Rio: O que esperar nas eleições de 2026?
Ainda que negue, Paes é a aposta lulista para o governo estadual. O trunfo do bolsonarismo é sua forte presença nas prefeituras. O apoio do centrão é crucial, mas a consolidação de federações partidárias e negociações via emendas parlamentares também serão determinantes
Publicado 14/05/2025 às 19:43

As articulações políticas para as eleições estaduais de 2026 no Rio de Janeiro já estão em pleno vapor, impulsionadas pelos resultados das eleições municipais de 2024. A nova configuração do poder local redesenha o mapa das forças políticas no estado, com implicações diretas sobre as possibilidades de candidaturas ao governo estadual. Ao analisar os atores relevantes e as possíveis alianças, é essencial considerar a distribuição regional do poder político, os prefeitos reeleitos, os deputados mais votados e as articulações entre partidos e grupos de interesse.
Em artigo anterior publicado na véspera da eleição de 2024, argumentamos que a eleição para governador em 2026 poderia vir a ser uma batalha entre três grandes campos políticos1:
(1) o campo lulista, que gostaria de ter como seu candidato o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD) — embora ele negue, até o momento, essa intenção;
(2) o campo do atual governador Claudio Castro (PL), que poderia ter como candidato o deputado federal Dr. Luizinho (PP);
(3) e o campo liderado pelo presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil).
A política, no entanto, não se desenvolve num campo asséptico e está sempre sujeita a reviravoltas. Sem que ninguém vislumbrasse essa possibilidade, uma denúncia grave envolvendo o sistema de saúde do estado atingiu em cheio a pré-candidatura de Dr. Luizinho no fim de 2024. Além disso, Bacellar se recompôs com Castro e o PP de Dr. Luizinho estabeleceu uma federação com o União Brasil de Bacellar. Ou seja, de uma tendência de três campos principais para a disputa em 2026, temos agora apenas dois campos: o lulista em torno de Paes e o bolsonarista com Bacellar.
Na Região Metropolitana, destaca-se a figura de Eduardo Paes (PSD), reeleito prefeito da capital com mais de 60% dos votos. Apesar de negar uma candidatura ao governo estadual, seu nome é o mais competitivo no campo progressista. Paes articula uma ampla frente democrática com apoio do PSD nacional e do presidente Lula, configurando um polo de centro com força nas áreas urbanas. Em São Gonçalo, a reeleição de Capitão Nelson (PL) com mais de 80% demonstra a força do bolsonarismo. Já em Niterói, Rodrigo Neves (PDT) mantém influência como possível articulador do campo progressista fora da capital. A Baixada Fluminense permanece como reduto conservador, com figuras como Márcio Canella (União Brasil) e Altineu Côrtes (PL) exercendo forte influência local.
No Noroeste Fluminense, prefeitos como Nel (PL), em Itaperuna, e Alessandra (Republicanos), em Miracema, consolidam a hegemonia da direita na região. O deputado estadual Rodrigo Bacellar (PL), presidente da Alerj, tem base consolidada nessa região e desponta como pré-candidato ao governo com apoio de setores conservadores e do grupo do governador Cláudio Castro. Sua articulação com Thiago Pampolha (MDB), atual vice-governador, pode resultar em uma chapa competitiva da direita. Já o Norte Fluminense é dominado politicamente por Wladimir Garotinho (PP), reeleito em Campos dos Goytacazes, que mantém o legado político da família Garotinho. Em Macaé, Welberth Rezende (Cidadania), com alta votação, pode se tornar ator relevante na configuração do campo progressista.
As Baixadas Litorâneas reforçam o domínio do PL, e da direita, com Dr. Serginho e Marcelo Magno sendo reeleitos com larga vantagem em Cabo Frio e Arraial do Cabo. A atuação legislativa de Dr. Serginho na Alerj, antes de se tornar prefeito, o posiciona como articulador regional deste campo. A Região Serrana segue alinhada ao campo conservador, com Hingo Hammes (PP) e Johnny Maycon (PL) reeleitos em Petrópolis e Nova Friburgo. Giselle Monteiro (PL) representa a região na Alerj com base consolidada. No Centro-Sul, os prefeitos Joa (Republicanos) em Três Rios e Júlio Canelinha (União Brasil) em Paraíba do Sul mantêm a linha conservadora, embora abertos a alianças pragmáticas.
