O que Gramsci dizia sobre o campo

Livro da Editora Boitempo reúne vinte textos do intelectual italiano, publicados entre 1916 e 1926. Escritos abordam as desigualdades regionais da Itália à época. Leia, com exclusividade, um trecho sobre a questão campesina. Sorteamos dois exemplares

Desde o século XIX, o Sul e o Norte da Itália vivem realidades sociais díspares. A questão “meridional”, ou o Mezzogiorno, seria objeto de intenso debate entre os revolucionários Italianos da primeira metade do século XX.

É claro que Antonio Gramsci, intelectual e militante comunista italiano, não ficou indiferente. Vozes da terra, nova obra da coleção Escritos Gramscianos, publicada pela Boitempo Editorial, reúne vinte textos do teórico publicados entre 1916 e 1926.

Outras Palavras e Boitempo Editorial irão sortear dois exemplares de Vozes da terra – escritos de 1916 a 1926, de Antonio Gramsci, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 20/5, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

Os escritos tocam especialmente na questão da relação entre o Sul e o Norte da Itália que, desde o século XIX, convive com alarmantes índices de desigualdade social e econômica. A situação, à época do escrito, era a seguinte: O Norte vivia um intenso processo de industrialização – um exemplo é o surgimento da FIAT em 1899 – e o Sul sofria com os resquícios de um modo de produção feudal, estagnado em uma economia agrária.

O livro conta com dezessete artigos publicados pela primeira vez em português. Nos escritos podemos visualizar um “retrato da Itália nos anos pré-fascismo, como a relação entre os operários do Norte e os camponeses do Sul […] A ebulição da política local, os embates entre os partidos de esquerda italianos da época e o fascínio com a revolução que se avistava na Rússia também são temas que perpassam os textos.”

Marcos del Roio, professor titular em Ciências Políticas na Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, assina a apresentação da obra, na qual levanta: “Nas cartas e nos cadernos vê-se como a questão meridional persistiu no campo de preocupações de Gramsci e como nesses textos ela ganha amplitude e complexidade”,

Leia abaixo, com exclusividade, a apresentação do professor.

Boa leitura!


APRESENTAÇÃO

Marcos Del Roio

Ainda que se possa dizer que uma questão meridional exista desde a Antiguidade, quando a República Romana extrapolou seu território peninsular nas guerras contra o Épiro e contra Cartago, foi a invasão longobarda, no século VI d.C., a cindir em duas a trajetória histórica da Itália. Apenas com o Risorgimento do século XIX, que culminou na fundação do reino da Itália, logo após a anexação (manu militari) do reino de Nápoles pelo Piemonte, em 1861, a península voltou a se unificar.

Em meados do século XIX, o Norte assistia a um processo de industrialização razoável, mas o Sul se mantinha estagnado numa economia agrária de muito baixa produtividade, com características feudais persistentes. O Risorgimento foi a realização da revolução burguesa na Itália, uma revolução pelo alto ou uma revolução passiva, como Gramsci identificaria nos Cadernos do cárcere*. Desde logo, o problema que se apresentou foram as péssimas condições de vida do campesinato meridional.

Mesmo antes da unificação, o problema da existência de duas regiões tão diferentes já existia no seio do reino piemontês. A zona continental – o Piemonte propriamente dito – se industrializava, mas a ilha da Sardenha era mantida no atraso e submetida a exploração. A falta de organização dos camponeses fazia que reagissem à desbragada exploração dos ricos e do Estado ao modo de banditismo ou sublevação espontânea sem direção política. Tome-se como exemplo a insubordinação popular de 1906, que recebeu uma repressão bárbara por parte do Estado.

A unificação apenas ampliou essa dualidade para todo o Sul da Itália. A consciência da existência de uma questão meridional logo apareceu pela pena de alguns intelectuais liberais como Pasquale Villari [1] e Giustino Fortunato [2]. Por muito tempo, a esperança foi de que o governo tomasse providências para ao menos minorar as condições do Mezzogiorno, imerso na pobreza, na falta de infraestrutura mais elementar. Villari talvez tenha sido o primeiro a denunciar essa situação e a pedir que medidas fossem tomadas.

Mais tarde denunciado como reacionário por Gramsci no escrito de 1926 que ficou conhecido como “A questão meridional”, na verdade Giustino Fortunato defendia a existência de uma monarquia burguesa ilustrada que providenciasse a solução do problema da pobreza meridional por meio de reformas na ordem fiscal do Estado, que sobretaxava o Sul em benefício do Norte. Os apelos ao Estado e à burguesia caíram no vazio, e Fortunato transformou-se num opositor do Estado italiano do modo que então se configurava. O liberalismo democrático do jovem Fortunato deu lugar ao pessimismo derivado de uma avaliação positivista da economia e sociedade do Sul, até mesmo com certo deslize para o racismo. De fato, a concepção racista do problema meridional era bastante difundida e contou com autores influentes como Cesare Lombroso [3] e Giuseppe Sergi [4].

Uma vertente democrática e socialista abordou a questão meridional por um ângulo diferente: diante do bloco dominante formado pela burguesia industrial e os grandes proprietários agrários do Sul, ficou patente que as soluções seriam a república e a federação, além do sufrágio universal. Ettore Ciccotti [5] e Gaetano Salvemini [6] foram expoentes dessa linha que primeiro entendeu que a emancipação social e política se faria possível a partir das forças sociais exploradas do Mezzogiorno, quando buscada a aliança com o proletariado industrial do Norte. Em fins do século XIX, já se notava a proposição, na Itália, da aliança operário-camponesa.

