Quinze anos de literatura e resistência

Criativo em vários gêneros e empreendedor pela cultura periférica, Ferréz prepara romance surpreendente, que confirmará sua condição de grande escritor

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Por Antonio Eleilson Leite, na coluna Literatura Periférica

No editorial da edição de maio da Agenda Cultural da Periferia, publicação da ONG Ação Educativa, estão enumeradas vinte efemérides relacionadas com o ano de 2007 e que foram importantes para a cultura na periferia . Começa com a própria Agenda, lançada naquele ano e os vinte anos da Rádio Heliópolis FM que há cinco passou a ter vida legal como rádio comunitária. Dentre os outros dezoito marcos do ano de 2007 mencionados texto, tem o surgimento da Coleção Literatura Periférica na Global Editora, a Coleção Pelas Periferias do Brasil e a loja Suburbano Convicto, ambas iniciativas de Alessandro Buzo, os dez anos do CD Sobrevivendo no Inferno, do Racionais MC’s , entre outros acontecimentos.

De fato, é algo notável. Talvez 2007 tenha sido realmente um divisor de águas. Porém, toda lista, por mais ampla que seja, é sempre restritiva e sujeita a omissões. Esta justa homenagem da Ação Educativa não se livrou desse risco. Faltou pelo menos uma efeméride muito importante. Naquele ano de 2007, o escritor Ferréz comemorava dez anos de carreira literária. Em 1997, ele publicou seu primeiro livro, uma obra de poesia chamada Fortaleza da Desilusão. Ou seja, neste ano de 2012, Ferréz faz 15 anos de intensa atividade literária. Reginaldo Ferreira da Silva tinha 22 anos quando, de tanto ler livros, resolveu fazer um para chamar de seu.

Falemos então deste escritor, músico, poeta e empreendedor de 36 anos. E para abordar a trajetória do escritor, ativista e empreendedor Ferréz, assisti novamente o documentário Literatura e Resistência. Dirigido por ele mesmo e lançado em 2009, este DVD conta sua história com o auxilio luxuoso de amigos de quebrada, cultivados desde a infância, e de parceiros conquistados a partir de sua notoriedade como escritor — gente ilustre como Chico Cesar, Marcelino Freire, Paulo Lins, Lourenço Mutarelli, entre outros. Vídeo feito na raça, com muita imagem registrada com equipamento doméstico, fragmentos de programas de TV, mas também vários registros bem produzidos. O resultado é uma compilação iconográfica da trajetória deste que, como diz Chico Cesar logo na abertura, é um dos principais escritores brasileiros da atualidade.

O título do vídeo faz jus ao que é exposto na obra. Veja: não é literatura de resistência, é Literatura e Resistência. A palavra resistência, tão desgastada quando pronunciada na voz de militantes que só sabem ficar na defensiva, ganha conotação libertária ao expressar a determinação com que Ferréz realizou seus projetos. Tudo conspirava contra o cara, mas ele não só contrariou as estatísticas, como inverteu a lógica do destino. Por isso, a definição que mais se ouve nas falas dos entrevistados ao se referirem a ele é “herói”. Mas tudo que ele não quer é ser um herói. Embora sendo um fanático leitor de quadrinhos, a figura de um notável entre os comuns, que tem a missão de salvação, não lhe cai bem. Ele é 1 Da Sul . O nome de sua grife e loja quer dizer união: “somos todos um pela dignidade da Zona Sul”.

Ferréz era visto na quebrada como aquele sujeito esquisito. Não bebia, não fumava, não gostava de futebol (até hoje ele é assim ). Só queria saber de ler, por isso era isolado. Mas não parava de pensar na sua comunidade, o Jardim Comercial, um bairro no imenso distrito do Capão Redondo, território periférico onde moram mais de 200 mil habitantes. Sempre trabalhou, desde cedo teve que ajudar a mãe nos cuidados com os irmãos. Nunca exerceu qualquer função que exigisse alta qulificação. Foi assistente de pedreiro, balconista de padaria, faxineiro, auxiliar de escritório, entre outras ocupações. Mas sua vasta experiência de serviços gerais lhe deu um senso prático e conhecimentos tão diversificados que costumava impressionar seus amigos que o identificavam como um “sabe-tudo”.

