Pós-verdade: filha do relativismo científico?

Uma corrente científica pós-moderna sustenta que a verdade é apenas uma grife no mercado de ideias. Que relações terá com o avanço assustador das fake news?

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Uma corrente científica pós-moderna sustenta que a verdade é apenas uma grife no “mercado de ideias”, uma arma na disputa por poder. Que relações terá com o avanço assustador das “fake news” e de teorias como a da Terra Plana?

Por Marcos Barbosa de Oliveira | Imagem: Hieronymus Bosch, O Jardim das Delícias Terrenas (detalhe), 1504 

Como se sabe, na esteira da publicação do clássico de Kuhn A estrutura das revoluções científicas, desenvolveu-se, enquanto um ramo do movimento mais amplo do pós-modernismo, principalmente no campo da sociologia, uma corrente de pensamento que veio a ser conhecida (entre outros designativos) como Ciência, Tecnologia e Sociedade (seguindo o costume, vou usar a sigla CTS para designar esse movimento).

A CTS não se destaca pela coesão, dividindo-se em várias linhagens em disputa. Para nossos propósitos, é suficiente caracterizá-la em termos gerais, dizendo que nela predominam, de uma forma ou de outra, posições relativistas, anti-realistas e irracionalistas. Relativistas porque negam o caráter objetivo do conhecimento científico, e desconstroem a ideia de verdade, passando a admitir o uso do termo apenas entre aspas. O anti-realismo figura da maneira mais direta e explícita na vertente construtivista, centrada na tese de que não apenas o conhecimento científico é uma construção social (o que ninguém de bom-senso contesta), mas também que o objeto do conhecimento, os fenômenos que a ciência procura explicar, são construções sociais. O irracionalismo, por sua vez, consiste na interpretação do desenvolvimento da ciência não como um processo dotado de certa racionalidade, mas como uma disputa de interesses, cujo resultado é fruto da correlação de forças.

As polêmicas entre adeptos da CTS e defensores de posições mais ortodoxas a respeito da ciência têm sido muito acirradas, a ponto de ficarem conhecidas em certa época como “as guerras da ciência”. A literatura produzida é gigantesca, e fortemente interdisciplinar, envolvendo elementos de todas as disciplinas que compartilham o mesmo objeto: a filosofia, a história, a sociologia e a economia – todas, ‘da ciência e da tecnologia’. No que se segue, o propósito não é, naturalmente, fazer um balanço dessa literatura; é algo bem mais restrito, a saber, estudar a CTS à luz de um fenômeno de grande atualidade: a ideia de que vivemos agora na era da pós-verdade.

Em fins de 2016, a empresa Oxford Dictionaries elegeu ‘pós-verdade’ (post-truth) como a palavra do ano. A definição sugerida foi a de que a palavra “tem relação com, ou denota circunstâncias em que fatos objetivos têm menos influência na formação da opinião pública do que apelos a emoções ou crenças”. A escolha foi divulgada alguns dias após a vitória de Donald Trump na eleição de 8 de novembro, e reflete principalmente alguns aspectos de sua campanha – que se mantiveram, ou mesmo se acentuaram depois de sua posse como presidente. Um desses é seu hábito bem conhecido de contar mentiras deslavadas. De acordo com um levantamento jornalístico, de sua tomada de posse até o dia 11 de setembro, Trump proferiu nada menos que 588 mentiras.[1] Outra manifestação do mesmo espírito ocorreu num pronunciamento de uma assessora de Trump, Kellyanne Conway, que introduziu no debate o conceito – muito interessante – de fatos alternativos. Segue a mesma linha a proliferação de notícias falsas (fake news) divulgadas nas redes sociais e, inversamente, a pecha de fake news dirigida por Trump e sua equipe a matérias claramente verídicas publicadas na imprensa.

Muito antes da consagração da palavra, entretanto, já vinha se desenrolando um processo, ao qual o conceito de pós-verdade pode retrospectivamente se aplicar. Trata-se do processo mais relevante no presente contexto, que consiste na perda de credibilidade de itens bem estabelecidos do conhecimento científico aos olhos da população. Os casos mais importantes são o do aquecimento global, cuja existência, ou caráter antropogênico são contestados pelos negacionistas do clima; o da Teoria da Evolução, posta em dúvida pelos adeptos do criacionismo ou do design inteligente, e – com consequências nefastas muito diretas, particularmente nos Estados Unidos – o caso das vacinas, supostamente causadoras de autismo em crianças. Isso sem falar dos adeptos da teoria da Terra Plana, cujo número vem crescendo assutadoramente. Outro tipo de manifestação de perda de credibilidade da ciência é a proliferação de teorias conspiratórias e lendas urbanas, envolvendo total desrespeito pelas evidências. Quanto ao aquecimento global, às mudanças climáticas – ou, como prefere Georges Monbiot, ao colapso climático – creio ser desnecessário ressaltar a gravidade do problema: é o futuro da humanidade que está em jogo.