A visão de Salvemini não encontrou guarida no Partido Socialista Italiano (PSI), já que este de algum modo se vinculou ao projeto do primeiro-ministro liberal Giovanni Giollitti [7], do bloco agrário-industrial, que beneficiaria a classe operária à custa de manter o campesinato na mesma situação de pobreza. Salvemini se afastou do PSI em 1908 e passou a defender uma democracia rural dentro de um estatuto federativo. O socialismo reformista de Filippo Turati [8], ao predominar no PSI, abriu espaço para a formação de um inorgânico movimento político de oposição identificado como sindicalismo revolucionário, influenciado por Georges Sorel [9] e que teve em Arturo Labriola [10] um nome de destaque na Itália. A revista L’Unità, fundada em 1911 por Salvemini, foi grande expressão do meridionalismo, que investia na formação de uma intelectualidade dedicada à educação política do campesinato.

GRAMSCI: DO SARDISMO AO MERIDIONALISMO

A vida de pobreza e seu desenvolvimento intelectual no período em que estudou em Cagliari aproximaram Antonio Gramsci do sardismo – ideologia que propugnava a independência da ilha –, mas também do socialismo, por influência do irmão Gennaro, sete anos mais velho e com quem dividia a habitação. Gramsci jamais abandonou seu vínculo com a cultura sarda, à qual atribuía grande valor e com a qual se identificava.

Meio século depois da unificação, em 1911, era fácil constatar que a discrepância entre Norte e Sul do país havia aumentado. A industrialização do Norte avançava, em grande medida graças à exploração de caráter colonial do Mezzogiorno, que permanecia na miséria. A fim de estudar na universidade, ainda em 1911 Gramsci chegava a Turim, vindo da Sardenha. Trazia na bagagem bons resquícios de sardismo, pois sua vida em Turim continuava miserável como em sua terra natal.

Gramsci dedicava-se aos estudos linguísticos, mas aos poucos se aproximou do PSI e da vida operária. Em 1913, em visita à Sardenha, participou do plebiscito em favor do sufrágio ampliado, ao lado dos socialistas intransigentes da ilha. Foi então que se vinculou de vez ao PSI. Gramsci manteve um meridionalismo muito próximo de Salvemini até seus primeiros escritos específicos sobre a questão, publicados em 1916, ainda que o historiador pugliese já houvesse se afastado do PSI. Gramsci percebeu como a Itália unificada estava dividida  entre uma parte que, por meio das comune, havia gerado condições para o desenvolvimento do capitalismo e outra que se manteve estagnada, especificamente sob o domínio dos Bourbon.

A posição do PSI de proximidade com Giolitti e o bloco agrário industrial, que penalizava o Mezzogiorno e o campesinato, avizinhou Gramsci do sindicalismo revolucionário e mesmo do interventismo. Nota-se a presença do sindicalismo revolucionário em Gramsci ainda nos anos de L’Ordine Nuovo [A nova ordem]. Nesse momento, além de elogiar as intervenções de Arturo Labriola na Câmara dos Deputados (“O Sul e a guerra”), Gramsci dedicou-se a polemizar com a imprensa católica, que defendia os interesses das classes dominantes do campo (“Os clérigos e os agrários”). Com base em Salvemini, observou como as classes dirigentes do Sul tinham origem na pequena burguesia intelectualizada (“Cavalheiros”). Gramsci, contudo, se perguntava quanto os camponeses reconheciam o Estado burguês, eles que eram a reserva de todas as energias e de toda a riqueza. Questionava-se, ainda, sobre a consciência dos camponeses: seriam eles capazes de uma reconstrução socialista da sociedade ou estariam fincados no desejo da propriedade privada? Por fim, observou como persistiam entre os camponeses as tradições feudais (“Os camponeses e o Estado”).

A Primeira Guerra Mundial agravou a dualidade territorial italiana, com ainda maior concentração da produção industrial no Norte e com a geração de uma séria crise alimentar, que se exprimia nos preços do pão. Gramsci seguia o mais de perto possível o desenrolar da Revolução Russa, de modo a perceber a importância decisiva do campesinato naqueles eventos históricos. Evidenciou como a guerra havia mudado a situação e a psicologia do campesinato na Rússia e em outras regiões da Europa, assim como na própria Itália. As condições feudais do campesinato, sua dispersão, sua dificuldade de se organizar coletivamente, sua forma ineficaz de rebelião, tudo foi mudado com a guerra. A disciplina e a solidariedade impostas pelo exército possibilitaram que na Rússia o camponês soldado se organizasse nos conselhos e fosse um sujeito da revolução socialista. Essa mesma possibilidade parecia agora aberta na Itália (“Operários e camponeses I”).

Com a guerra, houve mudança no papel do Estado, que passou a regulamentar a produção e a distribuição de bens, o que beneficiou a indústria, mas também aguçou a contradição cidade/campo. Até então, o Estado burguês havia respeitado as formas feudais que regiam a economia agrária do Mezzogiorno. Nessas condições, o camponês estava submetido ao senhor da terra, a seu arbítrio, não à autoridade da lei do Estado. A guerra e a experiência militar teriam mudado essa situação também na Itália, criando condições para a realização da aliança operário-camponesa.

