A Venezuela bolivariana em novo cenário

Oposição reconhece legitimidade do processo de mudanças. Mas partido de Chávez tem menos votos que esperava e precisará rever atuação

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Por Júlio Fermin

Ainda antes de se realizarem as eleições para a Assembleia Nacional da Venezuela, quase todos os analistas políticas concordavam sobre sua importância. Estava certo, também que o resultado seria um parlamento mais plural

Nas eleições legislativas anteriores, realizadas em 2005, a oposição retirou-se, argumentando suposta falta de garantias democráticas. Mais tarde, os opositores reconheceram que foi um grave erro político, devido ao qual se autoexcluíram do que é, em qualquer país, o cenário principal do debate político.

Além disso, as eleições do domingo (26/9) romperam também o paradigma dos processos eleitorais que tradicionalmente não mobilizam a cidadania. Pela segunda vez, ocorreram separadas do pleito presidencial. Na ocasião anterior, em 2005, apenas 25,26% dos eleitores compareceram.

Desta vez, estavam convocados 17 milhões de venezuelanos e venezuelanas. A participação foi maciça, um índice superior a 65%. Ainda que distante dos processos eleitorais dos anos 1960 a 1980, quando a participação superava os 90%, o número é expressivo. Nos últimos onze anos de processo bolivariano, o sistema eleitoral teve de suportar duros ataques e questionamentos da oposição, que repercutiram na participação do eleitorado.

São inúmeros os testemunos de observadores nacionais e internacionais em favor do sistema eleitoral venezuelano, considerado um dos mais avançados do mundo. Em parte, devido a sua automatização, próxima de 100%, mas também graças à participção de milhares de pessoas, tanto das organizações políticas quanto dos meios de informação, funcionários de todos os poderes, incluindo o organizmo eleitoral. Além disso, deve-se levar em conta a participação cidadã, já que os coordenadores de centros eleitorais e membros das mesas coleta dos votos são cidadãos escolhidos por sorteio, antes de cada processo eleitoral.

O que estava em jogo para as forças da Revolução bolivariana

Nestas eleições, elegeram-se 165 deputados e deputadas, numa eleição que combinou disputa nominal e por lista. Ou seja, elegeram-se deputados por nome e sobrenome nas 87 circunscrições eleitorais, enquanto outro grupo foi escolhido por partido ou organização política, de forma proporcional à população da zona eleitoral. Também foram eleitos deputados ao parlamento latinoamericano y representantes indígenas para a Assembleia Nacional.

Ela é um órgão fundamental no sistema democrático venezuelano. Entre suas funções principais encontram-se, além de exercer controle sobre o Executivo, eleger e designar os magistrados que integram o Tribunal Supromo de Justiça (TSJ); dos dirigentes do Conselho Nacional Eleitoral; e dos membros do Poder Cidadão: Defensor do Povo, Controlador Geral da República e Fiscal Geral da República.

No entanto, nesta eleição as metas das forças políticas em disputa iam além de obter maioria.

O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), em aliança com o Partido Comunista (PCV), tinha como ponto de honra alcançar a maioria qualificada. Ou seja, um mínimo de 110 deputados e deputadas (2/3 do total), que lhe permitiriam, entre outras coisas, remover magistrados do TSJ; nomear os membros do Poder Eleitoral e Poder Cidadão; convocar uma Assembleia Nacional Constituinte e promover reformas constitucionais. Também se exigem pelo menos 99 deputados (3/5 do total) para aprovar um voto de censura ao vice-presidente e votar as Leis Orgânicas.

O avanço da oposição

De sua parte, a oposição, qualquer que fosse o resultado, obteria representação no palco tradicional para o debate político do país.

Para esta eleição, os distintos partidos opositores, que separados não superam 10% das intenções de voto, propuseram-se alcançar a “unidade perfeita” não obtida em processos anteriores. Para tanto, formaram uma frente, denominda Mesa de Unidade Democrática (MUD). Escolheram candidatos únicos para cada zona eleitoral – embora cada partido disputasse por sua própria legenda o voto proporcional.

Não se pode deixar de destacar este fato, que significa algo mais que mera estratégia eleitoral. Por um lado, a oposição “assume a institucionalidade”, ou seja, reconhece a legitimidade do sistema político venezuelano e valida o sistema eleitoral, que em outras ocasiões procurou desqualificar. Assume, ao mesmo tempo, a condição de porta-voz de setores da população que nutrem certo descontentamento com as políticas do governo. Mas este fato pode ter efeito positivo sobre a qualidade do debate político e o exercício de controle social sobre as políticas públicas.

