Na França, a classe trabalhadora (re)vive?

Provocados por contra-reforma trabalhista, sindicatos paralisam portos, trens e até jornais. Que esta retomada pode dizer às lutas emancipatórias?

Um mar de trabalhadores desafia, em Paris, políticas de ataque aos direitos sociais. Os sindicatos serão, ainda, uma força rebelde?

Um mar de trabalhadores desafia, em Paris, políticas de ataque aos direitos sociais, lançadas por governo que se diz “socialista”. Os sindicatos serão, ainda, uma força rebelde?

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Provocados por contra-reforma trabalhista, sindicatos paralisam portos, trens e até jornais. Que diz retomada pode dizer às lutas emancipatórias?

Por Milton Pinheiro

A luta dos trabalhadores franceses contra o ataque daquele Estado burguês está se consolidando como uma lição para os trabalhadores do mundo. Trata-se de uma quadra de profundos ataques ao fundo público, aos direitos sociais e trabalhistas, e de políticas neoliberais radicais que, mesmo do ponto de vista capitalista, aprofundam a crise do sistema. É uma tentativa desesperada, e vulgar, da ordem do capital, de tentar revalorizar a sua lógica a qualquer custo.

Após intenso processo de mobilização e enfrentamento com a repressão do governo da social-democracia francesa – aquela que tragicamente, em qualquer cenário de crise econômica, procura sempre os ombros da classe trabalhadora para colocar o ônus das contradições da crise sistêmica do capital – surgiu nesta quinta-feira (26/5) uma resposta poderosa. É digna da cultura política revolucionária que advém dos jacobinos da revolução francesa, dos trabalhadores da primavera dos povos de 1848, dos lutadores da Comuna de Paris e tantos outros movimentos de luta da classe trabalhadora em defesa dos seus direitos. A França não teve, nesse dia, a circulação de jornais que não publicaram o comunicado público da CGT (Confederação Geral do Trabalho). Apenas o histórico jornal L’Humanité circulou pelas bancas do país.

A ação dos trabalhadores franceses e suas organizações de classe impediu que os grandes panfletos da burguesia francesa, que não respeitam o direito à informação pública, fossem impressos e chegassem às bancas.

Nestes últimos dias, os trabalhadores radicalizaram suas ações contra o pacote de medidas do governo da ortodoxia neoliberal de François Hollande, que ataca os direitos trabalhistas e previdenciários dos franceses que estão no mercado de trabalho, bem como da juventude que irá adentrar esse espaço da vida social. Como reação, avança uma intensa jornada de lutas com grandes manifestações políticas e culturais para impedir a catástrofe social que o capital mundial e seu consórcio francês querem impor.

O bloco de lutas dos trabalhadores tem organizado, e avançado, na mobilização social. Dezenas de milhares de trabalhadores ocuparam as ruas de Paris, cercaram com atividades culturais o monumento da República, protestaram por toda a França e têm enfrentado com determinação a repressão policial. A CGT também conseguiu o apoio dos trabalhadores do controle ferroviário e aéreo, que já paralisaram suas atividades.

A intensa jornada de lutas afirmou-se de forma vitoriosa sobre algumas das mais importantes atividades industriais do país, com a paralisação de 16 das 19 usinas nucleares e o fechamento da grande maioria das refinarias e depósitos de combustível. A escassez de combustível já atinge várias localidades da França.

O bloco de lutas promete novas ações para impedir o êxito da “reforma” trabalhista anunciada, que mais uma vez atinge a jornada de trabalho com a possibilidade de aumento de 48 até 60 horas de trabalho semanal, de acordo os interesses do patrão. O governo Hollande, através dessa contrarreforma proposta, permite total liberdade ao patronato para flexibilizar e precarizar as relações de trabalho.

Esse projeto propõe o fim do adicional de horas extras para aqueles que trabalham além das 35 horas semanais, quebra a negociação por ramo de atividade e categoria para possibilitar acordos por empresas. Fato que pode quebrar a unidade da classe e a sua capacidade de articulação e organização. No entanto, como a história das lutas sociais já comprovou, os trabalhadores franceses reagiram com grande mobilização e intensidade a este ataque que veio, mais uma vez, pelas mãos da social-democracia européia.

Lutas com ações de grande impacto têm sido feitas, a exemplo do bloqueio e fechamento do porto de Le Havre na Normandia, que atingiu fortemente o deslocamento pela ponte que conecta esse importante porto às cidades e outras localidades do país. Impediu-se, inclusive, que as forças da repressão pudessem se locomover para agir essa região. Informações também apontam que piquetes de trabalhadores atingem a Bretanha, paralisando a produção industrial na área portuária de Brest.

Com essa jornada de lutas os trabalhadores franceses nos lembram: é preciso lutar e é possível vencer. O avanço desse bloco de lutas deverá tender à derrota do governo.

A França das lutas operárias e libertárias nos avisa que as barricadas estão à vista, cabe agora aos trabalhadores do mundo levantá-las por sua emancipação.

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5 comentários para "Na França, a classe trabalhadora (re)vive?"

