HQ: Frantz Fanon e a cura pela revolução

Livro da Editora Veneta retrata o breve mas intenso encontro de Fanon com Sartre e Beauvoir em 1961. Através desse momento, a narrativa retrata a jornada do psiquiatra e revolucionário martinicano. Sortearemos um exemplar

Fanon discursando em Acra, capital de Gana, 1958. Foto: desconhecido. Fonte: MST

O psiquiatra, escritor, filósofo e revolucionário martinicano Frantz Fanon nasceu no dia 20 de julho de 1925. Sua memória estará sempre atrelada à guerra de independência da Argélia, onde atuou como membro da Frente de Libertação Nacional (FLN), oferecendo tratamento psiquiátrico aos combatentes da Frente, entre outras funções.

Sua história é um exemplo de abnegação e entrega à luta pela cura das mazelas causadas pela exploração colonialista. Fanon enxergava a revolução como cura.

Para nos aproximar da trajetória do caribenho a Editora Veneta lançou no Brasil a HQ Frantz Fanon, do escritor Frédéric Ciriez e do quadrinista Romain Lamy. Além de contar sua história, o quadrinho vai introduzindo o leitor ao seu pensamento.

Outras Palavras e Editora Veneta irão sortear um exemplar de Frantz Fanon, de Frédéric Ciriez e Romain Lamy, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 5/8, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

A narrativa acompanha o encontro de Frantz Fanon, Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, em 1961. O intuito dessa conjunção de mentes era debater o prefácio de Sartre para o manifesto anticolonialista de Fanon: Os Condenados da Terra (Les Damnés de la Terre, 1961). As palavras de Sartre seriam essenciais para que o livro,  e com isso toda a causa anticolonial, obtivesse alcance internacional.

O que deveria ser apenas uma reunião para discutir o prefácio se transformou em três dias de debates intensos entre três mentes inquietas e com um rico arsenal crítico. Os quadros coloridos e aquarelados recriam esses momentos de conversas sobre psicanálise, revolução, violência revolucionária, colonialismo, negritude e branquitude. Ao longo das discussões, os eventos da vida de Fanon são intercalados com suas formulações teóricas, construindo sua biografia.

Divulgação

Durante a narrativa, eles discutem a última obra de Fanon até então: Pele Negra, Máscaras Brancas (Peau noire, masques blancs, 1952), abordando conceitos, discordâncias, recepção da obra, entre outras questões. O personagem de Fanon revela as dificuldades que enfrentou, constantemente desafiando concepções pseudocientíficas e o racismo institucional para abrir espaço para seu trabalho.

Um dos aspectos interessantes da HQ são as cartas de Fanon retratadas ao longo da história, revelando sua escrita pessoal ao mesmo tempo que oferece uma análise afiada das condições concretas. Em uma carta ao seu irmão, ele explica por que decidiu ir à Argélia: “Os franceses têm psiquiatras demais. Prefiro ir para um país onde precisam de mim”.

MÉDICO E REVOLUCIONÁRIO

Frantz Omar Fanon, também conhecido como Ibrahim Frantz Fanon, nasceu na ilha de Martinica, nas Antilhas Francesas, no Caribe. Atualmente, as Antilhas são um departamento ultramarino insular francês.

Seu pai era martinicano, enquanto sua mãe era afro-martinicana, filha de um colono alsaciano. Sua família desfrutava de certa estabilidade financeira, o que permitiu que Fanon recebesse uma educação na escola mais prestigiada da Martinica.

Em 1943, aos 18 anos, deixou a ilha para se juntar às Forças Francesas Livres (Forces françaises libres)passando por vários lugares, incluindo a Dominica, até ser finalmente transferido para a Argélia, onde teve seu primeiro contato com o país.

Após o fim da guerra, Fanon retomou seus estudos e optou por cursar medicina na Universidade de Lyon. No entanto, seu interesse por literatura, peças teatrais e escritos críticos e filosóficos nunca diminuiu. Ele estudou com Merleau-Ponty e até escreveu três peças. Foi na universidade que se interessou pela psiquiatria e decidiu seguir essa carreira.

Depois de se qualificar como psiquiatra em 1951, fez sua residência em Saint-Alban-sur-Limagnole, França, sob a orientação de François Tosquelles, cujos métodos baseados na terapia social, no cuidado comunitário e na autogestão influenciaram profundamente sua prática. Essa experiência foi fundamental para o trabalho que Fanon desenvolveu como diretor do hospital psiquiátrico de Blida-Joinville, na Argélia.

Durante sua residência, ele publicou em 1952, Pele Negra, Máscaras Brancas (Peau noire, masques blancs), uma análise dos efeitos da dominação colonial sobre pessoas negras.

Após concluir sua residência, trabalhou como psiquiatra em Pontorson, no norte da França. No entanto, devido a vários desentendimentos e discordâncias com sua equipe, mudou-se para a Argélia, onde foi chefe de serviço no hospital psiquiátrico de Blida-Joinville até ser expulso em 1957.

Durante esse período, tratou da população local e treinou enfermeiras e estagiários com métodos de socioterapia. Em 1954, juntou-se à Frente de Libertação Nacional, onde foi responsável pelo tratamento dos traumas psicológicos de vários soldados envolvidos na luta anticolonial, atendendo muitas vítimas de tortura.

Além dessas responsabilidades, ele também contribuiu para a produção do jornal oficial do partido, deu palestras sobre filosofia e história para soldados no front e viajou por todo o continente africano como embaixador formal do governo provisório argelino no exílio, angariando apoio político e financeiro para o movimento revolucionário, como revela Arvin Alaigh em sua resenha sobre uma nova biografia do psiquiatra.

Em 1956, devido a problemas de saúde, passou a apoiar a causa à distância. No entanto, seu compromisso com a luta nunca diminuiu. Mesmo incapaz de escrever, ele ditava suas palavras para uma secretária, resultando em seu manifesto “Os Condenados da Terra”, chamado por Stuart Hall de “a bíblia da descolonização”.

Seu corpo descansa em um cemitério de mártires no leste da Argélia, mas seus escritos continuam a influenciar movimentos de libertação em todo o mundo, sendo uma fonte de inspiração para aqueles que lutam contra a opressão e essenciais para quem deseja compreender o racismo, o colonialismo e seus efeitos sobre mentes e corpos.


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