Voltemos agora à CTS. Um de seus traços, como vimos, é o relativismo, a desconstrução da ideia de verdade, o uso da palavra apenas entre aspas. Daí decorre uma série de questões. Não seria a CTS um movimento pós-verdade avant la lettre? Em outras palavras, não terá a CTS contribuído para o advento da era da pós-verdade? Não terá servido de apoio para o negacionismo do clima? Em tom mais provocativo, não seria a CTS em parte responsável pelo comportamento mentiroso de Trump?

Não me proponho a dar respostas conclusivas a essas perguntas. Vou me limitar a comentar rapidamente alguns textos em que a questão é discutida, para servirem como ponto de partida para uma reflexão mais aprofundada.

O primeiro texto é de autoria de Bruno Latour, foi publicado em 2004, bem antes, portanto, do advento da pós-verdade. Merece ser mencionado em parte pelo prestígio de Latour enquanto liderança do movimento CTS, mas também pela repercussão que teve, e por colocar de maneira muito incisiva as questões que acabei de levantar. Começo com uma citação:

[…] há programas inteiros de doutorado ainda em operação para assegurar que as crianças americanas aprendam, por um caminho difícil, que os fatos são fabricados, que não existe um acesso natural, não-mediado, não-tendencioso à verdade, que somos sempre prisioneiros da linguagem, que sempre falamos de uma posição particular, e assim por diante, enquanto perigosos extremistas usam o mesmo argumento da construção social para destruir evidências duramente estabelecidas que podem salvar nossas vidas. Será que eu estava errado ao participar da invenção do campo conhecido como estudos de ciência? Será suficiente dizer que não queríamos realmente dizer o que dissemos? Porque me queima a língua dizer que o aquecimento global é um fato, gostemos ou não? […]

Será que eu deveria me reassegurar simplesmente dizendo que os maus elementos podem usar qualquer arma que esteja à mão, fatos naturalizados ou construção social, conforme a conveniência? Deveríamos pedir desculpa por termos estado errados o tempo todo? (Latour, 2004, p. 227)

Latour não é um autor de maneira geral fácil de interpretar, e confesso ignorar se ele posteriormente reinterpretou o que disse nesse artigo. Mas a partir da citação, e de outras passagens do texto, creio poder dizer que ele responde afirmativamente às perguntas referentes à ciência levantadas acima, isto é, que aceita a responsabilidade pelas consequências, reconhecidas como nefastas, das ideias colocadas em circulação por ele e seus colegas da CTS. Cabe aqui o registro de uma ironia da história: depois da tragédia que representaram para Kuhn as interpretações equivocadas da Estrutura das Revoluções Científicas, com todo o impacto que tiveram, dando origem à CTS, atualmente são alguns adeptos da CTS que se veem no mesmo tipo de situação, lamentando as más interpretações de seus escritos, agora por parte de movimentos de direita. Parece um caso em que o feitiço virou contra o feiticeiro. Se Kuhn estivesse vivo, teria ainda mais razões para lamentar o impacto que tiveram suas ideias, claramente oposto a suas intenções.

O segundo texto é o editorial de uma das mais importantes revistas no campo da CTS, a Social Studies of Science, assinado por seu editor Sergio Sismondo. Foi publicado neste ano, já em plena era da pós-verdade. Seu título é simplesmente Post-truth? Divergindo de Latour, o autor nega que a CTS tenha contribuído para o advento da pós-verdade. Como elemento de uma explicação alternativa para o fenômeno, diz ele que “o twittter pode ser parte da dissolução do fato moderno.”(Sismondo, 2017, p. 4) Por outro lado, assim como Latour, ainda que em tom menos enfático, o editorial expressa recuo nas posições relativistas. Desrespeitando a norma de só usar a palavra verdade entre aspas, ele afirma:

Nós da CTS sabemos que a competição epistêmica diz respeito tanto à escolha de quais verdades podem ser consideradas salientes e importantes, quanto a quais alegações podem ser consideradas verdadeiras e falsas, e tais escolhas têm consequências importantes. (Sismondo, 2017, p. 4)

Há, por outro lado, adeptos importantes da CTS que não apenas veem o advento da pós-verdade com bons olhos, mas sustentam que a ciência em grande medida tem esse caráter. Estou me referindo a Steve Fuller, que, a um artigo de opinião de sua autoria publicado no Guardian, deu o título de ‘Science has always been a bit “post-truth” ’. Atribuindo o pioneirismo na defesa de posições relativistas da ciência ao Kuhn d’A estrutura das revoluções científicas (como é tradicional na CTS), diz ele:

O que faz a concepção de Kuhn ser ‘pós-verdade’ é que a verdade não é mais o árbitro do poder legítimo, mas sim a máscara de legitimidade usada por todo o mundo na conquista do poder. A verdade é apenas um recurso – embora talvez o mais importante – num jogo de poder sem fim. Desse ponto de vista, a ciência difere da política apenas pelo fato de que as máscaras dos jogadores raramente são tiradas. (Fuller, 2016a)

Na sequência do artigo no Guardian, publicado em dezembro de 2016, Fuller publicou vários textos acadêmicos sobre o tema, criticando Latour e Sismondi pelo recuo nas posições relativistas[2]. No plano teórico, ele defende, de um lado, a concepção da ciência como um jogo, valendo-se de comparações com o futebol americano. A seu ver, a atitude de pensar a ciência literalmente como um jogo poderá vir a ser a mais duradora contribuição da CTS ao panorama intelectual geral. (Fuller, 2017a) De outro lado, sustenta a concepção do mercado de ideias (marketplace of ideas) como modelo para a escolha entre teorias na ciência. Numa outra intervenção, publicada recentemente na Internet, tendo por título ‘Em defesa da pós-verdade’, Fuller escreve: a verdade “é uma marca (uma grife) sempre em busca de produtos que todo o mundo é forçado a comprar”. (Fuller, 2017c)

Para completar essas indicações, dois artigos de Eric Baker e Naomi Oreskes[3] (2017a e 2017b) contendo críticas das concepções da ciência como um jogo, e como um mercado de ideias, dirigidas particularmente a Steve Fuller. As posições defendidas correspondem bem a minha própria visão das questões em jogo, concordo com todas as teses neles sustentadas. Aprecio especialmente a primeira parte do segundo artigo, em que os autores defendem o veritismo – definido informalmente como a insistência no uso da palavra ‘verdade’ sem aspas. Trata-se de uma proposta de reabilitação, de reintrodução do conceito de verdade no discurso epistemológico, justificada por seu poder explicativo no entendimento da dinâmica dos processos científicos. A seguinte passagem dá uma ideia do teor da argumentação.

O veritismo também ajuda a explicar dois importantes aspectos do consenso científico que Fuller enfatiza. Fuller pensa que nos pegou em contradição por falarmos sobre a “construção” do consenso. Dificilmente. Ao contrário, é difícil entender o processo (social) de construção do consenso na ciência sem um sentido de busca-da-verdade enquanto atributo constitutivo. Se os cientistas não se orientam em relação a um mundo físico e social acessível a todos, a respeito do qual a verdade pode, pelo menos em certa medida, ser conhecida, porque dedicariam tantos esforços procurando persuadir seus colegas e tentando chegar ao consenso? Por que eles até mesmo consideram isso possível? E enfim, qual seria o projeto da ciência? (Baker & Oreskes, 2017b, p. 65-66)

As perguntas colocadas como tema deste ensaio dizem respeito à hipótese de a CTS ter contribuído para o advento da pós-verdade. As considerações apresentadas atestam que no plano abstrato das ideias a hipótese é perfeitamente plausível. Mas isso não significa que seja verdadeira, que a CTS tenha de fato desempenhado esse papel. Outra hipótese é a de que o relativismo da CTS e o fenômeno da pós-verdade sejam ambos fruto de um processo histórico mais profundo. Apenas investigações mais amplas e profundas poderão decidir a questão; no presente contexto, ela fica em aberto.

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Referências

Baker, Erik & Oreskes, Naomi. It’s no game: post-truth and the obligations of science studies. Social Epistemology Review and Reply Collective 6(8): 1-10, 2017a. https://social-epistemology.com/2017/07/10/its-no-game-post-truth-and-the-obligations-of-science-studies-erik-baker-and-naomi-oreskes/.

–––––. Science as a game, marketplace or both: a reply to Steve Fuller. Social Epistemology Review and Reply Collective 6(9): 65-69, 2017b. https://social-epistemology.com/2017/08/28/science-as-a-game-marketplace-or-both-a-reply-to-steve-fuller-erik-baker-and-naomi-oreskes/.

Fuller, Steve. Science has always been a bit ‘post-truth’. The Guardian, 15/12/2016a. (https://www.theguardian.com/science/political-science/2016/dec/15/science-has-always-been-a-bit-post-truth.

–––––. Embrace the inner fox: post-truth as the STS symmetry principle universalized. Social Epistemology Review & Reply Collective, 2016b. https://social-epistemology.com/2016/12/25/embrace-the-inner-fox-post-truth-as-the-sts-symmetry-principle-universalized-steve-fuller/.

–––––. Is STS all talk and no walk? Social Epistemology Review & Reply Collective, 2017a. https://social-epistemology.com/2017/04/26/is-sts-all-talk-and-no-walk-steve-fuller/.