Ainda que esta fato não tenha diso destacado no processo, a maior parte dos governadores e prefeitos compreendeu a necessidade de orientar suas políticas, de maneira prioritária, para a inclusão social dos setores mais pobres, assim como debater prioritariamente temas como alimentação, educação e saúde. Ao fazê-lo, alinharam-se de algum modo com as políticas do Executivo. Neste processo, muitos dos governantes estaduais e municipais participaram ativamente na campanha, na condição de militantes partidários, ainda que criticassem a participação do presidente Chávez, presidente do PSUV.

Tendências e resultados

Com grande atraso, após as 2 da madrugada de 27 de setembro, o Conselho Nacional Eleitoral anunciou os primeiros resultados, que dão 91 deputados ao PSUV (muito menos que o partido esperado), 59 à oposição (também menos que o esperado) e 2 deputados para o Partido Pátria para Todos (PPT). Em consequência, será preciso chegar a acordos, para aprovar leis orgânicas e produzir outras decisões.

Ao observar os resultados totais, haverá duas maneiras de analisá-los: a) o PSUV ganhou em 18 estados; b) A oposição obteve 52% dos votos totais. A realidade é que o PSUV já não terá a maioria absoluta. A votação para o Parlamento Latinoamericano resultou em 43% de votos para o PSUV e 45% para a MUD.

Os resultados confirmam uma tendência que vem se desenvolvento nas eleições desde 2007.

O eleitorado comporta-se de maneira distinta quando está em jogo a figura presidencial. Nos pleitos que envolvem referendo revogatório de mandatos, eleição presidencial, ou a emenda recente que permite a reeleição contínua, os venezuelanos participam maciçamente e cerca de 60% posicionam-se ao lado de Chávez. Já nas eleições parlamentares, de governadores, prefeitos, etc, a situação muda e a tendência é mais dispersa.

Este fenômeno configura-se de maneira clara a partir de 2007. Nesta eleição, como se recorda, as forças políticas que apoiam o presidente Chávez propuseram a Reforma Constitucional e perderam pela primeira vez nas urnas, por uma margem muito estreita (inferior a 1%).

Já no ano seguinte, nas eleições para governadores, prefeitos e conselhos legislativos regionais, a aliança vermelha continuou obtendo a maioria da votação nacional – mas os números começaram a se reverter em favor da oposição. No Distrito Federal e nos Estados de Zulia, Miranda, Lara, Carabobo, Anzoátegui e Táchira – onde estão as cidades mais populosas – foram eleitas autoridades de organizações opositoras.

Agora, o PSUV recuperou-se no Distrito Federal, Lara e Carabobo, obtendo a maioria dos postos em disputa. No entanto, em outros casos a tendência repetiu-se ou se ampliou. Por exemplo, em Zulia a oposição elegeu 13 deputados, de 15 possíveis.

Por um lado, assim a oposição tende à convergência, que se concretizou na Mesa de Unidade Democrática. Já as forças políticas da revolução bolivariana têm se dispersado, à medida em que o tempo passa. A Assembleia eleita em 2005 era 100% favorável ao processo político impulsionado por Chávez. Agora, o PSUV só mantém o apoio do Partido Comunista da Venezuela. Sua divisão mais recente é a fundação do PPT, que aposta na despolarização e quer se converter no fiel da balança.

Por fim, o governo bolivariano, apesar das debilidades e erros da oposição, está sempre sabotando a si mesmo. Sofre a falta de eficiência e eficácia na gestão pública, como demonstrou a escassez de energia elétrica. Embora poucos, os casos conhecidos de corrupção administrativa foram muito significativos – como o que se deu na empresa estatal de produção e distribuição de alimentos, PDVAL. E não foi capaz de enfrentar algo muito crítico para toda a sociedade: o descontrole da criminalidade e a debilidade das políticas de segurança cidadã.

O PSUV já havia reconhecido parcialmente suas debilidades e dificuldades: a maior parte dos deputados e deputadas atuais não foram apresentados como candidatos. O partido apostou em lideranças joves e alguns representantes de movimentos sociais, todos eleitos pela base.

