Guerra, bactérias e antibióticos
• Como a guerra amplia a resistência a antibióticos • Takeda testará vacina da dengue em idosos • Especialistas chegam a nova conclusão sobre o IMC • A queda no uso de métodos de contracepção • Bolsa Família e pacientes psiquiátricos •
Publicado 16/01/2025 às 14:50 - Atualizado 16/01/2025 às 14:51
O crescimento da resistência bacteriana a antibióticos (ou resistência antimicrobiana, conhecida por AMR) é um problema global que se expande de forma extremamente preocupante. Em geral, é causada pela produção industrial de carne, práticas agrícolas e o descarte impróprio de lixo farmacêutico e metais pesados. Mas há outro elemento que contribui fartamente com o aumento da ineficácia de antibióticos: a guerra. Conflitos armados intensificam a resistência antimicrobiana (AMR), alerta uma matéria publicada no People’s Health Dispatch. O texto chama atenção para o impacto devastador de metais pesados, como chumbo e mercúrio, utilizados em materiais bélicos. Quando liberados no ambiente, esses elementos facilitam a disseminação de genes resistentes e fortalecem a AMR.
O cessar-fogo em Gaza, se acontecer, será bem-vindo, mas a destruição causada no enclave continuará causando estragos. A destruição deliberada de hospitais e laboratórios, desde outubro de 2023, além do assassinato de mais de 1.100 profissionais de saúde, agrava a crise dos antibióticos. Sem infraestrutura de saúde, a região corre o risco de se tornar um foco de patógenos resistentes. Os corpos de dezenas de milhares de mortos palestinos sob escombros funcionam, ainda, como “bombas microbiológicas”. A escassez de água potável e medicamentos também contribuíram, ao longo desses 15 meses, para infecções, amputações e a disseminação de bactérias resistentes.
Vacina da dengue será testada para uso em idosos
Uma das limitações da vacina contra dengue produzida pela farmacêutica Takeda, a Qdenga, é a restrição ao uso de idosos. A responsável por sua produção fez testes em grupos de pessoas entre 4 e 60 anos, e por isso não se sabe sobre a segurança ou eficácia na população fora desse intervalo. Mas há uma promessa de avanço nesses estudos, segundo a própria Takeda anunciou nesta quarta (15/1). Seus representantes afirmam que há um plano de conduzir uma pesquisa com idosos ainda em 2025.
Também anunciaram a construção de um novo centro global dedicado à produção do fármaco na Alemanha, com o objetivo de produzir 100 milhões de doses ao ano até 2030. Isso porque, hoje, outro problema da Qdenga é a sua escassez – o governo Brasileiro comprou a maior parcela do que foi produzido: 6,5 milhões de doses no ano passado e 9,5 milhões neste ano. O número ainda é insuficiente para alcançar uma parte significativa da população brasileira. Mas, caso seja aprovada para o uso em idosos, pode ser uma boa notícia: eles são o grupo mais vulnerável às formas graves da doença. Hoje, a vacina está disponível no SUS para pessoas de 10 a 14 anos. Em matéria publicada ontem (15/1) no Outra Saúde, tratamos da dengue em 2025 e o que precisa ser feito para contê-la.
IMC não é bom índice para constatar obesidade
O IMC (índice de massa corporal) não pode ser considerado um parâmetro confiável para medir obesidade. É o que afirma um grupo de 58 pesquisadores de todo o mundo, que publicaram suas conclusões em um artigo na The Lancet Diabetes & Endocrinology. Sua posição é endossada por 75 organizações médicas de diversos países. O IMC é uma fórmula criada por um matemático em 1832 e que passou a ser utilizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a partir de 1970. Segundo o índice, pessoas com massa corporal de mais de 30km/m² são consideradas obesas. Hoje, explicam os especialistas, essa métrica está deixando de fora pessoas que podem precisar de tratamento e cuidando de outras que têm menos necessidade.
“Algumas das definições são mais subjetivas ou, em alguns casos, insuficientes e que vão depender da avaliação clínica. E isso tem a ver também com a visão do médico em relação ao paciente”, alertou Cynthia Valério, diretora da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), à Folha. Os especialistas recomendam outros métodos para medir a obesidade, como pelo menos duas medições de tamanho corporal e medição direta da gordura do corpo.
Por que mulheres estão abandonando métodos contraceptivos?
Um artigo publicado no jornal britânico The Guardian faz um alerta: há indícios de que as mulheres estão deixando de usar os métodos disponíveis para evitar gravidez. Houve, a partir de meados da década passada, um movimento de rejeição aos métodos que utilizam hormônios, em especial a pílula. Com ele, um aumento do uso de aplicativos para controlar a fertilidade – uma versão moderna da “tabelinha”, algumas vezes aprimorada com a medição diária da temperatura basal. Essa mudança se justifica por uma crescente desconfiança na indústria farmacêutica, mas também porque alguns dos efeitos colaterais causados pelos hormônios são muito sofridos – e às vezes perigosos, mesmo – para as mulheres.
Segundo o artigo, dados do Serviço Britânico de Aconselhamento sobre Gravidez (Bpas, na sigla em inglês), mostram um dado assustador: o número de mulheres que procuraram o sistema de aborto legal e não utilizavam nenhum método contraceptivo saltou de 56% em 2018 para 70% em 2023. Outra pesquisa, com o público geral, indicou que mais de um quarto das mulheres não se protegia. Os dados apresentados se referem ao Reino Unido, mas a realidade brasileira pode não estar tão distante: uma pesquisa feita pelo IBGE em 2022 constatou que houve uma queda de 13,5% do uso de camisinhas entre jovens que já iniciaram a vida sexual, entre 2009 e 2019. A autora do artigo questiona: por que não há desenvolvimento de novos métodos contraceptivos, com menos efeitos colaterais?
Menos pacientes psiquiátricos morreram, ao receber Bolsa Família
Pessoas internadas com transtornos mentais são um grupo com expectativa de vida mais baixa que a população geral. Um estudo indica que serem beneficiárias do Bolsa Família faz com que haja uma redução em sua mortalidade. A investigação foi feita pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) e sintetizada em artigo publicado no periódico PLOS Medicine. Segundo foi constatado, receber o benefício provocou uma queda de 11% nas mortes por causas naturais, em comparação ao grupo sem acesso ao Bolsa Família. Em relação à mortalidade geral, a redução também foi expressiva, de 7%. No caso das mulheres, a redução foi de 25%; e de 21% entre os jovens de 10 a 24 anos. Outra constatação do estudo foi que, caso todos os hospitalizados por transtornos psiquiátricos recebessem o benefício, 4% das mortes poderiam ter sido evitadas.