Como a China quer a paz
Nos 80 anos da vitória contra o nazifascismo, vale lembrar o papel esquecido dos chineses na disputa. E, ainda mais importante, sua condição incomum de potência global que jamais exerceu postura colonialista
Publicado 09/05/2025 às 19:25

Em maio, comemoramos os 80 anos do final da 2ª Guerra Mundial em solo europeu. Moscou é sede do maior evento em alusão a esta data. Por outro lado, esta catástrofe humana foi mundial, com a China sendo o grande palco das atrocidades cometidas pelo militarismo japonês. Foram 35 milhões de chineses mortos ou feridos nesta guerra de ocupação e pilhagem. Vale discutir a fundo, neste aniversário, o real significado da luta pela paz mundial.
A China, uma civilização milenar e caracterizada por uma intensa cultura de paz, desenvolveu filosofias tolerantes e civilizatórias. Nunca foi um país expansionista, colonialista ou imperialista. É um caso de desenvolvimento sem a necessidade de ocupar países e punir outros povos. Xi Jinping tem repetido que a luta pela paz mundial depende da busca pelo desenvolvimento comum de todos os povos, do fim de qualquer hegemonismo no campo militar e da coexistência e do aprendizado entre as diferentes civilizações. Também a lembrança dos mártires chineses tombados em batalha contra a barbárie da guerra é uma forma não apenas de recordar o passado, mas também de construir uma comunidade de futuro compartilhado.
Em seu discurso no 70º aniversário da vitória na guerra de resistência do povo chinês contra a agressão japonesa e na guerra antifascista mundial, o presidente chinês pontuou: “Pela paz, devemos reforçar a consciência de uma comunidade de futuro compartilhado. O preconceito, a discriminação, o ódio e a guerra provocam apenas desastres e angústias, enquanto o respeito mútuo, a igualdade, o desenvolvimento pacífico e a prosperidade constituem um caminho correto que todo o mundo deve seguir.”
Vale examinar o significado das palavras, diante de um mundo cercado pela incerteza, instabilidade e risco de grandes conflitos. A China, por seu presidente, tem chamado a atenção para o exame da História no momento em que a militarização volta a ganhar força e ideologias reacionárias tentam impor a vontade dos fortes sobre os fracos. A consciência de uma comunidade de futuro compartilhado tem se transformado em um corpo teórico e filosófico chinês em resposta aos desafios contemporâneos, nos quais a paz, o desenvolvimento e a crise climática passam a ser os grandes temas de nossa época histórica.
Podemos fazer um interessante exercício histórico e sublinhar que o reconhecimento da República Popular da China como a legítima representante do povo chinês, bem como sua admissão à Organização das Nações Unidas em 1971, foram parte de um esforço pela paz mundial por parte de inúmeros países. O processo começou com a Guerra da Coreia, que ampliou a tentativa de isolamento da República Popular da China pelos Estados Unidos e seus aliados. Por outro lado, inúmeros países do que chamamos hoje de “Sul Global” foram reconhecendo, um a um, Pequim como a capital de toda a China. É impossível não relacionar esses acontecimentos com a luta pela justiça e pela efetiva democracia nas relações internacionais. Xi Jinping em discurso comemorativo pelo 50º aniversário da restauração do assento da República Popular da China na ONU lembrou a todos: “A restauração do assento legítimo da República Popular da China na ONU foi um grande evento, tanto para o mundo quanto para a ONU. Resultou dos esforços conjuntos de todos os países amantes da paz e adeptos da justiça e marcou o retorno do povo chinês, um quarto da população mundial, ao palco da ONU, sendo de grande importância e de influência de longo alcance para a China e para o mundo inteiro.”
A história é tão interessante quanto implacável. Os países que se utilizaram da ONU para infligir prejuízos à China são os mesmos que hoje distorcem completamente os princípios da Carta da ONU e destroem qualquer possibilidade de um mundo multipolar, marcado pelo multilateralismo. Quis o destino que a República Popular da China – admitida tardiamente à ONU – fosse a principal força na atualidade na luta pela retomada do protagonismo da ONU na defesa da paz e do multilateralismo. Xi Jinping foi preciso ao afirmar que: “As regras internacionais só podem ser feitas em conjunto pelos 193 países-membros da ONU, em vez de serem decididas por algum país individual ou algum bloco de países. As regras internacionais devem ser cumpridas por todos os 193 países-membros da ONU; não há nem deve haver exceção. Todos os países devem respeitar a ONU, cuidar desta grande família e protegê-la. De forma alguma devemos aproveitá-la quando nos convém e descartá-la quando não atende aos nossos interesses; ao contrário, devemos garantir que ela desempenhe um papel mais ativo na nobre causa de promover a paz e o desenvolvimento da humanidade. A China está pronta para trabalhar com os demais países com base no princípio de ‘consulta extensiva, contribuição conjunta e benefícios compartilhados’, explorar novas ideias e modelos de cooperação e enriquecer continuamente a prática do multilateralismo sob novas circunstâncias.”
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