Prefeitura de São Paulo tenta se explicar sobre dengue

• São Paulo há 17 anos sem contratar agentes de endemias • Os problemas do álcool e a queda no uso • População sabe pouco sobre vapes • Novas estimativas a respeito da covid longa • Mercado ilegal de agrotóxicos • Células tronco para tratar paralisia •

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Epicentro da epidemia de dengue no país, o estado de SP concentra 429 dos 727 mil casos da infecção causada pelo mosquito Aedes aegypti. Já a capital contabiliza até agora 19 mil casos, de acordo com o Painel de Arboviroses do governo federal. Mesmo assim, desde 2008 o estado mais rico da federação não investe na contratação de Agentes de Combate a Endemias (ACE). Além disso, como mostrado em matéria da Folha, a Secretaria de Combate a Endemias do governo do estado passa por sistemático desmonte e redução, iniciado em 2020 por João Doria, em seu programa de desestatização.

Ao jornal, a secretaria municipal de saúde deu resposta evasiva ao comentar a alta de casos na capital e afirma que contratou servidores “multiprofissionais”, o que sugere uma forma precária de vínculo empregatício, sem foco específico no SUS. Por sua vez, o Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo afirma a necessidade de 5 mil ACEs para um trabalho adequado no controle de doenças, pragas e seus possíveis focos, mais que o dobro dos atuais 2 mil. A prefeitura ainda fala que delega tal tarefa também aos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), que fizeram parte da greve do serviço público municipal no ano passado.

Álcool: prejuízos e possíveis tendências de queda

Um estudo da Vital Strategies e do Fiocruz estima que as perdas financeiras diretas e indiretas causadas pelas sequelas do abuso de bebidas alcoólicas alcançam pouco mais de R$ 18 bilhões no Brasil. Ao SUS, os gastos com tratamentos de doenças decorrentes ficam em R$ 1,1 bi. É feito um cálculo baseado na perda de produtividade causada por ressacas ou doenças que incapacitam o indivíduo por prazos mais extensos, em alguns casos levando até a uma invalidez precoce. Mas, como alertado por Pedro de Paula, diretor da organização, os números são conservadores, uma vez que não levam em conta dados da rede privada de saúde, dentre outras limitações de dados oficiais.

Por outro lado, começa a surgir um debate a respeito de uma mudança cultural em relação ao consumo de tais bebidas, em processo que pode vir a se assemelhar ao ocorrido com o cigarro. Uma reportagem do Financial Times (traduzida aqui) perguntou a diversos especialistas por que as novas gerações bebem menos. As hipóteses para tal mudança são variadas e vão desde uma maior eficácia nas campanhas educativas de governo até uma nova preferência pelo consumo de outras substâncias, como opioides. Nos EUA, observa-se uma mudança de comportamento a partir da legalização de diversas formas de maconha, que em 2022 foi mais consumida do que bebidas alcoólicas pela primeira vez na história, em boa parte com razões medicinais.

Vapes e desinformação

Em parceria com OMS e setor privado, a prefeitura do Rio de Janeiro tenta reorganizar sua política antitabagista, agora com o advento dos cigarros eletrônicos em sua abordagem. Segundo especialistas, o Brasil deixou de ser exemplo em ações deste perfil após 2016, com uma retomada do lobby do setor a partir do governo Temer. Neste período, os DEFs (Dispositivos Eletrônicos para Fumar) se tornaram uma moda, em especial na juventude, e são frequentemente associados a uma forma menos nociva de fumo, quando estudos já indicam o exato oposto. 

Além disso, a incapacidade do Estado em conter sua comercialização faz com que muitos usuários, pais e mães sequer saibam da ilegalidade do produto. Quanto ao Rio de Janeiro, o secretário de saúde, Daniel Soranz, afirma que as unidades básicas estão voltando a organizar um monitoramento de fumantes usuários do SUS, a fim de desenvolver novas estratégias de redução de seu consumo.

Covid longa continua a se mostrar grave problema social

Em artigo no The Conversation, as pesquisadoras Margareth Portela, Barbara Caldas e Emma-Louise Aveling sintetizaram os resultados do estudo “Cuidado de saúde à Covid longa: necessidades, barreiras e oportunidades no município do Rio de Janeiro”, na qual analisam a condição atual de pacientes infectados pelo coronavírus. O trabalho incluiu em sua análise de dados profissionais do campo científico que convivem com covid longa, assim classificada em pacientes que relatam persistência de pelo menos três meses dos sintomas. 

Segundo seus resultados, 40% das pessoas abordadas relatam que ainda sentem as sequelas da doença. O resultado é consideravelmente mais alto do que o da PNAD do IBGE, na qual 23% dos brasileiros afirmam uma imensa diversidade de sintomas advindos da infecção. Apesar de reconhecer que o SUS tenta se adaptar a este novo perfil epidemiológico, o estudo relata prevalência do setor privado na busca por tratamento, o que revela desigualdade no tratamento da covid longa no país.

Agrotóxicos ilegais vendidos pela internet

Mesmo depois de uma política de “libera geral” para os agrotóxicos, o Brasil estima que os chamados defensivos agrícolas ilegais constituam 25% do mercado nacional. A estimativa é compartilhada pela Polícia Federal e o Ministério da Agricultura, que realizaram grandes apreensões de produtos agroquímicos nos últimos anos, mas hoje consideram seu controle muito distante da possibilidade real. 

Os fatores que favorecem o mercado paralelo do setor vão desde um avanço do crime organizado em atividades econômicas variadas, com controle de rotas já utilizadas pelo narcotráfico, até a baixa capacidade de fiscalização dos marketplaces, isto é, sites que abrigam seu comércio sem uma política rigorosa neste sentido. Além disso, parte do mercado ilegal é sustentada a partir de outros países, como o Paraguai, cuja capacidade repressiva é ainda mais baixa.

No Japão, células-tronco fazem homem voltar a andar

Um experimento de edição de células tronco conduzido pela Universidade de Tóquio traz resultados animadores para pessoas com paralisia. A partir da introdução de células regredidas a seu estágio inicial de desenvolvimento em locais lesionados, um paciente conseguiu respostas positivas em seu tratamento e retomou sua capacidade de ficar em pé sozinho. 

A partir da doação de células, os laboratórios conseguem “reverter” seu nível de desenvolvimento, de modo a fazê-las voltar à fase embrionária, o que permite sua multiplicação de forma a desenvolver novos neurônios e restaurar tecidos afetados. Dos quatro casos nos quais o método foi aplicado, há um segundo homem que voltou a mover braços e pernas. Os outros dois não apresentaram melhoras. Todos os pacientes que fizeram uso do método são homens com mais de 60 anos.

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