L’ORDINE NUOVO E A QUESTÃO MERIDIONAL

Em 1919, a revolução se espalhava pela Europa (e pelo mundo). A classe operária de Turim entrou nessa onda por meio da criação dos conselhos de fábrica. Simultaneamente, Gramsci e alguns antigos companheiros de universidade fundaram L’Ordine Nuovo, publicação semanal de cultura socialista que logo se proporia como porta-voz do movimento conselhista. A posição de Gramsci foi sempre insistir na importância da fábrica como fundamento do Estado operário que se projetava. Desde a produção era que se organizaria o poder político do proletariado. Um proletariado disciplinado e autodidata seria capaz de conduzir a Itália a um novo patamar civilizatório e de resolver o problema fundamental de atraso do Mezzogiorno.

Importante lembrar que o proletariado agrícola e o campesinato pobre compunham a maioria da massa trabalhadora, de modo que a aliança da classe operária com o campesinato era elemento essencial para a realização da revolução socialista, mas não deixava dúvida que a direção do processo revolucionário caberia ao proletariado de fábrica. Na fase revolucionária de 1919-1920, Gramsci escreveu três artigos com o mesmo título “Operários e camponeses”, sinal da importância que atribuía a essa questão. Tampouco deixou de atentar à rebelião que grassava no mundo colonizado pelos europeus, numa primeira percepção de ampliação da questão meridional para além das fronteiras da Itália. Da Sardenha ao mundo colonial, era um salto gigantesco de aumento do foco (“A guerra das colônias”).

Os conselhos seriam a forma de organização do Estado socialista, no qual a questão nacional se resolveria com a efetiva unificação. A questão meridional seria resolvida via industrialização da agricultura. Onde houvesse pequena propriedade, ela poderia ser mantida, mas Gramsci pensava no progresso técnico das empresas agrícolas existentes e sua administração por meio dos conselhos camponeses. A transformação industrial do campo demandaria o consenso dos camponeses organizados e disciplinados nos conselhos. Pensava ainda que a aproximação entre trabalhadores do campo e da cidade poderia ser facilitada pela presença recente de egressos do trabalho agrícola nas cidades industriais (“Operários e camponeses II”).

Gramsci anotou como a vitória da revolução na Rússia só fora possível por causa da convergência dos interesses do movimento operário com a luta camponesa e pela decisão coletiva de organizar a nova ordem social em conselhos. Também na Itália “o controle da fábrica e a conquista da terra” deveriam constituir um problema único no objetivo de transformar a “nação em uma comunidade produtiva”. Para Gramsci, já era bastante evidente como a questão meridional ocupava o cerne da questão nacional.

Da mesma maneira que a produção industrial deveria ser controlada pelos operários, a terra deveria ser controlada pelos trabalhadores agrícolas. No entanto, era importante explanar que a exigência de “terra aos camponeses” significava que as empresas agrícolas deveriam ser controladas pelos operários agrícolas por meio de conselhos. Gramsci denunciava a proposta de concessão ou mesmo invasão de terras incultas ou mal cultivadas como solução do problema agrário. Essa ação apenas criaria uma camada de pequenos agricultores sem financiamento, sem máquinas, sem água, que logo perderiam as terras e se tornariam marginais. A solução do problema agrário, insistia sempre, dependia da instauração da ditadura proletária, condição para que a classe operária do Norte pudesse empreender as medidas indispensáveis à industrialização da produção agrícola.

Gramsci constatou como a revolução vencera na Rússia porque o proletariado industrial conseguira apoio do partido camponês. O Partido Socialista Revolucionário representava o campesinato russo e era o partido mais forte do país. A vitória dos bolcheviques adveio depois que o partido do campesinato se dividiu e a esquerda se envolveu no projeto revolucionário. Na Alemanha e na Hungria, a revolução fora derrotada exatamente porque o campesinato não forjou uma ala de esquerda revolucionária. Sem dúvida, esse foi apenas um dos motivos do desbaratamento revolucionário na Europa naquela circunstância de enorme complexidade (“Operários e camponeses III”).

A analogia com a Rússia, ou a tradução da situação russa para a Itália, fracassou. Gramsci investiu na renovação do PSI, ou seja, em fazer dele um partido inspirado no bolchevismo, mas isso não se mostrou possível. O PSI cresceu muito com a crise orgânica do pós-guerra, mas não se capacitou para dirigir uma revolução proletária – e isso por vários motivos, entre os quais a formação ideológica fincada num marxismo positivista e o vínculo estabelecido com a burguesia liberal. A ausência de um partido revolucionário foi crucial para a derrota do movimento dos conselhos de fábrica.

Gramsci também alimentou muita expectativa sobre a divisão do Partido Popular com a formação de uma ala de esquerda revolucionária. Tal qual o PSI, partido da classe operária, o Partido Popular, do campesinato, preferiu defender a ordem social existente no cavalgar da crise. Partido do campesinato, mas também do clero, da hierarquia eclesial, manteve sua unidade, mesmo com a presença de pequena franja de esquerda. Os dois maiores partidos da Itália no período da crise foram incapazes de conduzir o país a algum porto seguro e permitiram a ascensão do movimento fascista. Gramsci já havia notado como a guerra criara uma área social disciplinada, não somente camponesa, mas também uma pequena burguesia urbana rancorosa, que entendia lutar pela restauração da ordem. Assim como o partido camponês não se dividiu, tampouco as forças repressivas do Estado o fizeram. Esse foi, em largas pinceladas, o cenário da derrota da revolução ou de sua impossibilidade.

