Cinema: o choque entre mundos de Disco Boy

Primeiro longa de Giacomo Abbruzzese supera maniqueísmos ao apresentar o sensorial e eletrizante encontro de um guerrilheiro negro e um soldado branco – e seus destinos fundidos. Com o Grupo Belas Artes, sortearemos 1 par de ingressos

Em busca de oportunidades para além das que a sua um tanto limitada terra natal pode oferecer, o jovem bielorruso Alexei (Franz Rogowski), resolve se aventurar e atravessar a Europa até a França. Para garantir sua cidadania francesa, opta pelo caminho aparente mais fácil – porém, terrivelmente árduo. Alexei se alista na Legião Estrangeira Francesa, ramo do exército francês conhecido por ser uma infantaria altamente treinada e que oferece aos estrangeiros, após 3 anos de serviço, a oportunidade de se tornarem cidadãos franceses.

Ao concluir a brutal fase de treinamento, Alexei é designado para uma missão no Delta do Níger: resgatar dois franceses sequestrados por guerrilheiros que buscam impedir a exploração de petróleo e de recursos humanos empreendida pela força imperialista das multinacionais que invadem a região até os dias de hoje.

É nesse momento que Alexei conhece o guerrilheiro Jomo (Morr Ndiaye) e que as vidas dos dois jovens se cruzam – e se fundem – em um atravessamento doloroso.

Essa é a história que Giacomo Abbruzzese nos conta em seu mais recente e primeiro longa de ficção Disco Boy: Choque entre mundos, distribuído pela produtora Pandora Filmes.

Outras Palavras e Grupo Belas Artes sortearão 1 par de ingressos para o filme Disco Boy: Choque entre mundos, de Giacomo Abbruzzese, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 21/8, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

O filme foi premiado, este ano, no Festival de Berlim com o Urso de Prata de Melhor Contribuição Artística para a fotografia de Hélène Louvart, diretora de fotografia também premiada em A Vida Invisível, na mostra Un Certain Regard, em Cannes, filme do aclamado cineasta cearense Karim Aïnou.

Maria do Rosário Caetano, crítica e importante pesquisadora do cinema latino-americano, escreveu para a Revista de Cinema que Giacomo elaborou o roteiro inteiramente só e que foram muitos anos dedicados a isto e à escolha de atores de vários cantos da Europa e África. Além disso, conta que em um debate sobre o filme, que aconteceu na cidade de Curitiba, Abruzzese afirmou que sua intenção era realmente “dar rosto aos dois lados do conflito bélico” e que o incomoda a invisibilidade dos que resistem às guerras encabeçadas pelo imperialismo europeu e norte-americano.


“Estamos acostumados a ver conflitos assim, contados de um único ponto de vista na tela. O outro, o inimigo, raramente existe como uma entidade complexa. Eu acredito que o cinema é, acima de tudo, uma questão de olhar e de mudança de pontos de vista. Neste filme, contar a história de ambos os lados é uma questão política, narrativa e também de encenação”


Acusado pela crítica de reinventar o filme de guerra ao superar o maniqueísmo de contar uma história unilateral, Giacomo revela que “Aleksei e Jomo estão em lados opostos, mas ambos compartilham uma certa gentileza, uma fragilidade fundamental por baixo da superfície de seus corpos de soldados poderosos.” E acerca de sua poética que relaciona força e fragilidade, ele também conta: “Eu queria me afastar dos estereótipos de virilidade e violência que caracterizam muitas histórias como esta. Gosto da ideia de que a força física possa ser acompanhada por uma certa fragilidade e um olhar atormentado. É esse contraste que me interessa.”  

Além disso, no transcorrer do filme é possível perceber as longas investigações que foram feitas acerca da Legião Estrangeira, dos conflitos no Níger, do Movimento para a Emancipação do Delta do Níger e da vida de dançarinas que trabalham em alucinantes casas noturnas que são embaladas pelas eletrizantes batidas do techno e ao êxtase provocado por substâncias lisérgicas. Tudo isso, sem contar com a complexa produção que uniu França, Itália, Alemanha e outros países.

A execução do longa também vem de uma composição que é quase uma Torre de Babel. O diretor é ítalo-francês; o protagonista é o alemão Franz Rogowski – atual “queridinho” dos cinemas europeus – e contracena com a multiartista Laetitia Kyde que vem de Abidjã, cidade na Costa do Marfim; há também o talentoso iniciante senegalês Morr Ndiaye; e ainda várias outras nacionalidades no restante do elenco.

Fazendo isso de maneira inventiva, em uma trama que beira o realismo fantástico, brinca com a dança de soldados em batalhas e de bailarinas em boates, e conta um final hipnotizante e envolvente que pode até soar utópico demais, Giacomo nos arrebata com um longa inquietante e de tirar o fôlego.


Sobre Giacomo Abbruzzese

Nascido em Taranto, sul da Itália, em 1983, Giacomo estudou no Le Fresnoy, na França, e realizou diversos curtas-metragens exibidos em festivais como Oberhausen, Clermont-Ferrand e Viennale, bem como em vários canais internacionais de TV. Em 2022, seu documentário America foi indicado ao César. Disco Boy é seu primeiro longa-metragem de ficção.

Sobre a Pandora Filmes

A Pandora é uma distribuidora de filmes independentes que há 30 anos busca ampliar os horizontes da distribuição de filmes no Brasil revelando nomes outrora desconhecidos no país, como Krzysztof Kieślowski, Theo Angelopoulos e Wong Kar-Wai, e relançando clássicos memoráveis em cópias restauradas, de diretores como Federico Fellini, Ingmar Bergman e Billy Wilder. Sempre acompanhando as novas tendências do cinema mundial, os lançamentos recentes incluem “O Apartamento”, de Asghar Farhadi, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro; e os vencedores da Palma de Ouro de Cannes: “The Square: A Arte da Discórdia”, de Ruben Östlund e “Parasita”, de Bong Joon Ho.

Paralelamente aos filmes internacionais, a Pandora atua com o cinema brasileiro, lançando obras de diretores renomados e também de novos talentos, como Ruy Guerra, Edgard Navarro, Sérgio Bianchi, Beto Brant, Fernando Meirelles, Gustavo Galvão, Armando Praça, Helena Ignez, Tata Amaral, Anna Muylaert, Petra Costa, Pedro Serrano e Gabriela Amaral Almeida.


Em parceria com o Grupo Belas ArtesOutras Palavras irá sortear 1 par de ingressos para o filme Disco Boy: Choque entre mundos, de Giacomo Abbruzzese, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 21/8, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

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