O fato de a oposição ter alcançado 52% dos votos é um alerta para o projeto político da Revolução Bolivariana, tendo em vista as eleições municipais de 2011 e talvez o pleito presidencial do ano seguinte. Talvez esteja na hora de retomar a aplicação dos três “Rs” propostos pelo presidente Chávez em 2007: Revisar, Retificar e Reimpulsionar.

Julio Fermín é membro da Equipe de Formação, Informação e Publicações (EFIP), de Caracas. Foi um dos animadores do Fórum Social Mundial 2006, capítulo Venezuela. É colaborador da Agência ALAI, onde este texto foi originalmente publicado.

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11 comentários para "A Venezuela bolivariana em novo cenário"

  1. Matheus disse:

    Hugo Chavez cometeu crimes terríveis desde o início do seu governo. Primeiro, foi eleito no primeiro turno, sem aliança com a oligarquia financeira, petroleira e latifundiária da Venezuela. Depois, ainda, cumpriu os seus compromissos de campanha eleitoral e convocou uma assembléia constituinte democrática, que elaborou uma constituição avançadíssima para a Venezuela. Pouco depois, veio outro “golpe”: uma lei de nacionalização do setor petroquímico, e uma outra, de reforma agrária e urbana, aplicadas com rigor. Isso é imperdoável, assim como essa tirania terrível de convocar o povo para decidir sobre certas quesões diretamente, via plebiscito ou conselhos comunitários. E as tragédias continuaram. Em poucos anos a Venezuela alfabetizou todo o seu povo começou e, uma grande atrocidade, buscou uma diplomacia independente e voltada para o ideal bolivariano de integração latinoamericana. Outra maldade foi sua capacidade de resistir ao golpe de Estado de 2002 e à greve geral de 2003, que patrioticamente quase destruiu a economia do próprio país. E depois mostrou-se ainda um serial killer, nacionalizando, uma após outra, setores estratégicos e empresas e bancos monopolistas, investindo na educação e saúde públicas, estimulando o cooperativismo e a economia solidária. Realmente, se o capitalismo neoliberal é o bem absoluto, Chavez, Morales, Correa e Fidel são monstros. Caso contrário…

  2. Rafael Costa disse:

    Oi Caue (novamente)
    Meu último post nesta matéria, até pq estou esperando as matérias que falem sobre a derrota do lulismo no primeiro turno.
    Sugiro que leias a The Economist, a maior e mais reconhecida revista sobre política e negócios no mundo… e não mais blogs de esquerdistas. Temos que ampliar nossa visão, e só lendo o que o mundo lê conseguiremos isso. Lá encontraras fatos e dados, pois contra os mesmos não há discussão.
    A seguir mais uma notícia sobre nosso amigo chaves, sobre desapropriações que fez neste final de semana em terras privadas (Jornal Valor Economico):
    O governo já desapropriou cerca de 2,5 milhões de hectares desde que Chávez chegou ao poder, em 1999. Segundo especialistas, só cerca de 50 mil hectares das terras desapropriadas pela reforma agrária mantêm-se produtivos.
    gRande abraço e viva a possibilidade de estarmos discutindo nossos pontos de vista (na venezuela ou em cuba não poderiamos estar fazendo isso)!

  3. Cauê disse:

    Cara que livro de historia voce leu para chegar a tais conclusoes?
    Os dados da Venezuela que eu citei nao batem com as suas historias, voce esta contornando o assunto com comparacoes completamente descontextualizadas com a realidade.
    Camarada, sobre cuba serei breve, mas reflita comigo. Desastre? Compara ela com as suas ilhas e países vizinhos que abriram as pernas para os ianques (ou foram forçado através de ditaduras), a questão da desigualdade/saúde/educação/status mundial/cultura/questão trabalhista e etc… Agora leve em consideração o embargo econômico desleal de 50 anos, na qual nem insulina para os diabéticos passava! A forma desonesta de como a mídia internacional tratou (como sempre) a “ultima” (a ultima mesmo foi desmentindo o mal entendido) entrevista do Castro, sencionalizando apenas uma frase, tirando a do contexto, faltando com explicações cruciais mais exatas dos departamentos que serão privatizado, e o porquê desses departamentos (como o turístico por exemplo)terem que ser privatizados, o real reconhecimento de Fidel e a autocrítica de um estado ultra-estadista sem desconsiderar a nenhum momento a revolução cubana!!!! Entre varias outros premissas a serem consideradas, você deveria ter vindo as noite cubanas do OutrasPalavras para conversar com um cubano de verdade.
    Já que tu gosta de história, esse artigo vai te acrescentar algo de bom sobre história política brasileira
    O declínio histórico da direita no Brasil
    http://altamiroborges.blogspot.com/2010/10/o-declinio-historico-da-direita-no.html
    Caro Rafael Costa, você esta literalmente repetindo cegamente a censo comum, esculpido por Folha, Globo, Veja e Estadinho.
    (que por sinal publicou ontem um ótimo artigo de Maria Rita Kehl sobre os votos dessa eleição, na qual vale a pena ler)
    Dois pesos.
    http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101002/not_imp618576,0.php
    Agora tenho que tocar meu burrinho pois amanha é dia de festa!
    Atenciosamente,
    Cauê

