Nihonjin e os caminhos tortuosos da imigração

Obra vencedora do Jabuti em 2012 é relançada pela editora Fósforo. No livro, Oscar Nakasato narra três gerações de uma família de origem japonesa no Brasil. Expõe os conflitos entre a preservação da identidade e as exigências do novo país. Sorteamos dois exemplares

Passaporte do imigrante japonês, 1921. Arquivo Nacional. | Fonte: Wikimedia Commons
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No início do século XX, milhares de japoneses deixaram seu país em busca de oportunidades no Brasil, atraídos pela demanda de mão de obra nas lavouras de café após a abolição da escravatura.

Essa migração não foi espontânea: fazia parte de um projeto do governo Meiji (1868-1912), sob o imperador Mutsuhito, que incentivou a emigração como forma de aliviar pressões demográficas e econômicas no Japão pós-feudal.

Os imigrantes chegavam com a expectativa de trabalhar temporariamente e retornar, mas a realidade se mostrou mais complexa – muitos ficaram, enfrentaram inúmeras dificuldades, preconceitos e um profundo conflito entre preservar suas raízes e adaptar-se ao novo país.

É nesse contexto histórico que se desenrola Nihonjin, romance de estreia de Oscar Nakasato. Publicado originalmente em 2011, o livro foi elogiado pela crítica, conquistando prêmios como o Benvirá (2011), Nikkei – Bunkyo de São Paulo (2011) e Jabuti (2012) na categoria romance. Recentemente, a obra ganhou uma nova edição pela editora Fósforo.

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A narrativa acompanha a trajetória de Hideo Inabata, um imigrante orgulhoso de suas origens, que mesmo diante das adversidades, se agarra ao orgulho de ser nihonjin (japonês) e que, como tantos outros, desembarca no Brasil determinado a cumprir seu “dever” para com o Japão.

Mas o trabalho árduo nas fazendas de café, a perda da primeira esposa e o choque cultural com os filhos – que gradualmente se assimilam à cultura brasileira – colocam à prova suas expectativas e convicções.

Narrada pelo neto Noboru, a trama atravessa três gerações da comunidade nipo-brasileira, das colheitas exaustivas no interior paulista ao movimento do bairro da Liberdade, das promessas de prosperidade às sombras da Segunda Guerra, revelando as contradições de uma família dividida entre tradição e adaptação, entre o Japão idealizado e o Brasil real. Nesse sentido, o livro desvela não apenas a experiência nipônica, mas a universalidade do desenraizamento.

A prosa sóbria, direta, sem rodeios ou experimentalismos literários de Nakasato favorece uma leitura objetiva da situação, mas sem excluir as nuances, deixando a cargo do leitor interpretar os conflitos, as contradições e os preconceitos dos personagens, em especial do avô, Hideo, que tende ao nacionalismo, à xenofobia e à intolerância, mesmo sobrevivendo em terras estrangeiras. 

A missão que Hideo tomou para si tem raízes em um projeto do imperador Mutsuhito, que buscava modernizar o Japão e aliviar tensões sociais e econômicas após séculos de isolamento.

Com o fim do feudalismo, o país enfrentava superpopulação no campo e desemprego, enquanto a industrialização avançava de forma desigual. A saída foi incentivar a emigração, especialmente para países que necessitavam de mão de obra, como o Brasil, onde a abolição da escravatura (1888) havia criado uma demanda por trabalhadores nas lavouras de café.

Entre 1908 e 1941, cerca de 190 mil japoneses cruzaram o oceano com um pacto implícito: enviar remessas de dinheiro para fortalecer a economia japonesa e, um dia, retornar. O primeiro grupo chegou em Santos, em 18 de junho de 1908, a bordo do navio Kasato Maru.


Kasato Maru no porto de Santos em 1908 | Fonte: Wikimedia Commons
Selo postal em homenagem aos 50 anos da imigração japonesa no Brasil [1958] | Fonte: Wikimedia Commons


Mas a realidade foi mais árida. Muitos, como Hideo, encontraram condições brutais de trabalho, doenças e o peso de um isolamento cultural que fomentou de drásticas diferenças – Entre o século XVII e o século XIX, o Japão viveu sob o domínio da ditadura militar feudal (Xogunato Tokugawa), governada pelos xoguns (grandes generais) da família Tokugawa, que estabeleceram uma política externa isolacionista (Sakoku), dificultando a entrada e saída do país e isolando seus habitantes por pelo menos 220 anos. 

Com a Segunda Guerra Mundial, essas diferenças se aprofundaram ainda mais. No Brasil, japoneses foram perseguidos, proibidos de falar sua língua, de manter suas instituições culturais, escolas e jornais foram fechados, e o sonho do retorno tornou-se impossível.

Após inspirar a animação Meu avô é um Nihonjin (2024), a obra ressurge para lembrar que, no fim, todos carregamos perguntas semelhantes: Que histórias nos definem? O que resiste e o que se dissolve no caldeirão de um país como o Brasil? Como escreve o professor e jornalista Leonardo Sakamoto: “este romance é um espelho” – por vezes incômodo, mas sempre necessário.


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