O ECLIPSE DA QUESTÃO MERIDIONAL

Já em fins de 1920, Gramsci e o grupo de L’Ordine Nuovo haviam se juntado à fração comunista que se formara dentro do PSI e se preparava para a disputa do congresso partidário, que ocorreria em janeiro do ano seguinte. Na semana precedente ao congresso, Gramsci escreveu um artigo lapidar no jornal L’Ordine Nuovo destacando a grande relevância do evento. Um evento importante para a classe operária italiana, mas ainda mais amplo diante do caráter nacional/internacional dessa área social e do vínculo que estabeleceria com a Internacional Comunista (IC). Assim, a luta se voltava contra o capital industrial e financeiro na Itália e na Europa. Havia, no entanto, de se reconhecer que o capitalismo e o Estado italiano, em sua particularidade, encontraram sua linha de desenvolvimento por meio do assujeitamento do campo às cidades industriais, do Sul e centro da península ao Norte.

A questão agrária era, assim, uma relação da cidade com o campo circunvizinho, mas também um problema territorial que via a divisão do país em regiões, com a acentuada particularidade do Mezzogiorno.

Seria tarefa da classe operária completar o processo de unificação da Itália do ponto de vista econômico e cultural, algo que a burguesia não havia feito com o Risorgimento. Isso só seria possível, contudo, com a substituição do Estado burguês por um novo Estado a ser construído pela classe operária, que ao se emancipar libertaria também o conjunto das classes exploradas da Itália – o campesinato em primeiro lugar. Essa aliança entre operários e camponeses seria fundamental para a derrubada do Estado do capital e para a construção do Estado socialista.

A importância do Congresso de Livorno estaria essencialmente na demarcação da ruptura com aquela parte do PSI que respaldava o bloco agrário-industrial e, assim, atuava em favor da formação de uma aristocracia operária à custa do campesinato. Pelo contrário, o novo partido deveria se empenhar para selar a aliança operário-camponesa e identificar como inimigo o conjunto de classes que se agrupavam em torno da burguesia. A prioridade era garantir a cisão  do reformismo e fundar um novo operador político da classe operária depois da derrota do movimento dos conselhos de fábrica. Esse objetivo, porém, obrigava que alianças e concessões fossem feitas considerando-se a limitação do grupo L’Ordine Nuovo, pequeno e circunscrito ao Piemonte (“O Congresso de Livorno”).

Desde 1918, era Amadeo Bordiga [11] a conduzir a ala revolucionária do PSI e a perscrutar a fundação de um novo partido. Quando o partido – Partido Comunista da Itália (PCI) – foi enfim fundado, em janeiro de 1921, a concepção teórico-política de Bordiga prevaleceu amplamente. O grupo L’Ordine Nuovo estava virtualmente desfeito e pôde-se ver Umberto Terracini [12] e Palmiro Togliatti [13] bastante próximos de Bordiga. Arriscado dizer se Gramsci acatou a orientação de Bordiga por disciplina partidária ou por um momento de indefinição causado pela complexa situação do novo partido, pressionado pela ascensão do fascismo e pelo conflito com a IC.

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A discussão dentro do recém-fundado PCI girava em torno das posições de Bordiga, que acentuava a necessidade da organização sindical dos camponeses e dos braçais sem-terra no contexto geral dos trabalhadores do campo. Para Giovanni Sanna [14], a questão agrária se identificava com a questão meridional, numa posição mais próxima daquela de Gramsci. O II Congresso do partido, realizado em março de 1922, não conseguiu oferecer perspectiva razoável para a questão agrária: faltava consenso sobre a tática e faltava clareza teórica. Logo depois do congresso, Bordiga expôs sua visão de simplesmente negar a existência de uma questão meridional. A concepção abstrata que tinha do processo revolucionário diluía o conjunto dos trabalhadores e sua luta na questão sindical. O meridionalismo revolucionário havia se eclipsado.

Não era apenas em relação ao problema do Mezzogiorno que Gramsci divergia de Bordiga. O revolucionário napolitano sempre fora um crítico acerbo do movimento dos conselhos de fábrica. Para ele, esse movimento trazia aspectos de sindicalismo revolucionário, que debilitava a necessária luta sindical e a organização partidária  na luta pelo poder do Estado. Para garantir o acordo para a fundação do PCI, Gramsci sentiu-se obrigado a fazer a (enorme) concessão de não mais argumentar em favor da estratégia conciliar.

Nessa concessão estava embutida outra da maior importância, que era a concepção de partido revolucionário. Bordiga concebia o partido como um órgão da classe operária, um instrumento composto por revolucionários, independente de origem social, que se esmeravam na educação e na organização da classe, orientando-a a agir segundo a ciência da história. Haveria muito a fazer, na medida em que o capitalismo se desenvolvia e fortalecia socialmente a classe operária à custa do enfraquecimento da pequena burguesia e do campesinato. Tal partido certamente teria bastante dificuldade em tecer alianças sociais e políticas.

Gramsci tinha uma visão bem diferente do partido revolucionário. O partido seria uma expressão da classe, seria uma organização emanada da parte da classe que conseguira se educar enquanto travava a luta de classes. Um partido que surge da classe, que está imerso na classe, que se alimenta da classe, mas que luta para organizá-la e educá-la. Esse seria um partido mais bem preparado para lutar pela unificação do proletariado e estabelecer alianças com outras camadas subalternas, o campesinato em particular.