O Médio Paraíba, com Neto (PP) em Volta Redonda e Luiz Furlani (PL) em Barra Mansa, mostram predominância do centrão e direita tradicional de expressão marcadamente fisiológica. Essa região pode pender para uma candidatura apoiada por partidos como MDB e PP, legendas que atuam mais como balcão de negócios do que como organizadores de preferências ideológicas. A Costa Verde apresenta um quadro misto: Cláudio Ferreti (MDB) em Angra dos Reis atua no campo de centro, enquanto Zezé Porto (Republicanos) em Paraty assume um discurso mais ideologizado. Thiago Pampolha, com base no MDB e forte influência no Sul Fluminense, pode reunir apoio nessa região.
Entre os deputados estaduais e federais, destaca-se a presença de parlamentares como Rodrigo Bacellar (PL), Daniela do Waguinho (União Brasil), Dr. Serginho (PL) e Altineu Côrtes (PL), todos com atuação relevante em suas regiões. No campo progressista, os deputados federais Talíria Petrone (PSOL), Tarcísio Motta (PSOL), Lindbergh Farias (PT) e as estaduais Renata Souza (PSOL) e Elika Takimoto (PT) mantêm base sólida na capital, especialmente nas zonas norte e oeste, as mais expressivas eleitoralmente. A atuação dessas lideranças será decisiva na composição das alianças e na mobilização territorial.
A consolidação das federações partidárias também deve influenciar diretamente o panorama eleitoral de 2026. A federação entre PP e União Brasil, que reúne dois partidos com forte presença nas regiões Metropolitana, Médio Paraíba e Região dos Lagos, tendo vencido em 30 municípios nas eleições de 2024. Com esse desempenho, a federação superará as 22 prefeituras conquistadas pelo PL e se tornará a principal força municipal do estado. Esse resultado reforça sua capacidade de articulação e estruturação de uma candidatura competitiva ao governo estadual, podendo servir como pilar para alianças de centro-direita, especialmente se convergir com os interesses de lideranças como Rodrigo Bacellar e Thiago Pampolha. A aliança entre o PL e a federação PP-União Brasil faz com que a candidatura de Bacellar seja a que possui a maior capilaridade de prefeituras no estado.
A Federação PSDB-Cidadania elegeu quatro prefeitos, todos do Cidadania: Bernard Tavares, de Carapebus; Valmir Lessa, de Conceição de Macabu; Fabinho, de Iguaba Grande; e Welberth Rezende, de Macaé. Vale registrar que o Cidadania já aprovou a decisão de não renovar essa federação em 2026. Ao mesmo tempo, o PSDB decidiu por uma fusão com o Podemos, Partido que também não elegeu nenhum prefeito no estado em 2022. A Federação PCdoB, PT e PV elegeu apenas três prefeitos, todos do PT: Washington Quaquá em Maricá; Andrezinho Ceciliano em Paracambi; e Fernanda Ontiveros em Japeri. Atuamente, a tendência é de que esses partidos apoiem a candidature de Paes. Já a Federação PSOL-REDE não elegeu nenhum prefeito.
Em síntese, o cenário para 2026 no Rio de Janeiro está dividido em três eixos principais: a centro-esquerda e a centro-direta em torno de Eduardo Paes, a direita em articulação com Bacellar, Pampolha e o PL, e um centro fisiológico que pode se aliar a qualquer dos lados, conforme os incentivos oferecidos em termos de recursos e cargos. A lógica territorial, fortalecida pelo resultado de 2024 e pela reconfiguração no padrão de execução orçamentária, mediante a elevação hiperbólica do montante destinado para emendas parlamentares, é elemento fundamental na formação das coligações e no êxito das candidaturas. A disputa estadual deverá refletir, assim, o novo arranjo político consolidado nos municípios e nas bancadas estaduais e federais, em um contexto de polarização e negociações cruzadas alimentadas pelos vultuosos recursos das emendas parlamentares que, em inúmeros casos, ultrapassam os orçamentos dos municípios.
Tabela 01: Prefeitos e seus possíveis alinhamentos para 2026.
