Quando o erotismo é chama libertária
Nas poesias de “sexo estranho com desconhecidos em lugares impróprios”, de Natália Nolli, a descoberta do ser por meio de interações com a urbe e suas gentes, de forma feminista. Há exemplares em sorteio e com desconto para Outros Quinhentos
Publicado 13/10/2020 às 19:48 - Atualizado 19/10/2020 às 15:17
Por Simone Paz // Ilustrações de Persie Oliveira
sexo estranho com desconhecidos em lugares impróprios é um livro de poesia erótica e feminista, que dialoga muito diretamente com a cidade e seus movimentos: transporte público, terminais, parques, ruas, prédios de escritórios, cinemas, elevadores, apartamentos, hospitais.
O movimento de um trem, a errância de um trajeto, é também o movimento de um corpo, ou de uma corpA — como a autora, Natália Nolli Sasso, prefere chamar.
O poema inicial, e que dá título ao livro, encerrava o primeiro volume da trilogia Sexo SP, Ninfas do Tietê. Este, por sua vez, também será relançado pelo Selo Libertária, marca desenvolvida pela autora para abraçar todos os seus materiais: e-books, audiobooks, curta-metragens, saraus e, é claro, os livros — que contam com coedição da cearense Substânsia.
O Selo Libertária, em parceria com Outros Quinhentos, oferece dois exemplares grátis em sorteio – e desconto de 20% na compra – para quem não ganhar e quiser adquirir o seu! Assim, de R$30, fica por R$24 (+ frete).
Basta ser colaborador de nosso financiamento coletivo e preencher este formulário até terça-feira 20 de outubro.
Conversando com Natália, ela me conta que se sente muito representada pelo pensamento de Audre Lorde (a escritora caribenha-americana, feminista, lésbica e ativista dos direitos civis que viveu de 1934 a 1992) — embora só tenha descoberto sua obra e legado recentemente, depois de já ter escrito o Ninfas do Tietê e o sexo estranho.
Em ensaio disponível no blog Peita.me, Audre Lorde sintetiza: “O erótico tem sido frequentemente difamado pelos homens, e usado contra as mulheres. Tem sido tomado como uma sensação confusa, trivial, psicótica e plastificada. É por isso que temos muitas vezes nos afastado da exploração e consideração do erótico como uma fonte de poder e informação, confundindo isso com seu oposto, o pornográfico. Mas a pornografia é uma negação direta do poder do erótico, uma vez que representa a supressão do sentimento verdadeiro. A pornografia enfatiza a sensação sem sentimento.”
Esse pensamento, do erótico como poder que luta contra o enfraquecimento dos corpos, fica nítido nas poesias de Natália Nolli. Em sexo estranho, a construção da identidade dx narradorx de cada poesia, se dá por meio de um corpo erótico e que, a partir de suas experiências sexuais, se encontra e se percebe no mundo.
Por momentos, sexo estranho tem o poder de nos fazer sentir que estamos assistindo um filme: é estético, atmosférico, cinematográfico, com suas transas na rua Augusta ou nos jardins de uma universidade carioca:
56 – literatura pra baixo da cintura
poesia indiscreta
que mesmo paulista, não é concreta
poesia-fêmea
nem toda escrita é macha
nem todo poema troca marcha
engata
rasga o asfalto
caminha ereto
por curvas em linha reta.
Há ainda os momentos em que Natália consegue criar um paralelo entre o nome de um bairro, um acontecimento político e um momento histórico crucial, como no caso da poesia chamada República:
13 – República
alcanço o céu de três bocas
estrelas caem atrás de nós
ninguém repara
no escuro
me apalpa
não vejo quem me deseja
não sei quem me beija
poderes desabam na Venezuela
enquanto lambo alguns dedos
Nele, estabeleço um paralelo com o final de fevereiro de 2019, era carnaval no Brasil, enquanto a Venezuela sofria um golpe. O poema se passa na República ou numa república, falando de outras repúblicas?
Sei lá, mas a viagem cheia de curvas pelas páginas de sexo estranho vale cada minuto.
O livro foi lançado em setembro deste ano graças a um edital da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (PROAC), do Governo do Estado de São Paulo.
Conheça mais sobre a autora e seu universo criativo, no perfil: instagram.com/selo_libertaria
Gostou do texto? Contribua para manter e ampliar nosso jornalismo de profundidade: OutrosQuinhentos