Relacionada às questões meridional e camponesa estava a questão da frente única. Desde que a revolução socialista internacional havia sido derrotada, em 1921, a IC havia adotado a linha política da chamada frente única. Num primeiro momento, isso significava uma reaproximação dos comunistas com a social-democracia. A maior parte dos partidos comunistas havia surgido da cisão dos partidos social-democratas/socialistas na fase da ofensiva revolucionária.

Agora, com a derrota da revolução e com o capital tomando a ofensiva, era o momento de reagrupar as forças do movimento operário. As divergências sobre a aplicação dessa política sempre foram acentuadas, com oscilações sobre a aliança incluir as direções partidárias ou apenas as massas trabalhadoras vinculadas aos partidos, aos sindicatos ou mesmo ainda sem organização. Logo a noção de frente única passou a englobar a ideia de aliança operário-camponesa.

Para Bordiga, era aceitável apenas a tática da frente única sindical e inconcebível a ideia de fusão com o PSI, como desejava a IC. Como o PSI também era membro da Internacional, poderia parecer lógico que a fusão ocorresse e que isso fortaleceria a resistência antifascista. Angelo Tasca [15], um dos fundadores do jornal L’Ordine Nuovo – e que alimentava divergências importantes com Gramsci desde o movimento dos conselhos – acatou plenamente a decisão da IC. Gramsci, por sua vez, aceitou a política de frente única com as bases do PSI e a incorporação da fração socialista que acatava a orientação da IC de ruptura completa com a ala reformista. A persistente crise do PSI contribuiu para que essa manobra fosse bem-sucedida: em outubro

de 1922, os reformistas foram expulsos do partido (e fundaram o Partido Socialista Unificado) e, em agosto de 1923, os chamados terzini (favoráveis à Terceira Internacional) foram excluídos da agremiação para logo aderirem ao PCI.

Acuado pela perseguição fascista e pela pressão da IC, o grupo dirigente congregado em torno de Bordiga não resistiu. Em junho de 1923, o Comitê Executivo da IC nomeou uma nova Comissão Executiva do PCI, que incluía a maioria bordiguista e também a minoria. Nesse mesmo encontro, foi aprovada a palavra de ordem de governo operário-camponês. Diante do risco iminente de colapso da experiência de fundação do PCI, Gramsci, com o apoio da IC, decidiu entabular a iniciativa de formar um novo grupo dirigente a partir do reagrupamento dos antigos membros de L’Ordine Nuovo.

FRENTE ÚNICA E CAMPESINATO

Depois de uma estadia de quase um ano em Moscou, Gramsci foi enviado a Viena, quando então desencadeou a movimentação para reaproximar os antigos camaradas do movimento turinês dos conselhos. Gramsci enviou diversas cartas expressando a necessidade de se afastar de Bordiga sem abraçar a posição de Tasca. Um novo caminho deveria ser traçado, o qual passaria pela agitação da palavra de ordem do governo operário-camponês e, de modo mais concreto, pela luta contra o reformismo da aristocracia operária, com a aliança entre o proletariado do Norte e o campesinato do Sul e das ilhas. Gramsci pensava mesmo na possibilidade de um levante armado no Sul do país diante da impossibilidade de uma solução burguesa para a questão meridional. Chegou a essa conclusão ao analisar as diferentes posições da burguesia setentrional e da pequena burguesia meridional: nenhuma dessas forças seria capaz de oferecer alternativa à opressão exacerbada que o fascismo instaurara.

Ainda instigado pela IC, Gramsci propôs a fundação de um novo órgão de imprensa com o nome de L’Unità, o qual serviria para sedimentar a união do PCI com os egressos do PSI, os chamados terzini. Não seria um periódico do PCI, mas da esquerda revolucionária, a dar atenção especial à questão meridional. A mudança de orientação política era completa, com Gramsci tendo aproveitado a indicação da IC de invocação de um governo operário-camponês para resgatar o meridionalismo de esquerda presente na tradição política italiana. Explicitava mais uma vez a relevância desse problema não só por definir a relação entre a classe operária e o campesinato, mas por ressaltar a particularidade da questão nacional italiana, qual seja, a divisão do país em duas partes, uma subordinada à outra (“Carta pela fundação do jornal L’Unità”). 

O resgate do meridionalismo na Itália, pelo menos da parte dos comunistas, em boa medida deveu-se às condições apresentadas na sequência da derrota da revolução socialista internacional consubstanciada em março de 1921. Com a derrota do proletariado fabril na Europa, a aliança do proletariado russo com o campesinato ganhou extraordinária importância estratégica. A elaboração da chamada Nova Economia Política, a NEP, tinha implicações decisivas não só para a Rússia/União Soviética, que ficou isolada, mas para todo o movimento comunista.

Lênin concebeu para a União Soviética uma época de capitalismo monopolista de Estado conduzido pela classe operária em aliança com o campesinato, o qual representaria a fase inicial da transição socialista, única possibilidade para um país atrasado do ponto de vista econômico e cultural, com o agravante do isolamento e da destruição causada pelas guerras imperialistas. A organização do campesinato em cooperativas e a progressiva mecanização do campo seriam formas de persuadir o campesinato a abraçar o projeto socialista. Essa orientação política só seria bem-sucedida, porém, com significativa elevação cultural da massa camponesa e industrialização do campo.

