50 anos: Como o Vietnã resistiu e venceu

O fracasso do governo fantoche dos EUA no Sul. A incrível tática de “guerra revolucionária” para reunificar o país. Os esforços pela paz de Ho Chi Minh e a prepotência de Washington. Segunda parte de nossa série sobre uma das grandes vitórias sobre o imperialismo no século XX

Capítulo 2 – A frustração de eleições gerais obriga o Vietnã do Norte a se lançar em prolongada guerra de resistência contra o imperialismo dos Estados Unidos (1954-1973)

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Segundo o jornalista estadunidense Brian Crozier, a tomada de Dien Bien Phu foi “um dos maiores triunfos comunistas na Ásia e uma crucial derrota para o Ocidente em geral”. Ou, em outros termos, “foi mais do que uma vitória e mais que uma vitória comunista: foi a demonstração (…) que os asiáticos podiam vencer os europeus numa batalha” [1]. Para ele, não era possível descrever a “façanha assombrosa daquele bando de gente de sapatos de borracha, o Exército Viet Minh”. E perguntou, incrédulo, em tom preconceituoso: “Como conseguiram fazer tal coisa?”. Segundo Crozier, “uma importante pergunta, com a qual os americanos iriam defrontar-se dez anos mais tarde, na segunda guerra da Indochina travada contra os mesmos adversários”, que poderia ser respondida com três pontos: “o gênio militar de Vo Nguyen Giap, a compreensível ajuda da China após a vitória comunista de 1949 e a maestria comunista numa modalidade de guerra, a qual os franceses só conseguiram compreender após sua derrota: a guerra revolucionária” [2].

Segundo o Acordo de Genebra, assinado em 21 de julho de 1954, oficiais e soldados do Viet Minh que estivessem ao sul do paralelo 17 deveriam ser transferidos e reagrupados no norte. Ocorre que o imperialismo dos EUA estabeleceu um governo marionete no sul do Vietnã, rompendo as determinações do tratado para suprimir o movimento revolucionário e impor um novo regime colonialista. Mas imbuído do sentimento de não perder a independência para não se tornar escravo de um novo império, grande parte do povo do sul do país ficou determinado a entrar em combate. À luz das resoluções do 2º Congresso do Comitê Central do PCV, que criou a Frente Nacional de Libertação do Vietnã do Sul (FNL) em dezembro de 1960, a luta do povo vietnamita no sul foi rapidamente retomada com uma organização constituída por mais de uma dezena de grupos com diferentes orientações políticas e religiosas – e que os estadunidenses, de forma reducionista, passaram a chamar de “vietcong”.

Crozier divide a intervenção estadunidense no Vietnã até 1965 – nada menos do que 11 anos após Genebra – em três fases. A primeira foi a própria Conferência de Genebra, que estipulou a saída da França e a divisão do país no paralelo 17. Cabe lembrar, como visto no capítulo 1, que os EUA desembolsaram 44,1% do custo total da guerra entre 1950 e 1954. A segunda demarca a efetiva substituição da França pelos EUA do ponto de vista político e militar no Vietnã do Sul. Um mês antes da queda de Dien Bien Phu, o próprio presidente Eisenhower havia declarado que a perda da Indochina “causará a queda do Sudeste Asiático, como se fosse um castelo de cartas” [3]. Ou o tal “efeito dominó”, preconizado por algumas análises geopolíticas mais tarde. Afinal, entre 1950 e 1953 o Exército estadunidense havia perdido 142 mil soldados na tentativa de deter o avanço comunista na Coreia do Norte. Após a conferência – na qual os EUA ainda não tinham se comprometido com Ngo Dinh Diem –, o senador Mike Mansfield viajou ao Laos, Camboja e Vietnã (em nome do Comitê de Relações Estrangeiras do Senado) e sugeriu, em um relatório, que a ajuda econômica deveria ser direcionada ao Vietnã do Sul desde que Diem permanecesse como presidente.

Em 25 de outubro de 1954, Diem recebeu uma carta de Eisenhower oferecendo auxílio direito ao seu governo para “desenvolver um Estado capaz de resistir à subversão e à agressão”. Como troca, esperava do novo governante sul-vietnamita o que chamou de “reformas indispensáveis” [4]. Em 17 de novembro, o representante dos EUA, general Lawton Collins, chegou a Saigon para reafirmar que o auxílio militar só seria dado a um exército fiel ao governo. Em dezembro, a missão orientadora, sob o comando do general John O’Daniel, foi gradativamente assumindo o treinamento do exército sul-vietnamita, até então subordinado aos franceses. No plano político, o coronel Lansdale mudou-se para o palácio de Diem, tornando-se uma espécie de conselheiro e elo direto com o governo dos EUA. Do ponto de vista administrativo, a Universidade Estadual de Michigan enviou uma comissão para tratar da gestão dos métodos de modernização que deveriam ser implementados. Foi, portanto, uma intervenção “mais profunda e pessoal que a primeira” [5].

Até o final de 1961 – quando se inicia a terceira fase, na visão de Crozier –, o Vietnã do Sul passou por eleições presidenciais, em outubro de 1955, oficialmente vencidas por Diem, contra o antigo imperador Bao Dai, por 98,2% dos votos. Mas até mesmo os EUA sabiam que havia tido fraude eleitoral, e recomendaram a Diem informar uma vitória por 70% dos votos para minimizar a desconfiança da opinião pública. Apesar disso, Landsdale promovia o governo de Diem, cuja ajuda econômica oriunda dos EUA (USD 250 milhões por ano), aliada a manobras estatísticas, davam a impressão de que um “milagre econômico” estava em curso. De fato, o Vietnã do Sul (oficialmente reconhecido como República do Vietnã desde o referendo de 26 de outubro de 1955), e Saigon em particular, viviam um grande boom de americanização, com despejo de bens de consumo made in USA, propagação do American way of live de forma geral e irrestrita e construção da imagem de celebridades locais no cinema e no rádio ao estilo ocidental.

Pressionado pelo Viet Minh a realizar as eleições gerais previstas no Acordo de Genebra, Diem recusou-se a cumpri-las, e passou a perseguir seus oponentes políticos com o encarceramento em campos de prisioneiros – mais de 100 mil em um curto espaço de tempo. As eleições foram canceladas e a única alternativa que restou à unificação do país, desejada pelo norte comunista, foi o uso da violência. Pequenos grupos armados formaram-se, mas, sem condições de enfrentar o exército sul-vietnamita, adotaram a estratégia de eliminar membros do governo de Diem – cerca de 1,2 mil foram assassinados em 1959. A princípio, Ho Chi Minh era contrário a esse movimento, mas um relatório produzido por Le Duan, seu conselheiro de confiança enviado ao sul, o fez mudar de ideia: a resistência armada seria a única saída.

Como já citado, a criação da FNL, em dezembro de 1960, foi a resposta do Viet Minh para buscar uma organização de resistência mais poderosa e eficiente a partir de um programa com 10 pontos, dos quais dois se destacariam: substituir a administração de cunho católico de Diem por um governo que representasse todas as classes sociais e religiões e a efetivação de uma grande reforma agrária no país. Questão agrária e religiosa, duas pedras no sapato do governo de Diem, que assim que chegou ao poder obrigou os camponeses a pagar pela terra que tinham recebido do Viet Minh, a título de desapropriação latifundiária. E como os valores pedidos geralmente eram superiores aos recursos sob tutela dos camponeses, as comunidades do interior se viram em grande dificuldade, fato que as estimulou a ajudar os guerrilheiros no combate contra o governo de Diem. Do ponto de vista religioso, Diem era católico fervoroso em um país no qual cerca de 70% da população vietnamita era budista, mas manteve a política colonial de nomear funcionários e oficiais de orientação católica. Entretanto, essa atitude desagradou os budistas, especialmente porque o novo governo se recusou a suprimir as leis contrárias ao budismo outorgadas pelos franceses desde os tempos da colonização.

