Os sobcomuns e as estratégias de fuga

Obra da Editora Ubu recorre à tradição radical negra para refletir sobre a opressão que estrutura instituições como a academia e a política. Os princípios de contraposição se encontram naqueles que vivem às margens. Sorteamos um exemplar

Normal Morriseau – The Masterpiece [1982]. Fonte: WikiArt

“Os “sobcomuns” são aqueles que permanecem sob o radar do controle capitalista, às margens da ordem social, refratários à assimilação pelo sistema e lutando por outras formas de conviver, sentir e trabalhar.”


Observando as experiências dos que vivem à margem da sociedade – pessoas negras, indígenas, queers e pobres –, os pensadores Fred Moten e Stefano Harney cunharam uma série de ensaios que refletem acerca de questões que se relacionam com o alastramento da lógica e da logística capitalista em meios como a academia e o mundo social em geral.

Além disso, os autores recorrem às saídas criativas de vida nos “sobcomuns”, para pensar as brechas, como também as consequências, desse sistema que estrutura vidas e subjetividades.

Os escritos em breve poderão ser lidos no próximo lançamento da Ubu Editorial: Sobcomuns – Planejamento fugitivo e estudo negro. A obra ainda está em fase de pré venda, mas já é possível reservar um exemplar. Para os assinantes do Circuito Ubu, o envio já irá ocorrer neste mês de junho.

Outras Palavras e Ubu Editora irão sortear um exemplar de Sobcomuns – Planejamento fugitivo e estudo negro, de Fred Moten e Stefano Harney, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 24/6, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

Leia, abaixo, um trecho do artigo sobre a estrutura universitária e suas estruturas de opressão, onde nas contradições sistêmicas, também residem os redutos dos sobcomuns.


2. A UNIVERSIDADE E OS SOBCOMUNS

UNIVERSIDADE É UMA RELAÇÃO CRIMINOSA

“Voltarei à universidade, e lá roubarei”, para usar a frase de Pistol ao fim de Henrique V, como ele certamente usaria alguma nossa. Essa é a única relação possível com a universidade estadunidense hoje. [1] Talvez possa ser verdadeiro para qualquer universidade. Talvez seja verdadeiro para a universidade em geral. Mas, certamente, é verdadeiro nos Estados Unidos: não se pode negar que a universidade é um lugar de refúgio e não se pode aceitar que a universidade seja um lugar de esclarecimento. Diante dessas condições, podemos somente entrar sorrateiramente na universidade e roubar o que pudermos. Abusar de sua hospitalidade, contrariar sua missão, nos juntar à sua colônia de refugiados, ao seu acampamento cigano, estar lá dentro e não ser parte – esse é o caminho do intelectual subversivo na universidade moderna.

Preocupem-se com a universidade. Essa é a injunção nos Estados Unidos hoje, uma injunção com uma longa história. Exijam sua restauração, como Harold Bloom, Stanley Fish ou Gerald Graff. Exijam sua reforma, como Derek Bok, Bill Readings ou Cary Nelson. Exijam dela tanto quanto ela exige de vocês. Mas, para a intelectual subversiva, tudo isso se passa lá no piso superior, entre gente bem-comportada, entre homens racionais. Afinal, a intelectual subversiva veio sob falsos pretextos, com documentação errada, por amor. Seu trabalho é tão necessário quanto indesejado. A universidade precisa daquilo que ela carrega, mas não pode lidar com aquilo que ela traz. Ao fim de tudo, ela desaparece. Desaparece no subterrâneo, nas entranhas da comunidade maroon [2] da universidade, nos sobcomuns do esclarecimento, onde o trabalho é levado a cabo, onde o trabalho é subvertido, onde a revolução ainda é negra, ainda é forte.