A contraparte dessa política na União Soviética seria a fórmula da frente única no Ocidente e também nos países vitimados pelo imperialismo em todo o mundo. Cabia distinguir a particularidade de cada país, e no caso italiano desde logo essa demanda foi identificada com a questão meridional. Para Gramsci, como se viu, as questões agrária e camponesa começaram com a Sardenha submetida ao Piemonte, para em seguida se fazer efetivo o problema do Mezzogiorno, a questão nacional por excelência. Não demorou para que Gramsci se desse conta de que esse problema era ainda mais amplo, pois significaria a submissão de todo o Mediterrâneo ao desígnio imperialista, mormente da Inglaterra e da França. Por fim, a questão meridional se mundializou com a perspectiva de todo o Sul do mundo estar sob domínio imperialista.

Na leitura de Gramsci e os comunistas, o fascismo, com sua política econômica, não fazia mais que agravar a exploração, de tal maneira que a classe dirigente tradicional se esvaziava e a pequena burguesia tendia a se vincular ao regime. Estaria se desenhando um cenário de possível insurreição camponesa, que seria de fato viável desde que conduzida em aliança com o proletariado industrial do Norte, o qual, por sua vez, deveria desenvolver as condições subjetivas para que o processo revolucionário avançasse. É bastante evidente como a interpretação de Gramsci e dos comunistas estava equivocada. A conjuntura apontava muito mais para o fortalecimento do fascismo que para a eventual eclosão revolucionária (“O Sul e o fascismo”).

Quando Gramsci retornou à Itália, já havia sido eleito deputado e preparado para assumir o cargo de secretário-geral do PCI. O novo grupo dirigente estava praticamente configurado, com a adesão de Tasca e de ex-bordiguistas, como Ruggero Grieco [16], ao núcleo que outrora fora o grupo de L’Ordine Nuovo. A partir desse momento, a questão agrária passa a ser o centro da preocupação dos comunistas. Em julho foi constituída a Associação pela Defesa dos Camponeses, cujo documento foi escrito possivelmente por Gramsci e Grieco. O programa foi discutido no decorrer do segundo semestre, e notam-se desde logo a importância dada à inserção internacional da luta camponesa e a necessidade da aliança com o proletariado (“Associação pela defesa dos camponeses”).

Para a associação, estavam convocados camponeses pobres, pequenos proprietários, arrendatários e meeiros. Os comunistas deveriam apoiar as cooperativas e estimular a formação de uniões camponesas. Em nenhum momento deixou-se de fazer a crítica à posição dos socialistas vistos como difusores da ideologia burguesa no seio do proletariado e mesmo do campesinato do centro e do Norte. Para os socialistas, a questão meridional seria moral e de bom governo, não uma questão estrutural que demandava solução revolucionária (“O Avanti! contra o Sul”).

Mesmo assim, não restava dúvida de que a questão meridional era o cerne do projeto revolucionário nem de que os camponeses dessa região deveriam ser organizados com a mais ampla participação dos comunistas. Grande importância era dada também à atração do campesinato da zona padana, com experiência de organização cooperativista, mas de forte influência católica. A orientação era sempre aquela de tentar constituir uma franja de esquerda entre os católicos que vissem a luta de classes dissociada da questão religiosa.

Todas essas questões foram discutidas no III Congresso do PCI,  realizado na cidade francesa de Lyon, em janeiro de 1926. Esse congresso definiu uma teoria da revolução socialista na Itália e condensou o grupo dirigente que Gramsci lutava por constituir. Restava, é certo, a oposição sistemática de Bordiga, agora reduzida a uma minoria restrita, mas a tarefa do partido de se dedicar seriamente à organização do campesinato estava posta.

A teoria e a prática dos comunistas italianos propostas por Gramsci traziam em conta a formulação da tradição intelectual meridionalista, mas principalmente da experiência e da formulação teórica que giravam em torno da NEP, na União Soviética. Assim foi que, a partir de 1923, Gramsci se avizinhou da formulação teórica de Nikolai Bukhárin [17] e de sua concepção de transição socialista a partir de uma situação de largo predomínio numérico do campesinato. O PCI encontrava-se, então, afinado com a orientação da IC depois de toda a controvérsia dos primeiros anos do partido, ainda que essa situação não viesse a ser duradoura (“Os camponeses e a ditadura do proletariado”). 

Gramsci destacava a crucial importância de dotar o campesinato de uma direção política própria em consideração à passagem da massa pequeno-burguesa para a base de apoios do fascismo (“A questão agrária no III Congresso Comunista”). Para desenvolver a teoria e a prática do PCI em relação à questão meridional, Gramsci entendeu a necessidade de compreender como as outras forças políticas de oposição ao fascismo abordavam essa questão. Propôs-se a redigir um ensaio que esclarecesse esse problema. Ainda que levasse o título de “Note sul problema meridionale e sull’atteggiamento nei suoi confronti dei comunisti, dei socialisti e dei democratici” [Notas sobre o problema meridional e a atitude dos comunistas, socialistas e democratas em relação a ele], o conteúdo do texto não contemplou todo o prometido.