A terceira fase foi iniciada no final de 1961, quando, pela primeira vez, os estadunidenses estiveram envolvidos em operações de combate no terreno. Antes disso, entretanto, a guerra já tinha sido deflagrada com o assassinato, em 1958, de oficiais fiéis ao governo de Diem e com a já citada criação da FNL, no final de 1960, que reuniu cerca de 20 mil guerrilheiros com rápidas conquistas no sul (foto 1).

Foto 1 – Modelo da estratégia militar da Divisão 304 (1960)

Fonte: Museu de História Militar (21 jan. 2024)

Alarmado com a situação, o presidente Jonh F. Kennedy (que havia derrotado Richard Nixon nas eleições de 1960) fez um pronunciamento conclamando os EUA a deter a escalada comunista pelo mundo que seduziu centenas de jovens daquele país a se alistar para lutar no outro lado do mundo [6]. Kennedy ordenou uma missão ao general Maxwell Taylor que pudesse fornecer um panorama real do que acontecia no Vietnã – e o que poderia ser feito para melhorar o quadro intervencionista. Seu relatório recomendou um aumento expressivo do auxílio militar às forças de Diem, que resultou na instalação de um Comando do Exército dos EUA no próprio Vietnã, sob chefia do general Paul Harkins, operado a partir de 8 de fevereiro de 1962. Em alguns meses, o número de soldados estadunidenses em solo vietnamita aumentou de 5 mil para 15 mil. Mas, apesar de orientados a atirar apenas quando provocados, passaram a se envolver mais diretamente nos combates, ampliando o número de baixas.

O presidente francês Charles De Gaulle havia advertido Kennedy que seria perigoso se envolver cada vez mais no Vietnã, que poderia arrastar os EUA a um “pântano político e militar sem fundo” [7]. É importante ressaltar que estava em pleno andamento o programa “aldeia estratégica”, política desenvolvida pelo governo fantoche do Vietnã do Sul em cooperação com o Comando Militar dos EUA em 1962. Proposto pelo presidente Diem para combater a FNL, tinha como objetivo separar e isolar as forças militares revolucionárias dos camponeses para prevenir a utilização de apoio e a construção de instalações na zona rural. Foi a principal estratégica da “guerra especial”, tida como fio condutor para implantar a guerra total com a invasão e erradicação de vilas, evitar a concentração de camponeses e bloquear a operação das forças revolucionárias para dizimar os seus soldados.

Cada “aldeia estratégica” foi dotada com duas linhas de defesa. O sistema externo era com arame farpado ou arbusto espinhoso, enquanto o interno contava com terra e arame farpado nos telhados. Havia um fosso com estacas de bambu entre as duas linhas, além de uma ou duas torres de observação e de restrito controle armado nas entradas. Mas a ação sistemática das forças armadas revolucionárias fez com que o programa não desse resultado, que acabou sendo encerrado em março de 1964. Em dois anos, o número de guerrilheiros da FNL havia chegado a 17 mil, aumento de 300%. Ademais, a organização passou a controlar 20% das aldeias do Vietnã do Sul. Apesar disso, Kennedy resolveu endurecer a intervenção no Vietnã, ampliando as forças militares (em conselheiros militares, soldados e equipamentos).

Além de uma intriga envolvendo membros da família de Diem com postos avançados no governo e favorecimentos pessoais, o presidente sul-vietnamita precisou lidar com protestos budistas que irromperam em várias partes do país após os incidentes de Hue, em 8 de maio de 1963, quando a polícia tentou dispersar uma celebração pelo nascimento de Buda e acabou matando uma mulher e oito crianças. Em 11 de junho, em uma movimentada via de Saigon, o monge Thich Quang Duo, de 66 anos, ateou fogo em seu próprio corpo, cena gravada, fotografada e propagada pelo mundo inteiro. A resposta do governo foi prender milhares de monges budistas, e muitos desapareceram.

Mas todo o contexto convenceu a Casa Branca de que a escolha pelo “homem forte” no Vietnã para barrar o comunismo tinha sido equivocada, apesar de toda a proteção recebida pelo governo Kennedy. Era preciso colocar no lugar de Diem um líder popular, e Kennedy concordou, acatando a fórmula tradicional adotada pela Agência Central de Inteligência (CIA): um golpe de Estado. Lucien Conein, agente do órgão, foi designado para oferecer US$ 40 mil a generais sul-vietnamitas para derrubar Diem, que não teria a devida retaguarda da segurança estadunidense. Em novembro de 1963, Diem foi deposto em um golpe e poderia deixar o país, mas acabou sendo executado. E três irmãos dele também foram eliminados com mortes violentas. Curiosamente, três semanas depois Kennedy foi assassinado em Dallas.

Em 30 de janeiro de 1964, o general-chefe Nguyen Khan deu outro golpe, e uma junta militar assumiu o governo no lugar do general Van Minh. Brigas internas, fracasso ao buscar estabelecer uma nova constituição mais dura, greves, protestos generalizados e nova tentativa de golpe em setembro geraram alto grau de instabilidade política. Em fevereiro de 1965, um golpe bem-sucedido colocou no poder o marechal Cao Ky e o general Van Thieu, que desempenharam o cargo, respectivamente, de primeiro-ministro e chefe de Estado até 1967. Esse período foi caracterizado pela instalação da censura, suspensão das liberdades civis e ampliação dos esforços anticomunistas. Sob pressão dos EUA, em setembro daquele ano houve eleições gerais, e Thieu foi eleito presidente com 34% dos votos, em votação amplamente criticada.

Com Lyndon Jonhson, os EUA decidem escalar o conflito em 1964, mas se deparam com o impressionante movimento vietnamita de resistência e ofensiva

O vice Lyndon Jonhson, fervoroso adepto da teoria do “efeito dominó” e influenciado por conselheiros militares linha-dura, decidiu ampliar a guerra no Vietnã. Mas, para se resguardar de medidas impopulares, estrategicamente esperou pelas eleições presidenciais de 1964 – que ganharia do republicano Barry Goldwater por ampla vantagem – para incrementar o efetivo militar dos EUA na Ásia. No aguardo do pleito, a tática adotada pretendia pressionar o Vietnã do Norte a cortar o fornecimento de recursos e suprimentos à FNL com pesados bombardeios sobre Hanói, em alvos taticamente predeterminados, como bases militares e depósitos de combustível. Mas era preciso achar uma justificativa perante a opinião pública. E assim foi desenhado o plano 34A, que previa o envio de mercenários asiáticos ao norte para praticar atos de sabotagem e sequestro e/ou assassinato de oficiais comunistas. Paralelamente, navios de guerra dos EUA adentraram águas territoriais do Vietnã do Norte para diagnosticar o estado das linhas navais de defesa do inimigo. Em 2 de agosto de 1964, o destroier Maddox foi atacado por três torpedeiros norte-vietnamitas no Golfo de Tonquim, que retaliou acertando as três embarcações, afundando uma delas. Ao ser comunicado, Johnson imediatamente ordenou um bombardeio aéreo.

Era o que Jonhson precisava. Em cadeia nacional de televisão, anunciou que “repetidos atos de violência contra as Forças Armadas dos Estados Unidos deveriam ser respondidos não apenas por meio de alerta, mas de uma ação positiva”, que está ocorrendo “no momento em que eu falo” [8]. A questão ficou conhecida como “Incidente do Golfo de Tonquim”, cuja resolução, a favor do recrudescimento da presença militar dos EUA no Vietnã, fora aprovada por 82 votos favoráveis e apenas dois contrários no Senado, e 416 votos a zero na Câmara dos Representantes [9]. Desse modo, estava o presidente da República autorizado a tomar todas as medidas cabíveis e necessárias para desmantelar a FNL.