  4. Rafael Costa disse:

    Oi Cauê…
    Cara… sou uma pessoa que gosta muito de história, e acredito que cometemos os mesmos erros no passado que estamos comentendo hoje.
    Chavés está escolhendo um caminho já escolhido anteriormente por Castro e Perón… poderia até certo ponto colocar Vargas nessa turma.
    Resultado? Cuba é um desastre (Castro mesmo disse isso na última entrevista que deu), Argentina que no início do século passado era uma potencial econômica (utilizavam uma frase no mundo para dizer que alguém era rico, diziam “és rico como um argentino”) depois das políticas paternalistas e estatais de perón só afundou… e o nosso Brasilzão quando a globalização chegou (decada de 80) mostrou que um estado gigante e não aberto ao mundo não serviu para nada.
    O que digo é, Chaves repetirá o mesmo erro que eles. No minha opinião Lula e o PT estão retrocedendo tudo o que foi feito no governo passado (e votei no Lula viu?). O Brasil só surfa hoje de bons fudamentos e crescimento econômico por que tivemos que fazer um esforço incrível entre 1994 e 2000 e poucos…
    Prefiro arriscar e tentar algo novo do que repetir o que deu errado!
    Meu amigo foi a Venezuela mês passado de férias, me disse que a violência impossibilita que um turista saia a rua. As pessoas tem medo de expor suas idéias (pessoas como eu e você, que temos a liberdade de expor nossas idéias sem medo). Não tem comida nos supermercados e os preços sobem todo o mês (lembra do Brasil na década de 80???). A inflação é contra o pobre e não contra o rico, o rico sempre fica mais rico.
    Acho triste para o povo da Venezuela isso tudo, um líder repetirá os mesmos erros passados… é perda de tempo… de sonhos… de vidas… é isso que acho injustificável.
    Continuarei a ler outras palavras e provavelmente nos encontraremos outras vezes… busco outras leituras, mas sempre leio com a minha visão que é como disse no início, baseada em exemplos históricos e fatos.
    Grande abraço!