Que trabalho é esse e qual sua capacidade social de reproduzir a universidade e ao mesmo tempo produzir a fugitividade? Se disséssemos ensinar, estaríamos fazendo o trabalho da universidade. Ensinar é somente uma profissão e uma operação do ciclo onto- e autoenciclopédico do estado [3] que Jacques Derrida denominou Universitas. Mas é útil invocar essa operação para vislumbrar o buraco na cerca por onde entra a mão de obra, para vislumbrar o escritório de recrutamento e seus alojamentos. A universidade precisa do trabalho docente, apesar de si mesma, ou enquanto ela mesma, idêntica a si mesma e, portanto, rasurada por ela mesma. Não é a docência que detém essa capacidade social, mas algo que produz o outro lado, não visível, da docência, um pensar através da superfície da docência que aponta para uma orientação coletiva na direção do objeto de conhecimento como um projeto de futuro e um compromisso com aquilo que queremos chamar de organização profética. Mas é o ensino que nos traz até aqui. Antes de haver bolsas, pesquisas, conferências, livros e revistas, há a experiência de ser ensinado e de ensinar. Antes do posto de pesquisador sem docência, dos alunos de pós-graduação corrigindo exames, da sucessão de licenças sabáticas, da redução permanente de carga letiva, da nomeação para a direção do Centro, da passagem da pedagogia para uma disciplina chamada educação, antes do curso concebido para ser um novo livro, o ensino aconteceu.

O momento de ensinar para ter o que comer é frequentemente confundido com uma mera etapa, como se eventualmente pudéssemos não ter de ensinar para ter o que comer. Se essa etapa persiste, temos uma patologia social na universidade. Mas se o ensino é transmitido com sucesso, a etapa é superada e o ensino é encaminhado àqueles que são conhecidos por permanecer nessa etapa, no trabalho sociopatológico da universidade. De modo interessante, Kant chama essa etapa de “minoria autoincorrida”, tentando contrastá-la com o fato de ter “a determinação e a coragem de usar a própria inteligência sem ser guiado por outra pessoa”. “Ter a coragem de usar a própria inteligência.” Mas o que isso significaria se o ensino, ou melhor, aquilo que poderíamos denominar “o além do ensino”, fosse precisamente aquilo que se pede que se ultrapasse e deixasse de ser tomado como fonte de sustento? E o que dizer daquelas minorias que recusam, a tribo das toupeiras que não voltarão do além (o que está além do “além do ensino”), como se não fossem sujeitos, como se quisessem pensar como objetos, como minoria? É certo que os sujeitos perfeitos da comunicação, os que conseguem ir além do ensino, verão essas minorias como um desperdício. Porém seu trabalho coletivo sempre questionará quem realmente está recebendo as ordens do esclarecimento. O desperdício aguarda ansiosamente por esses momentos além do ensino, quando se solta a linda e inesperada frase – inesperada, pois ninguém a pediu, linda, porque nunca mais se repetirá. Será que ser o biopoder do esclarecimento é realmente melhor do que isso?

Outras Palavras e Ubu Editora irão sortear um exemplar de Sobcomuns – Planejamento fugitivo e estudo negro, de Fred Moten e Stefano Harney, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 24/6, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

Talvez o biopoder do esclarecimento saiba disso, ou talvez apenas reaja à objetividade desse trabalho, como era de se esperar. Mas ainda que dependa do trabalho dessas toupeiras, desses refugiados, ele os qualifica de não colegiais, pouco práticos, ingênuos e pouco profissionais. Então lhes dão uma última chance para serem pragmáticos – por que roubar quando se pode ter tudo, eles vão se perguntar. Mas se alguém se esconde dessa interpelação, nem concordando nem discordando e, sim, mergulhando fundo no subterrâneo da universidade, nos sobcomuns, esse ato não deixará de ser visto como um roubo, como um ato criminoso. E esse ato, ao mesmo tempo, é o único ato possível.