O truque de Jonhson deu certo, pois o discurso de Goldwater, no debate eleitoral, era muito mais agressivo, fazendo com que muitas famílias temessem o recrutamento de jovens para serem enviados à Ásia. Jonhson repetia que não desejava “mandar jovens americanos a 16 mil km de casa para fazer o que os rapazes asiáticos deveriam estar fazendo”, mas empregou a mesma política proposta por seu adversário assim que o pleito foi finalizado [10]. Três meses após a sua posse, deu início à Operação Rolling Thunder, com ataques aéreos regulares (e não esporádicos, como os anteriores) para destruir a economia norte-vietnamita (fotos 2-15 e 16-19). Com duração prevista para dois meses, acabou se prolongando por 44 meses, totalizando 306.183 missões e 864 mil toneladas de bombas atiradas no norte do Vietnã – ou cerca de 57% do que fora lançado no teatro de guerra do Pacífico, ao longo da Segunda Guerra Mundial [11].

O general William Westmoreland, comandante do Exército dos EUA no Vietnã, pediu mais homens à presidência, pois os 23 mil que já estavam em solo asiático seriam insuficientes para defender as bases aéreas de modo eficiente. Como consequência, em março de 1965 foi construído o complexo militar estadunidense em Danang, um sistema de bases considerado o segundo maior do Vietnã do Sul. Incluía três bases aéreas (Danang, Nuoc Man e Xuan Thieu); dois portos marítimos (Danang e Phu Loc); três estações de radares e foguetes (Son Tra, Phuoc Tuong e Hai Van) e um sistema de armazéns (Lien Chieu, Bau Mac, Phuoc Ly, An Don, entre outros). Ademais, 3,5 mil fuzileiros navais desembarcaram em Danang, tornando-se a primeira tropa de combate oficial enviada para além-mar. Cabe ressaltar que, naquele momento, cerca de 80% da população estadunidense apoiava a ampliação da ofensiva militar (bombardeios e envio de tropas) no Vietnã [12].

Fotos 2-15 – Cenas da escalada militar dos EUA

Fonte: Museu de Reminiscências da Guerra (1º fev. 2020)

Treinamento em complexo militar na Louisiana (1962)

(acima e abaixo) Desembarque de fuzileiros navais em Danang (8/3/1965)

Brigada de helicópteros

(acima e abaixo) Aviões B-52 e crateras de suas bombas a oeste de Saigon (1968)

(Acima e abaixo) Brigada de helicópteros em Danang (1965)

Porta-aviões Constellation

Aviões A-6, com capacidade para 8kg de bombas nucleares

Mapa das frentes de ataques aéreos estadunidenses

Supersônico F-105 Thundercrief, com capacidade para 6,3 kg de bombas nucleares

Transporte de soldados e suprimentos estadunidenses (1966)

Monitoramento aéreo (1968)

Fotos 16-19 – Cenas da destruição no norte do Vietnã

Fonte: Museu de Reminiscências da Guerra (1º fev. 2020)

Com o aumento do efetivo, Westmoreland desenvolveu a estratégia cunhada de “busca e destruição”, ou “guerra local”, mediante ações agressivas para encontrar e executar membros da FNL. Ocorre que os soldados estadunidenses tinham muita dificuldade em seguir essa orientação, que exigia uma leitura bastante complexa de cada aldeia. Afinal, ao chegar a um núcleo rural, como identificar quem era inimigo e quem não era? Conforme explicou o capitão de um corpo de fuzileiros, todos eram muito parecidos e se vestiam igual. Consequentemente, civis e inocentes eram geralmente mortos por engano, “sempre contados como inimigos mortos, sob a regra informal de que, se tinha sido morto e era vietnamita, era vietcong”, relatou um oficial do Exército dos EUA [13].

Foi nesse contexto que Henry Kissinger, ainda na condição de professor de Harvard e assessor do Conselho de Segurança Nacional, visitou o Vietnã do Sul pela primeira vez, em outubro de 1965. Instalou-se na embaixada estadunidense em Saigon e recebeu relatórios acerca da situação do conflito, que era preocupante. Demonstrou insatisfação com a confiança dos EUA em aliados corruptos, impopulares e incompetentes; com o crescente refúgio de forças revolucionárias norte-vietnamitas no Laos e Camboja, complicando ainda mais a missão; e com a tática de pressão baseada em pesados bombardeios sobre o Vietnã do Norte, que logo iria “mobilizar a opinião mundial contra nós” [14]. Privadamente, havia dito a funcionários de alto escalão que não era possível vencer, embora publicamente continuasse a apoiar o esforço de guerra.

Nacionalismo, resiliência, estratégia militar, técnicas de guerrilha e diplomacia: a fórmula vietnamita para confrontar o poderoso império dos EUA

A nova estratégia estadunidense resolveu escalar o conflito com o conceito de “guerra local”, agrupando as suas tropas expedicionárias com os vassalos locais (ou marionetes), que compunham o Exército do Vietnã do Sul. Cometeram inúmeros crimes de guerra bárbaros, causando perdas e dores imensuráveis aos vietnamitas. Qual foi a resposta da FNL ao novo contexto? Em 1964, o general Nguyen Chi Thanh foi designado pelo Politburo como secretário-geral do PCV e do Comitê Militar Regional e comissário político do Exército de Libertação do Sul para liderar e conduzir a revolução no Vietnã do Sul [15]. Ele propôs duas novas direções para a guerra revolucionária, em contraponto à escalada do ataque inimigo: a promoção de violência revolucionária com o foco de expandir as suas forças e posições para ações ofensivas, principalmente sobre as bases aéreas estadunidenses situadas no sul (tabelas 1-2). A ideia geral seria gradativamente derrotar as estratégias de guerra dos EUA até a vitória final. O general resumia as experiências práticas de combate e as desenvolvia em argumentos para convencer a população civil sobre a guerra, completando assim a política partidária e as diretrizes militares.

Tabela 1 – Conquistas de combates contra o imperialismo estadunidense

no Vietnã do Norte (1964-1973)

Aviões abatidos (total) B-52 Jatos F1114.181 68 13
Forças de defesa aérea2.422
Grupamentos militares abatidos393
Navios e barcos abatidos e afundados271

Tabela 2 – Conquistas de combates contra o imperialismo estadunidense

no Vietnã do Sul (1961-1975)


TotalPor período
1961-19641965-19681969-197319741975
Soldados mortos, feridos e capturados
EUA (mortos)58.19130330.26827.62300
Fantoches [1]4.251.300301.800893.5001.450.000255.0001.351.000
Veículos de guerra capturados e destruídos
Aviões33.0681.43312.66716.6005181.850
Tanques e veículos blindados38.83527312.62622.7501.1122.074
Navios7.4925221.4633.4804161.611
Canhões13.15301.8507.5002.1431.660

Fonte: Museu de História Militar (21 jan. 2024). Obs.: 1. Mortos, feridos e capturados.

Desse modo, toda a população foi mobilizada na chamada “guerra total do povo inteiro”, desenhada por Giap com um grande esforço popular no campo militar e produtivo (fotos 20-22). O general norte-vietnamita determinou a formação de tropas de elite, com preparo técnico e organização moderna, dotadas com armamentos mais sofisticados que passaram a receber de União Soviética, China e Checoslováquia, além do desenvolvimento de uma artilharia antiaérea eficaz no norte do país. Esta, além de mísseis SAM e alguns caças MIG, contava com milícias populares dispostas, sob qualquer condição, a derrubar jatos com qualquer arma disponível. “Um dos objetivos de qualquer bombardeio é o terror, e a população norte-vietnamita reagiu a ele sem medo, o que deixou os estrategistas norte-americanos perplexos: em vez de fugir como ovelhas amedrontadas, o povo revidava com armas leves e derrubava vários aviões” [16].