  1. Roldão Lima Junior disse:

    Prezados Artur e Marck.
    Longe de acreditar que o Juiz Moro “labora pela classe trabalhadora”. Não sou tão ingênuo assim. Também não acredito que o Juiz Moro age sob a orientação da nossa Grande Irmã do Norte. A potência hegemônica norte-americana não está nem aí para a América Latrina. Se tivesse algum interesse, já teria detonado Cuba, Venezuela e Bolívia, como está detonando o Iraque, o Afeganistão e a Síria, juntamente com a Rússia, do outro lado do planeta. Ingênuos são aqueles que acreditam que a América Latrina tenha algum peso estratégico e econômico que desperte o interesse das grandes potências mundiais. Longe disso. A América Latrina como a África é continente colonizado e consumidor de quinquilharias dos colonizadores. A América Latrina sempre foi uma África melhorada. O Brasil – coitado – do jeito que está todo endividado é motivo de galhofa no exterior. Muita gente acha que a capital do Brasil é Buenos Aires. E que aqui só tem ladrão, carnaval e mulatas. Ninguém trata o Brasil com seriedade. Pelos nossos próprios erros e desinteresses estamos condenados à marginalidade do concerto das nações desenvolvidas. Tenho muitos conhecidos no exterior que acham que no Brasil existem onças, araras e macacos nas cidades como Brasilia, Rio de Janeiro e São Paulo. Vivo explicando para eles que esses bichos só existem nos jardins zoológicos dessas cidades. E, pasmem os senhores, ninguém acredita no que falo. Não sei se é gozação deles, mas é a realidade. Quanto ao “deixar o Moro trabalhar”, eu já expliquei em outros comentários pertinentes que o DEIXA O MORO TRABALHAR é uma paráfrase do DEIXA O LULA TRABALHAR. Quando deixamos o Lula trabalhar, o país ficou todo detonado. Por muito pouco não se tornou uma república sindicalista. Deixando o Moro trabalhar, com aquela fala fina e mansa dele, nós vamos ter a noção da roubalheira que assola o Brasil há anos. A roubalheira que campeia por todos os quadrantes do país. Na minha opinião, a turma do Juiz Moro está fazendo um grande favor para o Brasil. A Lava Jato será a nossa Revolução Francesa. Vamos prender todo mundo na Bastilha de Curitiba. Se der, vamos guilhotinar todos os ladrões do Erário presos na Bastilha de Curitiba, independentemente de orientação ideológica – se de esquerda ou de direita, se nazista, fascista ou marxista, se conservador ou progressista. É ladrão – guilhotina nele!!! Só assim o Brasil melhora como a França melhorou depois da Revolução Francesa. Decapitando os ladrões do Erário!!! DEIXA O MORO TRABALHAR! Vamos ver o que vai dar!!!

  2. Marck disse:

    Exatamente Arthur! Acreditar que Moro labora pela classe trabalhadora e pelo bem do país é, no mínimo, uma tremenda ingenuidade…

  3. Arthur disse:

    Deixa o Moro trabalhar não. Deixa o Moro cumprir à risca aquilo que lhe foi determinado quando esteve nos EUA passando por doutrinação no sentido de contribuir para que o golpe fosse perpetrado.

  4. Roldão Lima Junior disse:

    O articulista aborda o tema com muita propriedade, concluindo que a mobilização dos trabalhadores franceses em defesa dos seus direitos trabalhistas é um exemplo para o mundo. Em tese, a proposta e a argumentação são esplêndidas, mas perdem o sentido quando estendidas para o Brasil. Sem discurso reacionário, não cabe comparação entre a França da Bastilha com o Brasil da Lava Jato. São dois países bem diferentes. Um já era civilizado enquanto que os habitantes do outro ainda andavam nus pelas florestas. Um começou a sua evolução política quando o outro resolveu invadir o colonizador do outro. Um eleva “l’ étendard sanglant”, enquanto que o outro deita em “berço esplêndido”. Um ainda queima petróleo, enquanto que o outro já usa o átomo para produzir energia há mais de 50 anos. Um tem infraestrutura de transporte (portos, rodovias, ferrovias, aeroportos e hidrovias) de alta tecnologia agregada, enquanto que o outro tem mais de 78% de rodovias não pavimentadas, além de não ter portos, aeroportos, ferrovias, transporte urbano e hidrovias que o outro tem de sobra. Um tem uma linha de trem capenga (EFVM), ligando o nada ao quase nada, enquanto que o outro tem trem de alta velocidade (TGV), cruzando “toute le pays”. Um tem cerca de 200 milhões de habitantes mal distribuídos pelo país (24 habitantes por km2), enquanto que o outro tem cerca de 65 milhões de habitantes bem distribuídos (115 habitantes por km2). Um tem educação básica de qualidade enquanto que o outro, mesmo tendo sustentado o lema Pátria Educadora, ainda convive com escolas ocupadas por alunos secundaristas que exigem ensino de qualidade. Um aprendeu com o outro que o melhor negócio do mundo é ter sindicatos sustentados com contribuição sindical compulsória – sindicatos pelegos. Um é um país do Primeiro Mundo (desenvolvido) enquanto que o outro continua País do Terceiro Mundo (subdesenvolvido). Um estarrece o outro com a dimensão da corrupção estatal. De fato, a França não é o Brasil e nem o Brasil é a França. São duas realidades completamente diferentes. Um sempre foi colonizador, enquanto que o outro nunca deixou de ser colonizado. O proletário francês não é o proletário brasileiro. O proletário francês esperneia-se para manter-se empregado, enquanto que o proletário brasileiro muda-se para o mercado informal quando perde o emprego. Assim…não dá para unir os dois. Conclusão: As barricadas levantadas na França nunca serão levantadas no Brasil. Enquanto isso: DEIXA O MORO TRABALHAR!!!

  5. José Edno de Melo. disse:

    ” É preciso lutar e é possível vencer “, me veio uma esperança.

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