Provavelmente a impressão que se tinha de Ferréz na quebrada era um peão metido a intelectual. Mas ele não era arrogante. Aliás, muito humilde. Há uma passagem marcante no vídeo que mostra bem isso . Ao publicar seu livro Fortaleza da Desilusão, proeza alcançada graças a um inusitado apoio de sua então patroa, apreciadora de poesias, Ferréz fez contato com uma distribuidora de livros, pois não sabia o que fazer com quase mil exemplares da obra. O livreiro pediu dez exemplares do livro e ele, com ajuda de um amigo perueiro, levou todo o estoque para a distribuidora que ficava no Brás. Insensível, o distribuidor não quis sequer armazenar os livros em seu estoque, ficando apenas com a dezena de exemplares combinada.

Desiludido, Ferréz sentou-se sobre os pacotes do Fortaleza da Desilusão. Meio que esperando um milagre, ali ficou até o anoitecer, protegendo os livros do assédio dos catadores de papelão que rondavam o local, ávidos pelo lote que devia pesar cerca de 300 quilos. A solidariedade enfim chegou. O dono do bar vizinho à distribuidora abordou o jovem poeta, oferecendo seu modesto estabelecimento para guardar os pacotes. Ferréz ficou mais de uma semana buscando diariamente uma cota de livros que coubesse em sua mochila, até transportar todos os exemplares de volta para casa. Era para desistir. Mas ele, humildemente, resistiu.

Ferréz abandonou sua veia poética, pelo menos o estilo de seu frustrado livro de estreia, que flertava com a poesia concreta. Criou outras rimas depois, como compositor e cantor de rap. Muitas delas estão na trilha sonora do DVD e nos clipes dos extras. Vale a pena conferir, especialmente o clipe da música Judas, que tem um sampler da canção Child in Time do Deep Purple, algo improvável para um rap. Mas sua incursão como MC é algo que surge com força somente depois do sucesso como escritor. Voltando ao fatídico final de século XX, ele se meteu a produzir roupas e acessórios. Surgiu em 1999 a 1Da Sul. Assim como não era poeta e se propôs a fazer poesia, ele também de roupa não entendia, mas criou uma grife. Cumpriu na prática o que diz a canção dos Titãs: “eu não sei fazer música, mas eu faço; eu não sei cantar as músicas que faço, mas eu canto”.

Sua empresa surgiu de uma brincadeira, conta ele com muita graça no vídeo. No dia primeiro de abril, soltou uma mentira de que surgira uma grife na quebrada com o nome 1 Da Sul; que fazia roupas e coisa e tal; que estava bombando na quebrada. Os manos não deram atenção ao devaneio do poeta, mas Reginaldo insistiu na anedota e de tanto brincar com o feitiço, se fez de feiticeiro. Coisa de maluco mesmo. Levaria páginas para descrever algumas das agruras do início de seu negócio. Veja o documentário e depois vá à Avenida Comendador Santana, no Centro do Capão e confira a loja bacana que é. Se não quiser ir á perifa, tem uma filial na galeria da rua 24 de Maio no Centro.

O empreendedor, portanto, surgiu antes do escritor. E talvez se não fosse empreendedor não teria sido escritor, ou pelo menos não teria persistido (resistido) até se tornar escritor. Um ano depois de criada a 1Da Sul, Ferréz lançou o romance Capão Pecado. Publicado pela extinta editora Labortexto, o livro ganhou notabilidade impulsionado pela atuação de Ferréz como colunista na revista Caros Amigos. Contribuiu também para seu reconhecimento a inserção do autor na militância política. A esquerda vivia a conquista de Lula nas eleições de 2002, numa conjuntura marcada pelo advento do Fórum Social Mundial, que teve sua primeira edição em 2001 se tornou espaço de convergência dos que acreditavam que outro mundo era possível.