Fotos 20-22 – Propagandas de construção no norte e luta no sul (1964)

Fonte: Museu Nacional de História (16 jan. 2024)

Essa ação foi fundamental para gerar alto sentimento de unidade na guerra de resistência contra os EUA. O lema “ousar no combate à América e ser determinado a vencer a América”, arquitetado pela 5ª Região do Comitê do PCV, em Danang, foi fundamental para que as tropas e a população do centro do país pegassem em armas dispostas a realizar uma verdadeira façanha. A vitória em Ba Gia, em maio de 1965, contribuiu para que a estratégia estadunidense de “guerra especial” falhasse, gerando um ponto de inflexão nas vantagens vietnamitas para atacar o inimigo. E nova vitória, agora em Nui Thanh, a batalha de Van Tuong e a Campanha Pleime fortaleceram e confirmaram a confiança vietnamita na possibilidade de enfrentar o agressor e vencê-lo com novos planos estratégicos e truques.

Um cinturão de resistência de guerrilhas foi configurado no Vietnã do Sul para ajudar as tropas regionais e a população a esmagar as estratégias adversárias de contra-ataque, contribuindo de forma decisiva para a derrocada da “guerra local”. Desse modo, o engajamento da população camponesa foi nevrálgico para compreender a estratégia do PCV para a tomada de cidades menores, pois primeiro era preciso controlar a zona rural para forçar a retirada do inimigo e depois avançar na direção das áreas urbanas. Uma tática espelhada na ação de Mao Tsé-Tung na revolução maoísta, com a configuração de pequenas células (três a dez soldados) com quase nenhuma informação sobre outras células, evitando-se, assim, confissões em casos de captura e/ou tortura.

“Guerra revolucionária é, de fato, uma luta pela conquista do espírito entre os que vivem e lutam. Se o povo está do lado dos guerrilheiros, abrigo e alimento se tornam fáceis; e, do mesmo modo a espionagem em relação aos movimentos do inimigo. Não foi por coincidência que nas duas guerras da Indochina o exército derrotado foi o que estava associado aos estrangeiros brancos, (…), os quais pareciam amoldar-se à descrição de que deles faziam os comunistas como ‘imperialistas estrangeiros’. Do lado comunista, ao contrário, não havia russos ou até mesmo chineses no combate; qualquer que tenha sido sua política, o Viet Minh (…) e o Vietcongue (…) eram compostos exclusivamente por vietnamitas. Ao contrário dos franceses e dos americanos, eles podiam misturar-se às populações das vizinhanças (…)” [17].

O objetivo era obter apoio e confiança dos camponeses mediante um rigoroso código de conduta. Ao ocupar uma aldeia, os soldados daquela célula deveriam, impreterivelmente, evitar danificar a terra e os cultivos e destruir as casas e os pertences dos aldeões, e nem comprar ou tomar emprestado aquilo que não desejavam vender ou emprestar. Nunca desviar o compromisso prometido pela organização à massa camponesa (a vitória sobre o inimigo e a distribuição fundiária) e nem agir com a insinuação de que estavam ali apenas para agradá-la. O apoio às atividades cotidianas (buscar lenha, transportar água e outros materiais, consertos gerais, etc) também era tarefa imprescindível no aspecto emocional e comportamental, ampliando os laços de solidariedade e confiança.

A classe camponesa no Vietnã do Sul era extremamente pobre, e uma das tarefas da FNL foi lhe ensinar economia e explicar que a situação de miséria era resultado da dinâmica latifundiária, e não uma punição recebida por crimes cometidos por seus ancestrais – 50% da terra agricultável no sul pertencia a apenas 2,5% da população e 66% dos camponeses não tinham qualquer tipo de propriedade, sujeitando-se a trabalhar aos ricos proprietários em condições de extrema pobreza [18]. Portanto, reverter esse quadro com a promessa de realizar uma ampla distribuição fundiária encorajava os camponeses a ajudar o movimento revolucionário com alimentos e a esconder combatentes – e, em muitos casos, até em entrar na luta armada para libertar outras aldeias.

Além de controlar aldeias, a FNL também adotava a tática de montar patrulhas para vigiar áreas dominadas pelo governo sul-vietnamita. Ou “guerra da pulga”, como descreveu um combatente estadunidense que lutara em Cuba: “A pulga morde, pula e morde de novo, evitando o pé que a esmagaria. Ela não tenta matar seu inimigo com um só golpe, mas (…) sangrá-lo e se alimentar dele, provocar doenças e incomodá-lo.” As pulgas, além de muito pequenas e em grande número, são “ágeis para que o inimigo consiga pegá-las” [19]. Além disso, os soldados da FNL eram orientados a não entrar em combate se o efetivo não fosse superior quantitativamente ao inimigo, fato que certamente pudesse levar à certeza da vitória. Desse modo, geralmente atacavam pequenas patrulhas ou posições mal protegidas, e quase sempre durante a noite. O confisco de armas e a reutilização de explosivos de bombas inimigas não detonadas também acabaram se tornando um grande trunfo [20].

“A tática de guerra popular concentrava-se nos ataques à retaguarda inimiga, fazendo com que a frente de combate se encontrasse em todos os lugares, nas montanhas, nos deltas e nas cidades. Pequenas unidades móveis com morteiros e foguetes, além de armas leves, atacavam os postos do inimigo incessantemente. Só assim era possível empregar ‘poucos contra muitos’, isto é, ataques com efeitos limitados a pontos estratégicos. Tratava-se de uma guerra prolongada com economia máxima de forças, apoiando-se nas ‘três retaguardas’: as montanhas no Sul, a RDV (República Democrática do Vietnã) no Norte e os países socialistas. Na verdade, a estratégia baseava-se no desgaste psicológico das tropas do adversário (…)” [21].

Armadilhas mortais também foram confeccionadas com meios rudimentares (granadas, cartuchos, estacas de bambu e pontas de ferro), proporcionando um efeito favorável aos revolucionários, já que soldados estadunidenses e/ou sul-vietnamitas, ao testemunhar uma morte causada por esse artifício, resolviam descontar a sua ira e frustração na aldeia seguinte, aumentando a hostilidade dos camponeses em relação ao governo marionete do sul e às tropas dos EUA. Consequentemente, crescia o apoio aos comunistas do norte. O artifício representado pelas armadilhas foi amplamente utilizado em Cu Chi, na periferia norte de Saigon, onde cerca de 5 mil famílias apoiadas pelo norte residiam em uma intricada rede de túneis, sob uma área de mata densa, transformando-se em uma das principais bases guerrilheiras comunistas às portas da capital sul-vietnamita (foto 23).

Foto 23 – Guia indica a área (em vermelho) dos túneis de Cu Chi, no subúrbio de Saigon

Autor: Daniel Monteiro Huertas (03 fev. 2020)

Por causa dos intensos bombardeios vindos do alto, a defesa antiaérea tornou-se prioridade no norte do país, com a orientação para a construção de novas bases militares, túneis e abrigos antiaéreos e a evacuação de civis em zonas de alto risco. A população foi instruída a ser vigilante, limitar o uso de luzes para protegê-la dos ataques e se esconder nos abrigos quando as sirenes tocassem. Em muitas localidades do país, as atividades cotidianas eram desenvolvidas no subsolo. Ao mesmo tempo, a manutenção da produção agrícola foi o foco central para garantir uma estabilidade mínima no dia a dia, mesmo que fosse preciso reconstruir áreas de cultivo atingidas por bombas (fotos 24-25). Cartões de ração (foto 26) foram largamente utilizados como forma de sobreviver sob ataque constante. A ração mínima mensal para pequenos empreendedores, comerciantes e lares era de 10 kg de arroz, 300 g de carne, 500 g de tofu, meio litro de molho de peixe e 100 g de açúcar, além de uma cota anual de 4 litros de combustível e 4 metros de tecido.

