Livro: Subvertendo a subalternidade
Em obra da Editora Fósforo, pesquisadora norte-americana faz uma “fábula crítica”, recriando de forma instigante as experiências de jovens negras no pós-escravidão nos EUA – protagonistas de uma revolução comportamental. Sorteamos um exemplar
Publicado 07/03/2025 às 18:51 - Atualizado 10/03/2025 às 14:10

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Ao vasculhar o acervo da Biblioteca Pública de Nova York, a pesquisadora Saidiya Hartman se deparou com inúmeros registros de “jovens infratoras” do final do século XIX e início do XX, dentre tantos encontrou um cartão de apreensão de uma adolescente de 14 anos, chamada Eleanora Fagan, detida por prostituição. Eleanora é, na verdade, o nome de nascimento da histórica cantora de jazz conhecida como “Lady Day” ou Billie Holiday.
A pesquisadora tinha um grande objetivo ao resgatar tais arquivos: revelar o mundo visto pelos olhos dessas meninas e mulheres subversivas. O que Hartman levanta é que personagens como Billie Holiday protagonizaram uma verdadeira revolução comportamental em uma época e em lugar profundamente permeados pelo conservadorismo.

O trabalho de Hartman desembocou na obra Vidas rebeldes, belos experimentos: histórias íntimas de meninas negras desordeiras, mulheres encrenqueiras e queers radicais, lançada no Brasil pela Editora Fósforo.
Outras Palavras e Editora Fósforo irão sortear um exemplar de Vidas rebeldes, belos experimentos: histórias íntimas de meninas negras desordeiras, mulheres encrenqueiras e queers radicais, de Saidiya Hartman, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 24/3, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!
O livro — que garantiu o primeiro lugar no listão dos melhores livros de 2022 da Revista Quatro Cinco Um — revive a trajetória de jovens, famosas e anônimas, nascidas nos cinturões negros da Filadélfia e Nova York que, em meio à misoginia e ao racismo que ditavam os anos de 1890 e 1935 — apenas algumas décadas após a abolição — ousaram buscar seu próprio prazer, seja o sexual, o afetivo ou o intelectual.
“Depois de passar um ano olhando para uma menina de cor posando nua em um velho sofá de crina de cavalo, decidi retraçar seus passos pela cidade e imaginar suas muitas vidas. Seguindo as pegadas dela e de outras jovens negras na cidade, tracei um caminho pelos cinturões negros da Filadélfia e de Nova York, as vizinhanças e quarteirões negros apelidados em homenagem aos seus habitantes, Little Africa e Nigger Heaven, ou, conforme suas aspirações, a Meca e City of Refuge. Desenhei as vias errantes e as linhas de fuga que nas décadas de 1890 a 1935 delimitariam as fronteiras do gueto negro. No fim, isso não se tornou a história de uma única menina, mas uma biografia serial de uma geração, um retrato do coro, um filme da rebeldia.”
Arquivos de reformatórios, transcrições de julgamentos, relatórios de assistentes sociais, registros de cobradores de aluguel e fotografias são o ponto de partida de seu trabalho.
Recusando a frieza da escrita acadêmica por meio de sua “fábula crítica” — método de escrita criado por Hartman que combina pesquisas históricas com experiências de vida e fantasia — a professora da Universidade Columbia, em Nova York, detalha como corpos dissidentes, que recusaram os scripts sociais, encontravam rotas de fuga não-tradicionais para escapar do controle da norma padrão e conservadora.
Essas mulheres, que a autora chama de “pensadoras radicais” e “modernistas sexuais”, não queriam aceitar a imposição da condição de esposa, dona de casa ou empregada em casas de famílias brancas. Tais personagens inventaram seus próprios modos de vida, experimentaram o amor livre, as relações homossexuais e a maternidade solo (por opção). Repensaram arranjos fora da heteronormatividade quando uma política da respeitabilidade em resposta à fetichização da sexualidade negra era promovida pela mídia ou lideranças negras.
Ao afastar a narrativa que vê a população negra como mera vítima de opressões — como habitações insalubres, trabalhos degradantes e violência sistemática — Hartman propõe uma nova leitura do cotidiano.
Aqui, essas mulheres deixam de ser apenas objetos de uma história cruel e se tornam sujeitos de transformação, capazes de reconfigurar o tecido social com novas formas de resistência e reinvenção da liberdade.
Para Hartman, a conduta dessas mulheres desviantes abriu espaço e foi inspiração para o Renascimento do Harlem, um movimento intelectual e cultural que buscava um revival de toda a produção artística e intelectual de afro-americanos da região.
Ao trazer para o centro da narrativa figuras históricas como Billie Holiday, Paul Laurence Dunbar e W.E.B. Du Bois, a autora cria um rico mosaico onde o desejo de liberdade se mistura com o anseio de prazer, revelando a complexidade de personagens cuja humanidade foi negada pela história. Hartman não apenas resgata essas vozes, mas também as eleva a um novo patamar, fazendo do coro coletivo a verdadeira protagonista deste relato.
A obra então reconfigura nossa compreensão da identidade e do poder de transformação da população negra norte-americana.
Esta é a primeira matéria de uma seleção especial de sorteios do Outros Quinhentos no mês de março. Ao longo deste período, homenagearemos figuras e temas centrais da luta pela emancipação da mulher. Não perca!
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