Antônio Bispo dos Santos e o ser contracolonial
Em lançamento da Ubu Editora e PISEAGRAMA, pensador quilombola compartilha saberes, nos convocando a ir na contramão do desenvolvimento capitalista e na direção do envolvimento e reconexão com a terra. Sorteamos 2 exemplares, ilustrações e mais…
Publicado 10/11/2023 às 18:34 - Atualizado 14/11/2023 às 10:40
O desenvolvimento capitalista demonstra todos os dias a sua face cruel e contraditória. Desterritorializações, expropriações, extrativismo, destruição, desmatamento, guerras e crises constantes são os rastros que deixa ao chegar.
Por isso, o mestre quilombola Antônio Bispo dos Santos, conhecido também como o Nêgo Bispo, propõe que ao invés de desenvolvimento – essa palavra que desconecta – precisamos do envolvimento.
Envolvimento com a terra, “os animais, nossos corpos, nossas roças, formas de comer, de construir casas e, sobretudo, de falar e pensar”. Na contramão da “cosmofobia” colonial.
É a partir de suas experiências e saberes que Nêgo Bispo, semeia suas palavras e compartilha sua postura contracolonial conosco no livro A terra dá, a terra quer, publicado através da parceria de peso da Ubu Editora e PISEAGRAMA.
Outras Palavras e Ubu Editora sortearão 1 combo “Para ser contracolonial” [LIVRO+BOLSA+ILUSTRAÇÕES] de A terra dá, a terra quer, de Antônio Bispo dos Santos com obras de Santídio Pereira, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 20/11, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!
A obra se desenrola como um ensaio poético do autor, mas funciona também como um grito e uma denuncia de nossa “cosmofobia” colonial, que nos desconecta da terra e finca nossos pés em pisos de cerâmica. Além de nos adestrar ao modo de vida colonizador.
Quando completei dez anos, comecei a adestrar bois. Foi assim que aprendi que adestrar e colonizar são a mesma coisa. Tanto o adestrador quanto o colonizador começam por desterritorializar o ente atacado quebrando-lhe a identidade, tirando-o de sua cosmologia, distanciando-o de seus sagrados, impondo-lhe novos modos de vida e colocando-lhe outro nome. O processo de denominação é uma tentativa de apagamento de uma memória para que outra possa ser composta.
O breve escrito é dividido em seis capítulos que refletem sobre maneiras de contracolonizar, seja na guerra das denominações, que se dá no terreno das palavras e conceitos, seja nos terrenos das cidades, seja na maneira de cultivar o nosso alimento.
Bispo compartilha também a cosmovisão que adquiriu de suas experiências no quilombo onde cresceu e pelos que passou. Nos dando outros olhares sobre o próprio ato de compartilhar e seus significados, ou as formas de se defender e de construir casas com os materiais disponíveis na natureza de cada lugar.
Mesmo que não saibamos, estamos rodeados desses saberes. As favelas são as maiores detentoras deles, ainda que nas cidades a terra seja cimentada e que muros imensos sejam constantemente erguidos.
Por isso, para o autor, as cidades podem ser imensos quilombos que “preservam modos quilombolas e seus saberes orgânicos”.
As cidades estão nos quilombos
Em seu conjunto, o livro nos convoca a sermos contracoloniais, mesmo que nessa guerra precisemos “em algum momento usar as armas do inimigo em nossa defesa”, como sabiamente ensinou o mestre de Bispo a ele.
Além disso, a brochura está recheada de obras do artista Santídio Pereira e sua técnica de xilogravura que usa “incisão, recorte e encaixe”, tendo como principais temas a fauna e flora da Caatinga, sobretudo seus pássaros.
Sobre o autor
Antônio Bispo dos Santos nasceu em 1959 no vale do rio Berlengas, Piauí. Lavrador, formou-se com os saberes de mestras e mestres do Quilombo Saco Curtume, no município de São João do Piauí, e foi o primeiro de sua família a ser alfabetizado. Desde cedo, foi incumbido de desenvolver a habilidade de traduzir para a escrita a sabedoria de seu povo e mediar as relações com o Estado, cuja violência se manifesta, também, pela invalidação da oralidade. Como liderança, atuou na Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (Cecoq/PI) e na Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq). Sua atuação política nos movimentos de luta pela terra ancora-se na cosmovisão dos povos contracolonizadores. Nêgo Bispo, como também é conhecido, é autor de vários artigos, poemas e do livro Colonização, Quilombos: modos e significações (UnB/INCTI, 2015), além de coordenador da coleção Quatro Cantos (n-1 edições, 2022). Na revista piseagrama publicou os ensaios Modos quilombolas (2016) e Somos da terra (2018). Tem realizado palestras, conferências e cursos por todo o Brasil. É professor convi- dado do Encontro de Saberes da UnB/INCTI e da Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG.
Sobre o ilustrador
Santídio Pereira nasceu em Curral Comprido, povoado próximo a cidade de Isaísas Coelho, no Estado do Piauí, em 23 de outubro de 1996. Ainda quando pequeno, migrou para a cidade de São Paulo e aos 8 anos ingressou no Instituto Acaia, uma organização social sem fins lucrativos, que acolhe e oferece atividades socioeducativas a crianças, adolescentes e suas famílias residentes nos arredores do Ceagesp. No Ateliê iniciou suas práticas artísticas. A xilogravura é o principal suporte de sua pesquisa visual, a partir da qual desenvolveu a técnica de “incisão, recorte e encaixe”, subvertendo a reprodutibilidade característica da gravura e utilizando diversas matrizes na produção de uma imagem única. A flora e a fauna da Caatinga, sobretudo os pássaros, são fontes recorrentes de memórias, estudos e recriações ficcionais. É na Caatinga do Piauí, também, que ele mantém um projeto de pesquisa e residência artística destinada aos moradores locais e ao intercâmbio com artistas de outros lugares.
Em parceria com a Ubu Editora, Outras Palavras irá sortear 1 combo “Para ser contracolonial” [LIVRO+BOLSA+ILUSTRAÇÕES] de A terra dá, a terra quer, de Antônio Bispo dos Santos com obras de Santídio Pereira, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 20/11, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!
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