Era, enfim, um contexto oportuno para uma inciativa como esta. Uma voz da periferia ganha as páginas de um livro. Mas nada disso adiantaria se não fosse uma grande obra. Um romance bem estruturado, que já respira a benéfica influência do livro Cidade de Deus, de Paulo Lins, grande sucesso editorial adaptado para o cinema pelas lentes de Fernando Meirelles. Se não tivesse méritos literários, portanto estéticos, Capão Pecado não teria vendido cerca de 100 mil exemplares e se mantido com vigor e presença na literatura atual, doze anos depois. Quer saber mais dessa e de outras histórias, além de ver o DVD, leia o livro da Erica Peçanha: Vozes Marginais na Literatura.[1]

O jovem esclarecido da periferia, poeta frustrado porém não derrotado, virou empreendedor, escritor e ativista cultural radical e lúcido. Antes de publicar seu segundo livro, Manual Prático do Ódio, em 2003, Ferréz produziu, pela Caros Amigos, três suplementos intitulados Literatura Marginal. Lançou dezenas de poetas e escritores de periferias de todo o Brasil. Sua grife se expande. Passa a ser reconhecido como escritor de prestígio com seu segundo romance. É traduzido em países como Espanha, Itália, México e Alemanha. Excursiona no exterior, participa de inúmeros eventos literários: enfim, torna-se uma notoriedade. Mas ele ainda resiste.

Aquela angústia que o consumiu sentado sobre os pacotes de livros na calçada do Brás passou a ser uma história a ser lembrada como fábula. O distribuidor que o subestimou, para não dizer outra coisa, certamente vendeu muito livro do Ferréz. No prefácio da primeira edição do Capão Pecado, quando o livro passou a ser publicado pela Editora Objetiva, em 2005, ele conta que, depois do sucesso do livro, foi fazer palestra no hotel que o havia rejeitado como faxineiro. Faculdades e escolas frequentadas pela burguesia convidavam-no para palestrar. Numas dessas, mostra o vídeo, ele desafia os jovens de bochecha rosada a procurar um negro nas inúmeras fotos de alunos expostas em um enorme bâner que servia de fundo para o auditório onde a conversa se dava. Ele gostava de causar constrangimentos ao sistema.

Em 2004, Ferréz perdeu um grande amigo, Preto Ghóez, líder do grupo Clã Nordestino, morto em um acidente de carro. Maranhense, comunista radical, Preto Ghóez surge no DVD numa rara imagem para deixar sua mensagem em forma de bordão: “todo ódio à burguesia é pouco”. Ferréz sempre zelou pelo legado de Ghóez e a aparição deste no vídeo confere ao documentário ainda mais valor. Ghoéz publicou poemas nos suplementos de Caros Amigos. Dois deles saíram na coletânea Literatura Marginal – Talentos da escrita Periférica, que Ferrez publicou na Editora Agir em 2005, em mais uma inciativa promovendo a literatura da periferia, agora numa grande editora comercial.

O ano de 2006 é dramático para a periferia e toda a cidade de São Paulo. Em maio, acontecem os ataques atribuídos ao PCC, que deflagram uma violenta reação da Polícia Militar. Tempos de pânico, medo e desilusão. Ferréz se vê perseguido. Refugia-se na casa de Paulo Lins, longe da capital paulista. Naquele mesmo ano, publica seu terceiro livro, com o sugestivo nome de Ninguém é Inocente em São Paulo, sua estreia como escritor de contos. Passada a tormenta, veio um tempo de discrição. Ferréz, creio, passa a refletir mais sobre sua obra e condição de escritor. Muita gente que ele publicou passou a produzir seus próprios livros. Ele se volta mais a sua carreira.

Chega então o histórico ano de 2007; dez anos de Fortaleza da Desilusão. Ferréz publica um livro infantil: Amanhecer Esmeralda, mais um sucesso. Isso, curiosamente não é abordado no vídeo. Parece-me algo tão significativo na carreira dele, deveria estar lá. Mas naquele ano, Ferréz participa de um projeto ao qual se refere com muito orgulho. Trata-se da coletânea Cenas da Favela – As melhores histórias da periferia brasileira, organizada pelo escritor Nelson de Oliveira e publicada pela Editora Geração Editorial (que assim como a Agir, faz parte do grupo Ediouro). Nesta obra, Ferréz aparece ao lado de Carlos Drummond de Andrade, Rubem Fonseca. Lygia Fagundes Telles, Paulo Lins e outros grandes nomes da literatura brasileira. Mais um livro que o distribuidor do Brás vendeu muito.

