Paul Singer e os dilemas do Brasil pré-ditadura 

Obra da Editora Unesp reúne escritos do autor produzidos entre 1961 e 1965. Textos refletem sobre os limites dos planos desenvolvimentistas à época e criticam a modernização política sem uma revolução democrática. Sorteamos dois exemplares

Foto: Gerhard Dilger | Fonte: Repórter Brasil

Paul Singer dedicou toda sua vida à militância, tanto no campo teórico quanto na práxis. O horizonte socialista esteve sempre sob sua vista e foi com essa perspectiva que pensou e formulou sobre economia.

Como lembra Alexandre de Freitas Barbosa, professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), a imprensa de sua época o creditava como intelectual que falava “com simplicidade sobre os mais duros temas do pensamento econômico”.

O ano de 2022 marcou os 90 anos de seu nascimento e em homenagem à sua vida e obra nossos parceiros da Editora UNESP, junto dos familiares do economista de origem austríaca, começaram a lançar a Coleção Paul Singer, reeditando diversos de seus textos.

O Outros Quinhentos já sorteou dois dos livros dessa coleção Uma utopia militante – três ensaios sobre o socialismo e Economia solidária – introdução, história e experiência brasileira, todos organizados por seus filhos, o cientista político e professor da FFLCH-USP André Singer, a jornalista Suzana Singer e a socióloga Helena Singer.

Seguindo o resgate do legado do escritor, a obra Desenvolvimento e política – Reflexões sobre a crise dos anos 1960 reúne escritos cunhados entre 1961 e 1965, divididos em dois capítulos: Desenvolvimento e crise e A política das classes dominantes.

Outras Palavras e Editora UNESP irão sortear dois exemplares de Desenvolvimento e política – Reflexões sobre a crise dos anos 1960, de Paul Singer, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 3/6, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

Apesar de tratarem de temas diferentes, os textos têm em comum a constante preocupação do autor com significativas alterações estruturais que se expressam na economia de acordo com o desenvolvimento e suas fases. Além disso, apontam os limites da teoria desenvolvimentista e suas barreiras estruturais diante das contradições do desenvolvimento capitalista. Os estudos formam um todo harmônico que ajuda a visualizar a evolução do pensamento de Singer. Ademais, especialmente a segunda parte, critica a modernização política sem revolução democrática.

A brochura conta ainda com denso e esclarecedor prefácio de Alexandre de Freitas Barbosa acerca da trajetória militante e intelectual do autor.

UM ECONOMISTA MILITANTE

Ao longo da década de 1960, o Brasil vivenciou um difícil período de recessão econômica com altos índices de inflação e desemprego. O Golpe Militar de 1964 foi a artimanha disfarçada de solução para a crise que os setores burgueses, aliados aos militares, encabeçaram para controlar a política brasileira e barrar os avanços de políticas e movimento populares que ocorriam à época, como as reformas de base do Governo João Goulart – tudo isso sem falar do avanço do comunismo ao redor do globo. 

Singer vivenciou esses acontecimentos e não tardou em fazer diversas análises dos planos que vieram. Forte exemplo é sua “Análise crítica do plano trienal”, que figura no livro e que observa de maneira profunda o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social (1963-65) traçado por Celso Furtado e que tinha como objetivo retomar o crescimento do PIB em 7%.

De origem austríaca, Singer chegou ao Brasil aos 8 anos de idade, fugindo da perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial e em 1954 conseguiu sua cidadania brasileira.

Durante a década dos anos 1960, recém graduado em Economia pela USP, militava no PSB e foi um dos fundadores da Polop (Organização Revolucionária Marxista Política Operária), constituída por membros da ala esquerda do PSB.

Ainda nessa década, passa a lecionar na USP como professor assistente. Em 1966, obtém o grau de doutor em Sociologia com um estudo sobre desenvolvimento econômico e seus desdobramentos territoriais, abordando cinco cidades brasileiras – São Paulo, Belo Horizonte, Blumenau, Porto Alegre e Recife – na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da universidade já citada.

Entre 1966 e 1967, passa a estudar demografia na Universidade Princeton, nos Estados Unidos. Em 1968 apresenta sua tese de livre-docência: Dinâmica populacional e Desenvolvimento. Nesse ano, retoma suas atividades como professor da USP e em 1969, por conta de suas atividades políticas, tem seus direitos políticos cassados pelo AI-5 e sua aposentadoria compulsória é decretada.

É claro que isso não foi motivo para que parasse. No mesmo ano, junto de outros estudiosos, funda o CEBRAP – Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, importante órgão da intelligentsia brasileira que fazia oposição à ditadura militar.

Foi com seu olhar crítico, sua perspectiva socialista e sua vontade de ser amplamente compreendido e de intervir na realidade que ficou eternizado como o propositor da antiga Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), sendo responsável pela pasta por 13 anos. Infelizmente a secretaria foi extinta no governo de Jair Bolsonaro.

No entanto, seu legado perdura e deixou sementes que crescem fortes. Em 2023 o Governo Lula reinstalou o Conselho Nacional de Economia Popular e Solidária, que ficou parado por cinco anos. Hoje, há a Secretaria Nacional de Economia Popular e Solidária.

Isso prova a capacidade do autor para a formulação de políticas que incidem na realidade. Singer nos deixou em 2018, mas seu pensamento continua sendo imprescindível àqueles que buscam construir uma economia capaz de alavancar justiça social, além disso, agora está eternizado na excepcional coleção da UNESP.


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