Região | Município | Prefeito Eleito | Partido | % de Votos | Alinhamento |
Metropolitana | Rio de Janeiro | Eduardo Paes | PSD | 60,47% | Centro |
Metropolitana | São Gonçalo | Capitão Nelson | PL | 84,49% | Direita |
Metropolitana | Niterói* | Rodrigo Neves | PDT | 57,20% | Centro-esquerda |
Metropolitana | Duque de Caxias | Netinho Reis | MDB | 54,08% | Centro |
Metropolitana | Nova Iguaçu | Dudu Reina | PP | 74,77% | Direita |
Noroeste | Itaperuna | Nel | PL | 43,14% | Direita |
Noroeste | Miracema | Alessandra | Republicanos | 48,90% | Direita |
Norte | Campos dos Goytacazes | Wladimir Garotinho | PP | 69,11% | Direita |
Norte | Macaé | Welberth Rezende | Cidadania | 85,60% | Centro |
Baixadas Litorâneas | Cabo Frio | Dr. Serginho | PL | 69,19% | Direita |
Baixadas Litorâneas | Arraial do Cabo | Marcelo Magno | PL | 75,85% | Direita |
Serrana | Petrópolis* | Hingo Hammes | PP | 74,74% | Direita |
Serrana | Nova Friburgo | Johnny Maycon | PL | 64,99% | Direita |
Centro-Sul | Três Rios | Joa | Republicanos | 60,99% | Direita |
Centro-Sul | Paraíba do Sul | Júlio Canelinha | União Brasil | 54,48% | Centro-direita |
Médio Paraíba | Volta Redonda | Neto | PP | 72,84% | Direita |
Médio Paraíba | Barra Mansa | Luiz Furlani | PL | 48,10% | Direita |
Costa Verde | Angra dos Reis | Cláudio Ferreti | MDB | 42,41% | Centro |
Costa Verde | Paraty | Zezé Porto | Republicanos | 54,20% | Direita |
* cidades onde houve segundo turno
Tabela 02: Deputados e seus possíveis alinhamentos para 2026
Nome | Cargo | Partido | Votos | Alinhamento | Base Territorial Principal |
Daniela do Waguinho | Federal | União Brasil | 213706 | Centro-direita | Belford Roxo (Baixada Fluminense) |
General Pazuello | Federal | PL | 205324 | Direita | Zona Oeste do Rio / Militar |
Talíria Petrone | Federal | PSOL | 198548 | Esquerda | Niterói e São Gonçalo |
Doutor Luizinho | Federal | PP | 190071 | Centro-direita | Nova Iguaçu |
Altineu Côrtes | Federal | PL | 167512 | Direita | São Gonçalo |
Tarcísio Motta | Federal | PSOL | 159928 | Esquerda | Zona Norte / Centro do Rio |
Otoni de Paula Jr. | Federal | MDB | 158507 | Direita | Zona Oeste do Rio |
Lindbergh Farias | Federal | PT | 152219 | Esquerda | Nova Iguaçu e Duque de Caxias |
Gutemberg Reis | Federal | MDB | 133612 | Centro-direita | Duque de Caxias |
Hélio Lopes | Federal | PL | 132986 | Direita | Baixada Fluminense / Militar |
Márcio Canella | Estadual | União Brasil | 181274 | Centro-direita | Nova Iguaçu |
Douglas Ruas | Estadual | PL | 175977 | Direita | Baixada Fluminense |
Renata Souza | Estadual | PSOL | 174132 | Esquerda | Complexo da Maré / Zona Norte |
Rosenverg Reis | Estadual | MDB | 131308 | Centro | Duque de Caxias |
Dr. Serginho | Estadual | PL | 123739 | Direita | Cabo Frio e Região dos Lagos |
Guilherme Delaroli | Estadual | PL | 114155 | Direita | Itaboraí e São Gonçalo |
Thiago Gagliasso | Estadual | PL | 102038 | Direita | Barra da Tijuca e Zona Oeste |
Rodrigo Bacellar | Estadual | PL | 97822 | Direita | Campos e Noroeste |
Elika Takimoto | Estadual | PT | 95263 | Esquerda | Zona Oeste do Rio |
Giselle Monteiro | Estadual | PL | 92028 | Direita | Região Serrana |
1 Disponível em: https://outraspalavras.net/estadoemdisputa/eleicoes-no-rio-reflexoes-para-2026/
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