Ferréz chegava à maturidade com pouco mais de 30 anos. Ele dá sinais evidentes de preocupações estéticas. No vídeo discorre longamente sobre suas principais influências. Como escritor experimentado, caracteriza cada um dos autores que lhe são caros: Hermann Hesse, Lima Barreto, Plinio Marcos e João Antonio. Retira livro a livro das prateleiras de sua vasta biblioteca, comentando um por um com a autoridade de um escritor consciente do valor de sua obra e do tributo que paga à linhagem de escritores que o formaram.

O professor Antonio Cândido, na sua clássica obra Literatura e Sociedade nos ensina sobre a relação do autor com o grupo social do qual faz parte. Didaticamente, como lhe é característico, Cândido enumera os pontos dessa relação. Primeiro, a necessidade de um agente individual tomar para si a tarefa de criar uma obra. Em seguida, vem o reconhecimento (ou não) como criador, pela sociedade. Por fim, o autor usa a obra (marcada pela sociedade) como “veículo de suas aspirações individuais mais profundas”[2]. Ferréz parece cumprir na prática, a teoria de Antonio Cândido. Mas falta, a este grande escritor da periferia, o devido reconhecimento do meio acadêmico: por seus méritos literários e não só por sua atuação e condição social como é comum nos estudos que lhe têm como objeto.

Em 2012, Ferrez lançará mais um livro. Será outro romance. O nome da obra é Deus foi almoçar. Ele andou fazendo leitura do livro em alguns saraus e há trechos no blog do escritor (www.ferrez.blogspot.com). Muita gente vai se surpreender com o estilo e a trama. Ele se desvincula um pouco da escrita e, principalmente, da temática que o consagrou. Não. Ferréz não está abandonando suas origens. Mas creio que ele está explorando uma nova concepção estética e isso é muito bom. Antonio Candido explica, na mesma obra citada anteriormente, que embora o texto sempre esteja imbricada com o meio social, os “impulsos pessoais predominam na verdadeira obra de arte sobre quaisquer elementos sociais a que se combinem”[3]. Portanto, Ferréz, aventure-se por novas formas. Afinal, na arte, forma é conteúdo. Explore ao máximo seu talento e parabéns pelos 15 anos de literatura e resistência.

1 Dissertação de mestrado da autora, publicado pela Editora Aeroplano na Coleção Tramas Urbanas, Rio de Janeiro, 2009

2 Mello e Souza, Antonio Candido, Literatura e Sociedade, capítulo “A literatura e a vida social”, pag. 23, Publifolha, São Paulo, 2000.

3 Ibid, pag. 33

 

Antonio Eleilson Leite é historiador, programador cultural e coordenador do Programa de Cultura da ONG Ação Educativa

Edições anteriores da coluna:

Literaturas da periferia: o desafio da estética

Como Cultura ressignificou, em dez anos, os subúrbios. Por que movimento precisa mostrar que sua importância vai muito além do social

O Ex-excluído: manifesto de um poeta suburbano

Livro de Germano Gonçalves revela escrita visceral e urgente de autor que, influenciado por Raul e Leminski, canta periferia pré-hip-pop

> Leia também as 35 edições de Cultura Periférica, a seção que Antonio Eleilson Leite publicou, entre outubro de 2007 e dezembro de 2008, no Caderno Brasil do Le Monde Diplomatique.