  5. Cauê disse:

    Reproduzo aqui o partes do artigo de Max Altman, creio que irá acrescentar muito para o nosso debate.
    Que raio de ditadura é essa e onde está a derrota de Chávez?
    (…)De resto, toda a imprensa escrita, televisada e radiofônica privada agiu como partido de oposição, raivosamente, sem limites, sem constrangimentos, e a campanha dos candidatos dos múltiplos partidos de oposição foram regadas com fartos recursos provenientes de fundos públicos e privados dos Estados Unidos.(…)
    (…)A oposição a Chávez alegava antes, e reafirma agora, que Chávez preparou uma cama de gato ao aprovar nova demarcação das circunscrições eleitorais. Novamente uma grossa mentira para tentar desqualificá-lo. Fundamentalmente porque é o Poder Eleitoral, e só ele, quem define as regras do jogo.
    E essas regras, ou seja, o sistema eleitoral, respeitaram o art. 186 da Constituição da República Bolivariana da Venezuela que reza: “A Assembleia Nacional estará integrada por deputados eleitos em cada entidade federal, por votação universal, direta, personalizada e secreta com representação proporcional segundo uma base proporcional de 1,1 por cento da população total do país. Cada entidade federal elegerá, ademais, três deputados.”
    São 165 as cadeiras da Assembléia Nacional assim distribuídas: 72 assentos correspondentes aos 3 deputados por cada um dos 24 estados; 90 assentos distribuídos na rigorosa proporção da base populacional de cada estado; 3 assentos à representação indígena.
    São 87 as circunscrições eleitorais distribuídas nos vários estados. Cinqüenta e dois deputados são eleitos proporcionalmente em lista partidária. (voto por lista). Há estados de maior população que elegem 3 por lista e os demais, 2. Cento e dez deputados são eleitos nominalmente dentro de suas respectivas circunscrições (voto distrital). Portanto, todos os conceitos eleitorais universalmente aceitos estão aí contemplados.
    O resultado final mostrou o seguinte: PSUV de Chávez, 98 cadeiras; Partidos de oposição, 64; Pátria Para Todos (PPT), 3. Os deputados indígenas já estão aí incluídos. A oposição alardeia cinicamente a manipulação das regras eleitorais gritando que, tendo recebido perto de 48% dos votos, deveria receber semelhante representação parlamentar
    Vejam o que ocorreu, por exemplo, no estado de Zulia, tradicionalmente opositor e que contribuiu com o maior número de deputados, 15. O PSUV de Chávez obteve 44,42% dos votos e elegeu apenas 3 deputados (20%). Os partidos de oposição tiveram 54,82% dos votos e ficaram com 12 vagas (80%). Algo ainda mais evidente ocorreu no estado de Anzoátegui. Isto a mídia esconde.
    Os jornalões estampam em títulos gritantes: “Derrota de Chávez”, “Chávez sofre um estrondoso revés político”. Conquistar 98 num parlamento de 165 cadeiras é vitória expressiva em qualquer lugar do mundo. É verdade que Chávez e o PSUV imprimiram à campanha um caráter plebiscitário, almejando a conquista de 110 assentos, maioria qualificada, que lhes permitiria avanços mais céleres no processo revolucionário, inclusive reformas constitucionais.
    Levaram pouco em conta que, em eleições parlamentares, outros fatores, que não os políticos, podem ter peso decisivo. Não tendo alcançado a meta, deverão rever suas táticas e estratégia. E se é certo que será mais difícil avançar com a futura composição parlamentar, é praticamente impossível qualquer recuo nos avanços já conquistados pela revolução bolivariana.(…)
    *Max Altman é observador internacional das eleições parlamentares na Venezuela e membro do Coletivo da Secretaria de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores
    http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=7207:que-raio-de-ditadura-e-essa-e-onde-esta-a-derrota-de-chavez&catid=235:comunicacom&Itemid=156

  6. Cauê disse:

    Meu caro, vasculhe mais o que você diz pelo amor da santa Quirupita.
    Questão da mídia:
    Contra toda evidência, os meios de ódio seguem sustentando que, na Venezuela, a liberdade política esta sendo limitada e que uma suposta censura impede a liberdade de expressão. Porém, omitem que 80% das emissoras de rádio e dos canais televisivos pertencem ao setor privado, enquanto apenas 9% deles são públicos.
    Um exemplo recente de “censura” foi aquela foto do jornal El Nacional, na qual tinha apenas seus 4 aninhos! Uma primeira pagina inteira com pessoas abertas no meio num necrotério é completamente absurdo, e quem “censurou” ou melhor proibiu foi o Tribunal venezuelano, ora liberdade vem com responsabilidade!
    O famoso canal “censurada” RCTV perdeu a concessão pública (quem quiser ve-la que pague) por ter tentado instigar (manipulando imagens) um golpe de Estado em 2002, para entender melhor te aconselho que veja no Blog do OutrasPalavras o documentário feito por 2 irlandeses, A revolução não será televisionada, só irá te acrescentar.
    Questão eleitoral:
    Oposição MUD composta por Ação Democrática (social-democrata), Aliança Bravo Povo (direita), Copei (democrático cristão), Força Liberal (ultra liberal;0, A causa R (ex comunistas), MAS (Movimento ao Socialismo), Movimento Republicano (neoliberal), PPT (Partido para todos), Podemos (Por a democracia social), Primeiro Justiça (ultra liberal) e Um Novo Tempo (social-liberal). E ainda assim perdeu na votação.
    Os dados foram levantados por órgãos de pesquisa internacional meu caro. “El representante de la ONU comparó el indicador de desarrollo humano, o el incremento sustantivo, del año 2007 con el de 2009, y precisó que el país subió 4 puntos. ” Lo que quiere decir, que paso de ser un país de desarrollo medio a desarrollo alto”, expresó. ” (desarrolo = desenvolvimento)
    Inflation rate (consumer prices): 27.1% (2009 est.) site da CIA, https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/ve.html
    Agora vai dizer que eles também são adeptos chavistas? Parem de inventar churumelas e aceitem os fatos.
    Quem mentiu nos dados foi o Estadão (como mostrei a escrachada manipulação de dados na taxa desemprego, usando apenas o porcentual que os interessava, assim até eu faço a China ficar com PIB negativo) e qualquer um sabe o por que, sua ideologia conservadora neoliberal assumida não permite que aceite algum avanço em países como Venezuela, então fica a dica, você não precisa para de lê-lo, pois eu mesmo o leio e vire e meche acho algumas matérias boas por lá também, apenas busque outras fontes de informação, menos comprometidas de preferência.
    Sobre a situação política na Venezuela, ler também, em Outras Palavras, entrevista com o sociólogo Edgardo Lander: “O chavismo em seu curto-circuito“. A batalha da Venezuela e O pais invisível.
    Espero apenas tê-lo acrescentado algo, qualquer duvida estamos aí!
    Atenciosamente.
    Cauê

