Como a China quer a paz

Nos 80 anos da vitória contra o nazifascismo, vale lembrar o papel esquecido dos chineses na disputa. E, ainda mais importante, sua condição incomum de potência global que jamais exerceu postura colonialista

Em 1944, Mao Tsetung fala em zona liberada, em meio à campanha contra os invasores japoneses. Mais de 35 milhões de chineses foram mortos ou feridos no capítulo asiático da II Guerra Mundial
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Em maio, comemoramos os 80 anos do final da 2ª Guerra Mundial em solo europeu. Moscou é sede do maior evento em alusão a esta data. Por outro lado, esta catástrofe humana foi mundial, com a China sendo o grande palco das atrocidades cometidas pelo militarismo japonês. Foram 35 milhões de chineses mortos ou feridos nesta guerra de ocupação e pilhagem. Vale discutir a fundo, neste aniversário, o real significado da luta pela paz mundial.

A China, uma civilização milenar e caracterizada por uma intensa cultura de paz, desenvolveu filosofias tolerantes e civilizatórias. Nunca foi um país expansionista, colonialista ou imperialista.  É um caso de desenvolvimento sem a necessidade de ocupar países e punir outros povos. Xi Jinping tem repetido que a luta pela paz mundial depende da busca pelo desenvolvimento comum de todos os povos, do fim de qualquer hegemonismo no campo militar e da coexistência e do aprendizado entre as diferentes civilizações. Também a lembrança dos mártires chineses tombados em batalha contra a barbárie da guerra é uma forma não apenas de recordar o passado, mas também de construir uma comunidade de futuro compartilhado.

Em seu discurso no 70º aniversário da vitória na guerra de resistência do povo chinês contra a agressão japonesa e na guerra antifascista mundial, o presidente chinês pontuou: “Pela paz, devemos reforçar a consciência de uma comunidade de futuro compartilhado. O preconceito, a discriminação, o ódio e a guerra provocam apenas desastres e angústias, enquanto o respeito mútuo, a igualdade, o desenvolvimento pacífico e a prosperidade constituem um caminho correto que todo o mundo deve seguir.”

Vale examinar o significado das palavras, diante de um mundo cercado pela incerteza, instabilidade e risco de grandes conflitos. A China, por seu presidente, tem chamado a atenção para o exame da História no momento em que a militarização volta a ganhar força e ideologias reacionárias tentam impor a vontade dos fortes sobre os fracos. A consciência de uma comunidade de futuro compartilhado tem se transformado em um corpo teórico e filosófico chinês em resposta aos desafios contemporâneos, nos quais a paz, o desenvolvimento e a crise climática passam a ser os grandes temas de nossa época histórica.

Podemos fazer um interessante exercício histórico e sublinhar que o reconhecimento da República Popular da China como a legítima representante do povo chinês, bem como  sua admissão à Organização das Nações Unidas em 1971, foram parte de um esforço pela paz mundial por parte de inúmeros países. O processo começou com a Guerra da Coreia, que ampliou a tentativa de isolamento da República Popular da China pelos Estados Unidos e seus aliados. Por outro lado, inúmeros países do que chamamos hoje de “Sul Global” foram reconhecendo, um a um, Pequim como a capital de toda a China. É impossível  não relacionar esses acontecimentos com a luta pela justiça e pela efetiva democracia nas relações internacionais. Xi Jinping em discurso comemorativo pelo 50º aniversário da restauração do assento da República Popular da China na ONU lembrou a todos: “A restauração do assento legítimo da República Popular da China na ONU foi um grande evento, tanto para o mundo quanto para a ONU. Resultou dos esforços conjuntos de todos os países amantes da paz e adeptos da justiça e marcou o retorno do povo chinês, um quarto da população mundial, ao palco da ONU, sendo de grande importância e de influência de longo alcance para a China e para o mundo inteiro.”

A história é tão interessante quanto implacável. Os países que se utilizaram da ONU para infligir prejuízos à China são os mesmos que hoje distorcem completamente os princípios da Carta da ONU e destroem qualquer possibilidade de um mundo multipolar, marcado pelo multilateralismo. Quis o destino que a República Popular da China – admitida tardiamente à ONU – fosse a principal força na atualidade na luta pela retomada do protagonismo da ONU na defesa da paz e do multilateralismo. Xi Jinping foi preciso ao afirmar que: “As regras internacionais só podem ser feitas em conjunto pelos 193 países-membros da ONU, em vez de serem decididas por algum país individual ou algum bloco de países. As regras internacionais devem ser cumpridas por todos os 193 países-membros da ONU; não há nem deve haver exceção. Todos os países devem respeitar a ONU, cuidar desta grande família e protegê-la. De forma alguma devemos aproveitá-la quando nos convém e descartá-la quando não atende aos nossos interesses; ao contrário, devemos garantir que ela desempenhe um papel mais ativo na nobre causa de promover a paz e o desenvolvimento da humanidade. A China está pronta para trabalhar com os demais países com base no princípio de ‘consulta extensiva, contribuição conjunta e benefícios compartilhados’, explorar novas ideias e modelos de cooperação e enriquecer continuamente a prática do multilateralismo sob novas circunstâncias.”

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