Jardim Santo André na Galeria Vermelho

Um espaço badalado das artes de São Paulo reproduz os grafites que estão mudando a paisagem de um dos bairros mais violentos do ABC. Retrato de um país secularmente desigual — onde, no entanto, a periferia cobra seus direitos, e se expressa cada vez mais por meio da criação simbólica

22 de dezembro de 2008

 

A nova arte da Cooperifa

Ela veio para ficar. A primeira Mostra Cultural da Cooperifa reunirá guerreiros e guerreiras fortemente armados com canetas, cadernos e livros. Trava-se uma luta incansável contra a ignorância,mediocridade, conformismo, tristeza e as pobrezas material e espiritual que insistem em saquear a quebrada

14 de novembro de 2008

Na Primavera, a leitura supera o marketing

Alternativa à Bienal, mostra de editoras independentes relembra que livros são, acima de tudo, espaço para idéias, inteligência e utopia. Evento abre espaço para iniciativas que não se submetem ao mercado, e combina exposição de obras com programação cultural – onde tem espaço a arte periférica

27 de setembro de 2008

Linha de Passe: um gol de letra e um gol-contra

Em seu novo filme, Walter Salles e Daniela Thomas constroem uma história brasileira que debate, com profundidade e sutileza, a existência e os dramas humanos. Mas o cacoete de associar periferia a infelicidade dá à obra um tom de chavão e frustra a própria intenção de esperança do diretor

22 de setembro de 2008

Cooperifa: leia o livro, veja o filme e ouça o disco

Série de obras artísticas celebra os saraus que ajudaram a construir o conceito de cultura periférica — e o mundo de iniciativas que está surgindo a partir deles. Trabalhos ressaltam opinião da jornalista Eliane Brum: “A Cooperifa é um abalo sísmico a partir de uma esquina de quebrada”

11 de setembro de 2008

Na Bienal do Livro, um roteiro alternativo

Debate sobre literatura periférica e um punhado de editoras, universitárias e semi-artesanais, valem a visita. Aí persiste o encanto de uma feira que foi indispensável — mas chega aos 40 anos um tanto decadente e deselegante. Talvez por apostar no gigantismo, e se render à lógica de mercado

22 de agosto de 2008

Gilberto Gil: LadoA e LadoB

Único artista a dirigir o ministério da Cultura até hoje, ele foi também o primeiro ministro a traçar políticas públicas efetivas para a produção simbólica. Valorizou a diversidade e a autonomia. Faltou assegurar recursos condizentes, e evitar que fossem canalizados para o marketing empresarial

6 de agosto de 2008

O Hip Hop nunca foi tão pop

Vinte e cinco anos depois de despontar no Brasil, a cultura hip-hop está bombando como nunca. Ligou-se ao showbizz, mas é capaz de manter, mesmo assim, seus princípios e essência. É claramente periférica. Dez eventos a celebram, a partir deste fim de semana, em São Paulo

26 de julho de 2008

“Meu bairro era pobre, mas ficava bem bonito metido num luar”

Mídia tradicional multiplica referências a Machado e a Rosa, rendendo-lhes homenagens previsíveis e banais. Coluna destaca outro centenário: o de Solano Trindade. Poeta, dramaturgo, ator e artista plástico, ele cantou a dignidade, as lutas, amores e dores dos negros e dos que vivem do trabalho

8 de julho de 2008

Um passo à frente e você já não está mais no mesmo lugar

Escola Pernambucana de Circo organiza, em festa, seu centro de arte-educação. Ao invés de adotar postura “profissionalizante”, iniciativa busca emancipar. Por isso, aposta na qualidade artística, técnica e cultural de seu trabalho, e foge do conceito de “arte para pobre”

17 de junho de 2008

Plano Nacional de Cultura: realidade ou ficção?

