Os EUA e sua acumulação militarizada

Entre os fatores da guerra na Ucrânia, um é pouco explorado. Sob risco de recessão, EUA resgatam uma velha artimanha capitalista: crescer com base nos conflitos e na produção de armamentos. A particularidade, agora, foi forçar o endividamento e a dependência da Europa

Foto: NA/Canal26
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A guerra da Otan contra Rússia na Ucrânia é uma imposição dos Estados Unidos à Europa. Uma nova fase da exploração capitalista, denominada de “acumulação militarizada” (William I. Robinson), por meio da corrida armamentista capaz de impulsionar a economia estadunidense a entrar numa nova onda de crescimento, tendo como referência novos padrões tecnológicos baseados na nanotecnologia, bioengenharia e inteligência artificial.

William I. Robinson, renomado teórico sobre o capitalismo, é professor de sociologia na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara. Ele usa o termo “acumulação militarizada” para descrever um fenômeno onde a acumulação capitalista se torna cada vez mais dependente da militaMilitarismoMilitarismorização e dos conflitos. Robinson alerta que quanto mais a economia global se torna militarizada, há um aumento dos focos de guerra e de conflitos armados, alimentados pelos interesses dos donos do capital transnacional.

Foi estratégico para os EUA promover a guerra em solo europeu, na Ucrânia, para disparar a produção massiva de armamentos produzidos pelo seu complexo militar – como Raytheon, General Dynamics, Lockheed Martin, Northrop Grumman e Boeing – impondo compras à Europa, gerando mais dependência comercial e monetária dos países daquele continente com os EUA.

Já em 1990, o governo de George W. Bush prometera verbalmente a Mikhail Gorbachev, Secretário-Geral da União Soviética, que não haveria expansão da Otan. Entretanto, com o fim da Guerra Fria, tal promessa foi quebrada em 1994 quando Bill Clinton deu início à política de Estado de expansão da Otan ao Leste Europeu, a qual absorveu quatorze países da Europa Central e Oriental: 1) em 1999, República Checa, Hungria e Polônia; 2) em 2004, Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia, Romênia, Eslováquia e Eslovênia; 3) em 2009, Albânia e Croácia; 4) em 2017, Montenegro; 5) em 2020, Macedônia.

Como já afirmara anteriormente o primeiro secretário-geral da Otan, Hastings Ismay (1952-1957): “O objetivo da Aliança do Tratado do Atlântico Norte é manter a União Soviética [Rússia] fora da Europa, os americanos dentro e os alemães embaixo”. Eis o centro do confronto em solo europeu atual. A força militar intervencionista dos EUA-Otan sobrepôs-se e destruiu a possibilidade da união entre as nações, no caso, da integração da Rússia com a União Europeia.

O renomado jornalista investigativo Seymour Hersh ganhou, em 1970, o Prêmio Pulitzer pelo papel que desempenhou ao revelar para a opinião pública internacional o covarde massacre de soldados estadunidenses a cerca de 500 civis desarmados, cujas vítimas foram homens, mulheres, crianças e idosos, o qual ficou conhecido como o Massacre de My Lai, ocorrido em 16 de março de 1968, durante a Guerra do Vietnã.

Em 8 fevereiro de 2023, Seymour publicou um artigo  (How America Took Out The Nord Stream Pipelinedescrevendo minuciosamente como a Marinha estadunidense bombardeou o Nord Stream que transportava gás natural, a preços baixíssimos, da Rússia para a Alemanha.

Segundo o renomado jornalista, o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jack Sullivan, havia convocado, em dezembro de 2021, antes do início da guerra na Ucrânia, uma reunião da força-tarefa formada pelos Chefes do Estado Maior Conjunto, a CIA, os Departamentos do Estado e do Tesouro, requerendo que o grupo apresentasse um plano para a destruição dos dois dutos do Nord Stream.

Com a sabotagem militar aos dutos, obrigou-se a Alemanha a manter-se na guerra da Ucrânia e a comprar GNL (Gás Natural Liquefeito), embarcado em navios dos EUA, a preços e fretes infinitamente superiores.

Entre os danos causados pela destruição, houve uma forte redução no fornecimento de gás natural, resultando em aumento de preços de energia na Alemanha e em toda a Europa, afetando tantos as populações como as empresas, que tiveram que arcar com custos muito mais altos para aquecimento dos lares e para a produção de bens e serviços.

Consequentemente, acarretou um desarranjo na economia alemã, reduzindo a competitividade de suas empresas em função do aumento dos custos de produção, provocando de forma incisiva a queda do consumo doméstico pela alta da inflação. A destruição dos gasodutos gerou incerteza e instabilidade no mercado de energia, dificultando o planejamento e tomada de decisões.

Não é diferente com o genocídio que acontece na Palestina pelos ataques indiscriminados de Bibi Netanyahu, há mais de um ano, provocando um morticínio covarde e insano de populações civis – mulheres e crianças em sua maioria – visando ao extermínio étnico do povo palestino. Atualmente, numa nova fase de sua guerra, amplia-se o horror para as populações civis do Líbano, incluindo ataques a bases das tropas de paz plurinacional da ONU, Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil), contestados por diversos Estados-Nação, inclusive o Brasil.

Não nos enganemos: essas guerras, na Europa e no Médio Oriente, são imposição imperialista dos EUA.

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