O dia em que Miami conheceu os coxinhas

Um “protesto” de trezentas pessoas e sua preocupação crucial: como fazer com dólar a R$ 3,20? Estamos em crise!

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Por Carlos Marques

O primeiro domingo de sol escaldante após o inverno brindou Miami na manhã de ontem, 15 de março. A data já estava marcada há dias na minha agenda como o dia em que eu iria conhecer os coxinhas convictos da cidade.

Sai de casa louca para usar a minha câmera e me dirigi ao local conhecido como Torch of Friendship (Tocha da Amizade), em frente ao parque Bayside que tem, a seu lado, um shopping do mesmo nome. O local é passagem obrigatória para turistas que fazem sua primeira visita a Miami. Pessoas de todas as nacionalidades passavam por ali e, desconcertadas, se perguntavam: o que é isso?

Horário do encontro: 12hs. Manifestação política ao meio dia? Miami nessa hora é quente demais. Primeiro erro estratégico do pessoal liderado por Bruno Contipelli, mediador do grupo de Facebook Brasileiros na Flórida. Metade dos manifestantes ficaram embaixo da árvore ao lado do monumento, a ponto de o protesto mudar para a sombra e somente sair daí para a foto oficial…

Quando cheguei havia um burburinho, como uma concentracão para a partida entre Brasil e Alemanha. Sim, porque o pessoal do “não vai ter copa” tirou o figurino do armário e vestiu-se a caráter. Havia famílias com crianças e atrás do monumento um pessoal pintava a cara dos revoltados com o Brasil. Havia até fila. Uma senhora vestida de preto empunhava um megafone e dirigia-se aos protestantes lendo cartazes e dando a tônica do evento, muitas vezes em silêncio.

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Aposentados, mauricinhos, trabalhadores e dondocas. Havia um pouco de tudo: parecia carnaval! Ninguém se olhava, mas todos compartilhavam uma euforia infantil. Ninguém estava preocupado com a empregada doméstica que obteve melhores condições de trabalho no Brasil, com a safra de grãos do nordeste, ou com a saída do Brasil do mapa mundial da fome. Ali, a preocupação era: como vamos fazer com o dólar a R$ 3,20? Vai secar a fonte do paraíso da Disney, as compras desenfreadas e o mercado imobiliário em Miami. Vamos entrar na crise.

Bem, mas havia uma pauta entre os manifestantes: “Fora PT”, “Fora Dilma”, “Lula cachaceiro, devolve meu dinheiro”, “Petrobrás financiou a campanha de Dilma”, “Intervenção Já”. Uma massa de 300 pessoas – sendo bem generoso — disforme, esvaziada, desunida e por um muy desconfortável coro de “o povo unido jamais será vencido”.

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Talvez essa falta de noção, aliada à ignorância, seja um reflexo do que está acontecendo no Brasil. Um lugar que não visito há muito. No entanto, estive nas Diretas Já, participei ativamente do ompeachment de Fernando Collor e militei durante todas as campanhas de Lula para presidente. Em Dilma, já não estava mais no Brasil. Para se manifestar há que abrir a boca, ser intenso, e por exceção de dois ou três convictos, daquele domingo maravilhoso de sol no Bayside de Miami só restou a repetitiva dúzia de palavrões e ofensas, vários cartazes com erros de redação e compreensão, e o silêncio. Saí mais cedo porque não valia a pena ficar ali para compartilhar da vergonha alheia. Digno de pena, ou melhor, de coxinhas.

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