Ministério lança documento ousado, que estabelece, pela primeira vez, política cultural para o país. Dúvida: a iniciativa será capaz de driblar a falta de recursos e a cegueira histórica do Estado em relação à produção simbólica? Coluna convida os leitores a debate e mobilização sobre o tema

7 de junho de 2008

Semeando asas na quebrada paulistana

De como a trupe teatral Pombas Urbanas, criada por um peruano, chegou a mudar o nome do Brasil, trocou os palcos pelas ruas, sofreu a perda trágica de seu criador mas reviveu, animada pela gente forte da periferia — para onde regressou e de onde não pretende se afastar

2 de junho de 2008

Humildade, dignidade e proceder

Agenda da Periferia completa um ano de publicação. Como diria Sergio Vaz, não praticamos jornalismo — “jogamos futebol de várzea no papel”. Fazê-la é exercício de persistência, crença e doação. O maior sinal de êxito é o respeito que o projeto adquriu no movimento cultural das quebradas

24 de maio de 2008

A revolução cultural dos motoboys

Um evento em São Paulo, um site inusitado e dois filmes ajudam a revelar a vida e cultura destes personagens de nossas metrópoles. Sempre oprimidos, por vezes violentos, eles vivem quase todos na periferia, são a própria metáfora do caos urbano e estão construindo uma cultura peculiar

17 de maio de 2008

Manos e Minas no horário nobre

Estréia na TV Cultura programa que aborda cena cultural da periferia com criatividade, sem espetacularização e a partir do olhar dos artistas do subúrbio. Iniciativa lembra o históricoFábrica do Som, mas revela que universo social da juventunde já não é dominado pelos brancos, nem pela classe média

10 de maio de 2008

Pequenas revoluções

Em São Paulo, mais de cem projetos culturais passam a ter financiamento público, por meio do VAI. Quase sempre propostos por jovens, e a partir das quebradas, eles revelam as raízes e o amadurecimento rápido da arte nas periferias. Também indicam uma interessante preferência pela literatura

3 de maio de 2008

A periferia na Virada e a virada da periferia

Em São Paulo, a arte vibrante das quebradas dribla o preconceito e aparece com força num dos maiores eventos culturais do país. Roteiro para o hip-hop, rap, DJs, bambas, rodas de samba, rock, punk e festivais independentes. Idéias para que uma iniciativa inovadora perdure e supere limites

26 de abril de 2008

Retratos da São Paulo indígena

Em torno de 1.500 guaranis, reunidos em quatro aldeias, habitam a maior cidade do país. A grande maioria dos que defendem os povos indígenas, na metrópole, jamais teve contato com eles. Estão na perferia, que vêem como lugar sagrado.

20 de abril de 2008

Cultura, consciência e transformação

A cada dia fica mais claro que a produção simbólica articula comunidades, produz movimento, desperta rebeldias e inventa futuros. Mas a relação entre cultura e transformação social é muito mais profunda que a vã filosofia dos que se apressam a “politizar as rodas de samba”…

12 de abril de 2008

É tudo nosso!

Quase ausente em É tudo Verdade, audiovisual produzido nas periferias brasileiras reúne obras densas, criativas e inovadoras. Festival alternativo exibe, em São Paulo, parte destes filmes e vídeos, que já começam a ser recolhidos num acervo específico

5 de abril de 2008

Arte de rua, democracia e protesto

São Paulo saúda, a partir de 27/3, o grafite. Surgido nos anos 70, e adotado pela periferia no rastro do movimento hip-hop, ele tornou-se parte da paisagem e da vida cultural da cidade. As celebrações terão colorido, humor e barulho: contra a prefeitura, que resolveu reprimir os grafiteiros

28 de março de 2008

As festas deles e as nossas

Num texto preconceituoso, jornal de São Paulo “denuncia” agito na periferia e revela: para parte da elite, papel dos pobres é trabalhar pesado. Duas festas são, no feriado, opção para quem quer celebrar direito de todos ao ócio, à cultura, à criação e aos prazeres da mente e do corpo

21 de março de 2008

Arte independente também se produz

Às margens da represa de Guarapiranga, Varal Cultural é grande mostra de arte da metrópole. Organizado todos os meses, revela rapaziada que é crítica, autogestionária, cooperativista e solidária — mas acredita em seu trabalho e não aceita receber migalhas por ele

15 de março de 2008

Nas quebradas, toca Raul

Um bairro da Zona Sul de São Paulo vive a 1ª Mostra Cultural Arte dos Hippies. Na periferia, a pregação do amor e liberdade faz sentido. É lá que Raul Seixas continua bombando em shows imaginários, animando coros regados a vinho barato nas portas do metrô, evocando memórias e tramando futuros

