Ucrânia: a espiral da insanidade
Washington amplia escalada bélica contra a Rússia, que revida. A guerra nuclear torna-se um risco real. Com Trump, haverá, em vez de trégua, mais instabilidade. Ocidente não desiste de humilhar Moscou e prepara os motores para um confronto contra a China
Publicado 25/11/2024 às 18:15
Por Rafael Poch, em seu blog | Tradução: Rôney Rodrigues
Depois de a Rússia ter alertado, em setembro, que a utilização de mísseis da Otan, impossíveis de operar sem a supervisão desta, significaria uma guerra direta contra os países da Otan, os Estados Unidos e os seus aliados europeus deram esse passo.
Moscou respondeu modificando a sua doutrina nuclear, abrindo o uso de armas atômicas ao cenário de ataques, mesmo com armas convencionais, “se tal agressão criasse uma ameaça crítica à sua soberania e integridade territorial”.
Apesar das provas, não só doutrinais, mas também históricas, de que a utilização de armas nucleares é perfeitamente real e credível no caso de a Rússia ser confrontada com um inimigo superior em recursos convencionais, como a Otan – essa era, precisamente, a doutrina da Otan na Europa quando a URSS tinha essa superioridade no continente – os políticos europeus rejeitam estes avisos perigosos de Moscou como “retórica” (o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell) e até propõem a entrada de tropas Otan na Rússia (Margus Tsahkna, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Estônia).
Desde a própria gênese do conflito, quando a Otan entrou na Ucrânia no final da década de 1990, convidando o seu governo a aderir à aliança (2008), forçando uma mudança de regime no país (2014) e, posteriormente, financiando e armando o seu exército com bilhões, infraestruturas e treinamento, esta escalada ignorou claramente a vontade da maioria da população ucraniana expressa em várias pesquisas de opinião. A escalada atual mantém o mesmo padrão.
Na Ucrânia, 52% da população quer acabar com a guerra o mais rapidamente possível, com grande parte da sociedade admitindo concessões territoriais ao invasor russo, frente a 38% que querem continuá-la, segundo uma sondagem Gallup divulgada esta semana. Na Europa como um todo, uma grande maioria também rejeita esta política.
Deve ser dito que no topo desta última decisão séria e imprudente de escalada está um presidente errático, já de saída e senil que mal tem mais dois meses no cargo.
A combinação do propósito por trás da guerra na Ucrânia – que não é a defesa deste país atacado pela Rússia, mas sim enfraquecer a Rússia, infligindo-lhe uma “derrota estratégica” e mudando o seu regime, como afirmaram os principais líderes dos Estados Unidos e a União Europeia -, com a resposta nuclear que Moscou alerta em caso de “ameaça existencial” ao seu regime, e um presidente gagá com as suas faculdades mentais diminuídas em Washington que vai ser sucedido por um sociopata, cria um cenário absolutamente perturbador para o mundo.
Especialmente se tivermos em conta que a coligação ocidental que está escalando a guerra na Ucrânia é a mesma que encoraja um genocídio em Gaza, permite o bombardeamento israelense do Líbano e do Irã, e está esquentando os motores para um confronto com a China na Ásia.
‘Presidente gagá’ é preconceito de idade.
Artigo muito enviesado… como uma democracia pode estar à vontade com tanto “pragmatismo irresponsável”?? Se deixar levar por China, Rússia dois regimes absolutamente totalitários, um abertamente, e o outro mantendo ainda eleições claramente manipuladas, e ambos sem qualquer liberdade de imprensa e expressão. Defender o acolhimento a uma ditadura escancarada como a de Maduro, é ser muito mau caráter, desculpe! Sarrafo moral inexistente. Tudo isso por ódio aos “ianques”? Não gosto do império estadunidense, nem do apoio irrestrito ao estado sionista, mas ser contra sem freio moral e ético nos colocaria no mesmo (baixo) nível. Esse tipo de material panfletário me incomoda profundamente.