O texto de Gramsci arranca da crítica de uma resenha publicada na revista Quarto Stato [Quarto Estado] sobre o livro La rivoluzione meridionale [A revolução meridional], de Guido Dorso [18], lançado no ano anterior. A revista, editada por Carlo Rosselli [19] e Pietro Nenni [20], tinha a intenção de resgatar o meridionalismo socialista de Salvemini e outros. Expressava divergências em relação a Dorso, mesmo estando no mesmo campo. Dorso estava de fato mais próximo do grupo de Piero Gobetti [21], que se expressava na revista La Rivoluzione Liberale [A revolução liberal]. Gramsci, de sua parte, avizinhava-se a Dorso e Gobetti, de quem foi muito amigo.

Gramsci é assertivo em seu ensaio. Critica o Quarto Stato pela falta de compreensão da posição do grupo de L’Ordine Nuovo em relação à questão agrária e critica duramente a tradição socialista enviesada de positivismo e mesmo de racismo na visão que tinha do Sul do país. A aliança operário-camponesa dependeria, antes de tudo, de mudar a ideologia da parte do proletariado submetida à concepção burguesa convicta da inferioridade natural do Mezzogiorno e que, na realidade, sedimentava o bloco industrial do Norte. A classe operária deveria também superar a perspectiva corporativista que alimentava com sua aliança subalterna com a burguesia industrial.

Por fim, apenas com grande mutação ideológica e cultural a classe operária poderia atrair o campesinato para uma aliança, um bloco capaz de resolver a questão nacional exposta no problema meridional. O campesinato meridional só aceitaria compor a frente única com a classe operária fabril sob a condição de se resolverem a questão agrária e a questão da pobreza extrema do Sul e das ilhas.

Para que a revolução viesse a ocorrer era necessário que parte da pequena burguesia rural se aliasse ao campesinato. Quando Gramsci se refere à pequena burguesia rural, em grande medida indica a possibilidade de os intelectuais meridionalistas se fazerem porta-vozes da rebeldia camponesa latente (“A questão meridional”).

Gramsci foi preso quando trabalhava nesse texto, que saiu publicado em 1930 na revista Lo Stato Operaio [O Estado Operário], órgão do PCI no exílio. Nas Cartas* e nos Cadernos do cárcere, vê-se como a questão meridional persistiu no campo de preocupações de Gramsci e como nesses textos ela ganha amplitude e complexidade.

NOTAS

* Ed. bras.: Cadernos do cárcere, ed. e trad. Carlos Nelson Coutinho, 5. ed., Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2010. (N. E.)

[1] Pasquale Villari nasceu em Nápoles, em 1827, e faleceu em Florença, noventa anos depois. Conhecido como o mais importante positivista italiano, foi influenciado pela abordagem historicista de Giambattista Vico (1668-1744) e Francesco de Sanctis (1817-1883) e pelo positivismo de John Stuart Mill (1806-1873). Em 1866, escreveu La filosofia positiva e il metodo storico [A filosofia positiva e o método histórico].

[2] Giustino Fortunato (1848-1932) nasceu em Basilicata, no Sul da Itália. Foi um importante meridionalista e político italiano. Junto de Pasquale Villari (1827-1917), Francesco Saverio Nitti (1868-1953) e Gaetano Salvemini (1873-1957), formou um grupo que refletiu sobre as contradições que não foram resolvidas no Risorgimento. Em “A questão meridional” e no Caderno 19, Gramsci reflete sobre Fortunato. Antonio Gramsci, Cadernos do cárcere, cit.

[3] Cesare Lombroso (1835-1909) foi um importante psiquiatra e antropólogo italiano, fundador da etapa científica na criminologia. Em sua concepção havia uma relação entre o delito e o criminoso, bem como a existência de características morfológicas que descreveriam o que denominou “homem delinquente”.

[4] Giuseppe Sergi (1841-1936) é conhecido como um dos principais expoentes da psicologia científica da Itália até início do século XX, com grande interesse sobre os povos mediterrâneos. Sergi foi muito influenciado pelas ciências experimentais, biologia e fisiologia e tornou-se professor de antropologia na Universidade de Roma em 1884.

[5] Ettore Ciccotti (1863-1939) foi um importante meridionalista, deputado e senador filiado ao Partido Socialista Italiano (PSI) e redator do jornal Avanti!. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), manteve posição favorável à intervenção italiana e simpatizou com o fascismo a partir de 1922.

[6] Gaetano Salvemini (1873-1957): historiador e político italiano. Integrou o PSI. Em seus estudos, tratou do tema da aproximação entre a questão meridional e o socialismo, tendo sido um crítico do protecionismo dos operários da região Norte da Itália.

[7] Giovanni Giolitti (1842-1928), um dos líderes políticos mais importantes da Itália, foi primeiro-ministro e presidente do Conselho em cinco períodos, durante a monarquia liberal italiana. Gramsci faz referência a Giolitti diversas vezes nos Cadernos do cárcere, assim como em escritos anteriores à prisão fascista.

[8] Muito envolvido na fundação do PSI, em 1892, o reformista Filippo Turati (1857-1932), junto com sua companheira, Anna Kuliscioff (1857-1925), teve papel crucial para a organização do partido no movimento operário italiano. Em 1922, na segunda cisão do PSI, Turati fundou o Partido Socialista Unitário (PSU). Grande opositor do fascismo e do comunismo, Turati exilou-se na França a partir de 1926.

[9] Georges Eugène Sorel (1847-1922) foi um engenheiro francês, teórico do sindicalismo revolucionário, muito popular em seu país, na Itália e nos Estados Unidos.