Fotos 24-25 – Crateras causadas por bombas e reconstrução de arrozal em Thai Binh (1972)

Fonte: Museu de Reminiscências da Guerra (1º fev. 2020)

Foto 26 – Cartões de ração usados no Vietnã do Norte

Fonte: Museu da Mulher Vietnamita (16 jan. 2024)

Uma estratégia fundamental adotada pelos norte-vietnamitas, que já tinha sido utilizada contra os franceses, repetiu-se em maior escala e intensidade: os inúmeros caminhos abertos bordeando a fronteira com Laos e Camboja, em terreno montanhoso coberto por selva, construídos para ligar o norte e o sul. Em 19 de maio de 1959, para promover suporte humano e material para a guerra de resistência ao povo do sul, o Comitê Central do PCV, o governo e o Conselho Militar Central resolveram ampliar a antiga Trilha Truong Son para abrir novas rotas estratégicas, renomeando-a Trilha Presidente Ho Chi Minh. Uma verdadeira epopeia de tradições revolucionárias que reuniram bravura, resiliência, engenhosidade e criatividade dos soldados que operaram nessa rota, membros de uma corporação militar com atuação específica na trilha.

A empreitada foi rapidamente executada, tornando-se um sistema ininterrupto de mais de 17 mil km de estradas, 3 mil km de vias de comunicação, 3.140 km de estradas secretas, 1.400 km de oleodutos e 1.300 km de linhas de eletricidade (fotos 27-28). Cerca de 29 milhões de metros cúbicos de terra e rochas foram escavados para a construção das rotas. Simultaneamente, também foram abertas cinco linhas de comunicação por via marítima, totalizando cerca de 12 mil milhas marítimas (22,2 mil km), conectando os campos de batalha com os vizinhos Laos e Camboja. Ao todo foram transportados 1,4 milhão de toneladas de bens e armas, 5,5 milhões de metros cúbicos de petróleo e combustível e 2 milhões de pessoas entre o sul e o norte e vice-versa (fotos 29-41) [22].

Fotos 27-28 – Rede de caminhos entre os vizinhos Laos e Camboja (vermelho) e o Vietnã (acima) e mapa de um pedaço específico do caminho (abaixo)

Fonte: Museu da Cidade de Ho Chi Minh (4 fev. 2020)

Fotos 29-41 – Cenas da Trilha Ho Chi Minh

Fonte: Museu da Cidade de Ho Chi Minh (4 fev. 2020)

Estima-se que para empreender os combates no sul, a FNL tenha recebido pela trilha uma média diária de 60 toneladas de material e equipamentos. Acampamentos e bases eram levantados em intervalos regulares a fim de oferecer descanso e tratamento médico aos feridos, seja em combate ou na travessia da própria trilha. No começo da guerra, cerca de seis meses era o tempo gasto para se alcançar Saigon, que foi sendo reduzido à medida em que se tornava cada vez mais utilizada – soldados mais experientes chegavam a levar até seis semanas para percorrê-la no início dos anos 1970.

Sempre tentando cortar essa nevrálgica linha de comunicação, o imperialismo estadunidense lançou sobre a sua zona de influência mais de 4 milhões de toneladas de bombas de todos os tipos, além de ter empreendido centenas de ataques aéreos e de ataques terrestres para a instalação de milhares de minas de modelos diferente (fotos 42-43), acarretando cerca de 78 mil crateras de bombas e a explosão de 85 mil minas.

Fotos 42-43 – Minas e artefatos explosivos terrestres implantados pelos EUA

Fonte: Museu da Cidade de Ho Chi Minh (4 fev. 2020)

Nem mesmo a chamada “Linha McNamara” – um sofisticado artifício anti-infiltração composto por uma barreira de arame farpado e minas terrestres interligada a um sistema eletrônico de sensores de captação de áudio, construída pelo Exército dos EUA entre 1967 e 1968, ao longo do paralelo 17 (do distrito de Dien Ban, no litoral, ao de Voa Vang, no oeste) – foi capaz de interromper o fluxo regular na trilha [23]. Simplesmente as forças da FNL passaram a sabotar a cerca com alicates e a atacar todos os envolvidos na linha (construtores e operadores), fazendo com o que os EUA abortassem essa tática (foto 44).

Foto 44 – Soldados da FNL sabotando a Linha McNamara

Fonte: Museu de Quang Tri (10 jan. 2024)

A corporação militar da trilha combinou o uso da força com coragem e criatividade para lutar em 151.133 batalhas aéreas contra o inimigo (que resultaram na derrubada de 2.455 aviões de todos os portes e captura de dez pilotos), em 500 batalhas terrestres, totalizando a eliminação de 18.740 soldados, captura de outros 1.290, rendição de 10 mil e confisco e/ou destruição de 100 veículos militares e milhares de armas de todos os tipos [24]. Um sacrifício hercúleo para transportar tropas e suprimentos em condições geográficas adversas (calor, umidade e alta incidência de malária), muitas vezes durante a noite para despistar o monitoramento aéreo dos EUA, ou camuflados durante o dia. A pé, a cavalo, dirigindo veículos ou de bicicleta. Mais do que uma simples rede de comunicação, a Trilha Ho Chi Minh representou um simbolismo de unidade e um enlace espiritual entre os cerca de 1,5 mil km que separam Hanói de Saigon. No lado vietnamita, cerca de 20 mil oficiais e soldados sacrificaram as suas vidas na trilha e cerca de 30 mil ficaram feridos. Os soldados da corporação foram agraciados com o título de herói das Forças Armadas Populares, Medalha de Estrela Dourada e Medalha Ho Chi Minh.

Na chamada Zona Desmilitarizada (DMZ, na sigla em inglês), uma “zona tampão” instituída pelo Acordo de Genebra ao longo do paralelo 17, na Província de Quang Tri, as forças revolucionárias defenderam a unhas e dentes a porta de entrada para o Vietnã do Norte. A linha demarcatória entre norte comunista e sul anticomunista tinha 76 km de comprimento, da foz do Rio Ben Hai até a fronteira com o Laos, cuja largura variava entre 6 e 10 km (foto 45). Embora teoricamente fosse uma faixa na qual não deveria haver a presença de forças militares, a realidade nua e crua do conflito elevou a fronteira a uma área de alta tensão após 1955, com forte presença militar estadunidense, que não poupou bombardeiros aéreos na zona e seus arredores (fotos 46-49).

Foto 45 – Mapa da Zona Desmilitarizada (hachurada) em 1969

Fonte: Wikipedia Commons. Acesso em 6 mar. 2025

<https://en.wikipedia.org/wiki/Vietnamese_Demilitarized_Zone#/media/File:DMZ1.jpg>

Fotos 46-49 – Uso intenso de bombas na Zona Desmilitarizada

Fonte: Museus da DMZ e de Quang Tri (10 jan. 2024)

Do lado sul, na entrada da ponte sobre o Rio Ben Hai, havia uma série de alto-falantes para tentar dissuadir os norte-vietnamitas a abandonar a causa para aderir ao capitalismo apoiado pelos EUA. Cercas de arame farpados e postos de controle e vigia perfilavam nas duas margens do rio, além das duas bandeiras hasteadas (fotos 50-51).

Fotos 50-51 – Fronteira norte-sul

Fonte: Museus da DMZ e de Quang Tri (10 jan. 2024)

Do lado norte-vietnamita, o complexo sistema de túneis em Vinh Moc, a poucos quilômetros de distância do Rio Ben Hai, não serviu apenas como linha de defesa à população e forças revolucionárias mais próximas do contato com o território em disputa. É preciso salientar que essa rede subterrânea também cumpriu importante papel aos serviços de combate, fortalecendo as posições na Ilha Con Co e nos campos de batalha do sul. Foi a mais completa e efetiva forma de prevenção às investidas inimigas na linha de fronteira, demonstrando a energia, resiliência e engenhosidade do povo vietnamita na guerra de resistência.

