em combustíveis fósseis continuasse sem necessariamente destruir o planeta como um efeito colateral infeliz. O único problema é que essas tecnologias nunca conseguiram funcionar com sucesso em escala comercial, apesar de décadas de fanfarronice por parte da indústria de combustíveis fósseis.
Chomsky deixa claro que nem as tecnologias de captura de carbono nem outras similares são capazes de oferecer mais do que um fluxo sem obstáculos de enormes benefícios para a indústria de combustíveis fósseis. Certamente, não se pode confiar nelas como um caminho viável para a estabilização do clima. Citando o trabalho do cientista climático da Universidade de Oxford Raymond Pierrehumbert, ele escreve que o especialista revisa “as possíveis soluções técnicas e seus problemas muito sérios”, concluindo que “não há plano B”. Portanto, “devemos passar para as emissões líquidas zero de carbono, e rápido”.
Ao mesmo tempo, Chomsky reconhece que não há como construir a nova infraestrutura global de energia limpa que precisamos sem apoiar uma série de avanços tecnológicos nas áreas de eficiência energética, fontes de energia renováveis e agricultura sustentável:
Há um amplo consenso sobre a necessidade de avançar em direção à eletrificação, o que requer cobre, um recurso que está sendo desperdiçado e que, com a tecnologia atual, só pode ser extraído de formas bastante prejudiciais ao meio ambiente. É difícil evitar esses dilemas, mas isso não é razão para não explorar vigorosamente os tipos de tecnologia que parecem mais adequados para avançar rumo a um ecossistema sustentável e saudável. Há muito a ser feito. A produção industrial de carne, mesmo deixando de lado considerações éticas, não deve ser tolerada devido à sua contribuição substancial para o aquecimento global. Precisamos encontrar maneiras de mudar para dietas baseadas em plantas derivadas de práticas agrícolas sustentáveis, o que não é tarefa fácil.
Países ricos, países pobres e justiça climática
Chomsky tem claro que a responsabilidade de prevenir uma catástrofe climática deve recair principalmente sobre os países que hoje têm alta renda, começando pelos Estados Unidos, mas incluindo a Europa Ocidental, Japão, Canadá e Austrália, que vêm queimando combustíveis fósseis desde meados do século XIX como base para alcançar seus níveis atuais de riqueza.
Mais ainda, a responsabilidade deve recair principalmente sobre as pessoas mais ricas dessas sociedades, aquelas que mais se beneficiaram durante a longa era dos combustíveis fósseis. Como ele observa, a crise “só pode ser superada com os esforços comuns de todo o mundo, embora, é claro, a responsabilidade seja proporcional à capacidade, e os princípios morais elementais exijam que uma responsabilidade especial recaia sobre aqueles que foram os principais responsáveis por criar as crises ao longo dos séculos, enriquecendo-se enquanto criavam um destino sombrio para a humanidade”.
Mas essa perspectiva também leva a uma pergunta difícil. Em nome da justiça climática, os países de baixa renda deveriam ser autorizados a continuar queimando combustíveis fósseis como base de seu crescimento econômico, assim como os países agora ricos fizeram para enriquecer? Chomsky responde o seguinte:
Há alguma justiça nessa posição, à qual podemos acrescentar que os países pobres, que têm muito menos responsabilidade na crise, são suas principais vítimas (…). No entanto, se considerarmos as consequências disso, especialmente para esses países, seria suicídio eles tomarem isso como uma razão para atrasar a luta contra a crise climática. A resposta correta, introduzida timidamente e de forma muito limitada nos acordos internacionais, é que os países ricos forneçam a ajuda necessária para que possam avançar em direção à energia sustentável.
A ajuda necessária poderia ser fornecida de muitas maneiras, incluindo algumas muito simples que poderiam ter um impacto considerável e mal representariam um erro estatístico nos orçamentos nacionais.
Para dar um exemplo, grande parte da Índia está se tornando quase inabitável devido a ondas de calor mais intensas e frequentes, que atingiram 50 ºC em Rajasthan no verão de 2019. Aqueles que podem arcar com isso estão usando aparelhos de ar-condicionado altamente ineficientes e muito poluentes. Isso poderia ser corrigido facilmente. Quanto custaria aos países ricos pelo menos ajudar as pessoas a suportar o destino que lhes impusemos, em nossa loucura?
Sem dúvida, isso é apenas o mínimo indispensável. Certamente podemos aspirar a muito mais, inclusive a que um dia seja amplamente compreendido que os setores mais vulneráveis, tanto no âmbito doméstico quanto no internacional, devem ser a principal preocupação, e que as instituições tenham passado por uma mudança radical para refletir e tornar possível esse compreensão comum.
