A escrita subversiva de Walter Benjamin

Rua de mão única, uma das obras mais significativas da literatura de vanguarda alemã, é relançada pela Editora 34. A edição conta ainda com textos de Asja Lacis e resenhas de Siegfried Kracauer, Ernst Bloch e Theodor W. Adorno. Sorteamos um exemplar

Benjamin na Abadia de Pontigny, 1938. Photo por Gisèle Freund. Fonte: Monoskop.

“Essa rua chama
RUA ASJA LACIS
em homenagem àquela que,
na qualidade de engenheiro,
a rasgou dentro do autor”


É com essa dedicatória que Walter Benjamin abre sua obra Rua de mão única, que ganhou recentemente uma nova edição no Brasil pela Editora 34, com tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho e organização de Jeanne Marie Gagnebin.

Outras Palavras e Editora 34 sortearão um exemplar de Rua de mão única, de Walter Benjamin, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 5/8, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

Asja Lacis em 1912. Fonte: Monoskop

O livro foi dedicado à Asja Lacis, militante política e diretora de teatro letã por quem Benjamin se apaixonou nos anos 1920. Na introdução do volume, a professora Jeanne Marie Gagnebin, revela que foi Lacis uma das principais responsáveis pela aproximação de Benjamin às vanguardas artísticas alemãs e soviéticas. Lacis ainda o aproximou do comunismo e o apresentou pessoalmente a Bertolt Brecht – influenciando toda sua produção intelectual futura. “Por ela, o escritor foi até Moscou, onde conheceu a nova realidade que a União Soviética buscava construir”.

Publicado originalmente em 1928, Rua de mão única é composto de 60 textos breves que tratam da vivência experienciada por Benjamin na metrópole moderna. A publicação foi na contramão da norma literária à época, caminhando por “imagens do pensamento”.

A EXPERIÊNCIA CALEIDOSCÓPICA DA METRÓPOLE MODERNA

Apesar do período da República de Weimar, entre a derrota alemã na Primeira Guerra Mundial e a ascensão do nazismo, ter sido marcado por conflitos e instabilidades, a Alemanha fervilhava artística e culturalmente. O expressionismo alemão estava no seu auge e a Bauhaus abria novos horizontes estéticos que mudariam os caminhos da arquitetura e do design até os dias de hoje.

Nessa época, o jovem Walter Benjamin, que veio ao mundo no dia 15 de julho de 1892, experimentava a juventude, a vida na metrópole e até mesmo novas formas de escrita.

No entanto, tal experimentação não advém apenas da expressão de um espírito jovem. À época ainda um estudante, aquele que viria a ser um dos pensadores mais influentes nos séculos à frente, teve sua tese de livre-docência, Origem do Drama Barroco Alemão, rejeitada pelo Departamento de Estética da Universidade de Frankfurt.

Sua frustração com a academia já era alimentada por certa resistência à prática do establishment acadêmico, a rejeição foi apenas a gota d’água para o jovem Benjamin desistir de sua carreira na universidade e mergulhar em outros oceanos.

A escolha acabou sendo muito frutífera para o autor, que passou a escrever para jornais, revistas literárias e até mesmo programas de rádio, fato que contribuiu para que passasse a participar ativamente da vida cultural de uma Alemanha em ebulição cultural e artística.

O espírito inquieto do filósofo também ousou adentrar os caminhos da experimentação, não só subvertendo as formas de escrita urbana como também se tornando um dos intérpretes mais ativos do surrealismo. Rua de mão única é resultado de suas experimentações.


“O livro é repleto de “imagens do pensamento”, cultivadas com virtuosismo pelo escritor e semelhantes à linguagem dos sonhos tão cara aos surrealistas.”


O volume é como um prenúncio de como se dariam os próximos escritos do autor, assinalando mudanças decisivas, além de demarcarem um novo momento em sua vida, agora como intelectual público e integrado à vida cultural.

A relação com Lacis também o marcou profundamente, foi tanto intensa quanto frustrante. “Nápoles”, um dos escritos que compõem a obra, é fruto dessa relação, tendo sido gerado conjuntamente pelo casal. Nele, há uma descrição apaixonada de uma cidade onde a vida social ainda não havia sido dominada pela mercadoria, além de um trecho das memórias da intelectual letã.

Além dos textos do próprio Benjamin, a edição conta com outro da dramaturga acerca do período em que passaram em Nápoles e Capri, onde se conheceram.

Por fim, as cerejas do bolo desta edição são três interessantes resenhas de Rua de mão única assinadas por Siegfried Kracauer, Ernst Bloch e Theodor W. Adorno.