O sistema, com 1.701 metros de túneis, possuía 13 entradas (sete voltadas para o litoral e seis para as montanhas) e era dividido em três níveis, respectivamente com profundidades entre 8-10 metros, 12-15 metros e 20-23 metros. Em seu interior havia compartimentos familiares que podiam acomodar até quatro pessoas, além de salões para convivência coletiva, com capacidade entre 50-60 pessoas, para albergar reuniões, encontros, exibição de filmes e performances artísticas. Ademais, outras atividades, como maternidade, enfermaria, banheiro e cozinha, por exemplo, dispunham de espaços próprios (fotos 52-60). O exército de Vinh Linh atuou entre 1965 e 1972 no auxílio às forças militares principais para derrubar 293 aviões (incluindo sete B-52s) e afundar 69 navios estadunidenses na área de influência da linha de fronteira. Seus integrantes foram agraciados com o título de heróis.

Fotos 52-60 – Cenas da resistência em Vinh Linh

Fonte: Museus da DMZ e de Quang Tri (10 jan. 2024)

(acima e abaixo) Combate à artilharia aérea dos EUA

(acima e abaixo) Entradas da rede de túneis

(acima e abaixo) Equipamento militar soviético de artilharia antiaérea

Também é importante mencionar a construção da Casa D67, em 1967, em área adjacente ao antigo Palácio Imperial, que do lado de fora mais se parece com uma singela casa térrea, mas cuja construção esconde a sua importância militar. De arquitetura simples e reduzida área construída, foi dotada com duas entradas, paredes com tijolos de 60 cm que garantem total isolamento acústico, área externa estruturada com aço de 1 cm de espessura e uma camada de areia no telhado para proteger a construção da penetração de estilhaços, além de um banker profundo (foto 61). A D67 foi meticulosamente planejada para se tornar o quartel-general (apesar de sua aparente simplicidade) do Exército de Libertação Nacional, com salas de reunião disponíveis para o Politburo e Comissão Militar Central. O general Vo Nguyen Giap, ministro da Defesa e figura militar mais importante do país desde a vitória sobre o imperialismo francês, e o general Van Tien Dung, comandante do Exército, monitoravam o desenvolvimento do conflito e discutiam e desenhavam as táticas e estratégias do interior da D67.

O banker, a 9 metros de profundidade, era acessado por três entradas com degraus, todas dotadas com portas de aço (foto 62). Duas se conectavam à D67 e outra ligava ao quartel-general da artilharia. Cabe ressaltar que, por causa dos intensos bombardeios aéreos sobre Hanói, muitos residentes deixaram a cidade, rumo ao interior. Entretanto, para buscar refúgio na capital norte-vietnamita, foi construída uma rede de abrigos antiaéreo em toda a cidade, incluindo o banker da D67.

Fotos 61-62 – Fachada principal da Casa D67 e uma das entradas do banker

Autor: Daniel M. Huertas (15 jan. 2024)

Um sistema de mapas servia como ferramenta fundamental na tomada de decisão, pois evidenciavam a situação das forças revolucionárias no teatro das operações. Elaborados pelo Serviço Operacional Cartográfico, as cartas atualizavam o contexto antes das reuniões ocorridas na D67. Ademais, uma sala de informações, com equipamentos radiodifusores, recebia e transmitia dados sensíveis entre a D67 e as unidades de combate. Do lado de fora da casa, havia vários veículos de fabricação russa disponíveis para uso dos oficiais em serviço (fotos 63-65).

Fotos 63-65 – Sala principal da D67, sala de informações e veículo russo GAZ-69 usado até 1975

Autor: Daniel M. Huertas (15 jan. 2024)

No campo diplomático, o presidente Ho Chi Minh continuava empenhado em mostrar ao mundo a realidade da agressão estadunidense, denunciando as atrocidades e violações cometidas pelo imperialismo em solo vietnamita. Em 30 de novembro de 1964, Ho Chi Minh foi anfitrião da Conferência Internacional em Solidariedade à População Vietnamita na Luta contra a Agressão Estadunidense e pela Paz, que recebeu delegações de várias partes do mundo (foto 66).

Foto 66 – Foto oficial da conferência de 1964, realizada em Hanói.

Autor: Memorial Ho Chi Minh (15 jan. 2024)

Em 1966, enviou um telegrama à Conferência Tricontinental, reunida entre 3 e 16 de janeiro de 1966, em Havana [25]. “Em nossa luta justa, os vietnamitas foram apoiados por socialistas, asiáticos, africanos, latino-americanos e de outros países do mundo, incluindo estadunidenses progressistas. Confiando na nossa unidade nacional e no suporte internacional, os vietnamitas estão resolutamente determinados a lutar contra a agressão dos EUA e assegurar uma vitória completa”, dizia a mensagem [26].

Em maio de 1967, o general Chi Thanh viajou dos campos de batalha do sul para Hanói com o intuito de reportar ao Politburo e a Ho Chi Minh o estágio da Campanha Inverno-Primavera 1967-1968. Diante da destruição de 27 aviões inimigos estacionados na base aérea de Bien Hoa, sem uma única baixa; do ataque à base de Khe Shan, adjacente à Zona Desmilitarizada; e do prolongado cerco a Saigon, cada vez mais eficiente, ele exaltou o espírito básico das frentes e disse que seria necessário continuar atacando o inimigo para avançar e vencer. “Nós definitivamente venceremos a América. A derrota da América está clara” [27]. Essa informação serviu de base para realizar ajustes na estratégia determinada: preparar a ofensiva geral e a revolta de Mau Than, no ano seguinte.

Ho Chi Minh imediatamente implementou o slogan “lute pela derrota dos EUA, lute pelo colapso do governo marionete” e, de forma estratégica, enviou um interessante telegrama endereçado “Para os nossos amigos americanos que estão lutando por liberdade, paz e justiça contra a agressão do imperialismo dos EUA no Vietnã, por ocasião do Ano Novo de 1968” [28]:

Na ocasião do Ano Novo de 1968, eu lhe desejo um feliz ano novo.

Obviamente, não existe nenhum vietnamita que tenha interferido na política externa dos EUA. Ainda, mais de meio milhão de soldados foram enviados ao sul do Vietnã, juntamente com outros 700 mil soldados do regime marionete e de países aliados, frequentemente matando vietnamitas e queimando suas cidades e vilas. No norte do Vietnã, milhares de aviões dos EUA jogaram 800 mil toneladas de bombas, destruindo escolas, igrejas, hospitais, diques e áreas povoadas.

O governo dos EUA forçou centenas de milhares de jovens americanos à morte e ferimentos em vão nos campos de batalha vietnamitas.

O governo dos EUA desperdiçou dezenas de bilhões de dólares, que vêm das lágrimas e do suor americanos, para a guerra no Vietnã todos os anos.

Você está se esforçando para chamar pelo fim da guerra de agressão dos EUA no Vietnã, e por isso você está lutando por uma causa justa e nos apoiando.

Nós queremos independência, liberdade e unificação para a nossa nação; nós queremos viver pacificamente e em solidariedade com as outras nações do mundo, incluindo americanos; portanto, todo o povo vietnamita está de forma unânime determinado a lutar contra o imperialismo dos EUA. Nós temos sido ajudados por amigos de todo o mundo. Nós definitivamente esperamos vencer, e você também vai.

Obrigado por ajudar o povo vietnamita.

Muitas felicidades
Ho Chi Minh

Mas para o general Westmoreland, os ataques empreendidos pela FNL em 1967 geraram uma oportunidade, pois as forças revolucionárias estavam se engajando em combate aberto. No final do ano, ele avisou o presidente Jonhson que a organização norte-vietnamita havia perdido cerca de 90 mil homens, e que não haveria capacidade para substitui-los. Para ele, o fim da guerra estava próximo. Outro engano.