8 de março de 2008

No mundo da cultura, o centro está em toda parte

Estamos dispostos a discutir a cultura dos subúrbios; indagar se ela, além de afirmação política, está produzindo inovações estéticas. Mas não aceitamos fazê-lo a partir de uma visão hierarquizada de cultura: popular-erudita, alta-baixa. Alguns espetáculos em cartaz ajudam a abrir o bom debate

23 de fevereiro de 2008

Do tambor ao toca-discos

No momento de maior prestígio dos DJs, evento hip-hop comandado por Erry-G resgata o elo entre as pick-ups, a batida Dub da Jamaica e a percussão africana. Apresentação ressalta importância dos discos de vinil e a luta para manter única fábrica brasileira que os produz

16 de fevereiro de 2008

Pirapora, onde pulsa o samba paulista

Aqui, romeiros e sambistas, devotos e profanos lançaram sementes para o carnaval de rua, num fenômeno que entusiasmou Mário de Andrade. Aqui, o samba dos mestres (como Osvaldinho da Cuíca) vibra, e animará quatro dias de folia. Aqui, a 45 minutos do centro da metrópole

2 de fevereiro de 2008

São Paulo, 454: a periferia toma conta

Em vez de voltar ao Mercadão, conheça este ano, na festa da cidade, Espaço Maloca, Biblioteca Suburbano Convicto, Buteco do Timaia. Delicie-se no Panelafro, Saboeiro, Bar do Binho. Ignorada pela mídia, a parte de Sampa onde estão 63% dos habitantes é um mundo cultural rico, diverso e vibrante

24 de janeiro de 2008

Faça você mesmo!

Por meio da cultura, jovens das periferias brasileiras fazem uma revolução. Um panorama da produção independente nas quebradas das metrópoles: como a arte criada fora da indústria cultural subverte a mercantilização e controle do conhecimento, marca do capitalismo

14 de janeiro de 2008

2007: a profecia se fez como previsto

Há uma década, os Racionais lançavam Sobrevivendo no Inferno, seu CD-Manifesto. O rap vale mais que uma metralhadora. Os quatro pretos periféricos demarcaram um território, mostrando que as quebradas são capazes de inverter o jogo, e o ácido da poesia pode corroer o sistema

29 de dezembro de 2007

No meio de uma gente tão modesta

Milhares de pessoas reúnem-se todas as semanas nas quebradas, em torno das rodas de samba. Filho da dor, mas pai do prazer, o ritmo é o manto simbólico que anima as comunidades a valorizar o que são, multiplica pertencimentos e sugere ser livre como uma pipa nos céus da perifa

30 de novembro de 2007

A dor e a delícia de ser negro

Dia da Consciência Negra desencadeia, em São Paulo, semana completa de manifestações artísticas. Nosso roteiro destaca parte da programação, que se repete em muitas outras cidades e volta a realçar emergência, diversidade e brilho da cultura periférica

19 de novembro de 2007

Onde mora a poesia

Invariavelmente realizados em botecos, os saraus da periferia são despojados de requintes. Mas são muito rigorosos quanto aos rituais de pertencimento e ao acolhimento. Enganam-se aqueles que vêem esses encontros como algo furtivo e desprovido de rigores

13 de novembro de 2007

Todos os dias da Semana

Programação completa da Semana de Arte Moderna da Periferia

2 de novembro de 2007

O biscoito fino das quebradas

Semana de Arte Moderna da Periferia começa dia 4, em São Paulo. Programa desmente estereótipos que reduzem favela a violência, e revela produção cultural refinada, não-panfletária, capaz questionar a injustiça com a arma aguda da criação

2 de novembro de 2007

A arte que liberta não pode vir da mão que escraviza

Vem aí Semana de Arte Moderna da Periferia. Iniciativa recupera radicalidade de 1922 e da Tropicália, mas afirma, além disso, Brasil que já não se espelha nas elites, nem aceita ser subalterno a elas. Diplô abre coluna quinzenal sobre cultura periférica

17 de outubro de 2007

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