Siegfried Kracauer e Ernst Bloch observam que Benjamin “buscava estilhaçar formas então convencionais de descrever o mundo”. Fazendo isso “a partir da experiência caleidoscópica da metrópole moderna”.

Nas palavras de Theodor W. Adorno, na obra “os sonhos não são postos como símbolos do inconsciente psíquico, mas são tomados literal e objetivamente. Em termos freudianos: o que importa é o conteúdo manifesto dos sonhos, e não o pensamento latente nos sonhos. A camada de sonhos entra em relação com o conhecimento pelo fato de que a forma de exposição procura conservar o tanto de verdade sufocada que os sonhos têm a anunciar”. Dessa maneira, como registra o texto da orelha do volume, Benjamin apresenta o absurdo “como se fosse óbvio, para despojar o óbvio” — as formas da sociedade capitalista — “de seu poder”.


Sobre o autor:
Walter Benjamin nasceu em 1892, em Berlim, na Alemanha. Em 1912 inicia seus estudos de filosofia, primeiramente em Freiburg e, mais tarde, em Berlim e Munique. Em 1917 casa-se com Dora Sophie Pollak e, para evitar o serviço militar, muda-se para a Suíça, onde conclui seu doutorado, O conceito de crítica de arte no romantismo alemão (1919), na Universidade de Berna. No ano seguinte retorna à Alemanha, onde sobrevive com dificuldades. Em 1923, obtém apoio financeiro do pai para redigir sua tese de livre-docência, Origem do drama barroco alemão (1925), que será recusada pela Universidade de Frankfurt. Nessa época, seus principais interlocutores são Gershom Scholem e Ernst Bloch. A partir do encontro em Capri com Asja Lacis, assistente teatral de Bertolt Brecht, em 1924, orienta suas leituras na direção do marxismo. No início dos anos 1930, concebe as bases de sua obra mais ambiciosa, que permanecerá inconclusa, O trabalho das passagens. Em 1933, com a perseguição aos judeus, foge da Alemanha, passando a levar uma vida precária e nômade, hospedando-se em pensões de Paris, Ibiza, San Remo ou na casa de amigos, como a de Brecht, exilado em Svendborg, na Dinamarca. Sobrevive escrevendo artigos para Frankfurter Zeitung e Literarische Welt e ensaios para a revista do Institut für Sozialforschung, dirigido por Adorno e Horkheimer. Em 1940, na iminência da invasão de Paris pelas tropas alemãs, Benjamin foge para o sul da França. Na noite de 26 para 27 de setembro, em Port-Bou, na fronteira com a Espanha, suicida-se ingerindo tabletes de morfina.

Sobre a organizadora:
Jeanne Marie Gagnebin nasceu em Lausanne, na Suíça, em 1949. Após estudar filosofia, literatura alemã e grego antigo na Universidade de Genebra, concluiu o doutorado em filosofia na Universidade de Heidelberg, na Alemanha, em 1977. Vive e leciona no Brasil desde 1978, tendo realizado estágios de pós-doutorado em Constança, Berlim e Paris. É professora titular de filosofia na PUC-SP e livre-docente em teoria literária na Unicamp. Atualmente é responsável pela organização dos volumes e coordenação da tradução dos escritos de Walter Benjamin na Editora 34. É autora de Zur Geschichtsphilosophie Walter Benjamins (1978), Walter Benjamin: os cacos da História (1982), Histoire et narration chez Walter Benjamin (1994), Sete aulas sobre linguagem, memória e história (1997), Lembrar escrever esquecer (2006) e Limiar, aura e rememoração (2014).

Sobre o tradutor:
Rubens Rodrigues Torres Filho nasceu em Botucatu, SP, em 1942. Estudou filosofia na Universidade de São Paulo, onde se doutorou em 1967, com a tese O espírito e a letra: a crítica da imaginação pura em Fichte, depois publicada em livro (Ática, 1975). Ensinou história da filosofia moderna na mesma universidade de 1965 a 1994. Como tradutor, verteu para o português autores como Kant, Fichte, Schelling, Nietzsche, Novalis e Benjamin. Seus ensaios filosóficos estão reunidos em Ensaios de filosofia ilustrada (Brasiliense, 1987). Estreou como poeta ainda nos tempos de estudante, com o livro Investigação do olhar (Massao Ohno, 1963); publicou sete volumes de poesia, reunidos no último deles, Novolume (Iluminuras, 1997).


Em parceria com a Editora 34, o Outras Palavras irá sortear um exemplar um exemplar de Rua de mão única, de Walter Benjamin, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 5/8, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

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