[10] Arturo Labriola (1873-1959), italiano, foi economista e teórico do sindicalismo.

[11] O napolitano Amadeo Bordiga (1889-1970) conduziu a ala revolucionária e abstencionista no PSI desde 1918 até o ano em que fundou o Partido Comunista da Itália (PCI), 1921. Um dos quadros políticos mais importantes da esquerda italiana, foi dirigente do PCI até 1923. Bordiga produziu grande quantidade de escritos durante os anos de militância no PSI até seu falecimento.

[12] Umberto Terracini (1895-1983) nasceu em Gênova e mudou-se para Turim com a finalidade de cursar a faculdade de direito local; em 1913, filiou-se ao PSI. Amigo de Gramsci, foi membro fundador do periódico L’Ordine Nuovo (1919). Na fundação do PCI, esteve ao lado de Amadeo Bordiga e discursou sobre a necessidade da criação de um novo partido da classe operária. Em 1926, foi preso pela ditadura fascista e condenado a 22 anos de prisão. Em 1943, foi libertado pela resistência e, em 1946, tornou-se deputado eleito pela Assembleia Constituinte.

[13] Palmiro Togliatti (1893-1964), nascido em Gênova, também se mudou para Turim a fim de cursar a universidade. Foi membro fundador de L’Ordine Nuovo com Gramsci, Terracini e Angelo Tasca (1892-1960). Passou grande parte da vida na Rússia e, em 1927, tornou-se dirigente do PCI, até morrer.

[14] O sardo Giovanni Sanna (1819-1875) foi deputado por três mandatos no reino da Sardenha e também no reino da Itália. Comerciante na França, retornou à Itália e em 1870 fundou o Banco Agrícola Sardo (Banca Agricola Sarda).

[15] Angelo Tasca (1892-1960), grande amigo de Gramsci durante a juventude em Turim, auxiliou na fundação de L’Ordine Nuovo e do PCI. Nos anos 1921 e 1923 se envolveu em inúmeras polêmicas e conflitos com o novo grupo dirigente do partido, pois lutou para formalizar uma linha de direita no PCI e pela fusão com os socialistas. Foi perseguido pelo fascismo e se refugiou na França, escreveu o importante livro Nascita e avvento del fascismo [Nascimento e advento do fascismo]. Tasca foi expulso do PCI em 1930 e retornou ao PSI.

[16] O agrônomo Ruggero Grieco (1893-1955) nasceu em Foggia, na Puglia. Em 1912, filiou-se ao PSI e precisou mudar-se para Portici a fim de continuar os estudos de agronomia. Nos anos seguintes, conheceu Amadeo Bordiga e auxiliou na fundação do Círculo Carlo Marx, assim como em 1921 esteve ao lado de Bordiga para fundar o PCI. No cárcere, em 1923, trocou cartas com Gramsci e com outros membros do novo grupo dirigente do partido. A questão meridional percorreu a vida e a militância de Grieco. Em 1924, auxiliou na condução e no desenvolvimento da Associação pela Defesa dos Camponeses, fundada pelos comunistas. Com o pseudônimo Garlandi, esteve exilado na Suíça entre 1926 e 1944. Ao retornar à Itália, assumiu importantes frentes do PCI, inclusive como editor da revista La Riforma Agraria [A Reforma Agrária].

[17] O revolucionário Nikolai Bukhárin (1888-1938) exerceu papel muito importante na história da Rússia revolucionária, na elaboração da Nova Economia Política (NEP) e em questões estratégicas para o Partido Comunista da União Soviética (PCUS).

[18] Guido Dorso (1892-1947), importante personagem político da história italiana, nasceu em Avellino e demonstrou interesse pela questão meridional. Chegou a escrever para o jornal de Mussolini, Il popolo [O povo da Itália], sobre o Sul. Junto com Piero Gobetti, atuou em La Rivoluzione Liberale.

[19] Carlo Rosselli (1899-1937) foi um socialista reformista muito influenciado pelo movimento operário britânico. Em 1929, fundou o movimento antifascista Giustizia e Libertà [Justiça e Liberdade] e, em 1937, foi assassinado pela milícia fascista em Paris.

[20] Além de diretor da revista Il Quarto Stato (1926), o jornalista Pietro Nenni (1891-1980) foi organizador e participante de inúmeras greves na Itália. Teve alguma proximidade com Benito Mussolini (1883-1945) durante a guerra na Líbia (1911-1912) e com o anarquista Errico Malatesta (1853-1932) durante a Semana Vermelha (7-14 de junho de 1914). Posicionou-se favorável à intervenção da Itália na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Lutou na guerra civil espanhola ao lado dos republicanos e foi o principal dirigente do PSI  depois da Segunda Guerra Mundial. Quando a sede do jornal Avanti! foi atacada pelos fascistas, Nenni esteve a postos para defendê-la.

[21] Piero Gobetti (1901-1926), jornalista liberal e antifascista, fundou a revista La Rivoluzione Liberale. Durante os anos de Turim, Gramsci e Gobetti nutriram muita amizade e respeito. Ainda que não compartilhassem dos mesmos posicionamentos, Gobetti tornou-se um dos redatores de L’Ordine Nuovo. Durante o exílio na França, Gobetti foi agredido por fascistas e morreu no ano seguinte, devido ao estado de saúde agravado pela brutalidade das agressões.


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