O que precisa ser feito?
É claro que Chomsky e eu concordamos totalmente no quadro básico, assim como nos detalhes críticos para avançar em um projeto viável de estabilização climática. Não teríamos continuado nossa colaboração por seis anos se fosse de outra forma. Chomsky também seguiu minha liderança em grande medida ao resolver os detalhes técnicos relevantes, já que este foi um dos meus principais focos de pesquisa nos últimos quinze anos. Deixando de lado esses detalhes, o quadro básico de nossa abordagem conjunta é simples e inclui os seguintes pontos principais:
- A redução das emissões de gases de efeito estufa deve atingir pelo menos o principal objetivo estabelecido em 2018 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, ou seja, emissões próximas de zero até 2050. Isso requer a eliminação gradual dos combustíveis fósseis como fonte de energia até 2050, assim como a substituição das práticas agrícolas corporativas, incluindo o desmatamento, pela agricultura orgânica.
- Os investimentos para elevar drasticamente os padrões de eficiência energética e expandir igualmente de forma drástica o fornecimento de energia solar, eólica e outras fontes de energia limpa e renovável devem formar a vanguarda da transição para uma economia verde em todas as regiões do mundo. Esses investimentos em energia limpa se tornarão, por sua vez, novos e importantes motores de criação de empregos em todo o mundo.
- A transição para uma economia verde deve incluir medidas robustas para uma transição justa para os trabalhadores e comunidades cujo bem-estar atualmente depende da indústria de combustíveis fósseis.
- Como observado anteriormente, os custos desses investimentos e medidas de transição justa devem ser assumidos principalmente pelos países ricos e pelas pessoas abastadas que mais se beneficiaram da era dos combustíveis fósseis.
Todas as partes deste projeto devem estar funcionando em escala global agora. Não temos tempo para esperar que o capitalismo neoliberal entre em colapso e seja substituído pelo socialismo. Ao mesmo tempo, por meio da expansão em grande escala de boas oportunidades de trabalho e do estabelecimento de medidas generosas de transição justa, o programa de estabilização climática também pode se tornar a base de uma agenda igualitária mais ampla capaz de suplantar o neoliberalismo.
Como muitos outros, Chomsky e eu achamos que o termo “Green New Deal” [Novo Acordo Verde] capturou grande parte do espírito deste projeto global. Mas, obviamente, o termo em si não é o importante. O que importa é projetar e se comprometer com um projeto que tenha sucesso.
Com esse objetivo, Chomsky presta muita atenção às principais questões da esquerda, incluindo como construir da maneira mais eficaz possível coalizões entre os movimentos trabalhistas e ambientais. Ele também avalia duas perspectivas influentes da esquerda sobre a crise climática, ou seja, o decrescimento e o ecossocialismo, e oferece sua perspectiva sobre questões de táticas específicas, assim como sobre as estratégias gerais para construir o movimento climático mais forte possível.
Chomsky descreve o trabalho do falecido líder sindical estadunidense Tony Mazzocchi como um exemplo poderoso de como unir os interesses dos trabalhadores e dos ambientalistas:
É bom lembrar que um dos primeiros e mais proeminentes ambientalistas foi um líder sindical, Tony Mazzocchi, chefe do Sindicato Internacional dos Trabalhadores do Petróleo, Química e Energia Atômica (OCAW, em inglês). Os membros de seu sindicato estavam na linha de frente, enfrentando todos os dias em seus trabalhos a destruição do meio ambiente e sendo vítimas diretas do assalto corporativo a suas vidas individuais. Sob a liderança de Mazzocchi, o OCAW foi a força motriz por trás do estabelecimento da Lei de Segurança e Saúde Ocupacional (OSHA) em 1970, que protege os trabalhadores no trabalho, assinada pelo último presidente liberal estadunidense, Richard Nixon, “liberal” no sentido estadunidense, ou seja, levemente social-democrata.
Mazzocchi foi um crítico ferrenho do capitalismo, assim como um ambientalista engajado. Ele sustentou que os trabalhadores deveriam “controlar o ambiente da fábrica”, ao mesmo tempo que tomavam a iniciativa na luta contra a poluição industrial. (…) O caminho que Mazzocchi tentou forjar — o do trabalho militante como força motriz do movimento ambientalista — não é um sonho ocioso e deve ser perseguido ativamente.