Nos sobcomuns da universidade podemos enxergar que a questão não é sobre ensinar versus pesquisar. Adentrar esse espaço é habitar a estilhaçante e extasiante revelação dos comuns que o esclarecimento fugitivo encena, os criminosos, os matricidas, os queer, na caixa d’água, no rolê da vida roubada, a vida roubada pelo esclarecimento e de pronto retomada, lá onde os comuns se refugiam, onde o refúgio nos devolve aos comuns. O que está além do ensino, de fato, é não se tornar um ser acabado, não passar, não completar; trata-se de permitir que a subjetividade seja ilegitimamente superada por outras, uma paixão e uma passividade tão radicais que nos torna impróprios para a sujeição, posto que não possuímos o tipo de agência capaz de assegurar as forças regulatórias da subjetividade, e não podemos iniciar o impulso autointerpelativo que a sujeição do biopoder exige e recompensa. Não é tanto o processo de ensino, senão a profecia na organização do ato mesmo de ensinar. A profecia que prevê sua própria organização e que, por isso, foi aceita como comum; a profecia que excede sua própria organização e, portanto, até agora só pode ser organizada. Contra a organização profética dos sobcomuns está o próprio trabalho anestesiante dedicado à universidade e, além disso, a profissionalização negligente e a profissionalização do acadêmico crítico. O sobcomum é, portanto, sempre um quarteirão perigoso.

Como recorda Fredric Jameson, a universidade depende dessa “crítica de tipo esclarecido e da desmistificação das crenças e das ideologias empenhadas para abrir espaço para o planejamento e o ‘desenvolvimento’ sem entraves”. Essa é a fraqueza da universidade, o lapso na sua segurança interna. É claro que ela precisa da força de trabalho para levar a cabo tal crítica esclarecida, mas por algum motivo o trabalho sempre lhe escapa.

Os sujeitos prematuros dos sobcomuns levaram o chamado a sério, ou precisaram ser sérios em relação ao chamado. Eles não tinham um planejamento claro, eram muito místicos e cheios de crenças. E, no entanto, essa força de trabalho não reproduz a si mesma, precisa ser reproduzida. A universidade trabalha para que um dia possa, assim como o capital em geral, se livrar do problema do trabalho. Só então será capaz de reproduzir uma força de trabalho que compreenda a si mesma não só como desnecessária, mas também como perigosa para o desenvolvimento do capitalismo. Grande parte da pedagogia e muitos estudos especializados caminham nessa direção atualmente. Os estudantes precisam ver a si mesmos como o problema, o que, ao contrário das acusações dos críticos restauracionistas da universidade, é precisamente o que significa ser cliente, assumir o fardo da realização e ser sempre necessariamente inadequado a ela. Mais tarde, esses estudantes serão capazes de ver a si mesmos como obstáculos à sociedade ou, quem sabe, com a aprendizagem ao longo da vida, retornarão à universidade após terem se diagnosticado como o verdadeiro problema.

Assim, o sonho de um trabalho indiferenciado, que reconhece a si mesmo como supérfluo, é interrompido justamente pelo trabalho de remover as barreiras ardentes da ideologia. Por mais que seja preferível que essa função policial esteja nas mãos de poucos, ela ainda levanta a questão do trabalho como diferença, o trabalho como desenvolvimento de outro trabalho e, portanto, o trabalho como fonte de riqueza. Embora a crítica de tipo esclarecida, como sugerimos abaixo, informe e beije a face de qualquer desenvolvimento autônomo resultante dessa diferença no trabalho, há um buraco na parede, um ponto raso no rio, um local de aterrissagem sob as pedras. A universidade precisa desse trabalho clandestino para preparar sua força de trabalho indiferenciado, cujas tendências cada vez mais especializantes e gerencialistas, novamente contra os restauracionistas, representam precisamente a integração bem-sucedida da divisão do trabalho com o universo da troca que comanda a lealdade restauracionista.

Introduzir esse trabalho sobre o trabalho e fornecer espaço para o seu desenvolvimento gera riscos. Assim como a polícia colonial recrutada involuntariamente nos bairros guerrilheiros, o trabalho universitário pode abrigar refugiados, fugitivos, renegados e náufragos. Mas há boas razões para a universidade estar confiante de que tais elementos serão delatados ou obrigados a passar à clandestinidade. Quanto a isso, precauções foram tomadas: listas de leituras obrigatórias, avaliações dos métodos de ensino, convites para fazer parte disso ou daquilo. E, no entanto, contra todas essas precauções encontra-se a imanência da transcendência, a necessária desregulamentação e as possibilidades de criminalidade e fugitividade que o trabalho sobre o trabalho exige. As comunidades maroons de professores de redação, alunos de pós-graduação sem orientadores, historiadores marxistas em trabalhos temporários, professores de administração queer ou fora do armário, departamentos de estudos étnicos nas universidades estaduais, programas de cinema fechados, estudantes iemenitas com visto vencido editando jornais estudantis, sociólogos de universidades historicamente negras e engenheiras feministas. O que a universidade dirá sobre eles? Que não são profissionais. Essa não é uma acusação arbitrária. É uma acusação que ultrapassa o profissional. Como é que essas pessoas que excedem a profissão, que escapam dela ao excedê-la, como é que esses maroons problematizam a si mesmos, problematizam a universidade, obrigando-a a considerá-los um problema, um perigo? Os sobcomuns não são uma dessas comunidades fantasiosas e cheias de caprichos que Bill Readings invoca no fim de seu livro. Os sobcomuns, seus maroons, estão sempre em guerra, são sempre clandestinos.