Na noite de 31 de janeiro de 1968, no ano-novo lunar (tet, em vietnamita), cerca de 70 mil soldados da FNL abriram fogo simultaneamente em mais de uma centena de cidades do sul do país, atingindo diretamente bases estadunidenses e sul-vietnamitas. Detalhe: os revolucionários anteciparam a celebração do tet em dois dias, pegando o inimigo de surpresa. O ataque direto e aberto, até então inusitado, demonstrou que as forças revolucionárias de fato pretendiam retirar as tropas dos EUA do meio urbano. Um detalhe importante: em Saigon, até a própria embaixada foi invadida, resultando na morte de cinco fuzileiros navais inimigos, além do ataque ao palácio presidencial e à sede do Alto Comando dos EUA. Em Hue, foram necessários 25 dias para expulsar as forças revolucionárias da cidade.

A resposta dos EUA foi pesada, matando cerca de 37 mil guerrilheiros (contra 2,5 mil baixas estadunidenses), e com exibição pública de milhares de cadáveres. Mas a guerra ganharia outro rumo, pois a FNL demonstrou capacidade para tomar pontos estratégicos na capital sul-vietnamita e para obtenção de recursos materiais e humanos para seguir determinada no conflito. A “Ofensiva do Tet”, como ficou conhecida a empreitada militar norte-vietnamita, de fato abalou a confiança das forças estadunidenses, que não ignoraram uma derrota estratégica. Ficou comprovado que não havia um único local seguro no Vietnã do Sul, e que as forças revolucionárias poderiam atacar simultaneamente em qualquer parte do país.

E justamente em um momento de crescente insatisfação da sociedade civil estadunidense pelos rumos da guerra, que evidenciava o gasto de enormes somas de recursos sem resultados palpáveis e amplificava as suas contradições na mídia internacional. “As incertezas, vacilações e divergências internas do lado norte-americano acentuaram-se. O moral das tropas caiu a níveis críticos. A própria política interna dos Estados Unidos foi afetada” [29].

Os EUA em um beco sem saída: a ‘vietnamização’ da guerra e as negociações em Paris

O republicano Richard Nixon havia vencido o pleito presidencial de 1968 – seu opositor, o democrata Hubert Humphrey, vice de Johnson, teve a sua imagem associada ao fracasso em curso no Vietnã – e ordenou uma nova política para o conflito. O novo governo se viu obrigado a desescalar o conflito – o que chamou de “vietnamização da guerra”, ou seja, deixar o destino da guerra no embate entre as forças vietnamitas do sul e do norte – e sentar na mesa de negociações para evitar uma derrota humilhante. Desse modo, os EUA retirariam gradativamente as suas forças do país, o que fato teve início em junho de 1969, com a retirada de 25 mil soldados até o final daquele ano – e outros 60 mil até dezembro de 1970 –, embora tenha mantido o engajamento militar aéreo e a assistência militar terrestre ao Vietnã do Sul. Em contrapartida, uma lei obrigou a convocação de todos os homens sul-vietnamitas com idade entre 17 e 43 anos, ampliando o efetivo terrestre das forças fantoches.

Em junho de 1969, as forças revolucionárias criaram nas zonas libertadas o Governo Revolucionário Provisório da República do Vietnã do Sul, posteriormente reconhecido pelo Movimento dos Países Não-Alinhados como legítimo representante do povo sul-vietnamita. Foi um grande avanço no plano político.

Entre 1969 e 1971, o Programa Fênix buscou infiltrar sul-vietnamitas treinados pela CIA nas aldeias para descobrir e executar simpatizantes da FLN. Esquadrões da morte foram montados para a tarefa, resultando no assassinato de cerca de 41 mil membros da organização [30]. Mas a estratégia não deu certo, pois as perdas eram rapidamente repostas por soldados vindos do norte pela Trilha Ho Chi Minh ou pelas bases revolucionárias instaladas no Camboja e Laos. Nem mesmo os pesados bombardeios ao Camboja e ao Laos, orquestrados por Henry Kissinger (que assumira o alto cargo de assessor de Segurança Nacional no governo Nixon), surtiram efeito [31]. O comando militar dos EUA viu que estava longe de controlar a situação nas montanhas, no Delta do Mekong e até mesmo em Saigon.

Pelo contrário, essa nova ofensiva acirrou ainda mais os protestos contra a guerra que já estavam bastante articulados em todas as regiões dos EUA e em grandes cidades de todos os continentes. Em Tóquio, o japonês Kaneko Tokuyoshi tornou-se um ícone, pois entre 1965 e 1973 realizou meticulosamente o trajeto casa-trabalho-casa com um jaleco com dizeres a favor da paz no Vietnã (foto 67) [32]. Nos EUA, crescia a repressão policial em muitas universidades, com prisões arbitrárias de estudantes, e aos movimentos negros e operários. As próprias Forças Armadas já tinham 140 jornais clandestinos e 14 organizações pacifistas, das quais duas exclusivamente de oficiais (fotos 68-71).

Foto 67 – Tokuyoshi em sua campanha diária contra a guerra

Fonte: Museu de Reminiscências da Guerra (1º fev. 2020)

“O bombardeio do Camboja transformou a Casa Branca num barril de pólvora de desconfiança. A invasão por terra do Camboja, anunciada ao público por Nixon em 30 de abril de 1970, em um pronunciamento pela televisão incoerente e desafiante, foi sua centelha. As manifestações se espalharam pelo país, com Washington se transformando em um ‘campo armado’” [33].

Fotos 68-71 – Jornais, rede de apoio e marchas nos EUA contra a guerra

Fonte: Museu de Reminiscências da Guerra (1º fev. 2020)

A tática de Kissinger também acelerou o crescimento do Khmer Vermelho, movimento cambojano comunista e nacionalista que combatia o governo do príncipe anticomunista Sihanouk – que contraditoriamente acabou se aliando ao Khmer após o golpe, patrocinado pela CIA, que colocou o general Lon Nol no poder com uma consequente invasão estadunidense. O mesmo ocorreu no Laos, que registrou ampliação e controle das forças comunistas em grande parte do território. Segundo relato do general Robert Heini, de 1971, a força militar estadunidense que permanecera no Vietnã estava “num estado próximo do colapso, com unidades evitando ou recusando o combate, assassinando seus oficiais, consumindo drogas e sem qualquer estímulo quando não num estado que beira ao motim” [34].

Cabe ressaltar, entretanto, que o contexto da Guerra Fria estava passando por mudanças, com a abertura de diálogo com a China comunista e com a União Soviética, reduzindo a estratégia de contenção ao comunismo no Vietnã. Em teoria, pois a resposta estadunidense ao desencadeamento de uma ofensiva geral da FLN (que culminou em várias derrotas do exército de Saigon) foi a força total, no norte e no sul, inclusive com bloqueio marítimo dos portos do norte, como será visto no capítulo 3. Com a aproximação de novas eleições presidenciais nos EUA, Nixon decidiu voltar à mesa de negociações, cujas conferências estavam em andamento, com altos e baixos, desde 1969. Mas provocou novo impasse nas negociações com a sua reeleição, ordenando pesados bombardeios no eixo Hanói-Haiphong. A União Soviética reagiu, enviando nova remessa de mísseis SAM aos norte-vietnamitas, que passaram seguidamente a abater aviões B-52 e capturar pilotos estadunidenses.

Ficavam cada vez mais evidentes aos EUA (e ao mundo) os altos custos econômicos, políticos e militares da guerra, com amplificação dos protestos em escala global. Washington finalmente decidiu interromper os bombardeios. O primeiro-ministro sueco Olof Palme criticou o “terror aéreo” dos EUA, comparando-o ao extermínio dos judeus pelos nazistas. A crise econômica mundial intensificou-se. E Nixon reiniciou as conversações de paz em Paris. Ou seja, a conjuntura era totalmente favorável à República Democrática do Vietnã.