  7. Rafael Costa disse:

    Engraçado é que mesmo tendo “melhorado” todos estes indicadores, ainda não conseguiu ganhar a maioria dos votos (ganhou a maioria devido mudanças na forma de contar).
    Realmente a população de lá é muito burra, com todos esses avanços ainda votam contra. Deve ser a mídia elitista do país enganando eles… ops, não tem mídia “elitista” lá, o governo não deixa.
    Desculpe, não acredito nestes dados… a Argentina também diz que a inflação não existe (manipulam dados)… e argentina é um país com muito mais educação que a Venezuela… ou achas que o governo venezuelano não manipula dados? Ainda mais de uma rádio venezuelana… ehehehe

  8. Cauê disse:

    Rafael Costa, ou melhor, turminha Estadão.
    Pelo visto esse foi outro que leu o livro como manipular as estatísticas. Quando aponta sobre a “subida descomunal” do desemprego de 42%, esquece apenas de citar que quando Chávez chegou no governo a taxa do desemprego era de 17%, essa taxa migrou para 6,5% no segundo semestre de 2008, subindo esse ano para 8,1% devido a crise mundial e outros fatores, lembrando que nos países desenvolvidos como EUA e alguns outros da Europa a taxa passou os 10%, pequenos detalhes, com grande importancia. Buena tentiva cabron, heheh.
    Desde a chegada de Hugo Chávez a presidência, o investimento social quintuplicou em comparação ao realizado entre 1988 e 1998, decisão-chave para que Venezuela tenha alcançado quase todas as metas do milênio fixadas pela ONU para 2015 (1). A pobreza baixou de 49,4%, em 1999, para 30,2% em 2006; e a pobreza extrema caiu de 21,7% ao 7,2% (2).
    O salário mínimo mensal que era em 1998 de 118 dólares passou a 446 dólares no início de Setembro de 2009, o mais alto da América Latina.
    Em janeiro desse ano, o governo desvalorizou a moeda, e a imprensa estava prevendo um grande aumento na inflação, até uns 60% para este ano. A inflação “fora de controle” nunca chegou. As taxas dos últimos três meses, atualizadas, estão em 21%, consideravelmente mais baixas que antes da desvalorização. Esta realidade é outro indicador de que os economistas em quem se apoiava a imprensa têm um conhecimento limitado sobre o verdadeiro funcionamento da economia venezuelana.
    Eu realmente não intendo como alguém pode fazer uma matéria tão devassada.
    E pior ainda é o crente do leitor, que engole tudo que lê, e reproduz tudo que não sabe. Seja mais cético meu caro, procure algumas visões de diferentes fontes sobre o mesmo assunto, para tirar boas conclusões a respeito.
    (1) http://news.bbc.co.uk/hi/spanish/specials/2009/ chavez_10/newsid_7837000/7837964.stm
    (2) http://www.radiomundial.com.ve/yvke/noticia.php?45387

  9. Arthur Araujo disse:

    É indisfarçável a hipocrisia da mídia grande e de todos os que seguem a cartilha neoliberal das elites. O governo Chavez é duramente criticado , tratado como “ditatorial, autocrático etc). Porém, governos como os de Uribe , que usou de todas as formas de corrupção para se manter no poder por vários anos e também, sabidamente tinha ligações com organizações paramilitares de direita na Colômbia, jamais foi alvo de uma só linha de critica em qualquer desses ditos”defensores da democracia”.

  10. PepeColoqios disse:

    Rafae Correa
    Concordo com o seu comentário.