NOTAS

[1] Este capítulo tece uma crítica à universidade estadunidense, em particular, e à missão universitária como prática iluminista, em geral. Harney e Moten escrevem na esteira da crise dos bancos de investimento ocorrida em 2008 e das consequentes manifestações do Occupy Wall Street em 2011. Os autores se referem à crescente neoliberalização da universidade estadunidense, cujo marco é a década de 1970, quando o então governador da Califórnia Ronald Reagan impôs tuition (ou mensalidades) na universidade pública estadual – que até ali havia sido gratuita –, cortou dramaticamente o financiamento do ensino superior e reprimiu violentamente os protestos estudantis contra a guerra do Vietnã. A partir de então, as reformas de Reagan se tornaram modelo para todas as universidades públicas do país. Para compensar a diminuição de verbas, universidades priorizaram a geração de receita e tornaram-se cada vez mais dependentes de fontes de financiamento privadas, submetendo a missão da universidade, seu currículo e sua gestão a lógicas de mercado. Hoje, nenhuma delas é gratuita, ao contrário, são administradas como negócios, tendo como regentes muitas vezes empresários sem experiência em educação e afastando os professores de cargos decisórios. Como consequência, a universidade foca seu investimento em atividades que são vistas como lucrativas (como as ciências aplicadas, cuja patente é de propriedade da universidade) em detrimento das artes liberais, cujo ensino é cada vez mais relegado a professores adjuntos (temporários). Além disso, as admissões nas universidades são priorizadas para alunos pagantes, com drásticas diminuições em bolsas e incentivos públicos, tornando o estudante um cliente da universidade, estimulado a tomar decisões informadas pelo mercado. Os empréstimos que os alunos têm de fazer para frequentar a universidade são tão grandes que causaram uma crise de renda da classe média estadunidense, por isso a ênfase do capítulo na ideia de dívida (debt), conectando a dívida dos comuns com a dívida financeira da classe trabalhadora. [n. t.]

[2] A prática de marronnage, em muitos aspectos similar à quilombagem, ao quilombismo ou ao aquilombamento (cf. obras de Abdias do Nascimento, Beatriz Nascimento e Clóvis Moura), se refere à formação de comunidades autônomas por africanos e afrodescendentes fugitivos da escravidão nas Américas, conhecidos como marrons no Caribe francófono e maroons nas antigas colônias britânicas. [n. e.]

[3] Neste capítulo, preservamos a distinção que os autores fazem entre “State” e “state”, traduzindo como “Estado” e “estado”, respectivamente. “Estado” (State) foi usado aqui para se referir à noção deles de “Estado como esclarecimento”. Já “estado” (state) refere-se a entidade política e administrativa de um território, que ao longo dos outros capítulos mantivemos como “Estado”, como é de praxe. [n. e.]


SOBRE OS AUTORES

Fred Moten é professor nos departamentos de Estudos da Performance e Literatura Comparada na Universidade de Nova York e na European Graduate School. Por suas contribuições acadêmicas e literárias, recebeu bolsas, prêmios e editais de instituições como MacArthur Foundation (2020).


Stefano Harney é professor na European Graduate School. Harney faz parte de grupos de estudo como Le Mardi Gras Listening Collective, Ground Provisions, Pilgrims of the Undercommons, freethought, Center for Convivial Research and Autonomy.


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