O Acordo pelo Fim da Guerra e Restauração da Paz no Vietnã fez parte do Acordo de Paz de Paris, assinado em 27 de janeiro de 1973, e previa o cessar-fogo imediato, a retirada total das tropas estadunidenses em 60 dias (fotos 72-74), o reconhecimento de duas administrações e dois exércitos paralelos no Vietnã do Sul, a constituição de um governo de coalização e a realização de eleições gerais no país. Estados Unidos, União Soviética, China, Grã-Bretanha, França, Hungria, Indonésia, Canadá, Polônia, República Democrática do Vietnã, República do Vietnã e Governo Revolucionário Provisório do Vietnã do Sul foram os signatários do acordo, que deveria ser monitorado por uma Comissão de Controle e Supervisão.

Fotos 72-73 – Pilotos estadunidenses prisioneiros (12 fev. 1973) e retirada das forças do Vietnã (14 mar. 1973)

Fonte: Museu de Reminiscências da Guerra (1º fev. 2020)

Foto 74 – Últimos soldados estadunidenses deixando o Vietnã (mar. 1973)

Fonte: Museu Ho Chi Minh de Hue (8 fev. 2020)

Kissinger reconheceu que os negociadores norte-vietnamitas, apesar dos incessantes bombardeios a que foram submetidos, “não mudaram em nada seus objetivos diplomáticos e muito pouco em suas posições diplomáticas” [35]. Aquele país de camponeses de “quarta categoria”, nas palavras de Kissinger, representado em Paris por Le Duc Tho, permaneceu fiel ao princípio de um cessar-fogo com a manutenção das tropas revolucionárias no sul do país, conseguindo “nos manter sob constante pressão pública” [36]. Derrotado, Kissinger relembrou, anos mais tarde, que Le Duc Tho “nos operou como um cirurgião com um bisturi e enorme habilidade” [37].

No Camboja, as guerrilhas do Khmer Vermelho cercam a reduzida área controlada pelo governo de Lon Nol, no aguardo da definição no Vietnã do Sul. No Laos, a direita fica enfraquecida e assina um armistício para formar um governo de coalizão. Os 20 mil soldados tailandeses e os 200 conselheiros militares estadunidenses enviados são expulsos. E Washington resolve voltar as atenções para a sua área de influência direta, patrocinando golpes de Estado no Chile, Argentina e Uruguai entre 1973 e 1976.


Notas:

[1] CROZIER, Brian. Sudeste Asiático em conflito. Rio de Janeiro: Edições Bloch, 1967, p.56.

[2] Idem, p.52.

[3] [4] Ibidem, p.89.

[5] Ibidem, p.90.

[6] Em seu livro A Rumour of War, o escritor Philip Caputo descreve como se deixou seduzir pelo desafio proposto por Kennedy para que os EUA pudessem fazer tudo o que fosse possível pelo país, despertando um idealismo missionário para propagar a fé política capitalista em todo o mundo e combater o comunismo. Caputo alistou-se como fuzileiro naval e, em sua obra, ainda procurou explicar como a Guerra do Vietnã transformou soldados estadunidenses em pessoas capazes de cometer atrocidades.

[7] BLANC, Cláudio. 40 anos da Guerra do Vietnã. Conhecer Fantástico Especial. São Paulo: On Line Editora, 2015, p.32.

[8] Idem, p.38.

[9] As manobras do Maddox em Tonquim, que serviram de justificativa para deflagrar a agressão estadunidense, foram apoiadas em informações incompletas, revelando-se uma completa farsa. Sempre pairaram dúvidas sobre o que teria acontecido, e os fatos não foram revelados completamente até 20 de fevereiro de 1968, quando o Comitê de Relações Exteriores do Senado reabriu a investigação sobre o evento. Antes disso, porém, o senador Fulbright havia expressado publicamente o seu arrependimento sobre o apoio à resolução, afirmando que o Congresso “foi ludibriado para dar ao presidente o poder ilimitado que buscava para fazer guerra no Sudeste Asiático” (ibidem, p.39). Um dos senadores contrários à resolução foi Ernest Gruening, do Alasca, que em 1973 escreveu em um livro que nenhum dos senadores e representantes sabia que estava sendo enganado.

[10] Ibidem, p.39.

[11] Informações extraídas do Museu de Reminiscências da Guerra (1º fev. 2020).

[12] BLANC, op. cit., p.39.

[13] Idem, p.45.

[14] GRANDIN, Greg. A sombra de Kissinger. Rio de Janeiro: Anfiteatro, 2017, p.44.

[15] Em 30 anos de atividades revolucionárias, o general Nguyen Chi Thanh galgou ampla confiança de Ho Chi Minh e do PCV com o exercício de múltiplos postos de comando. Nascido em 1914 em um vilarejo rural da Província de Thua Thien Hue, se lançou às atividades revolucionárias com 20 anos de idade, sendo admitido no Partido Comunista da Indochina em 1937. Entre 1945 e 1964, foi secretário do Comitê Central do PCV, do Comitê Provincial de Thua Thien, da área de Binh Tri Thien, Interregional 4 e do Comitê Geral Militar; presidente do Departamento Geral de Política do Exército Popular do Vietnã e líder do Comitê Central de Assuntos Rurais. Entre 1964 e 1967, assumiu a secretaria do Departamento Central do PCV e do Comitê Militar Regional, além de exercer a função de comissário político do Exército de Libertação do Sul. Capturado e preso por três vezes, foi morto em combate em 1967.

[16] VISENTINI, Paulo Fagundes. A Revolução Vietnamita. São Paulo: Editora Unesp, 2007 (Série “Revoluções do Século 20”), p.75.

[17] CROZIER, op. cit., p.57.

[18] [19] BLANC, op. cit., p.43.

[20] Pesquisa realizada pelo Exército dos EUA revelou que cerca de 90% das armas da FNL haviam pertencido ao exército sul-vietnamita ou estadunidense (ibidem, p.44).

[21] VISENTINI, op. cit.,p.74.

[22] Dados extraídos do Museu da Cidade de Ho Chi Minh (4 fev. 2020).

[23] Robert McNamara foi secretário de Defesa dos EUA entre 1961 e 1968, no auge do conflito no país asiático. Foi o responsável pela autorização da implantação da linha de defesa ao longo do paralelo 17. Concebida pelo Grupo Jason (comitê independente da elite científica que assessora o governo em questões tecnológicas e científicas). Seu custo estimado de construção era de US$ 1,5 bilhão, mas foram alocados US$ 740 milhões.

[24] Dados extraídos do Museu da Cidade de Ho Chi Minh (4 fev. 2020).

[25] A Conferência Tricontinental reuniu 500 delegados de 82 países para discutir questões anticolonialistas e anti-imperialistas relacionadas com África, Ásia e América Latina. O Vietnã, que se encontrava em amplo combate, foi um dos focos das discussões.

[26] [27] Declarações extraídas do Museu de História Militar (20 jan. 2024).

[28] Mensagem extraída do Museu de Reminiscências da Guerra (1º fev. 2020).

[29] VISENTINI, op. cit., p.77.

[30] BLANC, op. cit., p.64.

[31] Baseado em farto material de pesquisa, GRANDIN, op. cit., descreve minuciosamente o estranho envolvimento de Kissinger na campanha de Nixon, intrometendo-se nas negociações de paz com o Vietnã, e a sua ascensão como assessor de Segurança Nacional, “uma intriga que prolongou a guerra por mais cinco anos inúteis” (p.56). O livro também descreve como Kissinger orquestrou os bombardeios ao Laos e Camboja sem o consentimento do Congresso. Ou como “uma guerra ilegal, secreta, foi travada em um país neutro, uma guerra saída às pressas de um porão, pelas mãos de um nomeado presidencial que alguns meses antes era um professor de Harvard” (p.67).

[32] O jaleco original encontra-se exposto no Museu das Reminiscências da Guerra, em Ho Chi Minh.

[33] GRANDIN, op. cit., p.79.

[34] BLANC, op. cit., p.65.

[35] [36] GRANDIN, op. cit., p.126.

[37] Idem, p.103.

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