Por que o câncer afeta mais a população negra
• Câncer e desigualdade racial • ANS registra 52,2 milhões de usuários de seguros de saúde em 2024 • Diminuição de ultraprocessados em escolas públicas • São Paulo é estado que mais processa mulheres por aborto •
Publicado 06/02/2025 às 15:05
Diversos estudos atestam que o câncer afeta de forma desproporcional as pessoas negras, que têm mais chance de ter casos graves ou morrer pela doença. Uma matéria do Brasil de Fato sintetizou alguns dos números e motivos. Desde 2023, o Brasil registra mais de 700 mil casos de câncer por ano e, segundo estudos, as disparidades são preocupantes. Um deles atesta que mulheres negras têm 27% mais chance de morrer por câncer de colo de útero, por exemplo.
O câncer de mama também as afeta de forma mais agressiva. Para homens negros, o risco de morrer de câncer de próstata é maior. Há, sim, fatores biológicos que podem pesar na conta, mas a principal razão para tanta diferença são as desigualdades sociais.
“Fatores econômicos e socioeconômicos, como baixo nível de escolaridade, desemprego, condições de vidas mais precárias e falta de acesso à informação exacerbam essa vulnerabilidade e levam diagnósticos mais tardios e piores desfechos de saúde”, alerta oncologista e pesquisador Jesse Lopes da Silva, na entrevista que deu ao BdF.
Novo recorde de usuários de seguros de saúde
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) divulgou os números de seu levantamento de clientes de operadoras de saúde privada. No final de 2024, o número de brasileiros com seguros de saúde alcançou 52.210.290 — históricos 25% da população. O crescimento foi mais expressivo entre a faixa etária de 45 a 54 anos, e nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Amazonas (números absolutos).
A ANS considera o aumento de usuários de seguros de saúde estável, desde a pandemia de covid, e vê tendência de que continue assim pelos próximos anos. No primeiro semestre de 2024, as operadoras de convênios registraram lucro líquido de R$ 5,6 bilhões — o melhor resultado desde 2020. Com a volta da estabilidade no setor, é de se pensar que o Brasil está numa boa hora para voltar a debater a Lei dos Planos de Saúde, que pode solidificar a regulação da saúde privada.
Merenda escolar deverá oferecer no máximo 10% de ultraprocessados
O governo federal deve formalizar uma proposta para reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados e processados nas escolas públicas. A ideia inicial, apresentada durante o encontro do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), é de que o limite para esse tipo de comida menos nutritiva passe de 20% para 10% até 2026.
A medida também versará sobre a aquisição de alimentos por meio da agricultura familiar, com prioridade para assentamentos de reforma agrária, indígenas e quilombolas: ao menos 30% dos recursos do Pnae devem ser destinados a eles. A proposta deve beneficiar 40 milhões de alunos em 150 mil escolas públicas. Há cada vez mais provas de que alimentos ultraprocessados são responsáveis diretos por causar doenças crônicas não-transmissíveis como hipertensão, diabetes, doenças vasculares e até depressão.
A perseguição a mulheres que abortam no Brasil
O estado de São Paulo registrou um triste recorde de abertura de processos por “aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento” em 2024. Foram 34 casos na primeira instância – em 2023 foram três. O Brasil registrou 126 processos desse tipo em 2024, totalizando 517 desde 2020, segundo dados do DataJud, do CNJ. A maioria dos casos em São Paulo (54%) parte de denúncias feitas pelos próprios hospitais – o que levanta questionamentos a respeito da ética e do sigilo médico. Além disso, houve 309 novos processos relacionados a aborto no país, incluindo outras tipificações, como “aborto provocado por terceiros”.
São Paulo lidera com 47 processos, seguido por Pará (31) e Pernambuco (26). O Brasil está bastante atrasado em relação a alguns dos vizinhos latino-americanos: por aqui, o aborto é permitido apenas em casos de estupro, risco de vida para a gestante ou anencefalia fetal. A punição para mulheres que decidem interromper sua gestação varia de um a três anos de detenção – mas a maioria dos casos resulta em suspensão condicional da pena, com condições como serviço comunitário. Para aborto por terceiros, as penas são mais severas, podendo chegar a dez anos de reclusão. Casos de aborto qualificado, que resultam em lesão ou morte, são raros, com 17 novos casos em 2024.