Livro: Quando Walter Benjamin viajou a Ibiza

Lançamento da Editora 34 revela experiências do filósofo durante sua estadia na ilha da Espanha, entre 1932 e 1933, que marcaram profundamente sua vida – entre artistas e intelectuais, surgiram textos decisivos de sua obra. Sorteamos dois exemplares

Navegação na baía de San Antonio em maio de 1933: Jean Selz (à esquerda), o pescador Tomás Varó “Frasquito” (de chapéu), Paul Gauguin (deitado) e Walter Benjamin (de óculos escuros). Fonte: The Architectural Review

No curto espaço de tempo entre os anos de 1932 e 1933 em Ibiza, na Espanha, Walter Benjamin, filósofo de origem judia, teve sua vida profundamente marcada por experiências que seriam lembradas por ele ao longo de sua vida – além de influenciarem e serem refletidas em sua obra e pensamento.

De maneira sensível, mas também minuciosa – além de seu conhecimento histórico e geográfico da região –, Vicente Valero revela as aventuras e angústias do filósofo durante sua estadia na ilha. Publicado em espanhol e traduzido para o alemão e o francês, este ensaio biográfico ganha agora edição em língua portuguesa lançada pela Editora 34.

A obra nos mostra que Benjamin não esteve sozinho, mesmo que estivesse em um lugar isolado, seu caminho cruzou outros destinos, como o de intelectuais e artistas europeus que também buscavam novas descobertas, inspirações e aventuras. Ademais, Ibiza, à época, além de já ser um destino turístico, parecia uma lugar de total resistência à modernidade – apenas coincidência o interesse do pensador nesse destino?

Foi fortemente atravessado por essas trocas, vivendo sob uma economia de subsistência, com o mínimo de recursos, próximo à natureza e se relacionando com uma população nativa de cultura milenar, que o alemão escreveu textos como “Experiência e pobreza” e “Infância em Berlim”.

Tais escritos viriam a definir não só seu legado, como também a influenciar o pensamento crítico até os dias de hoje, principalmente nos estudos sobre a indústria cultural e na teoria da história.

Infelizmente, com a ascensão do nazismo e das tensões que levaram à Segunda Guerra Mundial, o “paraíso” na Espanha se transformou em um permanente e angustiante exílio.

Outras Palavras e Editora 34 sortearão 2 exemplares de Experiência e pobreza –
Walter Benjamin em Ibiza, 1932-1933
, de Vicente Valero, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 30/10, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

Infelizmente, com a ascensão do nazismo e das tensões que levaram à Segunda Guerra Mundial, o “paraíso” na Espanha se transformou em um permanente e angustiante exílio.

Ida à Ibiza

Os últimos anos da República de Weimar, na Alemanha, marcados pela crise de 1929, o desemprego em massa e a avalanche nazista, são o pano de fundo dessa história. 

Estamos agora percorrendo os anos de 1930. Após ter tido sua tese de livre-docência sobre a Origem do drama barroco alemão rejeitada pelo departamento de estética da Universidade Frankfurt – e também após cruzar o caminho da jovem bolchevique letã e diretora da trupe de teatro proletário, Asja Lācis  –, Benjamin se aproximou do marxismo. Dessa aproximação o filósofo tece diversos escritos para a imprensa cultural da época, fato que iria torná-lo, em pouco tempo, um intelectual reconhecido.

Em 1933, os nazistas chegam ao poder, tal acontecimento “divide a vida de Benjamin, como para muitos outros, em duas metades. Vicente Valero trata desse momento decisivo com as virtudes benjaminianas da miniaturização, reconstituindo com sensibilidade o significado de duas temporadas do escritor na ilha mediterrânea de Ibiza, naqueles anos quase intocada pela civilização moderna.”


“Entre abril e julho de 1932, com poucos recursos, Benjamin vive de frente para o mar no lugarejo de Sa Punta des Molí, faz longas caminhadas pela natureza, encontrando calma para ler e escrever — tanto resenhas publicadas em jornais alemães, quanto alguns de seus textos mais breves e incandescentes. A segunda temporada na ilha, entre março e setembro de 1933, já é marcada tragicamente pela condição do exílio.”


Mesmo em tal tormenta, o autor traçou “alguns de seus textos mais notáveis, como “Experiência e pobreza”, “Sequência de Ibiza” e “Infância em Berlim por volta de 1900”, suas memórias de infância.”

Sua visão inovadora, que fundiu filosofia da linguagem judaica ao materialismo histórico, desembocou em sua mais assombrosa análise: A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, um texto que parece ter sido escritos para os desafios de hoje diante da reprodutibilidade incessante promovida pelas redes sociais.

Em 1940, em pleno avanço da perseguição fascista, Benjamin cunhou o soturno mas absurdamente lúcido Teses sobre a filosofia da história, lido e válido até os dias de hoje.

O autor terminou de escrever suas teses pouco tempo antes de cometer suicídio em Port Bou, fronteira da França com a Espanha. Chegou a esse ponto por temer ser entregue aos fascistas da Gestapo.

Ibiza foi local de encontros fortuitos e inesquecíveis para Benjamin. Lá, conheceu “artistas e intelectuais europeus que com ele partilharam o modo de vida simples dos nativos.” Além de viver “suas últimas paixões amorosas, emolduradas pela natureza circundante”.

Mesmo com todas as angústias passadas na ilha – além do fato de a ter deixado “em péssimas condições de saúde” –, ainda assim, “em sua correspondência, Ibiza passou a ser sempre mencionada com nostalgia”.

Essa obra é indicada a todos que se interessam pelo pensamento benjaminiano, pois nos aproxima e faz vivenciar, de alguma forma, os caminhos que o levaram a tecer seu pensamento.


Sobre Vicente Valero
Nascido em Ibiza em 1963, formou-se pela Universidade de Barcelona. É autor de nove livros de poesia, cinco obras de ficção e quatro volumes de ensaio, incluindo Experiencia y pobreza: Walter Benjamin en Ibiza, 1932-1933 (Barcelona, Península, 2001; 2ª ed., Cáceres, Periférica, 2017). É também organizador do volume Cartas de la época de Ibiza, de Walter Benjamin (Valência, Pre-Textos, 2008). Seus livros já foram traduzidos para o inglês, o francês e o alemão.

Sobre o tradutor:
Daniel Lühmann nasceu em Poços de Caldas, MG, em 1987. Formou-se em Letras em São Paulo pela FFLCH-USP e fez mestrado em estudos coreográficos em Montpellier, na França (Université Paul Valéry/ICI-CCN). Como tradutor, já assinou versões de autores como Monique Wittig, Claude Cahun, George Orwell, Nastassja Martin e Paul B. Preciado, entre outros.


Em parceria com a editora 34, o Outras Palavras irá sortear 2 exemplares de Experiência e pobreza –
Walter Benjamin em Ibiza, 1932-1933
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