Escritor, romancista, poeta, tradutor e dramaturgo, Ivan Turguêniev figura entre os grandes nomes da literatura russa, sendo referenciado como um dos marcos do realismo russo.

Mesmo que o realismo seja lembrado por suas caracterizações objetivas dos personagens, na busca por retratar a realidade de maneira fiel, Turguêniev é acusado e lembrado por fazer isso de maneira sensível e delicada.

Além disso, sua capacidade de retratar as estruturas da sociedade de sua época, abordando os sentimentos mais profundos dos personagens, o elevam ao mesmo patamar de autores como Tolstói e Dostoiévski, mesmo que em características formais, suas escritas sejam muito discrepantes. 

Esse ano, a Editora 34 relançou no Brasil a novela Ássia, considerada um dos exemplos mais acabados do talento do autor e uma de suas melhores histórias de amor.

A narrativa conta a história de um nobre russo que, em uma viagem pela Alemanha, torna-se amigo de um casal de irmãos, também russos. O nobre então se apaixona pela irmã mais nova, Ássia. Porém, essa trama, que pode parecer singela à primeira vista, vai revelando camadas mais profundas que discutem as relações sociais entre as elites do país e os servos emancipados, além de analisar a conhecida geração de jovens nobres russos que apesar de nutrir grandes ideias e ideais, frustrava-se por não ser capaz de transformar esse ímpeto em ação. O escrito examina o conflito entre a antiga geração de intelectuais da Rússia, relutante em aceitar as reformas e essa juventude niilista.

Outras Palavras e Editora 34 sortearão um exemplar de Ássia, de Ivan Turguêniev, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 18/12, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

A novela foi publicada na primeira edição de 1858 da revista O Contemporâneo, com o subtítulo “A história de N. N.” e carrega fortes elementos autobiográficos, ocupando “um lugar central na vida e nos processos de criação literária de Turguêniev”, como afirma a tradutora Fátima Bianchi, professora da Universidade de São Paulo, no posfácio do volume. Vale dizer que esse trabalho abre caminho para um romance de maior porte e um dos livros mais famosos do autor: Pais e Filhos (1862).

Bianchi revela ainda que, na capa do caderno em que o autor esboçou o escrito, estão inscritas com precisão datas e locais de início e término do trabalho: “Ássia. Conto. Iniciado em Sinzig, às margens do Reno, em 12 de julho de 1857, domingo e terminado em Roma, em 15 de novembro do mesmo ano, sexta-feira”, indicando também o horário de conclusão: “22h30”.

Quando criança, Ivan Turguêniev costumava passar longas horas caçando com os servos de sua família nobre e até a vida adulta o autor nutriu não só o costume da caça, mas a observação atenta da natureza e os hábitos dos camponeses. Seus contos, novelas e ensaios são permeados pelo conhecimento especializado da caça e do mundo natural. Sua primeira grande publicação, Memórias de um caçador (1852), é uma coletânea de contos cunhados a partir dessas observações. Além disso, o escrito foi um marco do realismo russo.

Seus textos também revelam sua sensível conexão com os problemas de seu tempo: o tumulto social da Rússia czarista do século XIX. Das relações de servidão ao niilismo dos jovens nobres da geração de 60, altamente críticos e questionadores, porém, incapazes de tomarem uma atitude diante de suas insatisfações e/ou desejos, a nível social, mas também pessoal, afetivo, tão imersos que pareciam estar no turbilhão de seus questionamentos.

Seu famoso romance Pais e Filhos, uma das principais obras de ficção russa do século XIX, é considerado uma crítica a essa geração de jovens niilistas e responsabilizado pela popularização do termo niilismo.

Turguêniev era totalmente avesso à violência e um grande opositor da servidão, tendo ele mesmo libertado os servos que eram propriedade de sua família. Tal oposição pode ter sido influenciada pelas lembranças de sua infância e a criação tirânica de sua mãe Varvara Petrovna Lutovínova, mas também pelo seu envolvimento com o hegelianismo, com o qual teve contato quando estudou na Universidade de Berlim (1838 – 1841).

Estudiosos da obra de Turguêniev, afirmam que a mãe do autor pode ser facilmente reconhecida em várias mulheres nobres e tirânicas de suas obras. Varvara Petrovna Lutovínova e sua atitude opressiva atingia tanto aos servos quanto aos seus filhos.

Seu conto mais famoso, Mumu (1852), a triste história de um servo deficiente auditivo que é obrigado a afogar sua única companhia no mundo, sua cadela Mumu, por ordens de sua despótica senhora, parece ser o reflexo mais lastimoso de seu posicionamento contrário à servidão. Para completar, a obra foi escrita enquanto ele estava no exílio.

Em 1850 o autor passou a viver longos períodos fora na Europa, por conta do exílio e graças à fortuna herdada de sua mãe. Nesse período, tornou-se amigo de personalidades como Gustave Flaubert e Émile Zola e foi o primeiro dos escritores de seu país a ser reconhecido na Europa. Além de ser creditado como um divulgador da literatura russa no Ocidente. 

Sempre preocupado com o papel do escritor na sociedade, Turguêniev usou sua pena para refletir sobre o mundo e expor suas cruéis contradições. Foi um mestre e inspiração, mesmo que em alguns momentos tenham ocorrido conflitos, de muitos autores da mesma origem e época que a sua. Ássia, é uma novela que nasce do amadurecimento de muitas questões que atravessaram a vida do autor, como a descoberta de sua filha ilegítima com uma serva, e vai orientar muitos de seus futuros escritos.

Em parceria com a Editora 34, o Outras Palavras irá um exemplar de Ássia, de Ivan Turguêniev, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 18/12, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

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