  11. Rafae Costa disse:

    A derrota de Chávez
    O Estado de S. Paulo – 29/09/2010
    O autocrata venezuelano Hugo Chávez havia definido a eleição legislativa do último domingo em seu país como um “plebiscito” sobre o seu governo e prólogo do pleito presidencial de 2012, quando disputará o quarto mandato desde 1998. Ele prometeu “massacrar” a oposição e “ganhar por nocaute”. Não só não conseguiu nada disso, como sofreu um estrondoso revés político.
    É verdade que a legenda chavista, o Partido Socialista Unificado de Venezuela (PSUV), obteve 98 das 165 cadeiras da Assembleia Nacional, ao passo que a oposição, a Mesa de Unidade Democrática (MUD) constituída por 18 partidos, ficou com 65. Mas esse resultado privou Chávez da maioria de 2/3 que lhe permitiria aprovar leis orgânicas e mudanças constitucionais – e, no limite, governar por decreto.
    Era o que vinha fazendo com incontestada desenvoltura desde que a oposição cometeu o erro histórico de boicotar a eleição parlamentar de 2005, para não legitimar o que previa ser uma fraude. Sem adversários – e com um comparecimento às urnas de ridículos 25% -, o caudilho teve às suas ordens um Legislativo 100% chavista, reduzido a uma repartição do Palácio Miraflores, a sede do Executivo. Com o tempo, 10 deputados formaram uma dissidência que, evidentemente, não freou a descida da Venezuela para o regime liberticida do “socialismo do século 21”.
    Quando se deu conta de que não teria a mesma sorte no pleito seguinte, Chávez preparou uma cama de gato para os adversários. Fez aprovar uma nova demarcação dos distritos eleitorais – o sistema venezuelano é o distrital -, para aumentar a representação das áreas chavistas e vice-versa. Para se ter uma ideia, num Estado rarefeito, de maioria governista, passaram a bastar 20 mil votos para eleger um congressista, ante 400 mil num Estado populoso, simpático à oposição. A mudança nas regras do jogo não foi tudo.
    O governo reteve o repasse de verbas para as regiões governadas por oposicionistas, transformou legiões de servidores públicos em cabos eleitorais, com abundante infraestrutura, e deu aos candidatos de seu partido praticamente o monopólio da propaganda nas emissoras estatais. Sem falar na multiplicação de sua presença nos comícios do PSUV, religiosamente reproduzida na TV chavista. Chega a ser uma proeza, portanto, o desempenho eleitoral da oposição, refletindo a erosão do prestígio de Chávez.
    Com uma taxa de comparecimento de 67% – um indicador do ânimo mudancista do eleitorado em países, como a Venezuela, onde o voto é facultativo -, a frente de oposição obteve, segundo uma contagem extraoficial, 5,4 milhões dos votos válidos, cerca de 190 mil a mais do que a situação. A manipulação das regras eleitorais explica por que os 46% de votos populares pró-Chávez se transfiguraram em 59% das cadeiras na Assembleia e por que os 48% conquistados pela oposição nas urnas não lhe deram mais de 39% das vagas. Estima-se que apenas a remarcação dos distritos adicionou à bancada chavista 30 deputados.
    Não há muito mistério no avanço oposicionista. O governo é um rematado desastre. Na contramão da América Latina, a Venezuela está há 15 meses em recessão. A inflação anual é da ordem de 30% e a acumulada nos 11 anos de chavismo chega a 733%, o desemprego é descomunal (cresceu 42% no último ano e meio) e a desigualdade voltou a se agravar. Faltam energia e alimentos. Sobram corrupção e incompetência: 130 mil toneladas de gêneros importados apodreceram nos portos do país. Por fim, a criminalidade atinge níveis aterrorizantes. A violência mata uma pessoa a cada meia hora.
    O que não está claro é o que Chávez vai fazer de sua derrota política. Ele tem uma janela de oportunidade de 3 meses – a nova Assembleia só assumirá em janeiro – para se conter ou desembestar de vez, fazendo aprovar nesse período o que queira. Notadamente, a Lei das Comunas, unidades administrativas ditas autônomas, porém diretamente ligadas ao Executivo. Além da reorganização político-territorial do país, poderá surgir uma “assembleia comunal” para retirar poderes do Legislativo. “Chávez é hoje uma fera acuada”, compara um observador estrangeiro em Caracas. “Nessas condições, é ainda mais imprevisível.”

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