Conferência de Ciência se torna palco de anúncio de investimentos

• Mais investimentos em Ciência & Tecnologia • Como diminuir a dependência externa em medicamentos e vacinas • Dengue no inverno brasileiro • Novas descobertas sobre o vírus oropouche • Pesquisa em cannabis medicinal •

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Com participação de Lula em sua abertura, além de ministros das pastas de maiores orçamentos, a 5ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, que se encerra nesta quinta, acabou por se tornar palco para o governo reforçar seus projetos de desenvolvimento e promessas de campanha eleitoral. Além do ambicioso Plano Nacional de Inteligência Artificial, que prevê investimentos de R$ 23 bilhões em 4 anos, outros investimentos foram anunciados durante o evento. No campo da Saúde, o ministério comandado por Nísia Trindade anuncia aportes totais de R$ 556 milhões em projetos relacionados ao campo da pesquisa científica em 2024, ante R$ 390 milhões em 2023 e R$ 116 mi em 2022. Além disso, a ministra Luciana Santos destacou a importância da divulgação científica entre jovens, simbolizada no programa Pop Ciência, que inclui ações em escolas e seleciona estudantes para se tornarem divulgadores científicos.

Ministras falam em combate à dependência externa científica

Ainda na Conferência, um dos temas centrais é a ampliação do que o governo considera soberania nacional no campo da saúde e da ciência. Nísia Trindade afirmou que a falta de uma indústria nacional mais forte no campo da saúde torna o SUS mais vulnerável, dado o vultoso gasto anual do ministério com importação de fármacos que poderiam ser produzidos em solo brasileiro. Trata-se de um dos focos centrais do Novo PAC em seu eixo de saúde, que visa a ampliação da produção nacional, inclusive com garantia do Insumo Farmacêutico Ativo – a substância chave na fabricação de um determinado produto em saúde. Hoje, o Brasil tem um déficit de R$ 20 bilhões de reais em sua balança comercial do setor. O pacote do governo visa adensar cadeias produtivas em saúde e dessa forma garantir não só medicamentos como também materiais e equipamentos básicos usados em hospitais e unidades de saúde. Em outra mesa de debate, pesquisadores defenderam o reforço nos 204 Institutos Nacional de Ciência e Tecnologia para um progresso econômico e social diferente do atual modelo brasileiro.

Apesar da queda, dengue bate recorde no inverno

O número de infecções de dengue caiu consideravelmente no inverno, mas os números continuam altos em relação ao atual período do ano, que em outros tempos significavam o estancamento da doença, característica do clima quente e úmido. Foram 191.819 casos entre 18 de junho e 29 de julho, número 157% superior ao mesmo período do ano passado, quando as cifras já eram expressivas. Portanto, 2024 mantém sua condição de ser o ano de recordes de infecções da doença causada pelo Aedes aegypti, o que tem relação direta com alterações climáticas que esquentaram diversas regiões do país em épocas onde as temperaturas eram mais baixas. Além disso, desastres climáticos como o do Rio Grande do Sul contribuem para a manutenção de grandes quantidades de focos de reprodução do mosquito. O Ministério da Saúde segue investindo na prevenção e combate, além de distribuir as últimas doses da vacina do laboratório japonês Takeda. O Brasil vive a expectativa de o imunizante ser produzido em larga escala pelo Butantan em até um ano, o que aparece como solução mais eficaz diante deste novo padrão de reprodução do mosquito.

Vírus atual da febre oropouche é muito mais potente

Um estudo conjunto publicado por pesquisadores da Fiocruz Amazônia e Unicamp começa a dar sinais sobre os motivos de a febre oropouche ter se potencializado na última temporada. Com baixa incidência e restrita à região norte nas décadas anteriores, a doença transmitida pelo mosquito maruim ampliou em até 100 vezes seu poder de replicação em mamíferos, segundo a análise que compara a cepa original do vírus com a mais recente. Assim como no caso da dengue, a teoria dos especialistas a respeito da evolução do patógeno se relaciona com a destruição ambiental e aumento das médias de temperatura da região, o que fez a doença se expandir para outros estados. Nas últimas semanas, o ministério aumentou seu foco no combate à febre depois do aparecimento de sinais do vírus em quatro bebês nascidos com microcefalia e outro natimorto. São cerca de 7.300 casos no país e a morte de duas mulheres baianas em meados de julho foram os primeiros dois óbitos relacionados à doença na história.

Anvisa exige investimento em pesquisa para maconha medicinal

Segundo uma nota técnica de 2020, as empresas filiadas à Associação Brasileira da Indústria de Canabinóides devem apresentar estudos para aprovar definitivamente a comercialização de seus produtos no mercado farmacêutico. No referido ano, foi concedida autorização temporária para venda de produtos derivados da maconha exatamente sob a condição de que as empresas se comprometessem a apresentar estudos a comprovar a validade do produto. O prazo dado pela agência se estende até 2025 e especialistas ouvidos pelo Jota indagam se haverá tempo hábil para registro e início das pesquisas. Já o setor empresarial alega que a pandemia atrasou os estudos, num contexto onde dezenas de produtos semelhantes começam a entrar no mercado, que já mostra crescimento de 96% de vendas de canabinóides em relação a 2023.

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