–––––. What are you playing at? Use and abuse of games in STS. Social Epistemology Review & Reply Collective 6(9): 39-49, 2017b. https://social-epistemology.com/2017/08/21/what-are-you-playing-at-on-the-use-and-abuse-of-games-in-sts-steve-fuller/.

–––––. In defence of post-truth. 2017c. https://iainews.iai.tv/articles/in-defence-of-post-truth-auid-786.

Latour, Bruno. Why has critique run out of steam? From matters of fact to matters of concern. Critical Inquiry 30(2): 225-248, 2004.

Oreskes, Naomi & Conway, Erik M. Merchants of doubt: how a handful of scientists obscured the truth on issues from tobacco smoke to global warming. Nova York: Bloomsbury, 2011.

Sismondo, Sergio. Post-truth? (Editorial). Social Studies of Science 47(1): 3-6, 2017. http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0306312717692076

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[1]. https://www.thestar.com/news/world/2017/09/18/daniel-dales-donald-trump-fact-check-updates.html . ‘Donald Trump’s 6 false claims about Asia bring total to 588’. Jornal The Star, do Canadá.

[2]. Fuller (2016b, 2017a, 2017b).

[3]. Em co-autoria com Eric Conway, Naomi Oreskes publicou em 2011 Merchants of doubt: how a handful of scientists obscured the truth on issues from tobacco smoke to global warming. Trata-se de uma denúncia, conclusivamente fundamentada em evidências, das práticas desonestas das indústrias do tabaco e dos combustíveis fósseis. Infelizmente, o livro até agora não foi traduzido para o português. Baseado no livro, em 2014 foi lançado um documentário, dirigido por Robert Kenner. Disponível em https://archive.org/details/Mercadores.da.Duvida-Documentario.2014#. Acesso em 8/1/2018.

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6 comentários para "Pós-verdade: filha do relativismo científico?"

  1. Williams disse:

    A terra é plana.

  2. Ruído de Magia disse:

    Gostaria de fazer uma pergunta aos obscurantistas do “lugar de fala”.
    Caso você sofra de câncer de mama ou câncer de próstata, você realiza seu tratamento sob a supervisão de pessoas que passaram pela experiência subjetiva de ter sofrido de câncer de mama ou de próstata ou preferem fazer seu tratamento com especialistas em câncer de mama ou próstata, mesmo que nunca tenham sofrido com essas doenças??
    Já que o que vale é a experiência subjetiva para falar sobre algo, e não conhecimento teórico, argumentos e evidências, por que não o fazem?
    Claro que essa minha questão baseia-se no argumento de Sócrates sobre os especialistas em administração, mas não é disso que estou falando e sim em conhecimento sobre como funciona a realidade.
    Em relação a política, acho que todos tem o direito de participar da mesma, por mais mal informados que sejam (e a própria ideia de que há pessoas mal informadas já mostra que existem informações verdadeiras)

  3. Ruído de Magia disse:

    Fora o surgimento da chamada esquerda obscurantista.
    Aquela que diz que apenas determinadas pessoas podem falar sobre determinados assuntos.
    Ou seja, para essa esquerda obscurantista, cujos maiores exemplos são os defensores de um absurdo chamado “lugar de fala”, o que vale não é O QUE se diz e sim QUEM DIZ O QUE.
    Um total retrocesso. Reabilitando a validade do argumento de autoridade.
    Não importam os argumentos e nem as evidências.
    Importa se quem diz algo passou por experiências subjetivas.
    Ridículo

  4. Ruído de Magia disse:

    Problema é que relativista não sabe diferenciar o fato em si daquilo que se diz sobre o fato.
    O fato existe.
    Mas o que se diz sobre o fato pode ser verdade ou não.
    Além disso, existem casos em que há graus de verdade. Algo é verdade, mas não é toda a verdade.

  5. Ruído de Magia disse:

    É verdade que não existe verdade?
    É fato que não existem fatos?
    Mesmo que o mundo fosse um ermo, seria um fato que ele é um ermo.
    É verdade que o texto “Pós-verdade: filha do relativismo científico?” é de autoria de Marcos Barbosa de Oliveira.
    Relativismo é contraditório.

  6. Não, é irmã. Ambas são filhas do avanço do capitalismo.
    (Quando tudo é motivado por lucro e as oportunidades de entrar e contato com o conhecimento científico a nível teórico e prático são desenfatizadas em termos de investimento público… A consequência natural é começar a desconfiar de tudo e de todos. Essa possibilidade, aliás, nunca deixa de existir; a fragilização do pacto social antigamente forjado por nacionalismos e o Estado de bem-estar social vai tornando esse tipo de visão, ligado ao faccionalismo e ressentimento político, mais prevalente)

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