Chomsky então oferece uma avaliação equilibrada das propostas do decrescimento:
A mudança para a energia sustentável requer crescimento: construção e instalação de painéis solares e turbinas eólicas, climatização de residências, grandes projetos de infraestrutura para criar um transporte de massa eficiente e muito mais. Consequentemente, não podemos simplesmente dizer que “o crescimento é ruim”. Às vezes sim, às vezes não. Depende do tipo de crescimento. É claro que todos devemos ser a favor do (muito rápido) “decrescimento” das indústrias de energia, das instituições financeiras em grande parte predatórias, do establishment militar inflado e perigoso, e de muitas outras coisas que podemos listar. Devemos pensar em como projetar uma sociedade habitável. Isso envolverá tanto crescimento quanto decrescimento, o que levantará muitas questões importantes. O equilíbrio depende de uma ampla gama de escolhas e decisões particulares.
Sua análise também é equilibrada ao considerar o ecossocialismo:
Pelo que entendo do ecossocialismo, não em profundidade, ele se sobrepõe muito de perto com outras correntes socialistas de esquerda. Não acho que estejamos em um estágio em que adotar um “projeto político” específico seja muito útil. Há questões cruciais que precisam ser abordadas agora. Nossos esforços devem ser baseados em diretrizes sobre o tipo de sociedade futura que gostaríamos de ver surgir, e que pode ser construída em parte dentro da sociedade existente de muitas maneiras, algumas já discutidas. É bom reformular posições específicas sobre o futuro com mais ou menos detalhes, mas por agora elas me parecem, na melhor das hipóteses, formas de refinar ideias mais do que plataformas às quais se agarrar.
Pode-se argumentar que as características inerentes do capitalismo conduzem inexoravelmente à ruína do meio ambiente, e que acabar com o capitalismo deve ser uma prioridade do movimento ambientalista. Há um problema fundamental com esse argumento: as escalas de tempo. Desmantelar o capitalismo é impossível no prazo necessário para tomar medidas urgentes, o que requer uma grande mobilização nacional, e até internacional, se quisermos evitar uma crise grave.
Além disso, todo o debate é enganoso. Os dois esforços — evitar o desastre ambiental e desmantelar o capitalismo em favor de uma sociedade mais livre, justa e democrática — devem e podem ser realizados em paralelo. E podem ir muito longe com uma organização popular massiva.
Levar a sério a questão tática
Chomsky sustenta que não existe uma abordagem tática geral que seja eficaz ou apropriada em todas as situações. Os ativistas devem prestar mais atenção às circunstâncias, “à natureza da ação planejada e às possíveis consequências, na medida em que possamos determiná-las”. Ele considera essas questões em particular ao avaliar o papel que a desobediência civil pode desempenhar no avanço do movimento climático:
Participei da desobediência civil por muitos anos, em alguns períodos de forma intensa, e acredito que é uma tática razoável, às vezes. Não deve ser adotada simplesmente porque alguém se sinta fortemente identificado com a causa e queira mostrá-la ao mundo. Essa tática pode ser adequada, mas não é suficiente. É necessário considerar as consequências. A ação está projetada de forma a encorajar outros a pensar, a se convencer, a se unir? Ou é mais provável que antagonize, irrite e faça as pessoas apoiarem justamente aquilo contra o que protestamos? Considerações táticas são frequentemente difamadas, consideradas questões para mentes pequenas, não para pessoas sérias e de princípios como eu. Pelo contrário. Os julgamentos táticos têm consequências humanas diretas. São uma preocupação profundamente baseada em princípios. Não basta pensar: “Estou certo, e se os outros não conseguem ver, pior para eles”. Tais atitudes muitas vezes causaram sérios danos.
Em termos mais gerais, Chomsky expressa um profundo respeito pelas conquistas que o movimento climático alcançou até hoje em todo o mundo. Ele também insiste que o movimento ainda tem tempo para alcançar seu objetivo, ou seja, nada menos que salvar o planeta do desastre. Concluirei com algumas das reflexões inimitáveis e estimulantes de Chomsky sobre essa questão:
Há países e localidades onde estão sendo feitos esforços sérios para agir antes que seja tarde demais. E não é tarde demais. A resposta apressada e louca para produzir mais meios de autodestruição é bastante óbvia, pelo menos em palavras; sua implementação é outra questão. E ainda estamos a tempo de mitigar a iminente catástrofe climática se nos comprometermos firmemente. Certamente, não é impossível se encararmos os fatos. Em 1941, os Estados Unidos enfrentaram uma ameaça grave, embora incomparavelmente menor, e responderam com uma mobilização massiva voluntária tão avassaladora que impressionou profundamente o czar econômico da Alemanha nazista, Albert Speer, que lamentou que a Alemanha totalitária não pudesse igualar a subordinação voluntária à tarefa nacional que ocorria nas sociedades mais livres.
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